Hanseniase é a mesma coisa que lepra

Hanseníase é uma infecção crônica normalmente causada pelo bacilo álcool-ácido resistente Mycobacterium leprae, que apresenta um tropismo incomparável pelos nervos periféricos, pele e mucosas do trato respiratório superior. Os sintomas são múltiplos, inclusive lesões cutâneas, polimórficas anestésicas e neuropatia periférica. O diagnóstico é clínico e confirmado por biópsia. O tratamento é feito com dapsona combinada a outros fármacos antimicobacterianos. Os pacientes tornam-se rapidamente não contagiosos após o início da terapia.

M. leprae era a única causa conhecida de lepra até 2008, quando uma segunda espécie, M. lepromatosis, foi identificada no México.

Embora a hanseníase não seja muito contagiosa e raramente provoque a morte, podendo ser tratada de forma eficaz com antibióticos, e continua associada com estigma social considerável. A compreensão errônea da doença provavelmente existe porque a lepra era incurável antes do advento da terapia antibiótica eficaz na década de 1940. As pessoas com a doença se tornavam desfiguradas e muitas vezes tinham deficiências significativas, fazendo com que fossem temidas e evitadas por outros indivíduos. Por causa desse estigma social, o impacto psicológico da lepra é muitas vezes significativo.

A hanseníase pode ocorrer em qualquer idade, mas aparece, na maioria das vezes, nas pessoas de 5 a 15 anos ou > 30 anos.

Os seres humanos são os principais reservatórios naturais para M. leprae. Os tatus são a única fonte confirmada além dos seres humanos, apesar de poderem existir outras fontes animais e ambientais.

Acredita-se que a hanseníase seja disseminada pela transmissão de uma pessoa para outra via gotículas e secreções nasais. Contato casual (p. ex., simplesmente tocar uma pessoa com a doença) e contato breve parecem não disseminar a doença. Cerca de metade das pessoas com hanseníase provavelmente a contraiu por ter contato próximo e prolongado com uma pessoa infectada. Mesmo após o contato com a bactéria, a maioria das pessoas não contrai hanseníase; geralmente, os profissionais de saúde trabalham durante vários anos com pessoas que têm hanseníase sem contraírem a doença. A maioria (95%) das pessoas imunocompetentes infectadas pelo M. leprae não desenvolve hanseníase em virtude de sua imunidade eficaz. Aqueles que o fazem, provavelmente têm uma predisposição genética.

M. leprae cresce lentamente (dobrando em 2 semanas). O período de incubação habitual varia de 6 meses a 10 anos. Uma vez que a infecção se desenvolve, a disseminação hematogênica pode ocorrer.

A hanseníase pode ser classificada pelo tipo e número de áreas da pele comprometidas:

  • Paucibacilar: 5 lesões na pele sem detecção de bactéria nas amostras destas áreas

  • Multibacilar: 6 lesões na pele, detecção de bactéria nas amostras das lesões da pele, ou ambos

A hanseníase também pode ser classificada pela resposta celular e pelos achados clínicos:

  • Tuberculoide

  • Lepromatosa

  • Borderline

Pessoas com hanseníase tuberculoide tipicamente têm uma forte resposta mediada por células, que limita a doença a algumas lesões da pele (paucibacilar), e a doença é mais leve, menos comum e menos contagiosa. Pessoas com hanseníase lepromatosa ou indeterminada tipicamente são deficientes em imunidade mediada por células a M. leprae, apresentando infecção mais grave e sistêmica com infiltração bacteriana difusa na pele, nos nervos e em outros órgãos (p. ex., nariz, testículos, rins). Têm mais lesões na pele (multibacilar) e a infecção é mais contagiosa.

Nas duas classificações, o tipo de hanseníase dita

  • O prognóstico a longo prazo

  • Prováveis complicações

  • Duração do tratamento com antibióticos

Sinais e sintomas da hanseníase

Os sintomas de hanseníase geralmente só aparecem > 1 ano após a infecção (em média 5 a 7 anos). Assim que os sintomas aparecem, progridem lentamente.

A hanseníase afeta principalmente a pele e os nervos periféricos. O comprometimento dos nervos provoca dormência e fraqueza nas áreas controladas pelos nervos afetados.

  • Hanseníase tuberculoide (doença de Hansen paucibacilar): lesões cutâneas consistem em uma ou algumas máculas hipoestésicas, centralmente hipopigmentadas, com bordas nítidas e elevadas. O exantema, como em todas as formas de hanseníase, não é pruriginoso. As áreas afetadas por esse exantema ficam dormentes por causa das lesões nos nervos periféricos subjacentes e podem estar muito aumentadas.

  • Hanseníase lepromatosa (doença de Hansen multibacilar): grande parte da pele e muitas áreas do corpo, como os rins, o nariz e os testículos, podem ser afetadas. Os pacientes apresentam máculas, pápulas, nódulos, ou placas cutâneos, que frequentemente são simétricos. A neuropatia periférica é mais grave do que na hanseníase tuberculoide com mais áreas dormentes; certos grupos musculares podem estar fracos. Os pacientes podem apresentar ginecomastia, perder cílios e sobrancelhas.

  • Hanseníase indeterminada (também denominada multibacilar): há características tanto da hanseníase tuberculoide quanto da lepromatosa. Sem tratamento, a hanseníase indeterminada pode se tornar menos grave e mais parecida com a forma tuberculoide ou pode piorar e parecer mais com a forma lepromatosa.

Complicações

As complicações mais graves são decorrentes de neurite periférica, que provoca deterioração do sentido do tato e uma incapacidade correspondente de sentir dor e temperatura. Pacientes podem, sem saber, se queimar, se cortar, ou se machucar. As lesões repetidas podem levar à perda de dígitos. A fraqueza muscular pode resultar em deformidades (p. ex., 4º e 5º dedos em garra, provocado pelo comprometimento do nervo ulnar; queda do pé causada por comprometimento do nervo fibular).

Pápulas e nódulos podem ser particularmente desfigurantes na face.

Outras áreas do corpo podem ser afetadas:

  • Pés: úlceras plantares com infecção secundária são as causas principais de morbidade, tornando o andar doloroso.

  • Nariz: os danos à mucosa nasal podem resultar em congestão nasal crônica e sangramentos e, se não forem tratados, perfuração e colapso da cartilagem nasal.

  • Função sexual: homens com hanseníase lepromatosa podem ter disfunção erétil e infertilidade. A infecção pode reduzir os níveis de testosterona e de produção de esperma pelos testículos.

Hanseníase reacional

Durante o curso da hanseníase, tratada ou não tratada, o sistema imunitário pode produzir manifestações inflamatórias. Existem 2 tipos.

Reações do tipo 1 resultam de melhora espontânea da imunidade celular. Essas reações podem causar febre e inflamação de lesões preexistentes e lesões dos nervos periféricos, resultando em edema cutâneo, eritema e neurite dolorosa e sensível. Essas reações contribuem significativamente para lesão do nervo, em particular se não forem tratadas precocemente. Como a resposta imunitária está aumentada, são chamadas de reações de reversão, apesar do agravamento clínico aparente.

Reações do tipo 2 (eritema nodoso por hanseníase) são reações inflamatórias sistêmicas que se parecem com vasculite ou paniculite polimorfonuclear e provavelmente envolvem imunocomplexos circulantes ou função aumentada das células T-helper. Tornaram-se menos comuns com o acréscimo de clofazimina no esquema de tratamento. Os pacientes podem apresentar pápulas ou nódulos eritematosos e dolorosos que podem formar pústulas e ulcerar, produzindo febre, neurite, linfadenite, orquite, artrite (particularmente em grandes articulações, com frequência nos joelhos) e glomerulonefrite. A hemólise ou supressão de medula óssea pode produzir anemia e a inflamação hepática pode produzir anormalidades leves nos testes de função hepática.

  • Exame microscópico de amostras de biópsia da pele

O diagnóstico da hanseníase costuma ser tardio nos EUA porque os médicos não estão familiarizados com as manifestações clínicas.

Hanseníase é sugerida pela presença de lesões cutâneas e neuropatia periférica e é confirmada por exame microscópico das amostras por biópsia. Mycobacterium leprae e M. lepromatosis não crescem em meios artificiais de cultura. Devem ser retiradas amostras de biópsia das bordas das lesões tuberculoides ou, em pacientes lepromatosos, devem ser retirados espécimes de nódulos ou placas, embora alterações patológicas possam ser visíveis até mesmo em pele aparentemente normal.

Anticorpos imunoglobulina (Ig) M no soro para M. leprae são específicos, mas não sensíveis (presente apenas em dois terços dos pacientes com hanseníase tuberculoide). Como tais anticorpos podem indicar infecção assintomática em áreas endêmicas, sua utilidade diagnóstica é limitada.

  • Esquemas multifármacos a longo prazo com dapsona, rifampicina e, algumas vezes, clofazimina

  • Às vezes, antibióticos de manutenção por toda a vida

Os antibióticos podem interromper a progressão da hanseníase, mas não revertem os danos aos nervos ou as deformidades. Assim, a detecção e o tratamento precoces são de vital importância.

Devido à resistência aos antibióticos, são utilizados esquemas com vários fármacos. Os fármacos escolhidos dependem do tipo de hanseníase; a hanseníase multibacilar necessita de esquemas mais potentes e de maior duração que a paucibacilar.

Orientações sobre diagnóstico e tratamento estão disponíveis no National Hansen’s Disease Program, em Baton Rouge, LA (1-800-642-2477), ou US Health Resources and Services Administration at HRSA. Os esquemas convencionais recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) diferem um pouco dos utilizados nos EUA.

O esquema convencional da OMS contém dapsona, rifampicina e clofazimina. A OMS fornece esses fármacos gratuitamente para todos os pacientes com hanseníase em todo o mundo. Os pacientes tomam rifampicina, 600 mg por via oral e clofazimina, 300 mg por via oral uma vez ao mês sob a supervisão de um profissional de saúde, e dapsona, 100 mg por via oral associada a clofazimina, 50 mg por via oral uma vez ao dia, sem supervisão. Esse esquema é mantido durante 12 meses.

Nos EUA, o esquema é rifampicina, 600 mg por via oral uma vez ao dia; dapsona, 100 mg por via oral uma vez ao dia; e clofazimina, 50 mg por via oral uma vez ao dia por 24 meses.

No esquema convencional da OMS, os pacientes tomam rifampicina, 600 mg por via oral uma vez ao mês com supervisão, e dapsona, 100 mg por via oral uma vez ao dia, sem supervisão, durante 6 meses. As pessoas que têm somente uma lesão cutânea única recebem uma única dose oral de rifampicina, 600 mg, ofloxacino, 400 mg, e minociclina, 100 mg.

Nos EUA, o esquema é rifampicina, 600 mg por via oral uma vez ao dia, e dapsona, 100 mg por via oral uma vez ao dia, durante 12 meses.

A dapsona é relativamente barata e sua utilização é, geralmente, segura. Efeitos adversos incluem hemólise e anemia (geralmente leve); dermatite alérgica, que pode ser grave; raramente, uma síndrome que compreende dermatite esfoliativa, febre alta e diferencial de leucócitos semelhante ao da mononucleose (síndrome de dapsona).

A rifampicina (RIF) é primariamente bactericida para o M. leprae e é ainda mais eficaz do que a dapsona. Mas se administrada na dose recomendada nos EUA de 600 mg por via oral uma vez ao dia, é muito cara para muitos países em desenvolvimento, porém, é disponibilizada gratuitamente pela OMS. Efeitos adversos incluem hepatotoxicidade, síndromes semelhantes à influenza e, raramente, trombocitopenia e insuficiência renal.

Clofazimina é extremamente segura. O principal efeito colateral é a pigmentação reversível da pele, mas a pigmentação pode levar meses para desaparecer. Clofazimina só pode ser obtida nos EUA do Department of Health and Human Services como um novo fármaco experimental. Para solicitar informações adicionais ou o status do investigador para poder usar a clofazimina, os médicos podem entrar em contato com o National Hansen's Disease (Leprosy) Program em 1-800-642-2477.

Para pacientes com reações do tipo 1 (exceto inflamação cutânea mínima), administra-se inicialmente prednisona, 40 a 60 mg por via oral uma vez ao dia, seguida por baixas doses de manutenção (na maioria das vezes, tão reduzidas quanto 10 a 15 mg, uma vez ao dia) durante alguns meses. Inflamação leve de pele não deve ser tratada.

O primeiro e o 2º episódios de eritema nodoso por hanseníase podem ser tratados, se leves, com ácido acetilsalicílico ou, se significantes, com prednisona, 40 a 60 mg por via oral uma vez ao dia, somada a antimicrobianos, durante 1 semana. Para casos recorrentes, talidomida, 100 a 300 mg por via oral 1 vez/dia, é o fármaco de escolha (nos EUA, disponível pelo National Hansen’s Disease Program). Porém, por causa de sua teratogenicidade, a talidomida não deve ser administrada a mulheres com probabilidade de engravidar. Efeitos adversos são constipação intestinal leve, leucopenia discreta e sedação.

Como a hanseníase não é muito contagiosa, o risco de propagação é baixo. Apenas a forma lepromatosa não tratada é contagiosa, mas mesmo assim a infecção não se propaga facilmente. Mas deve-se monitorar nos contatos domiciliares (especialmente crianças) dos pacientes com hanseníase o aparecimento de sinais e sintomas de hanseníase. Uma vez iniciado o tratamento, a hanseníase não pode ser transmitida.

A melhor prevenção é

  • Evitar o contato com secreções fisiológicas e exantema em pessoas infectadas.

A vacina de BCG, utilizada para prevenir a tuberculose, fornece alguma proteção contra a hanseníase, mas não costuma ser utilizada para esse propósito. A quimioprofilaxia não desempenha nenhum papel.

  • Hanseníase é uma infecção crônica geralmente causada pelo bacilo Mycobacterium leprae álcool-ácido resistente.

  • A hanseníase não é muito contagiosa nos pacientes não tratados e não é absolutamente contagiosa depois do início do tratamento.

  • A hanseníase afeta principalmente a pele e os nervos periféricos.

  • As complicações mais graves resultam da perda do sentido do tato, dor e temperatura; fraqueza muscular que pode resultar em deformações; e lesões desfigurantes na pele e na mucosa nasal.

  • Reações inflamatórias, chamadas reações hansênicas, podem ocorrer e requerem tratamento com corticoides.

  • Diagnosticar com base em biópsia; M. leprae e M. lepromatosis não crescem em culturas.

  • O tratamento depende da forma da hanseníase, mas envolve esquemas com múltiplos fármacos tipicamente utilizando dapsona, rifampicina e, para multibacilar, clofazimina e, para paucibacilar, dapsona e rifampicina.

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Qual a diferença entre lepra e hanseníase?

Também conhecida como lepra ou mal de Lázaro, a hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa, que afeta os nervos e a pele e é causada por um bacilo chamado Mycobacterium leprae.

Como se pega lepra ou hanseníase?

Transmissão. O Mycobacterium leprae é transmitido por meio de gotículas de saliva eliminadas na fala, tosse e espirro, em contatos próximos e frequentes com doentes que ainda não iniciaram tratamento e estão em fases adiantadas da doença.

Porque mudou o nome de lepra para hanseníase?

Foi o médico norueguês Gerhard Armauer Hansen, notável pesquisador sobre o tema, que identificou, em 1873, este bacilo como o causador da lepra, a qual teve seu nome trocado para hanseníase em homenagem ao seu descobridor (Foss, 1999 e Gomes, 2000).

Como se chama a antiga lepra?

Hanseníase ou lepra, nome pelo qual a enfermidade era conhecida no passado, é uma doença infectocontagiosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, em memória de seu descobridor. É provável que a transmissão se dê pelas secreções das vias aéreas superiores e por gotículas de saliva.

O que é a lepra?

A Hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae. Muitas pessoas conhecem a doença pelo nome de lepra e pode ser chamada ainda de doença de Hansen. Ela acomete principalmente a pele e nervos periféricos, podendo levar a sérias incapacidades físicas.

Qual animal transmite a hanseníase?

Estudo mostra que Hanseníase pode ser transmitida por meio do contato com tatus.