Como se escreve língua portuguesa em inglês

5 situações em que a tradução literal português-inglês não funciona

16.04.2019 | Inglês

Como se escreve língua portuguesa em inglês

1 - Pensar a frase em português

2 - Traduzi-la para o inglês

3 - Falar

A sequência de ações descrita acima é bem comum para os estudantes de inglês. O ato de pensar a frase primeiramente em português e depois traduzir palavra por palavra para a língua inglesa parece bem confortável. O problema é que em muitos casos a tradução direta não funciona, já que os dois idiomas são diferentes entre si e cada um possui suas próprias regras e convenções. Para te mostrar isso, nós separamos algumas situações em que essa tradução resulta em algo bem estranho para os falantes do inglês. Confira!

“I want” para pedir comida

Como se escreve língua portuguesa em inglês

No Brasil, é comum que você entre em uma padaria e peça:

Eu quero um refrigerante, por favor!

O pedido é bem amigável para os falantes do português, o que pode levar o estudante a traduzir a frase diretamente para o inglês como:

I want a soda, please.

Porém, para um nativo do inglês, a frase acima soa um pouco rude! O verbo to want é utilizado para desejos mais fortes, como planos, veja:

I want to study English. - Eu quero estudar inglês.

No contexto de um restaurante ou de uma padaria, por exemplo, o uso de to want parece grosseiro e “mandão”. O mesmo acontece com o verbo to give, por exemplo:

Give me a soda, please. - Me dê um refrigerante, por favor.

A frase acima pode até parecer correta, mas também soa de um modo grosseiro, significando algo como me dê agora. A maneira mais amigável de fazer pedidos em inglês é usando os modal verbs. Veja:

Can I have a soda, please? - Pode me trazer um refrigerante, por favor?

A frase fica um pouco estranha em português, já que nós não utilizamos a estrutura posso ter para pedidos. Por isso, traduzimos como pode trazer. Veja outros exemplos:

Could I have rice with fried chicken, please? - Poderia me trazer arroz com frango frito, por favor?

May I have a lemonade, please? - Poderia me trazer uma limonada, por favor?

Could you bring me a glass, please? - Poderia me trazer um copo, por favor?

I would like some French fries, please. - Eu gostaria de batatas fritas, por favor.

“To have” para falar a idade

Como se escreve língua portuguesa em inglês

Em português, é bem comum que alguém pergunte a você:

Quantos anos você tem?

Geralmente a resposta é algo como:

Eu tenho 22 anos.

Na hora de falar inglês, a pessoa pode relacionar o verbo ter com to have e dizer:

I have 22 years.

Na frase acima destacamos 2 erros. Em primeiro lugar, o verbo to have nem sempre quer dizer ter em inglês. Quando estamos falando de idade, utilizamos o verbo to be. Além disso, você não diz 22 years para idade. Na língua inglesa isso significa um período de tempo. O correto é usar years old ou apenas o número. Veja:

I am 22 years old. - Eu tenho 22 anos.

O uso do verbo to be resulta em uma tradução direta estranha para o português, significando algo como eu sou 22 anos velho. Porém, no inglês é assim! Veja mais alguns exemplos para praticar:

She is 22. - Ela tem 22 anos.

My mom is forty-four. - Minha mãe tem 44 anos.

We’re 17 years old. - Nós temos 17 anos.

“To lose” para quando você perde o ônibus

Como se escreve língua portuguesa em inglês

Um dia você acorda um pouco mais tarde e se atrasa. Ao chegar à escola, alguém pergunta o motivo do atraso e você responde:

Eu perdi o ônibus.

Na hora de falar em inglês, você pode se recordar do nome daquela famosa série de TV e dizer:

I lost the bus

Porém, a frase acima não faz muito sentido no inglês! O verbo to lose é utilizado em 2 situações principais:

Coisas tangíveis: você detinha algo em sua posse e perdeu, como:

I’ve lost my keys. - Eu perdi minhas chaves.

Coisas abstratas: você sentia algo mas perdeu, ou isso foi tirado de você, como:

I lost my fear of flying. - Eu perdi o medo de voar.

Para se referir a algo que você “perdeu” por não ter conseguido alcançar ou ter deixado passar, utilize o verbo to miss. Veja os exemplos:

She missed the flight. - Ela perdeu o voo.

He told me he would miss the meeting. - Ele me disse que perderia a reunião.

I missed the opportunity to talk to her. - Eu perdi a oportunidade de falar com ela.

“With” para expressar sensações

Como se escreve língua portuguesa em inglês

Ao chegar em casa cansado à noite, você pode falar:

“Estou com fome” ou “estou faminto”.

Isso acontece porque a língua portuguesa permite que você diga que está com um sentimento, utilizando a estrutura: preposição com + substantivo. Isso pode te levar a dizer:

I am with hunger.

Nesses casos em inglês, a estrutura com a preposição with não está correta! Você deve utilizar apenas o verbo to be mais um adjetivo para expressar sensações momentâneas. Veja:

I’m hungry. - Estou faminto.

She was angry. - Ela estava brava.

I’m very embarrassed. - Eu estou muito envergonhado.

“Substantivo + of” para indicar posse

Como se escreve língua portuguesa em inglês

Você está saindo de casa e avisa para seus pais:

Estou indo para a casa do meu amigo.

No português, quando colocada entre dois substantivos, a preposição de - do, da, dos, das - indica posse. Ao traduzir diretamente para o inglês, você pode dizer:

I’m going to the house of my friend.

A frase acima irá soar bem estranha aos ouvidos de um nativo do inglês! Na língua inglesa, essa estrutura de posse se chama genitive case e é indicada por ‘s, como:

I’m going to my friend’s house. - Estou indo para a casa do meu amigo.

Não há uma tradução desse apóstrofo para o português, já que é uma construção bem própria da língua inglesa. O que você precisa fazer é praticar bastante para não errar! Veja:

She is at her father’s house. - Ela está na casa do pai dela.

Have you seen John’s new car? - Você já viu o carro novo do João?

Can you bring me my aunt’s book? - Você pode me trazer o livro da minha tia?

Para não cometer erros nesses e em muitos outros casos, o melhor é aprender a pensar diretamente em inglês! Para isso, você precisa colocar o idioma no seu dia a dia. Veja algumas dicas que irão te ajudar:

8 músicas em inglês que todo mundo consegue cantar

5 dicas para começar a ler livros em inglês

Venha para a SKILL!

Ser fluente em inglês significa absorver o idioma de forma completa. Venha para a SKILL e tenha um aprendizado sólido e estruturado! Cadastre-se aqui e ganhe 4 aulas.

9 filmes dos anos 90 para ver hoje

29.05.2020 | Séries e Filmes

Saiba quais filmes da época ainda fazem sucesso!

As abreviações mais comuns em espanhol

27.05.2020 | Espanhol

Aprenda mais sobre as abreviações mais usadas.

Qual a diferença entre birthday e anniversary?

22.05.2020 | Inglês

Aprenda as diferenças e saiba quando usar essas palavras.

As soft skills mais valorizadas pelo mercado

20.05.2020 | Outras

Conheça mais sobre essas habilidades.

Mais informações

Como se escreve língua portuguesa em inglês
Laurent Simons, 11 anos, formado em Física

Do total de artigos publicados em revistas científicas em 2020, 95% foram escritos em inglês e somente 1% em espanhol e português. É o que revelou o pesquisador principal do Real Instituto Elcano, Ángel Badillo, durante a apresentação das primeiras conclusões de um relatório sobre diversidade linguística na ciência em Espanha, Portugal e América Latina realizado pela Organização de Estados Ibero-americanos (OEI) em colaboração com o instituto.

As descobertas da pesquisa, que será oficialmente lançada no Brasil em novembro, mostram que no ano passado 84% dos pesquisadores ibero-americanos publicaram em inglês em detrimento de suas línguas maternas espanhola e portuguesa. “Somente 13% dos cientistas na Espanha apresentaram seus trabalhos em espanhol, 12% no México, 16% no Chile, e com porcentagens por volta de 20% na Argentina, Colômbia e Peru”, conclui o relatório. A situação do português é um pouco mais complexa: 3% dos pesquisadores portugueses e 12% dos brasileiros escolheram sua língua para publicar seus trabalhos, ao passo que os outros o fizeram em inglês.

O alemão, o francês e o russo, que no passado foram muito usados para a publicação de diversas disciplinas científicas, sofrem uma situação parecida: menos de 1% do total dos artigos, resenhas e conferências acadêmicas que apareceram em revistas científicas durante 2020 foi escrito nesses idiomas. Desse modo, a hegemonia do inglês na produção e divulgação da ciência atualmente é absoluta. Por quê? Quais são os riscos dessa anglicização do conhecimento? Mais ainda, é possível revertê-la?

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

Badillo diz por telefone que o problema não é a ciência ser publicada em inglês, mas sim não ser publicada em outras línguas. Para o pesquisador, que também é professor do Departamento de Sociologia e Comunicação da Universidade de Salamanca, o objetivo do relatório é contribuir para que o idioma não seja uma barreira de acesso ao conhecimento por parte de todos os membros da sociedade, sem que isso tenha um custo à internacionalização da ciência. “É preciso promover a diversidade sem prejudicar a criação de redes, o investimento privado e a qualidade das descobertas científicas”, afirma Badillo.

O pesquisador diz que essa situação não tem a ver só com a ciência, e sim com a geopolítica. “Os países ibero-americanos caíram na armadilha das indústrias privadas anglo-saxãs”, afirma Badillo. E continua: “Os Estados pagam aos cientistas para pesquisar, nós produzimos o conhecimento, o entregamos a grandes revistas, doamos a elas as descobertas de nosso trabalho e depois essas mesmas revistas cobram valores verdadeiramente surpreendentes aos sistemas nacionais de ciência para acessar os resultados de nossas próprias pesquisas”. Dessa forma, a maioria da população não pode ter acesso à ciência que ela própria financia com seus impostos porque só está disponível em revistas que cobram pela leitura —que também estão em outro idioma.

Ana Paula Laborinho, diretora-geral do Programa Ibero-americano de Bilinguismo e Difusão da Língua Portuguesa da OEI, concorda com Badillo: “Escrever ciência em um idioma é mais do que isso: é pensar em uma representação cultural do mundo. O acesso compartilhado aos conhecimentos repercute no desenvolvimento econômico das regiões”, diz Laborinho.

De acordo com a pesquisa, as razões dessa “ditadura do inglês”, como foi nomeada pelos pesquisadores, são três: a primeira é a inércia da anglicização: desde o fim da II Guerra Mundial, quando o alemão deixou de ser o idioma da ciência, como antes havia sido o francês e muito antes o latim, acredita-se que a melhor ciência é feita (e publicada) em inglês. “Isso gera uma percepção errada: de que a ciência que não é escrita nessa língua não tem a mesma qualidade”, diz Badillo, “é uma espécie de segregação”.

O cientista afirma que muitos pesquisadores na Ibero-América tendem a publicar em inglês não só para interagir com a comunidade científica internacional, e sim por uma questão de status. “Os cientistas acham que se não escreverem em inglês não terão acesso a determinadas revistas e são essas revistas que dão a legitimidade que permite a eles entrar no sistema de incentivos e progredir no trabalho científico”.

A segunda razão é o próprio sistema de incentivos. “A avaliação da qualidade de uma publicação é medida pelo número de citações da revista em que se publica, não pela relevância e originalidade do conteúdo”, diz Badillo. E as revistas com mais citações estão em inglês. Elea Giménez, cientista titular do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha, afirma que em vários países da Europa “já se fala de implementar sistemas nacionais de avaliação que reúnam a produção real dos países com indicadores não impostos por empresas anglo-saxãs”, mas reconhece que na Ibero-América “ainda é uma tarefa a ser feita”.

O terceiro motivo está conectado e determina os dois anteriores. “Há duas grandes empresas internacionais: a Elsevier e a Clarivate Analytics, que privatizaram os sistemas de avaliação da qualidade da ciência e produzem os índices internacionais de fator de impacto das revistas que há décadas privilegiam o inglês”, diz Badillo. Além dessas razões, é preciso colocar o monolinguismo dos cientistas norte-americanos e o fato de que, nas últimas décadas, muitos desses campi universitários abandonaram o ensino de idiomas. “Se eu como pesquisador quero ser lido nas faculdades dos EUA preciso escrever em inglês, é quase uma obrigação”, reconhece Badillo.

As consequências pelo fato de a maior parte da ciência ser produzida e publicada em inglês também são numerosas: acesso limitado ao conhecimento para centenas de milhões de pessoas: falantes de espanhol e português representam quase 900 milhões; pouca diversidade; as linguagens não são só sistemas de comunicação, e sim sistemas de construção da realidade. Como disse o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein: “Os limites do meu idioma significam os limites do meu mundo”. E o mais grave: o enfraquecimento da língua. “É possível que, se permitirmos que a hegemonia do inglês na ciência perdure, em alguns anos veremos que o espanhol e o português já não vão servir para expressar conhecimento científico”, alerta Badillo.

O pesquisador propõe um caso extremo, mas não impossível. “Se em 50 anos não mudarmos essa situação e o inglês se consolidar como a única língua da ciência, todas as aulas das universidades da Ibero-América poderão deixar de ser dadas em espanhol e português”. O medo de Badillo, compartilhado por outros pesquisadores, é que, no limite, se os documentos e as leituras estiverem em inglês (e se ao sair da universidade os estudantes continuarão aprendendo em inglês), não haverá razão suficiente para se continuar ensinando nas próprias línguas. “É um risco evidente não só na ciência, mas sim nos sistemas de educação superior”.

Para tentar conter esse fenômeno, a OEI e o Real Instituto Elcano propõem o caminho à ciência aberta, movimento para que a pesquisa e a divulgação científica, incluindo as publicações e as bases de dados, sejam acessíveis e gratuitas para toda a população. “A ciência deve sair da torre de marfim em que esteve burocratizada nos últimos anos e dialogar mais com a sociedade”, diz Badillo. Para realizar essa mudança de paradigma na ciência, o pesquisador aponta uma alternativa concreta: “A inteligência artificial e a tradução automática precisam nos ajudar a garantir o acesso à ciência. Seria ideal que, em pouco tempo, exista um botão ao lado de cada artigo científico que traduza o conteúdo não só para o espanhol e o português, e sim o coreano, o mandarim e qualquer idioma”.

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.