Pense no que você estudou neste livro até agora como você poderia explicar o conceito de identidade

A identidade cultural é um conjunto híbrido e maleável de elementos que formam a cultura identitária de um povo, ou seja, que fazem com que um povo se reconheça enquanto agrupamento cultural que se distingue dos outros.

É difícil definir uma identidade cultural específica, pois ela é maleável e depende do momento e das peculiaridades culturais de uma determinada sociedade.

Atualmente, o maior desafio para se manter a identidade cultural dos grupos sociais é a globalização, que determina padrões culturais baseados na cultura estadunidense, que tem se tornado hegemônica no mundo.

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As vestimentas, os hábitos e costumes são elementos da identidade cultural.

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O que é identidade cultural?

A palavra identidade está associada, historicamente, ao que algo é. Na Filosofia, a essência é a definição do que algo é, ou seja, a identidade é a definição da essência. A identidade cultural não está distante da definição de identidade, pois ela é a identificação essencial da cultura de um povo. O que um povo produz linguística, religiosa, artística, científica e moralmente compõe o seu conjunto de produção cultural. Esse conjunto tende a seguir certos padrões dentro de sociedades, o que cria um aspecto identitário para as culturas de determinadas sociedades.

A identidade cultural é, justamente, esse padrão que identifica uma produção cultural a certo grupo social. Por exemplo, podemos associar certos tipos de roupas e um ritmo musical específico à cultura hip hop, que surgiu nos centros urbanos a partir da década de 1980. Também identificamos algumas pinturas corporais como dos índios habitantes das aldeias indígenas brasileiras, assim como e identificamos as flautas feitas de bambu tocadas em certos ritmos com os nativos do território boliviano. A identidade cultural funciona, portanto, criando laços que ligam certos elementos a povos específicos.

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A preservação da identidade cultural é necessária em meio à homogeneidade cultural do mundo globalizado.

A importância da identidade cultural no século XXI

O século XXI vivencia o ápice da globalização. O fenômeno da globalização começou com força na década de 1960, período da Guerra Fria (quando Estados Unidos e União Soviética disputavam a hegemonia do poder político no mundo). Com o fim da União Soviética, no final da década de 1980, o capitalismo estadunidense passou a dominar as relações comerciais e políticas.

Com isso, houve uma invasão da cultura norte-americana em países da América do Sul, países africanos e países orientais. Essa invasão da cultura norte-americana como modo cultural hegemônico ocasionou uma mudança de perspectiva, que colocou o hábito cultural imposto no lugar do hábito cultural tradicional.

Podemos perceber, por exemplo, que o gosto musical dos brasileiros mudou ao longo dos tempos. Se até a década de 1960 os brasileiros consumiam mais uma música brasileira de origem regional, a partir dessa década, passou-se a ouvir mais músicas estrangeiras. Com o fenômeno da importação de filmes e programas televisivos dos Estados Unidos e, a partir dos anos 2000, com o advento da popularização da internet, a música consumida pela população brasileira sofreu uma influência norte-americana muito maior.

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Exemplos de identidade cultural

É difícil delinear exemplos claros de identidade cultural, visto que a cultura é um termo muito amplo e maleável. No entanto, alguns aspectos culturais podem ser separados e postos como exemplos de elementos identitários de determinadas culturas. Listamos a seguir alguns exemplos de identidade cultural que são associados a algumas culturas:

  • Religiosidade: as diversas religiões são elementos identitários de certos grupos culturais. Cristãos (católicos, protestantes ou espíritas), judeus, muçulmanos, candomblecistas, budistas, hinduístas ou qualquer outra denominação religiosa compreendem grupos identitários que se relacionam a determinadas culturas.

  • Artes plásticas: os artefatos produzidos por artistas plásticos e artesãos também são fortes elementos de identidade cultural de um povo. Os adereços corporais, a pintura e a escultura podem representar de maneira efetiva uma cultura.

  • Música: é um elemento de identidade cultural muito eficaz. De acordo com o ritmo ou com os instrumentos utilizados, é possível estabelecer de onde a música se originou, havendo uma noção de identidade cultural implícita nessa relação. A música sertaneja composta por viola caipira, por exemplo, remete ao sertão do Brasil, enquanto os ritmos rápidos com tambores e chocalhos remetem aos ritmos africanos ou de origem africana.

  • Culinária: forte elemento de identidade cultural. É comum associarmos as massas à culinária italiana, o bacalhau à culinária portuguesa, o sushi à culinária japonesa, a paella à culinária espanhola, a feijoada à culinária brasileira e a cerveja à culinária alemã. Os hábitos culinários dizem muito a respeito da cultura em questão.

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Identidade cultural brasileira

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A culinária representa um aspecto importante da identidade cultural de um povo. O acarajé é um elemento da cultura baiana.
  • Samba: ritmo original do Brasil, possui uma forte raiz nos ritmos entoados por povos de origem africana, sendo uma variante sonora originalmente brasileira que surgiu nas favelas do Rio de Janeiro.

  • Feijoada: prato típico brasileiro, reúne o feijão preto, cortes de carne bovina seca, como o charque, e carnes suínas embutidas e defumadas, como o paio e o bacon. A feijoada é um prato tipicamente brasileiro que representa a nossa identidade cultural fora do país.

  • Caipirinha: um drink originalmente brasileiro que representa, de maneira geral, a nossa cultura no exterior. Composta por cachaça, gelo, açúcar e limão, a bebida teve origem no Rio de Janeiro.

  • Religiões de matriz africana: apesar de uma maioria cristã no Brasil (tanto católica quanto protestante), uma marca cultural de nosso país está nas crenças religiosas de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, que nasceram aqui a partir da miscigenação entre as religiões africanas e o cristianismo.

  • Cultura sertaneja: o sertão do Brasil, em especial o sertão nordestino, é rico em elementos culturais, sejam culinários, religiosos, linguísticos, literários, musicais, sejam das artes plásticas. Essa cultura sertaneja compõe a nossa identidade cultural.

A identidade cultural ainda é bastante discutida dentro dos círculos teóricos das Ciências Sociais em face de sua complexidade. Entre as possíveis formas de entendimento da ideia de identidade cultural, exitem duas concepções distintas que devemos destacar dentro dos estudos sociológicos mais recentes. Essas concepções de identidade são brevemente explicadas por Anthony Giddens, sociólogo britânico, e nos ajudarão a entender melhor esse conceito.

Antes de falarmos sobre os diferentes conceitos de identidade cultural, devemos esclarecer primeiro a ideia geral de cultura e de identidade. A noção de cultura faz alusão às características socialmente herdadas e aprendidas que os indivíduos adquirem a partir de seu convívio social. Entre essas características, estão a língua, a culinária, o jeito de se vestir, as crenças religiosas, normas e valores. Esses traços culturais possuem influência direta sobre a construção de nossas identidades, uma vez que elas constituem grande parte do conjunto de atributos que formam o contexto comum entre os indivíduos de uma mesma sociedade e são parte fundamental da comunicação e da cooperação entre os sujeitos.

O conceito de identidade refere-se a uma parte mais individual do sujeito social, mas que ainda assim é totalmente dependente do âmbito comum e da convivência social. De forma geral, entende-se por identidade aquilo que se relaciona com o conjunto de entendimentos que uma pessoa possui sobre si mesma e sobre tudo aquilo que lhe é significativo. Esse entendimento é construído a partir de determinadas fontes de significado que são construídas socialmente, como o gênero, nacionalidade ou classe social, e que passam a ser usadas pelos indivíduos como plataforma de construção de sua identidade.

Dentro desse conceito de identidade, há duas distinções importantes que devemos entender antes de prosseguirmos. A teoria sociológica distingue duas apreensões: a identidade social e a autoidentidade. A identidade social refere-se às características atribuídas a um indivíduo pelos outros, o que serve como uma espécie de categorização realizada pelos demais indivíduos para identificar o que uma pessoa em particular é. Portanto, o título profissional de médico, por exemplo, quando atribuído a um sujeito, possui uma série de qualidades predefinidas no contexto social que são atribuídas aos indivíduos que exercem essa profissão. A partir disso, o sujeito posiciona-se e é posicionado em seu âmbito social em relação a outros indivíduos que partilham dos mesmos atributos.

O conceito de autoidentidade (ou a identidade pessoal) refere-se à formulação de um sentido único que atribuímos a nós mesmos e à nossa relação individual que desenvolvemos com o restante do mundo. A escola teórica do “interacionismo simbólico” é o principal ponto de apoio para essa ideia, já que parte da noção de que é diante da interação entre o indivíduo e o mundo exterior que surge a formação de um sentido de “si mesmo”. Esse diálogo entre mundo interior do indivíduo e mundo exterior da sociedade molda a identidade do sujeito que se forma a partir de suas escolhas no decorrer de sua vida.

Por fim, podemos estabelecer, diante do que já foi esclarecido, que o conceito de identidade cultural faz alusão à construção identitária de cada indivíduo em seu contexto cultural. Em outras palavras, a identidade cultural está relacionada com a forma como vemos o mundo exterior e como nos posicionamos em relação a ele. Esse processo é continuo e perpétuo, o que significa que a identidade de um sujeito está sempre sujeita a mudanças. Nesse sentido, a identidade cultural preenche os espaços de mediação entre o mundo “interior” e o mundo “exterior”, entre o mundo pessoal e o mundo público. Nesse processo, ao mesmo tempo que projetamos nossas particularidades sobre o mundo exterior (ações individuais de vontade ou desejo particular), também internalizamos o mundo exterior (normas, valores, língua...). É nessa relação que construímos nossas identidades.

Por Lucas Oliveira

Graduado em Sociologia