O ensaio indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas, de teodoro

A Indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas. in: Dialética do esclarecimento/ fragmentos filosóficos. Max Horkheimer & Theodor Adorno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1985.  

                                                                                           (resenhado por; Suzana Alves)*

Max Horkheimer (1895 –1973) nascido na Alemanha, em família de origem judaica doutorou-se na universidade de Frankfurt em 1922. Em 1924, participou da fundação do instituto de pesquisa social, dando origem a chamada escola de Frankfurt. O filosofo e musicólogo alemão Adorno (1903 – 1969) foi co-fundador do instituto de pesquisa social de Frankfurt ao lado de Horkheimer.

No texto, A indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas fica claro que a denominada Indústria Cultural encontra-se voltada única e exclusivamente para satisfação dos interesses comerciais dos detentores dos veículos de comunicação, que vêem a sociedade como um mercado de consumo dos produtos por eles impostos, dando origem a um processo de massificação da cultura. Adorno foi criador da expressão indústria cultural utilizada para demonstrar a exploração comercial da cultura por meios de comunicação modernos como o rádio e o cinema. Segundo os autores a violência da sociedade industrial instaurou-se nos homens de uma vez por todas, porque até mesmo distraídos nós consumimos. Para os autores o desenvolvimento da ciência tornou-a apenas mais eficaz como instrumento de dominação, enquanto que da moral serviu apenas para dissociá-la da razão e o da arte tornou-se mais vulnerável a indústria cultural, acelerando sua transformação em mercadoria. Mais ainda, a racionalidade crescente do mundo é um processo irreversível de perda de sentido da liberdade onde ocorre a burocratização. Adorno supõe que a dialética da modernidade tem desaparecido do mundo contemporâneo, pois, com a racionalização sistêmica a tendência é produzir um mundo administrado.

A modernidade cultural não tem uma dinâmica que resista a tentativa de dominação cultural por parte do sistema.

Adorno afirma o desaparecimento no mundo de hoje das ultimas reservas de racionalidade crítica, o autor ao que parece teme quanto às conseqüências negativas da dessublimação da alta cultura.

Assim como todos os Frankfurtianos, Adorno também rejeita o progresso científico que determina a sujeição de indivíduos autônomos a um sistema totalitário, que encontra na uniformização da indústria cultural o seu mecanismo de controle do poder.

Desta forma os autores vão tratar ainda da forma como a mídia manipula e impõe uma cultura de massa, segundo os escritores a imposição da cultura de massa pela mídia que determina os valores de comportamento a serem seguidos e almejados pela sociedade bloqueando a criatividade do ser humano, que passa a aceitar passivamente os fins previamente estabelecidos pelos detentores de poder. Adorno diz que a indústria cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar de decidir conscientemente. Contra esse processo o ser humano deve desenvolver sua razão crítica para analisar as estruturas presentes em nossa sociedade a partir de sua livre convicção, de seus próprios princípios, que serão contrapostos aos dos demais na busca de sua autonomia. A principal crítica do texto é para as sociedades modernas, voltadas para o consumo, bem como dos efeitos da produção em série sobre a cultura contemporânea, ou seja, a indústria cultural acaba por colocar a imitação como algo absoluto.

A postura de Adorno e Horkheimer é bem menos otimista de que outros autores frankfurtianos em relação á indústria cultural. Walter Benjamin por  exemplo, defendia que a arte dirigida as massas poderia ser entendida como importante instrumento de politização, a medida que possibilitava um processo de democratização da cultura, ou seja, tornava o acesso a obras de arte um direito de todos, deixando de ser privilégio de uma elite, já para Adorno com a reprodução da arte ocorreria uma descaracterização e um perda de autenticidade da obra. Cultura de massa para ele significa cultura do entretenimento.

Na concepção de Adorno e Horkheimer a indústria cultural reproduz os elementos característicos do mundo industrial moderno e cria condições cada vez mais favoráveis para a introdução de seu comercio “fraudulento” e alienante.

Tendo esse ponto de vista, o que temos é a concepção de um mundo sem bases sociais para o exercício da razão crítica, Adorno não acredita no protagonismo histórico de uma classe, no caso o proletário, para ele no processo de dominação a razão como conseqüência perde seus alicerces, não há bases reais para uma razão dialética. Continua existindo a razão, mas ela é totalmente conformista voltada para o cálculo à manipulação e o domínio, desta forma a razão crítica deixa de ter lugar, para os autores à indústria cultural realizou maldosamente o homem como ser genérico. Concluindo Horkheimer vai mais longe quando diz que o homem perde sua autonomia e sua capacidade de opor sua resistência ao crescente mecanismo de manipulação de massas, o seu poder de imaginação e o seu juízo independente sofrerão redução.

*Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.


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O Capitalismo Tardio / João Manuel Cardoso de Melo. Editora brasiliense, 1982. São Paulo.

                                                                                            Resenhado por, Suzana Alves*

João Manuel Cardoso de Melo inicia seu ensaio demarcando alguns pontos do pensamento da CEPAL (comissão econômica para América Latina), criada 1949, com o objetivo de elaborar estudos e alternativas para o desenvolvimento dos países latino – americanos. Para o autor a CEPAL, foi criada para estabelecer o processo de aparecimento da industrialização entre 1914 e 1945. A saída vista pela CEPAL para a América Latina seria a industrialização. O autor crítica o critério cepalino de periodização histórica (economia colonial / economia nacional, crescimento para fora, industrialização por substituição de importações e industrialização extensiva / industrialização intensiva), partindo daí, João Manuel C. de Melo vai repensar a história, formação e desenvolvimento do modo de produção capitalista na América Latina. Começando com as raízes do capitalismo retardatário, onde o autor faz um paralelo entre economia colonial e economia exportadora capitalista é como ambas se desenvolveram no Brasil, usando este mesmo paralelo entre o seu ponto de vista e o da CEPAL.

O autor fala que o modo de crescimento para fora causa em última possibilidade a transformação das economias da América Latina em conformidade ao “modelo primário – exportador”.

O João Manuel C. de Melo, vê no problema central da CEPAL a problemática da industrialização nacional a partir de um ponto de vista ou “situação periférica”.

Conceituando os termos crescer para fora e o desenvolvimento para dentro, o primeiro termo designa as economias periféricas enquanto exportadoras de produtos primários em que segundo o autor não dispõe de comando pobre seu próprio crescimento, ocorrendo o contrário e ficando em estado de dependência da força da demanda ao centro. E é no período de 1880 a 1914, que surge por causa da demanda de produtos primários desempenhada pelo país do centro fazendo surgir economias periféricas.

O segundo ponto é a etapa de desenvolvimento para dentro; em que o centro dinâmico da economia se move para dentro da nação, que passa a comandar a si próprio, substituindo a variável exógena da demanda externa por uma variável endógena de investimento como impulsão da economia, que significa a modificação para o interior da nação os centros de decisão.

No pensamento cepalino a industrialização seria a saída dos países da pobreza e para criação de bases econômicas.

Um dos problemas levantados pelo autor em seu texto é o fato de que a industrialização periférica esbarra, no desequilíbrio entre as técnicas importadas e a relativa fragilidade da demanda. Então para o autor, a dinâmica da economia mundial tende, a aprofundar o desenvolvimento desigual. Deste modo cria-se uma situação de “dependência externa” onde se exprime a relação centro / periferia, surgindo dessa forma vários tipos de “situações de dependência” ao longo da história latino-americana, como a dependência colonial, primário exportadora e tecnológica financeiro.

Para João Manuel, dependência e desenvolvimento representam uma chance de constituir uma nova problemática, que seriam a da “instauração de um modo de produção capitalista em formações sociais que encontram na dependência seu traço histórico peculiar”, a problemática da formação e do desenvolvimento do modo de produção capitalista na América Latina. Diante do que foi exposto partiremos agora para “raízes do capitalismo retardatário”, que de acordo com o autor, surge com o paradigma cepalino, nas últimas décadas do século XIX, uma nova etapa do processo de desenvolvimento latino americano com a constituição das economias primário – exportadoras. Esta forma de crescer caracterizada por uma clara especialização em dois setores que são o setor externo e o setor interno, dependente do primeiro.

O autor faz uma diferenciação entre economia colonial e economia primário – exportadora, para o autor a diferença se encontrava nas distintas relações sociais básicas que eles estão subjacentes, trabalhando compulsório, servil ou escravo, de um lado e trabalho assalariado de outro. A economia colonial organiza-se para cumprir uma função, a de instrumento de acumulação primitiva de capital, sendo deste modo mercantil.

Mas o capital comercial não se limita na América – Latina a explorar os modos de produção já existentes a conquista. Ao contrário aumentou o campo de circulação que lhe era próprio e entrar na esfera de produção formando a economia colonial.

Partindo agora para o capitalismo industrial, que quer a formação de uma periferia produtora de produtos primários de exportação, organizando a produção em bases capitalistas, quer dizer com o trabalho assalariado.

Portanto, a passagem da economia colonial à economia exportadora capitalista com sua complexidade toma como movimento determinado a princípio “fatores internos” e por último por fatores externos. 

O autor conclui nestes pontos em linhas gerais a transição de economia colonial à economia exportadora capitalista no Brasil, pela economia mercantil escravista nacional. Que para o autor estava longe de ter sido assimilado pelo modelo cepalino.

Bom, vamos agora “A industrialização retardatária” que é figurada em cima da crítica ao pensamento cepalino. Neste ponto João Manuel investiga o processo de industrialização na América latina. O ponto que o autor parte para fazer sua analise é a capacidade de diversificação do crescimento para fora que consiste na capacidade do setor exportador que é o conjunto de empresas produtoras de certo produto primário de exportação, em que se criara um mercado mais ou menos amplo, pensado, como mercado de bens de consumo corrente.

Porém a industrialização induzida pela expansão das exportações encontrava, fronteiras estreitas impostos pelo crescimento dos mercados gerados pelo setor exportador, que uma só vez “ocupados” tornaria a expansão industrial distante e débil. O que para a CEPAL seria a passagem do “modelo de crescimento para fora” ao “modelo de crescimento para dentro”.

As condições fundamentais que precisam ser cumpridas para que isso ocorra, a princípio deve-se parti de bens de consumo menos elaborados e progredindo lentamente até atingir os bens de capital.

Outro ponto quanto às condições internas para a industrialização intensiva pelo tamanho restrito dos mercados latino-americanos, levando em conta que a tecnologia importada impõe escalas em que a produção é ajustada aos mercados de países desenvolvidos. O autor conclui por tanto que tomar o paradigma cepalino que é tomar a industrialização latino-americana como uma industrialização capitalista.

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João Manuel Cardoso de Melo bacharelou-se em direito em 1965 na faculdade de direito da USP. Em 1966 fez um curso de desenvolvimento econômico do programa CEPAL-BNDE e em 1968 o curso de programação industrial da CEPAL-ELPES. Fez parte do núcleo de fundadores do departamento de economia do instituto de filosofia e ciências humanas da universidade de Campinas. O ensaio “O capitalismo tardio” foi apresentado em 1975 como sua tese de doutoramento. O livro é basicamente uma crítica das reflexões de Raul Prebisch, Aníbal Pinto, Celso Furtado entre outros. Assim como o autor sempre envolvido com complexo problema do capitalismo periférico.

Neste livro o autor faz uma análise do capitalismo brasileiro e também latino-americano que é onde faz uma crítica a CEPAL, sendo que esta crítica não é mais uma crítica sem fundamento afinal João Manuel foi formada pela CEPAL.

É também neste ensaio que o autor reconhece a contribuição de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Falleto (Dependência e desenvolvimento na América-Latina ensaio de interpretação sociológica).

Para o autor o pensamento cepalino foi de certa forma equivocado, pois separa os condicionamentos sociais e políticos, externos e internos do processo econômico.

O novo exame que faz João Manuel em seu capitalismo tardio limita-se apenas aos aspectos econômicos. Porém ele usa de análises já feitas antes como: Caio Prado Jr. (Revolução brasileira) em que abrange a política outro foi Fernando Novaes que faz um exame mais histórico do período colonial, já a Revolução de 1930 fica a cargo de Boris Fausto e muitos outros, o livro conta com excelente bibliografia em relação ao Brasil que é muito utilizada por João Manuel em sua análise do desenvolvimento capitalista brasileiro.

João Manuel faz uma periodização diferente da CEPAL em relação a industrialização, para ele poderia ser dividida na seguinte ordem, economia colonial-economia mercantil-escravista nacional-economia exportadora capitalista-retardatária, que vem dividida em mais três fases: nascimento e consolidação da grande industria, industrialização restringida e industrialização pesada. Bom sendo o objetivo de este ensaio fazer uma nova periodização da economia brasileira, diferenciando da CEPAL o autor conseguiu.

A periodização feita pela CEPAL era desta forma, ou melhor, dividida desta forma primeira: período colonial; período primário-exportador; período de industrialização substitutiva de importações, subdividida em duas fases: a primeira tem por base a indústria leve e a segunda baseada na indústria de bem de consumo e de bem de capital.

O que ficou um pouco vago foi à questão de ter o autor se demorado tanto na questão da abolição da escravatura e economia colonial.

Para o autor diferindo da CEPAL, há duas e não apenas uma economia primário-exportadora, que seria uma apoiada no trabalho escravo e outra organizada com o trabalho assalariado.  

          “Enfim, reversamente, a história do capitalismo é também nossa história: o capitalismo não pode formar-se sem o apoio da acumulação colonial; o capitalismo valeu-se da periferia para rebaixar o custo de reprodução tanto da força de trabalho quanto dos elementos componentes do capital constante; ademais dela se serviu quer como o mercado para sua produção industrial, quer como campo de exportação de capital financeiro e mais adiante produtivo”.                                                                               

                                                                                         (Mello, 1982, pg.177)

O capitalismo tardio é um livro crítico, interessante e essencial para estudiosos de economia brasileira.

*Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas. suzialvess@hotmail