Porque é possível criar calendários com base no movimento de corpos celestes

Prof. Renato Las Casas (26 de fevereiro de 2002)

Voc� seria capaz de viver sem marcar o tempo?  N�s, humanos, temos uma grande necessidade de marcar o tempo; n�o apenas por quest�es pr�ticas, mas tamb�m psicol�gicas.  Como marcar o tempo?

 - S� tem uma maneira: tomando por base um evento f�sico que se repita sempre de uma mesma forma, conseq�entemente, em um mesmo intervalo de tempo. Usamos ent�o esse intervalo de tempo como nosso padr�o.


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    De uma maneira geral podemos dizer que um Calend�rio consiste em um conjunto de unidades de tempo (dias, meses, esta��es, ano, ...), organizadas com o prop�sito de medir e registrar eventos ao longo de "grandes per�odos".

HIST�RIA

  

  Existem ind�cios que mesmo em eras pr�-hist�ricas, alguns homens j� se preocupavam em marcar o tempo. Na Europa, h� 20.000 anos, ca�adores escavavam pequenos orif�cios e riscavam tra�os em peda�os de ossos e madeira, possivelmente contando os dias entre fases da Lua.     H� 5.000 anos, os Sum�rios tinham um Calend�rio bem parecido com o nosso, com um ano dividido em 12 meses de 30 dias, o dia em 12 per�odos e cada um desses per�odos em 30 partes.     H� 4.000 anos, na Babil�nia, havia um calend�rio com um ano de 12 meses lunares que se  alternavam em 29 e 30 dias, num total de 354 dias.     Os eg�pcios inicialmente fizeram um calend�rio baseado nos ciclos lunares, mas depois notaram que quando o Sol se aproximava da "Estrela do C�o" (S�rius), estava pr�ximo do Nilo inundar. Notaram que isso acontecia em ciclos de 365 dias. Com base nesse conhecimento eles fizeram um Calend�rio com um ano de 365 dias, possivelmente inaugurado em 4.236 AC. Essa � a primeira data registrada na hist�ria.

    Quando Cabral chegou por aqui, encontrou os nossos �ndios medindo o tempo pelos ciclos lunares.  O Franc�s Paulmier de Gonneville na sua viagem ao Brasil em 1503-1504 teria levado no seu retorno � Fran�a, o filho do chefe dos Carij�s, com a promessa de traz�-lo de volta no prazo de 20 Luas (

Livro: Vinte Luas; autor: Leyla Perrone-Mois�s; editora: Companhia das Letras).

BASE

   

O Sol, a Lua e os seus ciclos sempre chamaram a aten��o do homem. Como n�o perceber o "nascer...por... nascer..." do Sol? Como n�o perceber a mudan�a c�clica na forma como vemos a Lua no c�u? Prestando aten��o,n�o � dif�cil perceber a mudan�a tamb�m c�clica do posicionamento da trajet�ria di�ria que o Sol faz no c�u; ou mesmo a sua aproxima��o tamb�m c�clica �s estrelas de fundo.     Em geral os Calend�rios se baseiam nos ciclos do Sol e/ou da Lua, que s� o os objetos celestes que mais chamam a aten��o do homem. Existem algumas exce��es como o Calend�rio dos Maias (2.000 a 1.500 AC) que al�m da Lua e do Sol, baseava-se tamb�m no planeta V�nus.     Imagine-se cidad�o de uma sociedade primitiva.     O movimento do Sol no c�u, "gerando" o claro/escuro, se imp�e, sendo imposs�vel n�o ser percebido. Temos a� o "dia".     As fases da Lua e o seu movimento em rela��o �s estrelas tamb�m seriam percebidos com facilidade, bastando para isso um m�nimo de lembran�a do passado. (Lembre-se que fora das grandes cidades atuais voc� v� e veria a Lua com freq��ncia). Temos a� o conceito do "m�s".

    As sombras de �rvores, pedras, etc., talvez tenham sido os primeiros sinalizadores, para um observador mais atento, indicando que o caminho di�rio do Sol no c�u tamb�m muda em ciclos. Esses ciclos tamb�m poderiam ter sido observados, pela primeira vez, atrav�s do movimento do Sol em rela��o �s estrelas. Temos a� o "ano".     Seria muito simples (e quem sabe, definitivo!) fazer um Calend�rio se os ciclos que determinam o ano (transla��o da Terra em torno do Sol) e o m�s lunar (transla��o da Lua em torno da Terra) compreendes em um n�mero inteiro de dias (rota��o da Terra em torno de seu pr�prio eixo) e fossem perfeitamente comensur�veis entre si. Pra complicar mais as coisas, a dura��o desses ciclos oscila constantemente em torno de uma m�dia que tamb�m varia ao longo dos s�culos.

PER�ODOS

    O "ano tropical" � definido a partir do posicionamento do caminho di�rio do Sol no c�u e equivale ao ciclo das esta��es.     Atualmente corresponde a 365,242190 dias, mas ele varia. Em 1900 correspondia a 365,242196 dias e em 2100 corresponder� a 365,242184 dias.     Esses n�meros entretanto s�o m�dias. Devido � influ�ncia de for�as gravitacionais de outros planetas, a dura��o de um ano tropical, em particular, pode variar por v�rios minutos em rela��o a essa m�dia.    O tempo decorrido entre duas Luas Novas � chamado de "m�s sin�dico" e atualmente corresponde a 29,5305889 dias; mas ele tamb�m varia. Em 1900 correspondia a 29,5305886 dias e em 2100 corresponder� a 29,5305891 dias.     Tamb�m aqui estamos falando de m�dias. O tempo decorrido entre duas Luas Novas pode variar por v�rias horas devido a uma s�rie de fatores, tais como a inclina��o orbital da Lua.     Como o ano tropical n�o corresponde a um m�ltiplo inteiro do m�s sin�dico, n�o podemos ter um Calend�rio que mantenha uma rela��o intr�nseca entre os seus dias e o posicionamento do Sol no c�u (Calend�rio Solar) ao mesmo tempo que mant�m essa mesma rela��o entre os seus dias e o posicionamento da Lua no c�u (Calend�rio Lunar).

    Entretanto 19 anos tropicais correspondem a 234,997 meses sin�dicos (quase um n�mero inteiro). Assim sendo, em um Calend�rio Solar como o nosso, a cada 19 anos as fases da Luas e repetem nas mesmas datas.

TIPOS

    Na atualidade existem aproximadamente 40 Calend�rios em uso no mundo, que podem ser classificados em tr�s tipos.     1- Solares: Baseados no movimento da Terra em torno do Sol; os meses n�o t�m conex�o com o movimento da Lua. (exemplo: Calend�rio Crist�o)     2- Lunares: Baseados no movimento da Lua; o ano n�o tem conex�o com o movimento da Terra em torno do Sol. (exemplo: Calend�rio Isl�mico)     Note que os meses de um Calend�rio Lunar, como o Isl�mico, sistematicamente v�o se afastando dos meses de um Calend�rio Solar, como o nosso.     3- Lunisolares: Os anos est�o relacionados com o movimento da Terra em torno do Sol e os meses com o movimento da Lua em torno da Terra. (exemplo: Calend�rio Hebreu)

    O Calend�rio Hebreu possui uma seq��ncia de meses baseada nas fases da Lua mas de tempos em tempos um m�s inteiro � intercalado para o Calend�rio se manter em fase com o ano tropical.

CALEND�RIOS CRIST�OS

    Os Calend�rios Crist�os t�m anos de 365 ou 366 dias divididos em 12 meses que n�o est�o relacionados ao movimento da Lua.
    Paralelamente a esse sistema, flui o conceito de "semana", em que os dias est�o agrupados em conjuntos de sete. Esses conjuntos v�o se sucedendo sem manter rela��o direta com a Lua, o Sol ou qualquer outro astro. Possivelmente
o conceito de semana surgiu da necessidade religiosa de se homenagear cada uma das sete divindades astron�micas ent�o conhecidas (Sol, Lua, Merc�rio, V�nus, Marte, J�piter e Saturno) comum dia diferente para cada.

   

S�o dois os Calend�rio Crist�os ainda em uso no mundo.     O Calend�rio Juliano foi proposto por Sos�genes, astr�nomo de Alexandria, e introduzido por Julio C�sar em 45 AC. Foi usado pelas igrejas e pa�ses crist�os at� o s�culo XVI, quando come�ou a ser trocado pelo Calend�rio Gregoriano. Alguns pa�ses, como a Gr�cia e a R�ssia, o usaram at� o s�culo passado. Ainda � usado por algumas Igrejas Ortodoxas, entre elas a Igreja Russa.     O Calend�rio Gregoriano foi proposto por Aloysius Lilius, astr�nomo de N�poles, e adotado pelo Papa Greg�rio XIII, seguindo instru��es do Conc�liode Trento (1545-1563). O decreto instituindo esse Calend�rio foi publicado em 24 de fevereiro de 1582.     A diferen�a entre esses dois Calend�rios est� na dura��o considerada do ano (365,25 dias no Juliano e 365,2425 dias no Gregoriano) e nas regras para recupera��o do dia perdido, acumulado durante os anos, devido � fra��o de dias na dura��o do ano considerada.     Note que atualmente sabemos ser a dura��o do ano tropical de 365,242190 dias. Devido �s diferen�as entre as dura��es do ano consideradas nesses dois calend�rios e a dura��o verificada, o ano tropical se defasa de 1 dia a cada 128 anos no Calend�rio Juliano e a cada 3.300 anos no Calend�rio Gregoriano.

    O Calend�rio Juliano estava 10 dias atrasado em rela��o ao ano tropical quando o

Calend�rio Gregoriano foi decretado. Por isso, constou da bula papal que 10 dias do m�s de outubro deveriam ser "pulados", passando o Calend�rio do dia 4 de outubro, imediatamente para o dia 15. Os dias 5 a 14 de outubro de 1582 n�o constam da hist�ria daqueles pa�ses que imediatamente adotaram o novo Calend�rio (Portugual, Espanha, It�lia e Pol�nia).

CALEND�RIO GREGORIANO

    No Calend�rio Gregoriano o ano � considerado como sendo de 365 + 97/400 dias (=365,2425 dias). Assim sendo, no Calend�rio Gregoriano, existem 97 anos de 366 dias (que chamamos de bissextos) em cada per�odo de 400 anos.

    Os anos bissextos s�o determinados pela seguinte regra:     1- Todo ano divis�vel por 4 � bissexto.     2- Todo ano divis�vel por 100 n�o � bissexto.     3- Todo ano divis�vel por 400 � bissexto.     O item 3 prevalece ao item 2 que por sua vez prevalece ao item 1.  

    Os anos s�o formados por meses constitu�dos por 30 ou 31 dias; com exce��o de fevereiro constitu�do por 29 dias nos anos bissextos e 28 nos demais anos.

DATA ORIGEM

    Uma vez estabelecido como ser� um determinado Calend�rio, surge outra quest�o: Quando cair� o primeiro dia desse Calend�rio? Essa quest�o no nosso caso foi: A que dia da hist�ria corresponder� o dia primeiro de janeiro do ano um?

    O Calend�rio Crist�o surgiu no ano 532 da nossa era. Era o ano 248 da era Diocletiana (os anos eram Julianos e estavam sendo contados a partir de um decreto de Diocletiano) quando Dionysius Exiguus, um calculista do Papa (fazia os "complicados" c�lculos para a determina��o da P�scoa), sugeriu que a contagem dos anos tivesse in�cio no ano do nascimento de Cristo. N�o se sabe dos c�lculos, provas, etc. que Dionysius teve para fixar o nascimento de Cristo (erradamente) 532 anos atr�s, no dia que passou a ser 25 de dezembro do ano um.
    O in�cio da era Crist� ficou sendo, desta maneira, 359 dias antes daquele que Dionysius presumiu ser o dia do nascimento de Cristo.

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