Por que alguns alimentos precisam de mais e outros de menos água para serem produzidos

Por que alguns alimentos precisam de mais e outros de menos água para serem produzidos

A Pegada hídrica mede o consumo de água direto e indireto da produção de um determinado produto ou alimento. Isto é, é a conta de quanto foi o consumo de água envolvido em toda sua cadeia de produção.

E o consumo de água no planeta está ligado às diversas funções da água, tanto no cotidiano das pessoas, como na produção de alimentos, roupas, papel e entre outros.

Em alguns setores, a quantidade de água usada na produção é imensa e muitas vezes desproporcional. Para produzir um quilo de carne bovina, por exemplo, são gastos 15,4 mil litros de água, 10 mil litros de água gastos para fazer um quilo de algodão. Mas isto não significa que a água usada nos processos de produção dos alimentos seja mineral.

A Water Footprint é uma organização internacional sem fins lucrativos que promove estudos relacionados ao consumo de água. Ela desenvolveu e fundamentou mundialmente um método de cálculo de sua pegada hídrica. De acordo com a Water Footprint, o consumo de água envolvido na produção de alimentos, por exemplo, varia em cada país.

Por que alguns alimentos precisam de mais e outros de menos água para serem produzidos
Imagem: Creative Commons

Nos exemplos a seguir, os dados se referem a médias globais e foram retirados do site da Water Footprint:

  • 1 folha de papel: 11,35 litros de água;
  • 1 taça de vinho: de 109 a 125 litros de água;
  • 1 xícara de café: 132 litros de água;
  • 1 banana grande (cerca de 200 gramas): 160 litros de água;
  • 1 ovo (cerca de 60 gramas): 196 litros de água;
  • 1 pé de alface: 237 litros de água;
  • 1 litro de cerveja: 296 litros de água;
  • 1 kg de ketchup: 530 litros de água;
  • 1 kg de leite integral: 1.020 litros de água;
  • 1 pizza margherita (cerca de 725 gramas): 1.259 litros de água;
  • 1 kg de açúcar: 1.782 litros de água;
  • 1 kg de arroz:  2.497 mil litros de água;
  • 1 kg de queijo: 3.178 litros de água;
  • 1 kg de carne de frango: 4.325 litros de água;
  • 1 kg de carne de porco: 5.988 litros de água;
  • 1 kg de algodão: 10.000 litros de água;
  • 1 kg de carne bovina: 15.415 litros de água;
  • 1 kg de chocolate: 17.196 litros de água.

Para você calcular a sua pegada hídrica, basta clicar aqui e acessar o site da Water Footprint.

Por que alguns alimentos precisam de mais e outros de menos água para serem produzidos

Tags: águaLeonardo Borgespegada hídricaWater Footprint

Co-idealizador da Autossustentável, Estatístico e Mestre em População, Território e Estatísticas Públicas

Navegação de Post

Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) indicam que, para atender ao crescimento populacional e às novas demandas por alimentos, a produção mundial de cereais terá que aumentar cerca de um bilhão de toneladas até o ano 2030. Esse aumento previsto dependerá prioritariamente da disponibilidade hídrica para suprir as demandas de irrigação, que será responsável por atender cerca de 80% dessa produção adicional que ocorrerá entre 2001 e 2025.

Segundo Postel (2000), no mundo, a agricultura irrigada é responsável por cerca de 40% de toda produção, viabilizando produzir fisicamente, em uma mesma área, até quatro vezes mais que a agricultura de sequeiro. Para evidenciar a importância da agricultura irrigada na produção global de alimentos, Sojka et al. (2006) comentam que seria necessário expandir a área de sequeiro em cerca de 250 milhões de hectares para se obter uma produção equivalente à produção média adicional que é proveniente de áreas irrigadas.

Embora o Brasil detenha cerca de 12% da água doce superficial disponível no Planeta, 28% da disponibilidade nas Américas e possua, ainda, em seu território, a maior parte do Aquífero Guarani, a principal reserva de água doce subterrânea da América do Sul, o país tem enfrentado problemas hídricos em várias regiões. Segundo relatório da OCDE (2015), a água se tornou um fator limitante para o desenvolvimento econômico do Brasil e fonte de conflitos em várias regiões.

A água é um recurso de grande importância para todos os setores da sociedade e atender a todos os usos e usuários requer um trabalho coordenado de planejamento e gestão de recursos hídricos. Não se pode pensar em segurança alimentar dissociada da segurança hídrica, pois para produzir alimento uma quantidade significativa de água deve ser mobilizada.

Neste contexto, é importante aprender com os erros do passado e aproveitar o momento para planejar um futuro melhor, que consiste necessariamente em tratar a água como um bem estratégico para País. Para isto, é preciso integrar a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) com as demais políticas públicas. É fundamental definir as prioridades de uso da água, levando-se em consideração as necessidades básicas do País e as especificidades de cada região.

Não se pode pensar em agricultura e desenvolvimento sustentável sem que haja um equilíbrio entre oferta e demanda de água. O Brasil é um país de dimensões continentais com grandes diferenças sociais, ambientais e econômicas, o que faz da gestão uma atividade muito mais desafiadora. Fazer a gestão de forma igualitária em todo país, pode levar a conflitos em bacias hidrográficas que já se encontram em estado crítico em termos de disponibilidade hídrica. A gestão deve considerar as desigualdades hídricas regionais e ter um olhar diferenciado para as bacias hidrográficas críticas, onde a disponibilidade hídrica já está comprometida, assim como onde já é realidade a ocorrência de conflitos pelo uso da água.

A vazão média anual de todos os rios do mundo é da ordem de 40.000 a 50.000 km³/ano. No Brasil, os recursos hídricos de superfície correspondem a uma vazão média da ordem de 5.676 m³/ano, ou cerca de 12% do total mundial, podendo chegar a mais de 16% se as vazões dos rios provenientes de países vizinhos forem contabilizadas. O desafio é gerenciar adequadamente essa água, que implica em alocar os recursos entre os diversos usuários, reduzindo os conflitos e trazendo segurança hídrica.

Atender as demandas atuais e futuras por alimento requererá um rápido aumento de produtividade, que precisa ser feito sem danos adicionais ao ambiente. Para que isso ocorra, é fundamental que os princípios de sustentabilidade sejam parte central das políticas agrícolas. Produzir de forma sustentável não é uma tarefa simples. É necessário reduzir o crescimento horizontal (aumento do uso dos recursos naturais), aumentar o crescimento vertical (aumentar a eficiência) e considerar o fato que as tomadas de decisão estão cada vez mais complexas e que a agricultura está cada vez mais pressionada na direção da multifuncionalidade, principalmente, na produção de alimentos, fibras e energia.

Com estimativa atualizada de cerca de sete milhões de hectares irrigados, o Brasil é um dos poucos países do mundo, se não o único, com capacidade de triplicar a sua área irrigada com sustentabilidade, trazendo contribuições efetivas para o meio ambiente, para o desenvolvimento social e econômico do País, com geração de empregos estáveis e duradouros.

A irrigação, principal usuária de recursos hídricos, apresenta características de uso bastante diferente dos demais usos. A demanda de irrigação é muito variável de ano para ano. Isso dificulta a gestão e deixa o irrigante com a impressão de que a alocação de água não está sendo feita de forma correta. Essa falsa impressão ocorre pelo fato de as outorgas serem fixas e as demandas serem variáveis, fazendo com que, nos anos de baixa demanda, haja água em excesso nos rios, trazendo ao irrigante a percepção de que ele poderia ter mais água para sua irrigação.

O desenvolvimento de uma agricultura sustentável passa, necessariamente, pelo uso sustentável dos recursos hídricos, que por sua vez, depende de uma gestão que incorpore os usos múltiplos da água e considere os fundamentos e diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos. É importante fortalecer os mecanismos que contribuem para aumentar a oferta hídrica na bacia hidrográfica.

O desafio atual da agricultura irrigada é garantir um suprimento adequado e regular de alimentos para a sociedade com o menor consumo de água possível. A alocação de água para fins agrícolas gera benefícios sociais, econômicos e ambientais que não são apropriados somente por um usuário, mas por toda a sociedade. É importante que os agricultores estejam atentos aos avanços tecnológicos, uma vez que as novas tecnologias podem contribuir para melhorar a eficiência do sistema, facilitar o manejo e beneficiar o ambiente.

A irrigação precisa de uma gestão com olhar ampliado. O produtor precisa ter uma visão além de sua propriedade e de sua área de produção. É preciso, sempre, uma visão macro, da bacia hidrográfica. A irrigação tem que ser feita olhando a bacia hidrográfica. O rio é na verdade reflexo daquilo que acontece na bacia como um todo. Ou seja, é preciso olhar a bacia de forma mais integrada, considerar estratégias de conservação de água e solo, que vão refletir diretamente na quantidade e na qualidade das águas.

Rodrigues et. al (2017)* destacam que agricultura irrigada terá que se adaptar a uma sociedade cada vez mais dinâmica, exigente quanto à alimentação e quanto às questões sociais e ambientais e que, para isso, terá que enfrentar desafios institucionais, políticos, ambientais, estruturais, científicos, de capacitação, de comunicação, técnicos, tecnológicos e climáticos.

São vários os desafios a serem enfrentados para se produzir alimento com sustentabilidade, mas sem dúvida alguma os principais e de mais difíceis soluções são aqueles que não dependem somente do agricultor, tais como: (i) a gestão de recursos hídricos, que é peça chave no processo de ordenamento do uso de recursos hídricos e de segurança hídrica. Uma gestão adequada deve ser capaz de considerar as especificidades inerentes a cada setor usuário e as estratégias a serem adotadas para se alcançar o uso sustentável; (ii) integração efetiva e verdadeira das ações institucionais e das políticas públicas setoriais.

Essa integração parece simples de ser feita, mas é muito difícil de ser operacionalizada. Como, por exemplo, pensar em segurança alimentar sem se pensar em segurança hídrica e energética? Como pensar em segurança alimentar sem considerar, por exemplo, um trabalho integrado dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente? Como pensar em segurança alimentar sem que o produtor tenha segurança na sua atividade?

O fato é que utilizamos muito pouco dos nossos recursos hídricos. É preciso criar mais valor e bem-estar com os recursos disponíveis. Isso não significa, é claro, incentivar a cultura do desperdício de água. É importante definir as prioridades de uso nas bacias e lançar um olhar mais atento para aquelas bacias que já enfrentam problema de disponibilidade hídrica. Com uma gestão de recursos hídricos competente, é possível trazer segurança hídrica e atender a todos os usos e usuários sem comprometer a disponibilidade. Água é sinônimo de dialogar, de compartilhar e de integrar. Não é geradora de conflitos, mas sim de oportunidade para produzir alimento e desenvolvimento.

Lineu Neiva Rodrigues
Pesquisador da Embrapa Cerrados

Palestra Água na agricultura: os desafios e oportunidades para o desenvolvimento sustentável, apresentada na Embrapa Cerrados

OCDE. Governança dos recursos hídricos no Brasil. Paris, 2015.
POSTEL, S. Redesigning irrigated agriculture. In: STARKE, L. (Ed.). State of the World 2000: a Worldwatch Institute Report on progress towards a sustainable society. New York, NY: W.W. Norton & Company, 2000.
*Rodrigues, Lineu N; Domingues, F.D. ;CHRISTOFIDIS, D. . Agricultura irrigada e produção sustentável de alimento. In: Lineu Neiva Rodrigues; Antônio Félix Domingues. (Org.). Agricultura irrigada: desafios e oportunidades para o desenvolvimento sustentável. 1ed.Fortaleza: INOVAGRI, 2017, v. 1, p. 21-108.
SOJKA, R. E.; BJORNEBERG, D. L.; ENTRY, J. A. Irrigation: an historical perspective. In: LAL, R. (Ed.). Encyclopedia of soil science. 2nd ed. London: Taylor & Francis, 2006. p. 945-749.

Porque existe a diferença entre o consumo de água na produção de alimentos de origem animal?

Cada alimento, seja de origem animal ou vegetal, necessita de certa quantidade de água para ser produzido. As plantas necessitam de água para estabelecer-se, e os animais, além de bebê-la, necessitam indiretamente da água utilizada na produção de vegetais que fazem parte de sua dieta ou da alimentação de suas presas.

Por que podemos afirmar que a quantidade de água consumida por nós é bem maior do que imaginamos?

Podemos facilmente afirmar que consumimos mais água do que imaginamos porque há um longo processo de fabricação dos bens que utilizamos, que não conhecemos diretamente. A indústria têxtil por exemplo, gasta muitíssimos litros de água todos os dias.

Como a falta de água e de alimentos de qualidade pode afetar a sociedade o que pode ser feito?

Exemplos mais comuns destas doenças são as diarreias, hepatite A, febres tifoides e paratifoide, cólera e parasitoses. Além disso, pouca água afeta a higiene das pessoas e dos locais onde elas vivem, o que também é fator de risco para outras doenças, como micoses e conjuntivites.

Qual é a porcentagem de água da banana?

Cada bananeira produz de uma só vez, de 5 a 15 pencas e cada fruta madura pesa, em média, 100 gramas com uma composição de 75% de água e 25% de matéria seca.