Nos versos de 1 a 6, a poeta vale-se de um recurso para caracterizar tanto o passado quanto o futuro

Nos versos de 1 a 6, a poeta vale-se de um recurso para caracterizar tanto o passado quanto o futuro

este livro este besouro este vulcão este despenhadeiro à frente de nós à frente deles corre o cão ANA MARTINS MARQUES O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 5 10 15 QUESTÃO 06 Nos versos de 1 a 6, a poeta vale-se de um recurso para caracterizar tanto o passado quanto o futuro. Esse recurso consiste na construção de: (A) índices de ironia (B) escala de gradações (C) relações de comparação (D) sequência de personificações QUESTÃO 07 No poema, há marcas de linguagem que remetem tanto à poeta quanto a seus leitores. Uma dessas marcas, referindo-se unicamente ao leitor, está presente no seguinte verso: (A) como o passado nas pedras nos móveis no rosto (v. 8) (B) das pessoas que conhecemos (v. 9) (C) pense em como do lodo primeiro surgiu esta poltrona este livro (v. 15) (D) à frente de nós à frente deles (v. 17) Vestibular estadual 2017 1ª fase exame de Qualificação6 LINGUAGENS Há alguns meses fui convidado a visitar o Museu da Ciência de La Coruña, na Galícia. Ao final da visita, o curador1 anunciou que tinha uma surpresa para mim e me conduziu ao planetário2. Um planetário sempre é um lugar sugestivo, porque, quando se apagam as luzes, temos a impressão de estar num deserto sob um céu estrelado. Mas naquela noite algo especial me aguardava. De repente a sala ficou inteiramente às escuras, e ouvi um lindo acalanto de Manuel de Falla. Lentamente (embora um pouco mais depressa do que na realidade, já que a apresentação durou ao todo quinze minutos) o céu sobre minha cabeça se pôs a rodar. Era o céu que aparecera sobre minha cidade natal – Alessandria, na Itália – na noite de 5 para 6 de janeiro de 1932, quando nasci. Quase hiper-realisticamente vivenciei a primeira noite de minha vida. Vivenciei-a pela primeira vez, pois não tinha visto essa primeira noite. Provavelmente nem minha mãe a viu, exausta como estava depois de me dar à luz; mas talvez meu pai a tenha visto, ao sair para o terraço, um pouco agitado com o fato maravilhoso (pelo menos para ele) que testemunhara e ajudara a produzir. O planetário usava um artifício mecânico que se pode encontrar em muitos lugares. Outras pessoas talvez tenham passado por uma experiência semelhante. Mas vocês hão de me perdoar se durante aqueles quinze minutos tive a impressão de ser o único homem desde o início dos tempos que havia tido o privilégio de se encontrar com seu próprio começo. Eu estava tão feliz que tive a sensação – quase o desejo – de que podia, deveria morrer naquele exato momento e que qualquer outro momento teria sido inadequado. Teria morrido alegremente, pois vivera a mais bela história que li em toda a minha vida. Talvez eu tivesse encontrado a história que todos nós procuramos nas páginas dos livros e nas telas dos cinemas: uma história na qual as estrelas e eu éramos os protagonistas. Era ficção porque a história fora reinventada pelo curador; era História porque recontava o que acontecera no cosmos num momento do passado; era vida real porque eu era real e não uma personagem de romance. UMBERTO ECO Adaptado de Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução: Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 5 10 15 20 1 curador − responsável pelo museu 2 planetário − local onde é possível reproduzir o movimento dos astros aos cães domesticados se ensina a andar sempre atrás do dono mas os cães o passado só aparentemente nos pertencem (v. 12-14) Nesses versos, sugere-se uma ideia a respeito da relação entre cães e seres humanos. Essa ideia, no verso destacado, recebe da poeta a seguinte avaliação: (A) adesão (B) negação (C) proibição (D) permissão QUESTÃO 08 Vestibular estadual 2017 1ª fase exame de Qualificação 7 LINGUAGENS Talvez eu tivesse encontrado a história que todos nós procuramos nas páginas dos livros e nas telas dos cinemas: uma história na qual as estrelas e eu éramos os protagonistas. (l. 21-22) Na frase acima, o autor procura delimitar um sentido para a palavra história por meio dos trechos destacados. Esses trechos apresentam uma formulação do seguinte tipo: (A) exemplificação (B) particularização (C) modalização (D) dedução QUESTÃO 11 No último parágrafo, ao descrever a experiência vivida no planetário, o autor identifica três efeitos: de ficção, de História e de realidade. De acordo com a exposição do autor, a interação entre esses três efeitos pode ser descrita como uma relação de: (A) anulação (B) condição (C) contradição (D) superposição QUESTÃO 12 QUESTÃO 09 Umberto Eco narra, no segundo parágrafo do texto, uma experiência surpreendente que vivenciou. Pode-se compreender essa experiência pela relação que se estabelece entre os seguintes elementos: (A) tempo cronológico e reconstrução ficcional (B) avanço tecnológico e ilusão cinematográfica (C) registro documental e sonho cotidiano (D) narrativa biográfica e história universal QUESTÃO 10 Quase hiper-realisticamente vivenciei a primeira noite de minha vida. (l. 9) Na palavra destacada, o acréscimo do prefixo hiper indica ideia de: (A) ampliação (B) hierarquia (C) proporção (D) simultaneidade Vestibular estadual 2017 1ª fase exame de Qualificação8 LINGUAGENS Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. De fato, se desejamos escapar à crença de que esse mundo assim apresentado é verdadeiro, e não queremos admitir a permanência de sua percepção enganosa, devemos considerar a existência de pelo menos três mundos num só. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula. O segundo seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade. E o terceiro, o mundo como ele pode ser: uma outra globalização. Este mundo globalizado, visto como fábula, constrói como verdade um certo número de fantasias. Fala-se, por exemplo, em aldeia global para fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. A partir desse mito e do encurtamento das distâncias – para aqueles que realmente podem viajar – também se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. É como se o mundo houvesse se tornado, para todos, ao alcance da mão. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. O mundo se torna menos unido, tornando também mais distante o sonho de uma cidadania de fato universal. Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado. Na verdade, para a maior parte da humanidade, a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. Todavia, podemos pensar na construção de um outro mundo, mediante uma globalização mais humana. As bases materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir a globalização perversa de que falamos acima. Mas essas mesmas bases técnicas poderão servir a outros objetivos, se forem postas a serviço de outros fundamentos sociais e políticos. MILTON SANTOS Adaptado de Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2004. 5 10 15 20 QUESTÃO 13 No primeiro parágrafo, o autor apresenta uma caracterização negativa do mundo atual, ao mesmo tempo que propõe um procedimento de análise desse contexto que permitiria superá-lo. Esse procedimento de análise está explicado em: (A)

Nos versos de 1 a 6, a poeta vale-se de um recurso para caracterizar tanto o passado quanto o futuro
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[1] Pietro Brun, meu tetravô paterno, embarcou em um navio no final do século 19, como tantos

italianos pobres, em busca de uma utopia que atendia pelo nome de América. Pietro queria

terra, sim. Mas o que o movia era um território de outra ordem. Ele queria salvar seu nome,

encarnado na figura de meu bisavô, Antônio. Pietro fora obrigado a servir o exército como

[5] soldado por anos demais (...). Havia chegado a hora de Antônio se alistar, e o pai decidiu que

não perderia seu filho. Fugiu com ele e com a filha Luigia para o sul do Brasil. Como desertava,

meu bisavô Antônio foi levado em um bote até o navio que já se afastava do porto de Gênova.

Embarcou como clandestino.

Ao desembarcar no Brasil, em 10 de fevereiro de 1883, Pietro declarou o nome completo.

[10] O funcionário do Império, como aconteceu tantas e tantas vezes, registrou-o conforme ouviu.

Tornando-o, no mundo novo, Brum – com “m”. Meu pai, Argemiro, filho de José, neto de

Antônio e bisneto de Pietro, tomou para si a missão de resgatar essa história e documentá-la.

No início dos anos 1990 cogitamos reivindicar a cidadania italiana. Possuímos todos os

documentos, organizados numa pasta. Mas entre nós existe essa diferença na letra. Antes de 

[15] ingressar com a documentação, seria preciso corrigir o erro do burocrata do governo imperial

que substituiu um “n” por um “m”. Um segundo ele deve ter demorado para nos transformar, e

com certeza morreu sem saber. E, se soubesse, não teria se importado, porque era apenas o

nome de mais um imigrante a bater nas costas do Brasil despertencido de tudo. 

Cabia a mim levar essa empreitada adiante.

[20] Há uma autonomia na forma como damos carne ao nosso nome com a vida que construímos – e

não com a que herdamos. (...) Eu escolho a memória. A desmemória assombra porque não a

nomeamos, respira em nossos porões como monstros sem palavras. A memória, não. É uma

escolha do que esquecer e do que lembrar – e uma oportunidade de ressignificar o passado

para ganhar um futuro. Pela memória nos colocamos não só em movimento, mas nos tornamos

[25] o próprio movimento. Gesto humano, para sempre incompleto. 

Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma

perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa perna a mais era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda.

(...)

 Quando Pietro Brun atravessou o mar deixando mortos e vivos na margem que se distanciou, ele

não poderia ser o mesmo ao alcançar o outro lado. Ele tinha de ser outro, assim como nós, que

[30] resultamos dessa aventura desesperada. Era imperativo que ele fosse Pietro Brum – e depois

até Pedro Brum. 

ELIANE BRUM

Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. São Paulo: LeYa, 2014.

No texto, a autora narra fatos e expõe suas opiniões relacionados à vinda de sua família para o Brasil.

Uma dessas opiniões está explicitada em: