Como você já sabe forma e conteúdo são componentes


Ilus tração d e Fernando Pessoa, feita por Índio San, para a revis ta Bravo! n. 185, ed. jan. 20 13. Editora Abril. A multiplicidad e d e personalidad es poéticas marcou a obra d e um dos maiores poetas do século XX: Fernando Pessoa. I N D I O S A N Fernando Pessoa, ortônimo Os heterônimos: Alberto Caeiro Ricardo Reis e Álvaro s M o d er n i sm o p o r tu g u e s: a m u l ti p l i ci d a d e d e u m p o eta R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 M i l h a r e s d e s i t e s s ã o c r i a d o s e d e s a t i v a d o s d i a r i a m e n t e . P o r e s s a razão, é possível que os endereços indicados nes- te capítulo não estejam mais disponíveis. V ocê lerá versos de um longo poema escrito por Fernando Pessoa e atribuído por ele a Álvaro de Campos, uma de suas personalidades literárias, que conheceremos adiante. Esse poema foi publicado originalmente na primeira edição da revista literária Orpheu, em março de 1915. Ode triunfal À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! [...] Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina! Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-mode o! Poder ao menos penetrar-me sicamente de tudo isto, Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento A todos os perfumes de óleos e calores e carvões Desta ora estupenda, negra, articial e insaciável! [...] C A M POS, Á lvaro de. Ode t r iun fa l. In: GA L HOZ, Mar ia A liete ( Org. ). Fer nando Pe ssoa: obra poét ica. R io de Janeiro: Nova Ag uilar, 1999 . p. 306. ( Frag mento ). 1 Od e é uma composição poética d e tom solene por meio da qual se exaltam atributos d e figuras ilus tres. Quem ou o que es tá sendo exaltado n os versos d e “Od e triunfal”? 2 A que vanguarda euro peia (es t udada por você n o capít ulo anterior) os versos d e Álvaro d e Campos pod em ser associados ? Jus tifique sua respos ta. 3 No primeiro verso da segunda es trofe, ocorre uma on omato peia. Localize essa figura d e linguagem e explique que e feito d e sentido ela tem n o texto, tendo em vis ta sua respos ta à ques tão anterior. Papilas: pequenas saliências da pele. Passento: que absor ve líquidos facilmente. O nomato pe : f igura de linguagem que con- sis te n a re p re s e nt a ç ã o de um ruído ou som por uma palavra ou conjunto de palavras. G A L Ã O V V R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 28 4 No poema, há quase uma fusão entre o eu lírico e o que ele d en omina “flo- ra es t upenda, negra, artificial e insaciável”, ou seja, o ambiente da fábrica. Explique essa afirmação. Os longos versos livres e brancos de “Ode triunfal” exemplificam o empenho dos ar tistas por tugueses em atualizar a ar te do país, incorporando as referências aos “maquinismos em fúria” e ao mundo novo que já caracterizava par te das nações europeias nas primeiras décadas do século X X. O eu lírico do poema que você leu deseja manifestar -se “ como um motor se exprime” , sugerindo que é necessário buscar novas formas de expressão, que dialoguem com a velocidade, os ruídos, as massas das grandes cidades. É o início do Modernismo por tuguês. Nas primeiras décadas do século passado, Por tugal viveu uma série de difi- culdades. O rei Carlos I foi assassinado em 19 08, com o príncipe herdeiro, o que revoltou a Europa. Seu sucessor, D. Manuel II, manteve a monarquia por mais dois anos, mas foi derrubado por um golpe militar que, com apoio popular, instaurou a República no país em 1910. Seguiram -se anos de instabilidade política e enfra- quecimento econômico, aprofundado, entre outros fatores, pela par ticipação da Primeira Guerra Mundial. Em 1926, o exército tomou o poder , e o país passou a ser comandado por Antô- nio de Oliveira Salazar (1889 -1970), que instituiu um governo autoritário, finalizado somente em 197 4, com a chamada Revolução dos Cravos. Fernando Pessoa A par tir de 1914, realizou-se em terras lusitanas uma série de discussões em torno do Futurismo de Marinetti. Um ano depois, foi publicada a revista Orpheu considerada marco do Modernismo por tuguês. Os or fistas almejavam ser por- tugueses escrevendo para a Europa e tinham como proposta criar uma poesia “ desnacionalizada” , irreverente, indignada, original, anárquica e antiburguesa, em diálogo com os tempos modernos. Embora a revista Orpheu tenha contado com nomes de peso da poesia por- tuguesa (como Mário de Sá- Carneiro e Almada Negreiros), destaca-se nela a produção de Fernando Pessoa. Fernando P essoa “ ele-mesmo ” A poesia or tônima — aquela assinada pelo próprio Fernando Pessoa — e escrita em língua por tuguesa (o poeta publicou poemas também em inglês ) apresenta um conjunto de características que permite sua divisão em duas categorias: saudosista- -nacionalista e lírica.  P oesia saudosista-nacionalista Grande parte da poesia saudosista-nacionalista de Fernando Pessoa está reunida em Mensagem. Nessa obra cur ta, composta de 44 poemas, predominam o “misti- cismo nacionalista” (for talecido pelo contexto da crise republicana e da Renascença por tuguesa) e a retomada do passado glorioso lusitano (a expansão marítima, o sebastianismo, as grandes figuras históricas ). Muitos dos poemas que compõem a co- letânea apresentam tom épico, e alguns deles dialogam com Os lusíadas, de Camões. F e r n a n d o P e s s o a (1888-1935) nasceu em Lisboa, mas realizou seus primeiros estudos na Áfri- ca do Sul, onde a família fixou residência. Em 1905 voltou para Lisboa. Com a m i g o s c o m o o p o e t a Mário de Sá-Carneiro e o pintor e escritor Almada Negreiros, impulsionou o Modernismo português. Marcos literários O M o d e r n i s m o p o r t u g u ê s te m i níc io co m a p u b l ic a ç ã o d a r e v i s t a l i t e r á r i a O r- pheu, em 1915. Nesse mesmo ano, ocorre a e x p osiç ã o “ H u m o r is- tas e Modernistas” , na cidade do Por to. B A P T I Ã O R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 29 A coletânea Mensagem (1934 ) é dividida em três partes, duas que tratam da história de Portugal e uma terceira, que remete ao futuro. É desta última parte o poema a seguir . Leitura O Quinto Império Grécia, Roma, a Cris tandad e e a Euro pa pós-renascentis ta seriam os outros quatro impérios, grandiosos por possuírem significativa força cult ural e espirit ual. O mito do “Quinto Império” foi assunto d e His tória do , obra d e um dos o expoentes do Barroco em língua port uguesa, o padre Antônio Vieira. Triste e quem vive em casa, Contente com o seu ar, Sem que um son o, no erguer [de asa, Faça até mais ru ra a rasa Da lareira a aban onar! Triste de quem é feliz! Vive porque a vida dura. Nada na alma lhe diz Mais que a lição da raiz — Ter por vida a sepultura. Eras sobre eras se somem No tempo que em eras vêm. Ser descontente é ser homem. Que as forças cegas se domem Pela visão que a alma tem! E assim, passados os quatro Tempos do ser que sonhou, A terra será theatro Do dia claro, que no atro Da erma noite começou. Grecia, Roma, Cristandade, Europa — os quatro se vão Para onde vae toda edade. Quem vem viver a verdade Que morreu D. Sebastião? PESSOA , Fer na ndo. O Quinto Impér io. In: GA L HOZ, Mar ia A liete ( Org. ). Fer nando Pe ssoa: obra poét ica. R io de Janeiro: Nova Ag uilar, 1999 . p. 84 - 85. 1 Reúna-se com seus colegas e, com o auxílio do professor, discutam a afirmação a seguir, a partir da análise geral do poema. A leitura do poema “O Quinto Império” nos permite interpretá-lo de duas maneiras: no âmbito individual, humano, desvinculado do objetivo geral de Mensagem e do contexto histórico por tuguês, e no âmbito histórico, coletivo, relacionado ao objetivo geral da coletânea e do contexto por tuguês da época de Fernando Pessoa. 2 Que atit ud es o eu lírico id entifica como “T er por vida a sepult ura”? 3 Que d esafio ele lança ao povo port uguês? Atro: escuro. Erma: solitária, deser ta. O que é o “Super- - Camões”?  “O mito é o nada que é tudo” Fernando Pessoa defendia que seu sebastianismo era “racional” , ou seja, tinha consciência da “mentira” do mito. Seu sebastianismo consistia em proclamar o surgimento de um “Super - Camões” (ele mesmo?) e de um “homem for te” que fariam Por tugal retomar sua impor tância econômica e política na Europa. Em seu disco Ind ivisí- ve , José Migue W isni musicou um poema e Fernando Pessoa: “T enho d ó da s e s t rel a s”. O uç a a c a n ç ã o e m: < t t p : // z e m i g u e w i s n i . a n camp.com/a um/--2>. A Bi i N i n d e Po r tuga l digit a lizo u m n ri P - soa e disp onibilizou - os n - l i n : < h t t p : // p u r l . pt/1000/1/>. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . Para uma discussão mais aprofundada sobre o “Super -Camões” e o “Sebastianismo racional” de Pessoa, recomendamos a leitura do prefácio escrito por Richard Zentith para a edição especial de Mensagem (In: PESSOA, Fernando. Mensagem a obra épica do maior autor português do século XX. 3. ed. Cruz Quebrada: Oficina do Livro, 2006. p. 7 - 16. ) g ( 30  P oesia lírica A poesia lírica de Fernando Pessoa está reunida nas obras póstumas Quadras ao gosto popular e Cancioneiro (título que remete às coletâneas de poemas medievais). Por meio dela, o poeta resgata ritmos e formas tradicionais do lirismo lusitano. Perpassa o Canc one ro um princípio poético segundo o qual um poema deve representar , simultaneamente, “paisagens interiores” (mundo interior) e “paisagens pelo homem é constituída de uma série de “sensações mescladas” , e não isoladas. Leitura Pobre velha música No poema “Pobre velha música” , há uma representação simultânea da “paisagem interior” (rememoração da infância) e da “exterior” (audição de uma música “pobre” e “velha”). Você acha que a música tem o poder de reviver passagens da vida e de transformá-las? Que música traz sua infância de volta e a faz parecer mágica e feliz? Po re ve a música! Não sei por que agra o, Enc e-se e ágrimas Meu olhar parado. Recordo outro ouvir-te Não sei se te ouvi Nessa minha infância Que me em ra em ti. Com que ânsia tão raiva Quero aque e outrora! E eu era e iz? Não sei: Fui-o outrora agora. PESSOA , Fer nando. Pobre vel ha música. In: GA L HOZ, Mar ia A liete ( Org. ). Fer nando Pe ssoa: obra poét ica. R io de Janeiro: Nova Ag uilar, 1999 . p. 1 4 0 - 1 4 1. 1 Como você já sa be, forma e conteúdo são componentes que caminham juntos na cons trução d e sentido d e um poema. a) Do ponto d e vis ta da métrica, que tipo d e versos há em “Pobre velha música”? Agora, relacione a forma à re ferência que o eu lírico faz, logo n o primeiro verso, à “velha música”. 2 O que a música evoca n o eu lírico e que cons tit ui o tema central do poema? 3 Analise dois versos bastante conhecidos da poesia lírica de P essoa, em que o poeta cria um ef eito baseado no contraste entre presente e passado, f elicidad e e inf eli- cidade. (Entre colchetes estão inseridos os elementos suprimidos pelo poeta.) “E eu era feliz? Não sei: [eu] Fui-o [feliz] outrora [na infância] agora [hoje].” Ã O V V R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 31 U m poeta múltiplo Retome o que você sabe sobre Romeu e Julieta. Habitam essa peça inglesa, além dos protagonistas, os Capuleto (pais de Julieta ), os Montecchio (pais de Romeu ), T eobaldo (primo de Julieta ), a Ama ( confidente de Julieta ), Frei Lourenço, etc. Agora imagine que cada um desses seres ficcionais represente uma das facetas do autor , William Shakes- peare, e pudessem escrever sua própria versão de Romeu e Julieta. Como seria a versão de cada um? Certamente, haveria vários pontos de vista, estilos de escrita diversos e uso de gêneros diferentes para contar a famosa história de amor do casal de V erona. Fernando Pessoa exercitou essa possibilidade com a criação de seus heterônimos. Como você viu, o poema que abre este capítulo, embora tenha sido escrito por Fernando Pessoa, leva a assinatura de Álvaro de Campos, que não é simplesmente um pseudônimo heterônimo Fernando Pessoa inventou personalidades dotadas de nomes, biografias, indi- vidualidades, estilos e características físicas próprias. Esses heterônimos não são personagens, já que também se expressam ar tisticamente escrevendo poemas, assim como seu criador (or tônimo). Multiplicando-se em vários, o poeta por tuguês mergulha numa apreensão mais complexa da realidade, pois se permite investigar diferentes pontos de vista sobre o mundo, em lugar de apenas um. Entre os mais de setenta nomes, Pessoa desenvolveu completamente apenas três: Alber to Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. V ocê vai conhecer alguns aspectos da poesia desses heterônimos.  Alberto Caeiro: o mestre do ver e ouvir Leitura O guardador de rebanhos – IX Sou um guardador de rebanhos O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. Pensar uma or é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao com rido na erva, E fecho os olhos uentes, Sinto todo o meu cor o deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz. C A EIRO, A lber to. O g uardador de reban hos. In: GA L HOZ, Mar ia A liete ( Org. ). Fer nando Pe ssoa: obra poét ica. R io de Janeiro: Nova Ag uilar, 1999 . p. 212-213. Q u e a u to r e s c o m p u - nham a biblioteca cultu- ral de Pessoa?  Nome fictício adotado por quem não quer revelar sua verdad eira id entidad e. p p Des Caeiro por Al mada Negreiros. 1958. © N E G R E I R O S , A L M A D A / A U T V I S , B R A S I L 2 0 1 6 - E S P A Ç O E M E M Ó R I A A S S O C I A Ç Ã O C U L T U R A L D E O E I R A S R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . scar Lopes, “os heterônimos são, g J pode dizer -se, uma invenção nova na lírica europeia, embora já inerente à t r a d i ç ã o d r a m á t i c a . P o d e m o s t a lve z co m p re e n d ê - lo s s u p o n d o ue cada heterônimo corresponde ao ciclo de uma atitude de aparência às últimas consequências [...]; cada p p heterônimo parece apostado em g p ( ) História d a l i te r a tu r a p o r tu g u e s a. 1 7. e d . Lisboa: Por to Editora, s.d., p. 997 . (Fragmento). 32 No poema, o eu lírico coloca no mesmo pata- mar o ódio, a inveja e o amor como sentimen - to s q u e a p r i s i o n a m o homem. V ocê concorda com essa visão ? Explique.  O eu lírico do poema expõe uma determinada concepção d e realidad e e d e verdade. Atente para o per cur so clar o, simples e lógico pr esente no texto: primeir o o sujeito poético se apr esenta (ele é um homem do campo, que tem como função guardar rebanhos); d epois, explica o que são seus pensamentos e dá exemplos. Infira: o que seriam realidad e e verdad e para o eu lírico? Como você pô e constatar , A erto Caeiro tem como princípio e vi a a sim ici a e e a valorização do contato físico com a natureza. Esse heterônimo supervaloriza a sensação, pois entende que o conhecimento do mundo é dado pelos órgãos dos sentidos e não por sistemas de pensamento já constituídos, como as teorias filosóficas ou científicas ou, ainda, as religiões. Caeiro deseja abolir o r r v e pelo r ouv . O poeta prefere o verso livre e r r ranco e va e-se e uma inguagem simp es, con izente com a expressão e um omem o campo.  Ricardo Reis: o clássico Leitura Que dados biográficos d o s h e t e r ô n i m o s s ã o revelados na car ta que Pe s s o a e nv i o u a A d o l- fo C a s ais M onteiro em 1937?  Não só quem nos odeia ou nos inveja  Nesse poema, o que o eu lírico ped e aos d euses? Ricardo Reis cultua o paganismo greco-latino (os deuses da mitologia) e valoriza a forma, pois acredita que um pensamento claro — como o que ele almeja — deve ser traduzido por uma forma correspondente, isto é, cuidadosa. Outro princípio clássico defendido por Reis é a valorização do momento presente ( carpe diem ) . Para ele, são tão condenáveis os que olham para o passado vendo “ o que não veem ” quanto aqueles que se apegam ao futuro, “vendo o que não se pode ver” . Por isso, argumenta ele, o homem precisa se apegar à “interminável hora ” , que é o presente.  Álvaro de Campos: o engenheiro Os versos que você analisou na abertura deste capítulo, retirados de Ode triunfal , apresentam, por si, um dos aspectos mais importantes da poesia de Álvaro de Cam- pos: a exa tação o Futurismo. Mas é tam ém esse contato com a vi a renética a cidade grande que decorrem outras facetas de sua poesia: sensação de inadaptação diante do mundo, sensacionismo (“Sentir tudo de todas as maneiras”), melancolia, agressividade, pessimismo, frustração e uma quase obsessão do poeta pela construção de longos versos livres e brancos (Campos considerava a métrica e a rima “ gaiolas”). Dos píncaros sem nada. Quem quer pouco, tem tu o; quem quer na É livre; quem não tem, e não deseja, Homem, é igua aos euses. Não só quem nos odeia ou nos inveja Nos imita e oprime; quem nos ama Não menos nos limita. Que os euses me conce am que, espi De afetos tenha a fria liberdade R EIS, R icardo. Não só quem nos odeia ou nos inveja. In: GA L HOZ, Mar ia A liete ( Org. ). Fer nando Pe ssoa: obra poét ica. R io de Janeiro: Nova Ag uilar, 1999 . p. 285. Píncaros: pontos mais elevados; cumes. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 Sugerimos que, com seu auxílio, os alunos desenvolvam esta atividade oralmente. Sugerimos que os alunos desenvolvam esta atividade oralmente.