Como Magda Soares conceitua a alfabetização é o letramento?

Como Magda Soares conceitua a alfabetização é o letramento?

Capa do livro Alfabetização e Letramento

Autora: Magda Becker Soares
Professora titular emérita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autora de diversos livros sobre o ensino de Português

Onde encontrar: Scielo

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RESENHA

Letramento é um termo cada vez mais corrente no Brasil. Mas em que difere de alfabetização? Nesse artigo, a professora Magda Soares defende que, embora sejam conceitos diferentes, letramento e alfabetização são dois processos que devem ser trabalhados simultaneamente na escola.

Primeiramente, a autora explica que esses dois conceitos apresentam diferenças fundamentais, pois estão relacionados com concepções distintas de ensino de língua.

Letramento aparece sempre ligado à compreensão de leitura e escrita como práticas sociais, que privilegia a visão de língua que usamos a todo instante quando nos comunicamos. Alfabetização está ligada à concepção de escrita como sistema ordenado pelas regras gramaticais, ou mesmo de escrita como código, que é preciso decifrar.

A autora afirma que, no Brasil, há um progressivo uso do conceito de letramento para denominar os processos que levam as pessoas a terem um domínio adequado da leitura e da escrita. Como exemplo, ela cita as matérias publicadas na mídia, nas quais se considera que ser alfabetizado é mais do que saber ler e escrever um simples bilhete, condição que até algum tempo tida como satisfatória para tirar uma pessoa da lista dos analfabetos.

Apesar de considerar essas diferenças, a autora defende a indissociabilidade de alfabetização e letramento. Ou seja, a escola deve trabalhar com os dois processos simultaneamente para evitar o fracasso escolar. Não basta apenas alfabetizar, isto é, ensinar os aspectos da língua como código, também é preciso trabalhar a língua em seus usos sociais.

Ela explica que, anteriormente, o fracasso escolar estava relacionado ao fato de a escola privilegiar apenas o processo de alfabetização. O ensino de língua tinha como base a relação entre o sistema fonológico e o gráfico, ou seja, entre os sons que pronunciamos e as letras que usamos para registrar esses sons.

Por outro lado, atualmente, muitas vezes o ensino da língua como sistema fonológico e gráfico é deixado de lado, causando da mesma forma o fracasso escolar, ainda que por motivos diferentes.


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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
Magda Soares 
 
CAPITULO 1 - ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
Soares (1998a) faz a diferença entre alfabetização e letramento. Para essa autora: “alfabetizar e 
letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar 
letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da 
escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado (p. 
47).” 
A formação de leitores e escritores competentes, é importante a interação com diferentes gêneros 
textuais, com base em contextos diversificados de comunicação. Cabe à escola oportunizar essa 
interação, criando atividades em que os alunos sejam solicitados a ler e produzir diferentes textos. 
Por outro lado, é imprescindível que os alunos desenvolvam autonomia para ler e escrever seus 
próprios textos. Assim, a escola deve garantir, desde cedo, que as crianças se apropriem do 
sistema de escrita alfabético, e essa apropriação não se dá, pelo menos para a maioria das 
pessoas, espontaneamente, valendo-se do contato com textos diversos. É preciso o 
desenvolvimento de um trabalho sistemático de reflexão sobre as características do nosso sistema 
de escrita alfabético. 
A leitura e a produção de diferentes textos são tarefas imprescindíveis para a formação de pessoas 
letradas. No entanto, é importante que, na escola, os contextos de leitura e produção levem em 
consideração os usos e funções do gênero em questão. É preciso ler e produzir textos diferentes 
para atender a finalidades diferenciadas, a fim de que superemos o ler e a escrever para apenas 
aprender a ler e a escrever. 
Por outro lado, um trabalho sistemático de reflexão sobre o sistema de escrita alfabético não pode 
ser feito apenas através da leitura e da produção de textos, como pensava a professora Luzia. É 
preciso o desenvolvimento de um ensino no nível da palavra, que leve o aluno a perceber que o 
que a escrita representa (nota no papel) é sua pauta sonora, e não o seu significado, e que o faz 
através da relação fonema/grafema. Assim, é imprescindível que, diariamente, em turmas de 
alfabetização em que os alunos estão se apropriando do sistema de escrita, a professora realize 
atividades com palavras que envolvam, entre outras coisas: 
 Uma reflexão sobre suas propriedades: quantidade de letras e sílabas, ordem e posição das 
letras, etc. 
 a comparação entre palavras quanto à quantidade de letras e sílabas e à presença de letras 
e sílabas iguais; 
 a exploração de rimas e aliteração (palavras que possuem o mesmo som em distintas 
posições (inicial e final, por exemplo) Essas atividades de reflexão sobre as palavras podem 
estar inseridas na leitura e na produção de textos, uma vez que são muitos os gêneros que 
favorecem esse trabalho, como os poemas, as parlendas, as cantigas, etc. Por outro lado, o 
trabalho com palavras estáveis, como os nomes dos alunos, é fundamental, principalmente 
no início da alfabetização. 
Enfim, considerando o que foi discutido até agora, sabemos que ser alfabetizado, hoje, é mais 
do que “decodificar” e “codificar” os textos. É poder estar inserido em práticas diferenciadas 
de leitura e escrita e poder vivenciá-las de forma autônoma, sem precisar da mediação de outras 
pessoas que sabem ler e escrever. 
2 
 
 
Alfabetização e escolarização: a instituição do letramento escolar 
A questão central parece ser como conciliar as especificidades da escola que tem uma forma de 
conduzir suas atividades e gêneros textuais próprios com o trabalho com os gêneros que circulam 
na sociedade, sem que esses percam suas peculiaridades? Como possibilitar a construção do 
sistema alfabético de escrita pelos alunos, possibilitando-lhes o uso dos gêneros textuais que 
circulam na sociedade e, não apenas na escola? 
Talvez a resposta esteja em começar a fazer uma reflexão acerca dos objetivos e valores que têm 
sustentado as práticas de ensino da língua escrita na escola. Discutindo a noção de método que 
tem sido entendido como sinônimo de manual, de regras a serem seguidas, e começar a considerá-
lo como soma de ações baseadas em conjunto de princípios que responde a objetivos 
determinados (SOARES, 2004), considerando que a alfabetização e a letramento, embora 
fenômenos diferenciados, são interdependentes e Inter complementares. Dessa forma, será 
possível recuperar a noção ampliada de alfabetização que estabelece os usos e as práticas efetivas 
de leitura e escrita vividas na sociedade e que foi, aos poucos, sendo substituída por uma visão 
meramente escolar do processo de aprendizagem da língua escrita. 
Gêneros: por onde anda o letramento? Márcia Mendonça 
Para o socioconstrutivismo, um princípio básico é a compreensão da aprendizagem não como uma 
transferência de saberes, neutra e linear, mas como processo dinâmico de (re)construção e (re) 
acomodação de conceitos, mediado pelos interlocutores (professor, pais e colegas, por exemplo) 
e também pela linguagem (VYGOTSKY, 1989a). 
Para o sóciointeracionismo, o ensino de língua não pode restringir-se à análise de formas 
linguísticas em si, como portadoras de significados invariáveis e pré-definidos. De fato, a língua 
não existe em estado de dicionário, com sentidos sempre determinados e estáveis, mas tem 
complexo funcionamento, influenciado por fatores sociocognitivos (representações, expectativas, 
papel social dos interlocutores, conflito/convergência de identidades, etc.). Por essa razão, na 
escola, as análises morfológica e sintática, realizadas sem qualquer referência aos usos da 
linguagem – identifique e classifique os substantivos; classifique as frases em interrogativa, 
exclamativa; diga se o período é composto por subordinação ou coordenação -, não se justificariam. 
Também o estudo de vocabulário feito com palavras soltas, desvinculadas de seu contexto de uso, 
teria sua validade questionada. 
 
3 
 
 
 
 
 
Os textos, qualquer que seja o gênero, apresentam sequências textuais típicas, normalmente 
divididas em cinco categorias: narrativa, descritiva, expositiva, argumentativa e injuntiva5. As 
sequências textuais são o modo de organização linguístico-discursiva dos textos. 
As sequências narrativas são caracterizadas pelo uso de verbos no passado, indicando o decorrer 
do tempo, além de marcadores de espaço (naquela cidade, no Brasil, na Assembleia Legislativa, 
num reino distante, etc.) e tempo (então, logo depois, passadas duas horas, etc.). 
A sequência expositiva, por sua vez, caracteriza-se por preferir os verbos no presente, além de 
predicados com declarações sobre fenômenos ou entidades. 
 
4 
 
 
 
 
Gêneros e letramento: entrecruzando caminhos 
“Letramento” é um termo relativamente recente, visto que surgiu há cerca de 30 anos, e nomeia o 
conjunto de práticas sociais de uso da escrita em diversos contextos socioculturais. 
 
O conceito de letramento (e, por extensão, de sujeito letrado) surgiu para dar conta da 
complexidade de eventos que lidam com a escrita. Mais amplo que o conceito restrito de 
alfabetização, a noção de letramento inclui não só o domínio das convenções da escrita, mas 
também o impacto social que dele advém. 
 
 
 
5 
 
Um dos princípios que norteiam a perspectiva do letramento é que a aquisição da escrita não se 
dá desvinculada das práticas sociais em que se inscreve: 
Ninguém lê ou escreve no vazio, sem propósitos comunicativos, sem interlocutores, descolado de 
uma situação de interação; as pessoas escrevem, lêem e/ou interagem por meio da escrita, guiadas 
por propósitos interacionais, desejando alcançar algum objetivo, inseridas em situações de 
comunicação. 
 
Soares a respeito: 
[...] um indivíduo pode não saber ler e escrever, isto é, ser um analfabeto, mas ser, de certa forma, 
letrado (atribuindo a esse adjetivo sentido vinculado a letramento). Assim, um adulto pode ser 
analfabeto porque marginalizado social e economicamente,

Como Magda Soares conceitua a alfabetização e o letramento?

Segundo Magda Soares (2003),“Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno.” Para tanto, cuidados serão necessários ao conduzir a alfabetização.

Como Soares define o letramento?

Atualmente a definição mais difundida é a apresentada por Magda Soares: "Letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita." Desse modo, letramento seria resultado ou ...

Como se define alfabetização e letramento?

Desta forma, a relação entre alfabetização e letramento acontece quando entendemos que alfabetizada é a pessoa que aprende a escrita alfabética com habilidades para ler e escrever, sequencialmente, letramento é a continuação do saber ler e escrever, associado e vivenciado nas práticas sociais.