Quais são as principais diferenças entre os formatos de arquivos abertos e os proprietários? Vamos descobrir como funciona e como é constituído o arquivo IFC? Show
Sobre o arquivo IFC sabemos muito, mas não tudo. Vamos ver alguns aspeitos operacionais começando, em primeiro lugar, pelo esclarecimento do que significa ‘formato aberto não proprietário‘. Formatos abertosUm formato aberto, em informática, indica uma especificação técnica de domínio público usada para a descrição e armazenamento de dados digitais, livre de restrições legais para seu uso. O principal objetivo dos formatos abertos é garantir o acesso aos dados a longo prazo sem inseguranças jurídicas ou restrições devidas às especificações técnicas: em outras palavras, garantir a interoperabilidade. Outro objetivo do formato aberto é incentivar a concorrência, ao invés de permitir que um único fabricante detenha o controle sobre um formato proprietário. Formatos proprietáriosOs formatos proprietários são, na verdade, controlados e definidos por interesses privados. Com o formato proprietário, o usuário corre o risco de perder todas as informações contidas no arquivo caso o software pare de funcionar ou fosse descontinuado, já que não teria outro sistema capaz de processá-las. Todas as informações coletadas nos arquivos públicos (órgãos, instituições, administração, etc.) se tornariam ilegíveis e inutilizáveis em muito pouco tempo. A título de exemplo, o formato MP3 é proprietário mas também aberto porque, se bém patenteado, suas especificações são públicas. Tornar públicas as especificações técnicas é uma maneira de difundir o formato e torná-lo um padrão internacional. Qual a diferença entre formato proprietário aberto e opensource? Enquanto o formato opensource pode ser lido ou editado por qualquer aplicativo, o formato proprietárioo aberto pode ser alterado apenas com o programa proprietário. É evidente o valor do formato IFC: os dados são independentes do formato do arquivo onde eles são armazenados e transmitidos. Como é constituído o arquivo IFCPeguemos num arquivo com formato ‘.ifc‘, por exemplo relacionpaado a um modelo BIM arquitetônico. Vamos tentar renomeá-lo, alterando a respetiva extensão como ‘.txt‘. Depois vamos abrí-lo com qualquer editor de texto (tais como Notepad de Microsoft, presente em todas as versões de Windows). Trata-se de uma lista de parâmetros não apenas geométricos, organizados por objetos logicamente estruturados, acompanhados pelo respetivo valor e legíveis. Um arquivo IFC pode ser lido diretamente ou visualizado por meio dos visualizadores gratuitos que são facilmente disponíveis na internet. Tudo isso é a razão pela qual podemos afirmar que um arquivo IFC permitiria transmitir informações de forma eficaz entre os vários atores de um processo de construção caso decidissem trocar tais arquivos entre eles. Descobre como é fácil importar e exportar modelos IFC com um software BIM. Baixa e testa grátis por 30 dias Edificius
Um formato aberto é uma especificação publicada para armazenar dados digitais, mantida geralmente por uma organização de padrões não-proprietária, e livre de limitações legais no uso, garantindo o acesso aos dados em longo prazo. Quais itens não faz parte da educação aberta?Qual dos itens abaixo não faz parte da educação aberta à práticas pedagógicas flexíveis de acesso aberto a artigos científicos se recursos educacionais e gratuito sem licença
Qual o documento internacional mais recente sobre Rea?O referido Projeto, cujo objetivo é introduzir na legislação brasileira o incentivo à adoção dos Recursos Educacionais Abertos (REA) na política pública nacional, teve substitutivo apresentado para atender às recomendações dos documentos internacionais mais recentes como o Plano de Ação de Liubliana, resultado do 2º ... Qual a melhor qualidade de imagem JPG ou PNG?O JPEG é mais utilizado na web por seu pequeno tamanho, mas o PNG é mais versátil e recomendado para uma qualidade um pouco maior. Alías, falando em qualidade, o EXIF e o TIFF fazem bonito, mas possuem problemas de compatibilidade com programas comuns, então não existe um formato que seja “bom em tudo”. Por que a carta aberta é utilizada?
Como saber as características de uma pergunta aberta?
Por que fazer uma pergunta aberta?
Asociedade informacional é uma sociedade pós-industrial. Pela aplicação do conhecimento como força produtiva direta, também é denominada sociedade do conhecimento. O sistema sócio-econômico que se consolidou nos séculos XIX e XX como industrial está sendo alterado, dando lugar a um capitalismo cognitivo. Assim, o modo de produção hegemônico vive “a passagem de uma lógica da reprodução a uma lógica da inovação, de um regime de repetição a um regime de invenção” (CORSANI, 2003, p. 15). As tecnologias de informação viabilizaram a sociedade informacional e se tornaram tecnologias estratégicas, fundamentais em todos os campos: da economia, da gestão, da política, da guerra e da cultura. Alan Kay, um dos pioneiros da computação, considerava que o computador, expressão derradeira das tecnologias da informação, era uma espécie de mídia expansível, porque os novos usuários poderiam adicionar a ele novas propriedades, bem como poderiam inventar novos meios de comunicação. Para Kay, o computador pode ser chamado de “metameio”, uma vez que seu conteúdo, sua essência, é “uma ampla gama de meios de comunicação já existentes e ainda-não-inventados” (MANOVICH, 2008, p. 36). O computador é um hardware que necessita de um software para funcionar. O software contém as instruções que fazem o computador agir e realizar aquilo que seus programadores desejam. O computador possui um ou mais processadores de informação. A construção da computação eletrônica, na segunda parte do século XX, foi hegemonizada pela conversão das informações em sua forma numérica binária, em dígitos. Desse modo, o digital se tornou a metalinguagem das tecnologias de processamento de informação. A produção simbólica das sociedades iniciara sua intensa digitalização. Este é um dos principais fatos culturais do século passado. A cultura comunicada passou a ser realizada por máquinas de processamento, armazenamento e distribuição de informações operadas por softwares, utilizando a metalinguagem digital. Todas as linguagens, todas as palavras, textos, imagens e sons captados puderam ser transformados em sua expressão binária ou digital. Nobert Wiener chamou essas tecnologias de cibernéticas, pois são máquinas e processos de comunicação e de controle. Por isso, emerge uma cibercultura como expressão de sociedades de intensa comunicação e intenso controle. Essa cibercultura, em suas fases iniciais, é uma cultura digital, ou seja, de digitalização e enredamento da comunicação. O sociólogo Manuel Castells (CASTELLS, 1999) defendeu que a morfologia social e as principais formas de organização e de comunicação ocorrem em redes. As tecnologias da informação surgiram também e, talvez principalmente, pelas necessidades comunicacionais do capitalismo. A sociedade informacional está conectada em redes digitais, por isso, são na verdade sociedades em rede. Estas redes são completamente dependentes de softwares. Softwares são programas computacionais, presentes nos automóveis, no controle das aeronaves, nos aparelhos eletrodomésticos, nos aparelhos de TV digital, nos telefones e nas centrais de telefonia. Cada vez mais as máquinas, aparelhos e instrumentos que utilizamos em nosso cotidiano são operados por softwares. Nossa comunicação utiliza o software como meio de viabilizá-la. Para Lev Manovich (MANOVICH, 2008), somos a sociedade do software. Intensidade da comunicação A comunicação intensa é uma das características culturais das sociedades submetidas à influência do capitalismo ocidental a partir da Segunda Guerra Mundial. As culturas locais são determinantes para a compreensão de comportamentos, valores e visões de mundo. Elas são colocadas em constante contato com outros valores e concepções a partir da aceitação e incorporação dos meios eletrônicos de comunicação. McLuhan chamou de aldeia global essa comunicabilidade, que estaria reduzindo as distâncias do mundo e aproximando os homens como se estivessem em uma unidade da tribo. Ocorre que a proximidade de culturas não parece anular as diferenças, como se divulgou no senso comum. A depender dos contextos políticos, religiosos e econômicos, a proximidade cultural é considerada agressiva e abre espaço para a organização de políticas de isolamento e de combate ao outro. Contudo, é inegável que o localismo globalizado (SOUZA SANTOS, 2002) pode influenciar decisivamente e gerar a adesão a determinados valores e gostos. Principalmente as elites capitalistas locais buscaram se constituir como imagem e semelhança das elites dos centros hegemônicos do sistema socioeconômico. Se a comunicação de massas trabalhava principalmente a disseminação de conteúdos, a comunicação em rede tratou de disseminar processos e plataformas de interação. As redes digitais recobriram rapidamente o planeta e entraram na dinâmica econômica das empresas de modo contundente, uma vez que alteram a produtividade ou, pelo menos, dão a impressão de alterarem. Um hipermercado que não está informatizado parece ter dificuldade de sobreviver diante de seus concorrentes que controlam contabilidade, administração e estoques a partir de computadores em rede. O sistema financeiro parece ser inviável, mesmo que não seja, caso não esteja com todos os seus segmentos conectados em tempo real, e que permitam aos seus usuários realizarem operações de modo rápido, eficiente e seguro. As pessoas das sociedades capitalistas ocidentalizadas parecem, cada vez mais, depender dos telefones celulares para viver. O gasto de horas de cada indivíduo na Internet é crescente, principalmente em países que contam com grande assimetria no acesso das populações mais carentes. Não há um recuo do nível de comunicabilidade geral. Os governos se veem impelidos a construírem infraestruturas de conexão das empresas, instituições e residências em redes de alta velocidade de transferência de dados digitalizados. O uso de redes de relacionamento social, as denominadas redes sociais online, atingiu 70% dos internautas urbanos brasileiros no ano de 2010 (Pesquisa TIC). Com a digitalização da modulação e transmissão da TV, a principal expressão da comunicação de massas se rende ao mundo das redes informacionais e reforça a convergência digital. O resultado será certamente o fortalecimento da comunicação baseada em softwares. Exceto a comunicação face a face; a comunicação pessoal, interpessoal e social mediada por instrumentos será uma comunicação operada por software. Software e comunicação em rede dependem de padrões, protocolos e de formatos. O que são formatos? A comunicação digital é totalmente dependente de formatos. Formato é um modo específico de codificar a informação para o seu armazenamento e recuperação em um arquivo de computador. Formatos são implementados por softwares. Os formatos de computador ou formatos digitais podem ser fechados e proprietários. Isso quer dizer que o código que contém as instruções para o computador salvar e recuperar as informações não é acessível a todos, sendo patenteado ou licenciado em copyright pelo seu desenvolvedor. Quando o formato tem sua codificação aberta e não está submetido a bloqueios legais de uso é chamado de formato aberto. O .doc da Microsoft, por exemplo, é um formato fechado e o .odt é um formato aberto. Formatos são instrumentos de biopoder. Condicionam e, em algumas situações, determinam nossa comunicação e nossa memorização. Em uma sociedade informacional com o uso intenso de softwares, a formatação do conjunto de informações, bem como nossa memorização torna-se dependente de formatos digitais. Assim, corporações de tecnologia procuram obter ganhos econômicos também a partir do controle dos formatos. Assim como a arquitetura das cidades expressa as disputas sociais e econômicas pela apropriação e definição dos usos dos espaços, os formatos representam um padrão de uso da tecnologia, que pode ser expressão da monopolização de um dos seus segmentos por corporações, as quais, muitas vezes, passam a aprisionar os seus usuários. O vídeo gravado em um formato proprietário poderá ser aberto apenas pelos softwares de empresas ou comunidades de desenvolvedores que saibam como implementá-lo, seja por terem desenvolvido sua codificação, seja por terem realizado a engenharia reversa necessária a sua leitura e exposição. Formatos dizem como converter a informação em zero e um, ou seja, em linguagem binária acessível ao computador. A reconversão dessas informações em código binário depende do conhecimento das regras de conversão pelos softwares. Formatos delimitam o que pode ser guardado, como deve ser armazenado, a quantidade de bits necessários para o arquivamento e a qualidade de recuperação das informações. Atualmente, existe uma infinidade de formatos de arquivos para diferentes tipos de informação, sendo a maioria incompatível entre si. Isto quer dizer que se um arquivo for salvo em formato Adobe Flash, cuja extensão é .swf, ele somente poderá ser aberto em softwares que possuam um plug-in especial do programa Flash Player, que é um leve aplicativo somente de leitura, distribuído gratuitamente pela Adobe. A propriedade de um formato de arquivo digital dá ao seu dono também o controle sobre o software que irá permitir a sua leitura. O formato e o software que permitem o arquivamento e a leitura de informações digitais, quando proprietários, são componentes de um processo econômico que podem aprisionar os seus usuários. Sem acesso às instruções que compõem a conversão do formato, ou simplesmente impedido de desenvolver a conversão por proibição legal, o usuário de um formato proprietário teria um grande custo de troca de todos os seus dados para se libertar de uma solução proprietária. Formatos e memória Formatos são as definições para o armazenamento de dados digitais. Em uma sociedade de controle (DELEUZE, 1992), que é organizada por tecnologias cibernéticas, os formatos digitais portam um grande poder em relação aos seus usuários. Os formatos podem delimitar, condicionar, controlar, bloquear, aprisionar e criar dependências para cidadãos que os utilizam. No mundo digital, a memória depende dos formatos computacionais de arquivamento. No período pré-cibernético, um livro impresso em papel expressava uma cultura, um momento histórico, as ideias e interpretações de seu autor. O papel de suas páginas era um dos principais suportes da memória de um período. Durante muitos séculos, o suporte da memória dos viventes foram o papel e as técnicas de escrita e impressão de ideias, imagens em seus limites. A memória digital é qualitativamente distinta. Para arquivar um conteúdo digital é necessário utilizar um software. Do mesmo modo, para acessar um arquivo digitalizado também é preciso recorrer a um programa computacional. Os indivíduos se tornam cada vez mais dependentes de um leque de aparatos técnicos e sistemas informacionais para guardar e resgatar sua produção simbólica. Desse modo, em uma sociedade informacional, a memória digital é formatada e mediada por softwares. Além disso, os formatos digitais criam dependências pouco conhecidas e muitas vezes invisíveis para a ampla maioria de indivíduos. Pierre Lévy, ao estudar as dimensões da virtualidade, descreveu a escrita como a virtualização da memória. Também percebeu que a escrita “fez surgir um dispositivo de comunicação no qual as mensagens muito frequentemente estão separadas no tempo e no espaço de sua fonte de emissão” (LÉVY, 38). Todavia, há uma grande diferença quando tratamos da escrita digital, pois o processo de virtualização realizada por programas de computador implicam em tipos de arquivamento chamados de formatos. “O armazenamento em memória digital é potencialização, a exibição é uma realização”, diz Lévy (40). O que ele não buscou observar é o fato da atualização dos conteúdos digitalizados se subordinarem as “máquinas de ler” (41), ou seja, os leitores de formatos. Existe a efetiva possibilidade da leitura direta ou analógica de um texto impresso em uma folha de papel daqui a 50 anos. Todavia, o mesmo texto digitalizado somente poderá ser lido se seu formato for conhecido e mantido por pelo mesmos 50 anos. Um software deverá ser capaz de executar ou interpretar o formato que mantém seu conteúdo arquivado. Existe uma grande diferença entre a leitura direta e a leitura dos formatos. Essa última exige a intermediação de softwares. Por isso, formatos precisam ser abertos com especificações conhecidas, publicadas e acessíveis a todos. Os formatos proprietários possuem extensões que asseguram o direito de apenas um ou alguns softwares poderem abri-los ou lê-los. Os formatos abertos garantem ao indivíduo a liberdade de utilização de quaisquer programas que aceitem abri-los. Não há aprisionamento da memória digital. Ideologia dos formatos Jack M. Balkin, professor de Direito Constitucional, foi fundador do Yale Information Society Project (ISP), um centro de pesquisa cuja missão é estudar as implicações legais e sociais da internet, das telecomunicações e das novas tecnologias da informação. Em 1998, publicou o livro Cultural Software: A Theory of Ideology. Um de seus argumentos centrais é aqui reproduzido e reapropriado para esclarecer um pouco mais a dimensão social dos formatos digitais. Balkin (1998) compara o software a uma ferramenta muito especial. Propõe o entendimento do significado da palavra ferramenta em seu sentido mais amplo possível. Em seguida, irá definir o software como uma ferramenta de compreensão e, por isso, ele é completamente diferente de ferramentas como martelos e pregos. Balkin considera que martelos e pregos são fisicamente separados de quem os criou. As pessoas podem levar um martelo consigo ou deixá-lo em sua casa, mas isso se dá de modo diferente com as ferramentas de compreensão. As ferramentas de compreensão, que são utilizadas no trabalho humano, tornam-se parte do aparelho de entendimento dos seus usuários, acabam sendo parte deles. Deste modo, Balkin denomina o software como ferramenta cultural, e o considera como algo que usamos para compreender e avaliar o mundo, sendo também parte de nós. Sua concepção paradigmática da atividade humana é técnica e sua visão paradigmática do raciocínio humano é instrumental. A humanidade também desenvolveu linguagem e outras habilidades sociais como ferramentas. Desse modo, Balkin reconhece a linguagem como a ferramenta cultural por excelência, por isso, considera que nossas habilidades linguísticas não podem ser separadas de nós. Elas são parte de quem somos. Essas habilidades não são projetadas para qualquer finalidade específica, a linguagem é utilizada para todas as finalidades. Além disso, Balkin advoga que o uso da linguagem não é puramente instrumental, pois usamos a linguagem para expressar os nossos valores e interagir com os outros. Finalmente, ele alerta que uso da linguagem não é uma habilidade puramente técnica, é a habilidade social por excelência. As ferramentas de compreensão em que eu estou principalmente interessado se enquadram nesta última categoria. Elas são internas e inseparável da existência humana. Elas não são necessariamente concebidas para uma única finalidade, mas têm finalidades múltiplas e muitas vezes são a fonte de novos propósitos. Elas não são simplesmente meios para um fim, mas os meios de desenvolver e articular os nossos fins. Softwares são ferramentas de compreensão. Formatos abertos e fechados Em abril de 2010, o então líder da Apple, Steve Jobs, divulgou um texto explicando os motivos pelos quais a Apple não poderia utilizar arquivos de extensão .swf (de Shockwave Flash File), ou seja, animações geradas pelo software Adobe Flash. Jobs dizia claramente que era para a Apple não ficar aprisionada à empresa Adobe[1]. No texto, chamado Thoughts on Flash, Jobs afirma que “os produtos Flash da Adobe são 100% proprietários. Eles só estão disponíveis a partir da Adobe e a Adobe tem autoridade exclusiva sobre a sua valorização futura, preços etc.” No mesmo texto, Jobs alerta que “embora os produtos Flash, da Adobe, estejam amplamente disponíveis, isso não significa que eles sejam abertos, pois eles são controlados totalmente pela Adobe e estão disponíveis somente a partir da Adobe. Por basicamente qualquer definição, o Flash é um sistema fechado”. Jobs sabia que o padrão aberto é o que garante a liberdade de criação e de ação de usuários e de desenvolvedores. Padrões fechados colocam os usuários em prisões lógicas que os tornam completamente dependentes dos desenvolvimentos das empresas que os dominam. A argumentação de Jobs aponta os principais obstáculos das soluções proprietárias para qualquer usuário que busque o mínimo de autonomia de decisão sobre suas criações. O caso ODF (Open Document Format) Os parágrafos que constam neste item foram retirados quase integralmente de um texto que publiquei na Revista Select, de 1º de dezembro de 2011, intitulado “Guerra de formatos”. Tratam do recente embate entre formatos abertos e fechados, e buscam esclarecer o papel do formato aberto para garantir a interoperabilidade e a compatibilidade de textos produzidos a partir de softwares diferentes. Para superar as dificuldades da grande incompatibilidade entre os diferentes formatos de documentos digitais, foi criado o ODF, Open Document Format. Lançado pelo consórcio Organization for the Advancement of Structured Information Standards (OASIS) e baseado na linguagem XML, o ODF é aberto e pode ser aplicado por todo e qualquer software de escritório para armazenar textos, planilhas, bases de dados, desenhos e apresentações. Foi aprovado como norma ISO, em 2006, tornando-se um padrão aberto internacional. A finalidade do ODF é superar o aprisionamento lógico que um formato proprietário pode construir. Independentemente do software utilizado para produzir um texto, ao salvá-lo em um formato ODF, ele poderá ser aberto em qualquer programa editor de texto. Deste modo, adquirimos maior autonomia e independência em relação à empresa que desenvolveu o editor que permitiu salvar o arquivo. Além disso, o padrão e o formato aberto estimula a competição entre desenvolvedores de software em cima de um mesmo conjunto conhecido de especificações. O governo brasileiro apoiou a aprovação do ODF na ISO e incentivou que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) o adotasse. Mas a Microsoft percebeu que o formato aberto anularia com o passar do tempo sua estratégia de fidelização (conforme os publicitários) ou aprisionamento (para os economistas e sociólogos) de usuários, pois ao terem que que utilizá-lo em seus produtos, eles deixariam de ser os únicos a abri-los. A empresa guardiã do software proprietário logo se empenhou em alavancar um padrão próprio visando enfraquecer a existência e adoção do ODF. O mais interessante é que a Microsoft eufemisticamente denominou seu formato de “Open XML“. Repare que o XML é uma linguagem aberta, criada pelo World Wide Web Consortium (W3C), altamente portável, que foi bem descrito na Wikipedia do seguinte modo: “não depende das plataformas de hardware ou de software, um banco de dados pode, através de uma aplicação, escrever em um arquivo XML, e um outro banco distinto pode ler, então, estes mesmos dados”[2]. Assim, para os desavisados, uma das empresas que mais cria incompatibilidades programadas no mundo digital, teria lançado um padrão aberto. A delegação brasileira na ISO votou contra a definição do Open XML como norma internacional. O coordenador do ODF no Brasil, Jomar Silva, escreveu 42 objeções técnicas sobre o padrão da Microsoft, a maioria sem resposta até hoje. O Brasil conseguiu obstruir a aprovação do Open XML por seis meses, mas diversos países mudaram seu voto depois de uma grande pressão exercida pela Microsoft sobre diversos governos. Todavia, não sabíamos da história toda. Em meio aos diversos telegramas entre as embaixadas norte-americanas e o governo de Washington vazados e divulgados pelo Wikileaks, um deles tratava da guerra dos formatos[3]. Na verdade todos já desconfiavam que a Microsoft atua e atuava em consonância com o governo norte-americano. O presidente da Microsoft no Brasil, Michel Levy, procurou a diplomacia norte-americana, no final de 2007, para atacar a posição do governo brasileiro, apontada como uma agressão à propriedade intelectual, e fruto de uma postura completamente antiamericana. O presidente da Microsoft pedia intervenção do governo norte-americano para barrar a ação contra o Open XML (que, no telegrama, estava grafado como XML, um erro claro do diplomata, devido ao eufemismo da própria Microsoft). O trecho do telegrama é esclarecedor: De acordo com Levy, o Itamaraty tem pressionado a Agência Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, para adotar uma postura mais agressiva contra o uso do XML como um dos dois padrões possíveis, juntamente com ODF no Brasil. Além disso, Levy afirmou que ele está na posse de cartas enviadas pelo Itamaraty a vários governos estrangeiros pedindo que trabalhem em conjunto para suportar apenas o ODF, que possui código aberto como o padrão internacional. A Microsoft atuou junto com o governo norte-americano para inverter a posição de muitos países que consideravam equivocada a existência de dois padrões ISO para formatos de documentos digitais. O ODF já era norma ISO. O peso de Washington e o lobby da gigante do mundo industrial venceram a batalha e o Open XML foi aprovado, mas o ODF não parou de avançar. A educação e os formatos Um educador não tem completa autonomia para decidir sobre sua própria criação se utilizou formatos proprietários. Se uma escola produziu suas animações em Flash terá que, necessariamente, utilizar os produtos da Adobe para visualizar o que foi produzido. Além disso, o formato de arquivamento em questão não permite que o trabalho realizado possa ser recortado, ampliado, remixado, recombinado e nem melhorado. Existem formatos que excluem as práticas culturais recombinantes sendo completamente impróprios para sua utilização no processo educacional, principalmente se a escola pretende produzir Recursos Educacionais Abertos (REA). O PDF é um formato de arquivo aberto, ou seja, qualquer desenvolvedor tem acesso às suas especificações e pode escrever aplicativos que leiam o seu padrão. Entretanto, se um grupo de educadores lança seu material didático em PDF, este material não poderá ser retrabalhado, embora possa ser lido por diversos softwares. O formato PDF não permite edição, torna difícil a cópia de trechos e, por fim, dificulta sua utilização direta para se criar uma obra derivada. Desse modo, os educadores que gostariam de complementar o material didático e adequá-lo à sua realidade local ficam obrigados a digitar novamente o texto distribuído em PDF, ou ficar “copiando e colando” pequenas partes dele em um outro texto com formato de arquivo editável. Nesse sentido, apesar de muitos educadores liberarem seus textos em uma das diversas licenças copyleft, o formato da liberação pode bloquear efetivamente o uso pleno da criação. Avery Lee, um desenvolvedor de software livre, em meados do ano 2000, recebeu um aviso do advogado da Microsoft de que seu programa de edição de vídeo não poderia suportar o formato ASF. Lee foi informado que, embora tivesse feito engenharia reversa, a implementação do formato era ilegal, uma vez que infringia patentes da Microsoft. O formato ASF é conhecido como arquivo recipiente de áudio e vídeo. Os formatos proprietários podem conter patentes, o que impede completamente o seu uso livre e dá ao dono do formato o poder de bloquear sua utilização para determinadas finalidades. Para ser aberto um formato precisa ser baseado em padrões abertos. Deve ainda ser desenvolvido de forma transparente e de modo coletivo, tal como ocorre, por exemplo, com o HTML 5. As especificações de um formato aberto devem estar documentadas e ser acessíveis para todos os interessados. Por fim, um formato aberto deve ser mantido independente de qualquer produto e não pode ter qualquer extensão proprietária que impeça seu uso livre. A garantia do livre fluxo do conhecimento, bem como os esforços para assegurar o compartilhamento dos recursos educacionais, para avançar a construção do comum e para expandir a diversidade cultural impulsionam os formatos abertos, pois sua característica é de enfrentamento das práticas de aprisionamento lógico, cerceamento e controle da criatividade. ReferênciasBALKIN, J. M. Cultural software: a theory of ideology. New Haven & London: Yale University Press, 1998. Disponível em: https://www.yale.edu/lawweb/jbalkin/cs/index.htm Acesso em: 05 set. 2011. __ Sergio Amadeu da Silveira Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. É professor-adjunto da Universidade Federal do ABC. Membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil, eleito como representante do terceiro setor. Foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (2003-2005) e coordenou a implantação dos Telecentros do Município de São Paulo (2001-2003). Autor de diversas publicações sobre cultura digital, propriedade imaterial e práticas colaborativas na Internet. É ativista do software livre. | samadeu.wordpress.com | @samadeu |