Como deu é comparado com o fogo

O fogo, pois, sempre arderá sobre o altar; não se apagará; mas o sacerdote acenderá lenha nele cada manhã, e sobre ele porá em ordem o holocausto, e sobre ele queimará a gordura das ofertas pacíficas. O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará (Lv 6.12-13).

Não apagueis o Espírito (1Ts 5.19).

Na Lei do Holocausto dada por Deus aos sacerdotes levíticos, o fogo do altar arderia ininterruptamente: O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará. Tal ação servia como um lembrete da presença contínua de Deus e da necessidade do povo de uma expiação continua. Deus acendeu o fogo no altar de bronze (Lv 9.24) e os sacerdotes estavam encarregados de garantir que essas chamas nunca se apagassem.

  1. Quando interpretamos a lei do holocausto, à luz do ensino do Novo Testamento, apreendemos que:
    O sacrifício de Jesus Cristo na cruz foi definitivo, perfeito e eficaz. Ele realizou o verdadeiro holocausto e a definitiva expiação. Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção (Hb 9.12).
  2. Todos que são purificados pelo sacrifício de Jesus são constituídos sacerdotes de Deus. Aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai… (Ap 1.5-6).
  3. O coração do crente é o altar de Deus, local de Sua habitação. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é Santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vos mesmos? (1Co 6.19).
  4. Que Deus Espírito Santo que habita no crente é simbolizado pelo FOGO.

Observamos, entretanto, que tanto no Antigo Testamento como hoje, cada sacerdote tem a responsabilidade em manter o fogo aceso. Não apagueis o Espírito é a ordem de Deus (1Ts 5.19). O presente do imperativo grego sbennymi significa “extinguir” ou “apagar”, e é utilizado num sentido metafórico de apagar uma chama ou urna luz, a qual está associada ao Espírito Santo (Lc 3.16; At 2.3-4; 18.25; Rm 12.11; 2Tm 1.6). A interpretação mais aceita é que a proibição se refere ao exercício dos dons espirituais na comunidade, contudo é impossível negar que há aqui uma aplicação pessoal. O crente que já possui o selo do Espírito, não deve resistir ou sufocar a ação do Espírito. A ação do Espírito no nosso coração é comparada a ação do fogo. E por esta razão que Paulo nos incentiva: sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor (Rrn 12.11). E João Calvino comenta: “Por que, pois, diria alguém, Paulo nos exorta a continuar este fervor? Eis minha resposta: embora este zelo seja divino, estes deveres são destinados aos crentes a fim de que destruam sua indiferença e fomentem aquela chama que Deus lhes acendeu. Pois, geralmente, sucede que, ou abafamos, ou mesmo extinguimos o Espírito em razão de nossas próprias mazelas”. Não apagueis o Espírito é a ordem de Deus.

Por que não devemos apagar o fogo

O fogo simboliza a própria pessoa de Deus. Ele é um fogo devorador (Dt 9.3), Porque o SENHOR, teu Deus fogo que consome, é Deus zeloso (Dt 4.24). Quando Deus se revelou por meio de teofanias, Ele sempre acompanhado pelo fogo (Êx 3.2-3; 19.18; 24.17). O Espírito Santo é simbolizado pelo fogo (Mt 3.11; Lc 3.16; At 2.3). Todo crente verdadeiro tem o Espírito Santo (Rm 8.9) e deve buscar ser cheio do Espírito (Ef 5.18). O que Paulo proíbe é: “Não apagueis o Espirito (1Ts 5.19). E o que isto significa? Apagar o Espírito é impedir ou resistir a sua ação dentro de nós.

Observando as propriedades do fogo e comparando-as com a ação do Espírito Santo em nossa vida, podemos dizer que o fogo: destrói, purifica, transforma ou modela, vivifica, aquece, guia e ilumina. Todas as virtudes e vitórias da vida cristã dependem do Espírito Santo. Apagar o Espirito é suprimir ou tornar inativa a sua ação dentro de nós. A frutificação espiritual e a capacitação para o serviço é obra do Espírito. Paulatinamente, o Espírito está formando Cristo em nós (2Co 3.18). Não devemos apagar o fogo de Espírito porque sem ele a vida espiritual será impossível. “O cristianismo é entusiasmo, ou então nada é” (Manson). A palavra entusiasmo se deriva dos vocábulos gregos “em” e “theos” e significa “estar cheio de Deus”.

Nosso Deus é fogo consumidor porque Ele é plenamente justo, puro e santo. Sua santidade jamais tolera o pecado e sua justiça exige a punição da transgressão de sua Lei. Essa verdade é um alerta para que sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor. Por isso o escritor de Hebreus escreve: “Porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hebreus 12:23).

Deus é fogo que consome

Em diversas ocasiões o fogo aparece na Bíblia relacionado diretamente a Deus; muitas vezes como símbolo de sua presença em algum aspecto. Foi assim na aliança de Deus com Abraão (Gênesis 15:17); na convocação de Moisés quando ele avistou uma sarça ardente (Êxodo 3:2); na coluna de fogo que acompanhava os israelitas (Êxodo 13:21); etc.

Sem dúvida a associação mais marcante do fogo com Deus no Antigo Testamento diz respeito a sua santidade. A santidade é um dos atributos morais de Deus. Ele é plenamente santo; Ele próprio é a fonte da verdadeira santidade. A Bíblia diz que dele não pode provir o mal. A santidade de Deus é tamanha que seus olhos não podem contemplar a iniquidade (Habacuque 1:13).

Tudo isso significa que o homem pecador não pode se aproximar de Deus de qualquer maneira. Quando Deus desceu em fogo no Monte Sinai, os israelitas foram avisados para não ultrapassarem certo limite; caso contrário, eles seriam destruídos (Êxodo 19:18-21). Quando Moisés subiu novamente no Sinai para receber a Lei de Deus, a Bíblia diz que o aspecto da glória do Senhor era como um fogo consumidor (Êxodo 24:17).

Para apaziguar sua ira devido ao pecado do homem, o próprio Deus instituiu na Antiga Aliança um sistema sacrifical, cuja finalidade principal era expiatória. Deus separou sacerdotes que serviriam como representantes entre Ele e o povo. Esses sacerdotes cuidariam dos sacrifícios que deveriam ser oferecidos.

O fogo que ascendeu o altar onde eram oferecidos os sacrifícios foi enviado pelo próprio Deus. O livro de Levítico fala sobre como saiu fogo de diante de Deus e consumiu a oferta queimada (Levítico 9:24). Esse mesmo fogo, porém, logo depois também consumiu os filhos de Arão que ousaram trazer fogo estranho diante de Deus (Levítico 10:1-3).

O nosso Deus é fogo consumidor

Quando o escritor de Hebreus diz que Deus é fogo consumidor, ele faz uma citação de Deuteronômio 4:24. Nesse texto de Deuteronômio, Moisés prepara os israelitas para entrarem na Terra Prometida. Então ele exorta o povo à obediência e alerta acerca do perigo da idolatria. Moisés avisa que Deus não toleraria adoração dividida em Israel. Nesse contexto o escritor bíblico escreve: “Porque o Senhor, teu Deus, é fogo que consome, é Deus zeloso” (Deuteronômio 4:24).

Já no capítulo 12 da Carta aos Hebreus, o escritor neotestamentário fala sobre a necessidade de o cristão perseverar na fé. Ele diz que o crente deve imitar o exemplo de Cristo e exorta o redimido a viver de um modo que agrada a Deus. Nesse sentido, ele indica a necessidade indispensável da santificação. Por isso no próprio capítulo 12 está registrado o importante alerta: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14).

Além disso, a superioridade de Cristo e de seu ministério messiânico é um tema central em Hebreus. Durante sua carta, o escritor estabelece muitos paralelos entre a Antiga e a Nova Aliança, com a finalidade de demonstrar o caráter superior, perfeito e definitivo da última.

Em Hebreus 12 ele mantém esse foco e fornece um contraste entre Sinai e Sião. O escritor fala sobre como aqueles que recusaram as advertências divinas na Antiga Aliança foram punidos. Em seguida, ele reflete sobre quão mais severo castigo é merecedor aqueles que rejeitam o Evangelho de Cristo.

Assim, ele conclui o capítulo dizendo que o cristão deve servir a Deus “de modo agradável, com reverência e santo temor”. O motivo disto é explicado imediatamente na sequência do texto: “Porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hebreus 12:28,29).

Isso significa que o verdadeiro cristão se aproxima de Deus da maneira correta. Ele compreende a grandeza da obra de Cristo e está ciente da santidade de Deus e de seu juízo inevitável contra aqueles que desprezam sua oferta de salvação por meio do seu Filho, Jesus.

O que significa dizer que “Deus é fogo consumidor”?

Parece que muitas pessoas não entendem o que realmente significa dizer que Deus é fogo consumidor. Muitas, inclusive, oram pedindo que Deus venha sobre elas como fogo consumidor. É cada vez mais comum ouvir pessoas pedindo para serem incendiadas e consumidas pelo fogo de Deus.

Como já foi dito, é verdade que existem diferentes sentidos do fogo relacionado a Deus na Bíblia. Uma das aplicações mais lembradas por todos, é aquela em que o fogo transmite a ideia de purificação (cf. Isaías 6). Há também aquele sentido que remete a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes (Atos 2).

No entanto, ainda assim a ideia do juízo divino está presente, inclusive no que diz respeito ao Pentecostes (cf. Joel 2:30-32; 1 Coríntios 14:21,22). Aqueles que são purificados, pela graça divina escapam de conhecer Deus como fogo consumidor.

João Batista anunciou o ministério do Messias dizendo que Ele é Aquele quem batiza com Espírito Santo e com fogo (Mateus 3:11). Portanto, através do sangue de Cristo e do ministério do Espírito Santo, os crentes são purificados e santificados, enquanto os incrédulos impenitentes são merecedores do fogo do juízo de Deus.

Definitivamente a ideia de que devemos pedir que Deus venha como fogo consumidor sobre nós, é indefensável à luz das Escrituras. Como foi dito, Deus se manifesta na Bíblia como fogo consumidor por dois motivos principais: para consumir a oferta pelo pecado ou para consumir o pecador indigno, como no caso dos filhos de Arão.

Essa verdade também aponta para a grandiosa obra de Cristo. Se hoje Deus não vem como fogo consumidor sobre nós, é porque sua ira contra o pecado caiu sobre Cristo em seu sacrifício vicário. Em favor do seu povo, o Filho de Deus suportou a ira divina em todo seu ardor. Mas aqueles que rejeitam o sacrifício de Cristo, inevitavelmente tentam se aproximar de Deus com seus próprios pecados. Então no dia vindouro, o Deus santo e puro revelará sua justiça, e essas pessoas conhecerão verdadeiramente por que Deus é fogo consumidor.

Que tal fazer Bacharel em Teologia sem mensalidades? Clique aqui!