Por que o trabalho dos arqueólogos é importante para a pesquisa histórica?

Você se considera uma pessoa curiosa? Gosta de assuntos relacionados a história da humanidade? Pensou em algum momento da vida sair mundo a fora escavando e realizando descobertas sobre nossos antepassados? Se você respondeu sim para todas as perguntas, continue então lendo esse post!

Hoje vamos conhecer o trabalho do arqueólogo e tudo o que envolve o mundo da arqueologia. E para nossa exploração ser um sucesso conversamos com João Carlos Moreno de Sousa , 29 anos, colombiano que veio para o Brasil aos dois anos de idade.

Juca, como é conhecido, é graduado em Arqueologia pela PUC-Goiás, possui Mestrado em Arqueologia pela USP E Doutorado em Arqueologia pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN-UFRJ).

Catho Educação (CE): Como surgiu o interesse pela arqueologia?

João Carlos Moreno de Sousa (JC): Surgiu na infância e adolescência, pela curiosidade sobre saber mais sobre as origens dos humanos, dos seres vivos e do universo. Portanto, paleontologia e astronomia sempre foram duas paixões que eu também tinha, mas descobri que astronomia tinha muita física envolvida e eu nunca tive muita afinidade com fórmulas e cálculos.

CE: As pessoas tem curiosidade de saber como é o trabalho no sítio arqueológico, conte um pouco como ele é?

JC: Cada sítio é um sítio. De regra geral, nós coletamos e registramos todos os vestígios achados em superfície e realizamos escavações em áreas estratégicas de acordo com o que já sabemos dele.

Essas escavações são realizadas controladamente e com o registro mais acurado possível da localização das peças encontradas e da contextualização de cada uma (camada de solo, associação com outras objetos, etc.). Alguns sítios não possuem área para escavar, então só fazemos a coleta de artefatos, registros de estruturas e representações rupestres.

CE: E nessas escavações, quais são ferramentas usadas?

JC: Ao contrário do que a mídia insiste em associar ao trabalhos dos arqueólogos, o pincel para limpeza dos artefatos é a ferramenta menos importante no nosso trabalho de campo!  Basicamente usamos GPS – para localização de ocorrências e sítios arqueológicos; Estação total – um aparelho que identifica a localização tridimensional de cada objeto encontrado na escavação; Colher de pedreiro – para realizar as escavações cuidadosamente contornando os artefatos encontrados; Espátulas de madeira de vários formatos – para escavar os artefatos mais cuidadosamente; Câmera fotográfica – para registro das atividades; Lápis e caderneta de campo – para anotação e registro de tudo que está sendo realizado.

CE: Quais as etapas até a localização de um artefato no sítio arqueológico?

JC: O primeiro passo é realizar um levantamento de estudos já realizados na região que será estudada. Este levantamento é realizado com base em artigos científicos já publicados e no banco de dados do Centro Nacional de Arqueologia.

A próxima etapa é a pesquisa de campo que é realizada a procura pelos sítios, seja de forma visual, em busca de vestígios visíveis na superfície do solo, ou de forma interventiva, ou seja, realizando pequenas sondagens a fim de localizar sítios arqueológicos em camadas profundas do solo.

Em seguida, é realizada a escavação controlada dos sítios encontrados, com registro acurado das peças encontradas e de amostras para datação. Os materiais encontrados são levados para o laboratório para organização, limpeza, catalogação, e acondicionamento de cada uma das peças.

A curadoria é realizada de maneira distinta para cada tipo de vestígio arqueológico. Coleções arqueológicas são criadas e mantidas sob guarda de uma instituição de pesquisa científica, que esteja dentro das normas exigidas pelo IPHAN.

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A partir desta fase as coleções são estudadas por arqueólogos especializados em diferentes áreas e os resultados destas pesquisas são publicados em artigos científicos.

CE: Quanto tempo demora para acontecer uma descoberta arqueológica?

JC: Depende. Por exemplo, durante meu doutorado eu tentei realizar uma caracterização da tecnologia das indústrias de pedra lascada de uma cultura arqueológica conhecida como Tradição Umbu. Considerando apenas o tempo que levei realizando a pesquisa foram pelo menos dois anos e meio de viagens a museus, análises de coleções de pontas de flecha, processamento estatístico dos dados, produção de esquemas e desenhos técnicos, escrita da tese e publicação.

Por outro lado, durante uma prospecção por fontes pré-históricas de matéria-prima para confecção de pontas de flecha no interior de São Paulo, acabei encontrando,  acidentalmente, um tipo de artefato jamais registrado na região. Em apenas dois meses estes artefatos foram registrados, estudados, e um artigo científico informando a descoberta das peças foi publicado.

CE: Além do trabalho de campo, quais são as outras áreas de atuação do arqueólogo?

JC: Uma das opções é o meio empresarial, realizando o salvamento/resgate de sítios arqueológicos que poderão ser destruídos por grandes empreendimentos. Por exemplo: se uma nova rodovia será construída para conectar duas cidades, é realizado um levantamento científico (ambiental e cultural) para averiguar as melhores condições para a  construção de tal rodovia.

Se optar por pesquisas científicas em meio acadêmico os arqueólogos podem atuar como curadores em museus na área da arqueologia e em órgãos públicos como o próprio IPHAN, lidando com questões burocráticas relacionadas a arqueologia. Podemos ainda trabalhar  como docentes em programas de graduação e pós-graduação em arqueologia.

CE: Em termos de importância para a sociedade como você vê o trabalho do arqueólogo?

JC: A arqueologia é uma ciência que tem grande valia para a sociedade. A pesquisa arqueológica tem mostrado não só como os seres humanos surgiram no planeta Terra, mas também como evoluíram tanto biologicamente e culturalmente, criando uma diversidade que resultou naquela que existe hoje. Quando entendemos as nossas origens e as razões por tamanha diversidade entre as pessoas, sejam em termos de sua aparência ou de seu modo de ser, tendemos a respeitar ou ao menos tolerar aquelas pessoas com quem não nos identificamos.

Em termos biológicos, estudando a pré-história humana mais a fundo, conseguimos verificar não só como o corpo humano evoluiu ao longo de milhões de anos, criando toda a diversidade que conhecemos hoje, mas também verificamos como as doenças evoluíram, permitindo que encontremos meios de extinguir muitas delas hoje. Também tem nos auxiliado sobre a questão a alimentação, uma vez que entendemos cada vez mais sobre como nossa dieta mudou ao longo do tempo.

CE: Nestes seus anos dedicados a descobertas arqueológicas, qual foi sua maior recompensa?

JC: Eu tenho duas respostas. Em termos pessoais, meu maior achado foi a felicidade. Eu  não consigo me imaginar fazendo outra coisa na vida (e sendo feliz fazendo isso). A arqueologia me deixa realizado em todos os sentidos. Eu sou feliz fazendo algo que é importante para a sociedade.

Em termos menos pessoais, minha maior recompensa foi conseguir entender, na prática, a tecnologia dos artefatos mais antigos produzidos pela humanidades – as ferramentas de pedra lascada, como pontas de flecha e lança. Conseguir aprender isso me deu meios para descobrir que a variedade cultural das sociedades no passado era muito maior do que costumamos pensar.

Conta pra gente o que achou da entrevista. Aproveite e sugira quais profissões você quer saber mais!