Para além da vida de acordo com o texto identifique o foco narrativo é sua relação com o enredo

Os tipos de narrador correspondem ao ponto de vista da história contada, isto é, a uma perspectiva particular.Assim, uma determinada história pode ser contada de forma mais subjetiva, aproximando o leitor das alegrias ou angústias da personagem, ou ainda de maneira distante e objetiva, tratando os acontecimentos da trama de maneira neutra, sem interferências.

Há também narradores que participam da história, mas não são protagonistas, e há aqueles que sabem o que a personagem pensa no seu íntimo. Dessa forma, saber qual o tipo de narrador presente em uma história é fundamental para que se compreenda o foco ou direcionamento dado.

Uma narrativa intimista opta por um narrador em primeira pessoa ou um narrador onisciente intruso, que entende as nuances dos pensamentos das personagens e expõe tudo ao leitor. Por outro lado, uma história focada na trama pode conter um narrador observador ou narrador onisciente neutro, que não interfere no juízo de valor de seus leitores.

Leia também: Crônica narrativa — gênero marcado pela brevidade de ações

Tópicos deste artigo

  • 1 - Resumo sobre os tipos de narrador
  • 2 - Videoaula sobre os tipos de narrador
  • 3 - O que é foco narrativo?
    • → Como definir o foco narrativo?
  • 4 - Quais são os tipos de narrador?
    • → Narrador em primeira pessoa
    • → Narrador em terceira pessoa
    • Narrador onisciente neutro
    • Narrador onisciente intruso
  • 5 - Videoaula sobre narração

Resumo sobre os tipos de narrador

  • Os tipos de narrador dizem respeito ao ponto de vista que o narrador tem sobre uma determinada história ou acontecimento.

  • Para definir o foco narrativo, é preciso definir:

    • quem conta a história;

    • qual a posição ou ângulo de quem conta;

    • quais os canais de informação utilizados;

    • qual o distanciamento entre leitor e narrador.

  • Os tipos de narrador se dividem em

    • narrador em primeira pessoa:

      • narrador personagem protagonista: possui relação íntima com a narrativa.

      • narrador personagem testemunha: conta a história de outra pessoa e possui relação próxima com ela.

    • narrador em terceira pessoa:

      • narrador observador: conta uma história como alguém que a percebe de fora.

      • narrador onisciente neutro: conhece intimamente todas as personagens e expõe fatos com distanciamento.

      • narrador onisciente intruso: conhece as emoções e pensamentos das personagens e expõe sua opinião a respeito.

Videoaula sobre os tipos de narrador

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O que é foco narrativo?

De acordo com o linguista José Luiz Fiorin, o foco narrativo é amaneira de se narrar. Em um texto narrativo, é o narrador quem determina o foco, isto é, o ponto de vista. Por exemplo, na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, o narrador (Bentinho) é quem determina:

  • relações de proximidade do leitor com as personagens;

  • ações, percepções e sentimentos expostos.

No entanto, explica Fiorin, há fundamentalmente dois modos de se narrar: em primeira pessoa ou em terceira pessoa. É possível observar em diferentes obras formas diversas de expressão do ponto de vista.

→ Como definir o foco narrativo?

É fundamental que haja a definição do foco narrativo, e, para isso, o crítico literário Norman Friedman estabeleceu as seguintes questões a serem feitas:

  • Quem conta a história? E como ela é contada? — Para Friedman, essas perguntas são importantes, pois definirão se o narrador será participante da história e de que forma ele participará dela (sendo personagem ou testemunha, por exemplo).

  • Qual é a posição ou ângulo assumido por quem conta a história? — A posição ou ângulo assumido pela personagem dá indícios do envolvimento dela com a narrativa. Ela vê os acontecimentos de cima? — posição privilegiada que concede uma visão ampla, porém superficial. Na periferia? — posição à margem, mas profunda. São essas algumas perguntas que complementam as indagações iniciais. Dentro da lógica exposta, o narrador personagem é mais intenso em seus anseios, enquanto o narrador observador, por falta de acesso ao conteúdo interno das outras personagens, é mais superficial.

  • Quais são os canais de informação utilizados para comunicar a história ao leitor? — O objetivo dessa pergunta é saber se há um ponto de vista embasado em frases ditas ou pensamentos. O narrador onisciente consegue acessar pensamentos e emoções. Por outro lado, o observador ou o personagem testemunha não tem essa capacidade.

  • Qual é a distância estabelecida entre o leitor e o narrador? — O narrador está próximo ou distante do leitor? Quanto mais subjetivo ele for, maior a possibilidade de se estabelecer proximidade com o leitor. Por outro lado, quanto menos subjetivo, mais distante o narrador fica do leitor. O narrador personagem protagonista, por exemplo, consegue estabelecer uma aproximação muito maior do que o narrador observador.

Com base nas perguntas acima, é possível definir os tipos de narrador ou, conforme Friedman, os modos e pontos de vista apresentados no texto narrativo.

Quais são os tipos de narrador?

O texto narrativo pode apresentar dois tipos de narrador.

→ Narrador em primeira pessoa

Existem dois tipos de narrador em primeira pessoa. Veremos cada um deles a seguir.

  • Narrador personagem protagonista

  • Possui relação íntima com a narrativa, pois ela gira em torno do narrador.

  • Sua visão é subjetiva, isto é, traz a opinião, as emoções, os sentimentos e os pensamentos do narrador.

  • Estabelece uma relação de proximidade e, em consequência, de parcialidade. O narrador apresenta ao leitor situações particulares que outras personagens desconhecem. Nesse aspecto, o texto é também parcial, pois só se tem acesso à opinião do narrador protagonista, não havendo espaço para o outro ângulo da situação.

Exemplo:

A voz era a mesma de Escobar, o sotaque era afrancesado. Expliquei-lhe que realmente pouco diferia do que era, e comecei um interrogatório para ter menos que falar e dominar assim a minha emoção. Mas isto mesmo dava animação à cara dele, e o meu colega do seminário ia ressurgindo cada vez mais do cemitério. Ei-lo aqui, diante de mim, com igual riso e maior respeito; total, o mesmo obséquio e a mesma graça. (Machado de Assis)

O trecho acima foi retirado do livro Dom Casmurro. Percebe-se, logo de início, o uso de alguns marcadores de primeira pessoa (“expliquei-lhe”, “minha emoção”) que proporcionam uma relação de confissão entre narrador e leitor. O trecho diz respeito às dúvidas que Bentinho, o protagonista e narrador, tem a respeito da traição de sua amada, Capitu.

Uma das pistas da traição, segundo o narrador, seria a semelhança de seu filho com o seu amigo Escobar. O excerto evidencia esse pensamento e a parcialidade das informações, visto que não há uma visão alternativa (de Capitu ou de Escobar).

Saiba mais: Capitu traiu Bentinho?

  • Narrador personagem testemunha

  • A narrativa gira em torno de outra personagem, e quem narra é um coadjuvante que evidencia a protagonista. A narrativa é construída, portanto, sob o ponto de vista de uma personagem que, dada a sua proximidade com a protagonista, consegue aproximá-la do leitor.

  • Há, assim como no caso do narrador personagem protagonista, um fator de parcialidade. A testemunha ou coadjuvante descreve a outra personagem a partir do seu olhar. Ela pode achar o outro inteligente e sagaz, por exemplo, e, como não existe um contraponto, o leitor constrói a mesma imagem parcial feita pela testemunha.

Exemplo:

Passando os olhos na série um tanto incoerente de casos com que procurei ilustrar algumas das peculiaridades mentais de meu amigo Sherlock Holmes, impressionou-me a dificuldade que tive em escolher exemplos que atendessem a meu propósito sob todos os aspectos. Pois naqueles casos em que Holmes realizou algum tour de force de raciocínio analítico e demonstrou o valor de seus métodos peculiares de investigação, os próprios fatos foram muitas vezes tão insignificantes ou banais que não pude me sentir justificado em expô-los perante o público. (Arthur Conan Doyle)

Em O paciente residente, o narrador é Watson, amigo do detetive Sherlock Holmes. Ele define um ponto de vista que caracteriza Holmes: uma personagem dotada de raciocínio analítico que faz uso de uma série de métodos peculiares.

Ele ressalta, portanto, elementos que descrevem a inteligência e capacidade acima do normal do seu companheiro. Sendo assim,a narrativa é feita por uma testemunha (Watson) que define o protagonista (Sherlock Holmes) de forma parcial, atribuindo-lhe adjetivos elogiosos.

→ Narrador em terceira pessoa

Existem três tipos de narrador em terceira pessoa. Veremos cada um deles a seguir.

  • Narrador observador

  • Conta uma história como alguém que a percebe de fora, sem participar ativamente dela.

  • Por estar distante, a relação não é íntima. Prevalece certa neutralidade.

  • O distanciamento entre narrador e personagens acaba direcionando um foco maior aos acontecimentos da narrativa (enredo) e menor às emoções e anseios das personagens. O conhecimento das personagens por esse tipo de narrador é mais superficial, com poucos detalhes.

Exemplo:

Em pouco tempo a força do rei Polícrates cresceu imensamente, e ele se tornou famoso na Jônia e em toda a Hélade; aonde quer que se dirigisse para guerrear, era em tudo bem-sucedido. Acumulou cem navios de cinquenta remos, e mil arqueiros. Atacava e saqueava a todos, sem fazer distinção de ninguém. De fato, dizia que faria algo mais grato a um amigo restituindo-lhe o que lhe tomara, do que se nunca lhe tivesse roubado coisa nenhuma. Conquistou numerosas ilhas, e também muitas cidades do continente. Entre outros ilhéus que venceu em batalhas navais, conquistou também os lésbios, que haviam acorrido com todas as suas forças em socorro aos milésios; esses, como prisioneiros, escavaram todo o fosso que há em volta das muralhas de Samos. (O anel de Polícrates, Heródoto)

Onarrador observador descreve os feitos do rei Polícrates com certo distanciamento. Não se sabe, por exemplo, o que o narrador pensa da característica de conquistador do rei (não há juízo de valor), e, dessa forma, é mantida a neutralidade. Com esse ponto de vista estabelecido, cabe ao leitor formar sua opinião acerca da personagem, que, nesse texto narrativo, é descrita de forma superficial.

Veja também: Apólogo — texto narrativo curto que apresenta histórias fantásticas

  • Narrador onisciente neutro

  • De forma distinta do narrador observador, este conhece intimamente todas as personagens. Ele sabe de todas as emoções e pensamentos das personagens, mas procura agir de forma neutra, não os revelando repentinamente.

  • É imparcial e não tem intenção de influenciar o leitor, ou seja, prevalece a neutralidade.

  • Por possuir acesso ao que é íntimo (emoções e pensamentos), ele sai da superficialidade e vai mais a fundo, provocando maior imersão do leitor na condição das personagens.

Exemplo:

O rosto de Spade estava calmo. Quando seu olhar encontrou o dela, seus olhos amarelo-pardos brilhavam por um instante com malícia e depois tornaram-se de novo inexpressivos — Foi você que fez isso? — perguntou Dundy à moça, mostrando com a cabeça a testa ferida de Cairo. Ela olhou de novo para Spade, que não correspondeu absolutamente ao apelo dos seus olhos. Encostado ao batente, observava os circunstantes com ar educado e desprendido de um espectador desinteressado. (O falcão maltês, Dashiel Hammett)

No excerto, a característica de narrador onisciente neutro se faz presente quando observamos, principalmente, os seguintes trechos:

  • o rosto de Spade estava calmo(I);

  • quando seu olhar encontrou o dela, seus olhos amarelo-pardos brilhavam por um instante com malícia (II).

Em I, o narrador fornece algumas informações ao leitor sobre o estado da personagem Spade (ele estava calmo, como analisa o narrador a partir de suas feições). A malícia, elemento presente em II, é outra característica que compõe o pensamento de Spade, exposta a partir do olhar (o narrador faz uso de um movimento concreto, o de olhar, e fornece ao leitor uma emoção, a malícia).

  • Narrador onisciente intruso

  • Assim como o narrador onisciente neutro, conhece as emoções e pensamentos das personagens

  • Dá profundidade às personagens. No entanto, de forma distinta do narrador onisciente neutro, emite opinião e procura induzir o leitor a concordar com ele. Prevalece, portanto, a parcialidade.

Exemplo:

Outra observação. O mundo das meretrizes, dos ladrões e dos assassinos, os galés e as prisões comportam uma população sessenta e oito mil indivíduos, machos e fêmeas [...] Não será extravagante constatar que a justiça, os gendarmes e a política oferecem um número de pessoal quase correspondente? Esse antagonismo de gente que se procura e que reciprocamente se evita, constitui um imenso duelo, eminentemente dramático, esboçando no presente estudo. Com o roubo e o meretricio sucede o mesmo que com o teatro, a polícia, o sacerdócio e a gendarmaria. Nessas seis condições, o indivíduo toma o caráter indelével. Não pode mais ser o que é. (Balzac)

Em Esplendores das cortesãs, o narrador onisciente intruso descreve uma série de nuances e elementos sociais que influenciam no comportamento das personagens. Elas são apresentadas com suas inconstâncias e desespero por condições de vida melhores, por conta do contexto sócio-histórico em que vivem.

Dessa forma, além de apresentar o estado de sofrimento das personagens, o narrador dá sua opinião, atribuindo a elas a condição social desfavorável da época. O recurso utilizado é uma maneira de convencer o leitor, o que caracteriza um narrador onisciente intruso parcial.

Videoaula sobre narração

Por Rafael Camargo de Oliveira
Professor de Redação

Qual é o foco narrativo identifique?

O foco narrativo designa o ponto de vista daquele que narra a história. Dessa forma, ele pode ser em primeira pessoa, isto é, quando pertence a uma das personagens (principal ou coadjuvante), e também pode ser em terceira pessoa, ou seja, quando não pertence a uma das personagens, localizando-se fora da história.

Quais os 3 tipos de foco narrativo?

Os tipos de narrador são o narrador personagem (em primeira pessoa), que participa da história; o narrador observador (em terceira pessoa), que apenas narra o que vê; e o narrador onisciente (também em terceira pessoa), que tem total conhecimento de personagens e fatos.

Qual é o foco narrativo é tipo de narrador da obra de Júlio Verne?

Na obra Miguel Strogoff, de Júlio Verne, verifica-se a presença clássica do tipo de narrador observador: distante e neutro, ele apresenta a vida do personagem como um filme.

Como o narrador se apresenta no texto qual é o foco narrativo?

Foco narrativo é o ponto de vista daquele que conta uma história. O foco narrativo pode ser em primeira ou em terceira pessoa. O narrador personagem possui um ponto de vista em primeira pessoa. O observador e o onisciente possuem ponto de vista em terceira pessoa.