Qual ser mitológico comparados a empresas de tecnologia

Você já ouviu falar de Unicórnios? Aileen Lee, uma investidora anjo, trouxe o termo à tona após a publicação de seu artigo ”Welcome to the Unicorn club: learning from billion-dolar startups”, em 2013. O ser mitológico inspirou o conceito para aquelas poucas startups que conseguiram alcançar o valor de 1 bilhão de dólares.

As startups são conhecidas por trazerem uma abordagem inovadora no mercado em que estão inseridas. Soluções disruptivas sustentam o êxito desse novo tipo de empresa, que possui capacidade de suprir alguma necessidade ou dor do usuário, levando à eles a melhor experiência possível. A tecnologia é de grande auxílio para que essas conquistem, além de um market-share significante, a possível nomenclatura de “unicórnio”.

Marcadas por um começo árduo, um dos principais desafios enfrentados por startups em escalação é a captação de recursos financeiros durante sua jornada para o sucesso. Além disso, o know-how, a rede de relacionamentos e a mentoria dos potenciais investidores também são de grande valor às startups.

Para algumas das startups, a busca pelo modelo de negócio escalável e repetível atrelado à falta de recursos, molda a solução de forma disruptiva. Alguns dos cases de sucesso da atualidade, apresentam uma semelhança: não possuir ativos próprios e usufruir da tecnologia para conectar consumidores (tanto B2B quanto B2C) às soluções para suas demandas e assim minimizando suas dores. Alguns exemplos famosos e interessantes são: a Uber que não possui nenhum carro, a Gympass que não possui nenhuma academia, o AirBnb que não possui nenhum imóvel e o Ifood que não possui nenhum restaurante.

Outra abordagem introduzida por startups é levar soluções disruptivas para segmentos tradicionais e enraizados, melhorando a experiência do cliente com um novo tipo de produto ou serviço. Muitas vezes, essa abordagem faz com que os concorrentes no modelo tradicional tomem atitudes para se adaptar ao novo sistema e assim manterem-se na concorrência. No Brasil, temos como exemplo financeiro a Nubank, que foi uma das primeiras FinTechs a disponibilizarem cartões de crédito sem taxa e, desde então, surgiram novos bancos digitais a partir de instituições tradicionais como Itau Iti, Bradesco Digital e BTG digital. Outras startups desse tipo também provocaram o mercado: como a 99 incomodou a indústria de taxi, Stone a indústria de maquininhas de cartão de crédito, Arco Educação derrubando paradigmas históricos da educação no modelo tradicional e WeWork o setor dos escritórios convencionais, todas sendo disruptivas em suas áreas de atuação.

Trouxemos alguns exemplos de startups que sucederam e hoje facilitam, de algum modo, o dia a dia de seus consumidores:

●    99:

○    Em sua origem a 99Taxi, fundada por Ariel Lambrecht, Renato Freitas e Paulo Vera em 2012, tinha como proposta de valor aumentar a demanda por taxistas, levando os pontos de táxi para as palmas das mãos de seus clientes, e incentivar um maior número de corridas realizadas pelos motoristas de táxis.

○    A ideia de uma plataforma multilateral entre motoristas de táxi seguiu-se até a chegada da americana Uber no Brasil, impulsionando a startup em uma nova linha de negócios: a 99Pop. Esta oferece suporte à motoristas de carros particulares, também conectando clientes aos motoristas - equiparando-se à proposta da concorrente.

○    Recentemente, em 2017, a DiDi Chuxing (empresa chinesa de mobilidade urbana) investiu US$ 100 milhões na 99, assim como outros investidores como Qualcomm Ventures, SoftBank, Tiger Global, Riverwood Capital e Monashees. Um ano depois, em 2018, a empresa foi a primeira brasileira a se tornar Unicórnio.

○    Ao todo, a 99 passou por 5 rodadas de investimentos, a primeira delas, a Seed Round, contou com investimentos da Monashees em 2013 no valor aproximado de R$ 3 milhões. Já a última rodada se deu em maio de 2017, o Series C trouxe à 99 cerca de US$ 100 milhões, aportados pelo SoftBank.

○    Com a missão de “revolucionar a mobilidade urbana e revolucionar a vida das pessoas”, a 99 conta com uma base de mais de 18 milhões de passageiros cadastrados e um número superior à 600 mil motoristas cadastrados em cerca de mil cidades brasileiras. Em relação à participação de mercado, seu concorrente direto em território nacional é a Uber, com participação de 60% dos passageiros brasileiros, enquanto a 99 contém cerca de 30% da participação.

●    UBER:

○    Com a proposta de valor voltada a oferecer uma rede confiável e prática para solicitar os serviços de motoristas particulares por aplicativo, a Uber surgiu em 2009 nos Estados Unidos.

○    Desbravando inicialmente barreiras jurídicas frente ao transporte particular de passageiros, superou todos os impasses e se tornou uma das empresas com maior valor de mercado na atualidade. Avaliada em cerca de 68 bilhões de dólares, supera grandes montadoras de automóveis como exemplo Ford e Honda.

○    Ao todo contou com 23 rodadas de investimento, a última delas em abril de 2019, aportou cerca de 500 milhões provindos da Paypal, levando o nome de “Post-IPO Equity”, anteriormente à sua abertura de capital em abril de 2019. Ao todo, conta com mais de 24 bilhões de dólares provindos de rodadas de investimento.

○    Verticalizando sua operação, e aproveitando as oportunidades do mercado, aumentou o portfólio e agora opera também com um sistema de delivery de refeições, UberEats e também tem a vertente do compartilhamento de corridas entre passageiros que tenham trajetos semelhantes com o Uber Pool.

●    Nubank:

○    Em 2013 os fundadores David Velez, Edward Wible e Cristina Junqueira receberam um investimento de US$ 2 milhões da Sequoia Capital e Kaszek Ventures. A partir de então o modelo de negócios foi se firmando e inovando dentre as demais instituições financeiras tradicionais.

○    A fintech se tornou um unicórnio em 2018 depois de sua sexta rodada de investimentos, que foi liderada pelo fundo DST Global no valor de US$ 150 milhões. No mesmo ano a Nubank também recebeu aportes da chinesa Tencent que colocou US$ 180 milhões no negócio, elevando o valor de mercado de fintech para o patamar de US$ 4 bilhões, se tornando o maior banco digital do mundo.

○    Já com seus 5 milhões de clientes ativos e expandindo seus serviços, há expectativas que a empresa traga inovações da Ásia para o Ocidente por meio da Tencent.

●    Arco Educacao:

○    A Arco Educação foi criada pela família de Sá em 2004.

○    A missão da companhia é transformar a forma como os estudantes aprendem, escalando a educação de excelência através de suas metodologias inovadoras compiladas em plataforma própria.

○    Exponenciou seu crescimento principalmente depois dos investimentos e parceria feita com o private equity General Atlantic que passou a deter um quarto da startup.

○    Com um crescimento médio acima de 40% ao ano, a empresa continua aumentando sua capilaridade cada vez mais, tanto em termo de conteúdo e formas de ensino como em abrangência territorial.

○    Em 2018 a Arco listou seus títulos na Nasdaq, captando US$ 220 milhões com preço inicial de US$ 17.5 por ação. Posteriormente, o valor da empresa chegou aos US$ 1,18 bilhão.

●    STONE:

○    Fundada em 2013, obteve o apoio financeiro do Fundo Arpex Capital, Jorge Paulo Lemann, Gávea Investimentos e entre outros. A ideia surgiu a partir da dor do mercado que era arcaico e havia uma grande oportunidade de prosperidade uma vez que fosse introduzida uma nova abordagem no sistema. A aposta foi certeira como pode-se observar nos fatos: de 2015 a 2017 a empresa cresceu 15 vezes sua equipe e 1.500 vezes o portfólio de clientes.

○    A primeira oferta pública na Nasdaq foi em outubro do ano passado e superou suas expectativas iniciais, captando um total de U$1,2 bilhão, passando a ter seu valor de mercado em torno de U$6,7 bilhões.

○    Houve uma alta demanda pela pré reserva das ações, o que fez com que a Stone antecipasse as negociações. Entre os investidores, estavam presentes grandes interessados, como Warren Buffett e Ant Financial (parceiro do Alibaba e dono do Alipay)

●    GYMPASS:

○    A ideia é interessante: com uma única assinatura permite que o usuário frequente milhares de academias distintas, a depender de sua vontade. Com a mega tendência de saudabilidade, alcançou patamares imensos. Há pouco tempo introduziu clientes corporativos, e isso possibilitou que as empresas pudessem oferecer esse serviço como parte dos benefícios. Hoje conta com 19.600 academias disponíveis no Brasil, e esse número só tende a crescer.

○    Passou por 4 rodadas de investimento, a última delas, a Series C, contou com um aporte de 300 milhões de reais provindos do SoftBank.

○    A sede se mudou recentemente para Nova Iorque e acrescentou mais 6.000 academias do país. Obtiveram um investimento do Softbank com um aporte inicial de U$ 190 mi, o que por ventura, pode resultar em U$ 500 mi como sugere o jornal Valor Econômico.

●    AirBnB:

○    Seguindo também no modelo de negócio de plataforma multilateral, o AirBnB é a plataforma que se propõe a sanar as dores dos consumidores que alugam locais por um curto período de tempo, unindo esses consumidores aos donos dos locais que alugam de quartos disponíveis à apartamentos e casas.

○    Não possuindo nenhum ativo imobiliário, a unicórnio conta com mais de 100 milhões de usuários e 650 mil proprietários de imóveis, em cerca de 190 países, segundo dados de 2017.

○    Passou por 15 rodadas de investimento pela qual se tem conhecimento, acumulando mais de 4 bilhões de dólares em investimentos.

Por conta das dificuldades enfrentadas por startups no início de sua trajetória que, em geral, começam com poucos funcionários, a cultura interna da empresa costuma ser de bastante proximidade entre gestores e subordinados, classificados em uma hierarquia horizontal. Apesar da proximidade, essas empresas geralmente trabalham com tecnologias disruptivas e, portanto, os funcionários costumam ter grande autonomia para a realização de seus projetos e isso faz com que se sintam mais motivados, em um ambiente em que todos têm participação nas decisões da empresa, cativando seu propósito e essência.

Essa autonomia é um dos principais atrativos quando se está recrutando novos talentos em startups. Em um estágio inicial, a empresa precisa movimentar-se por si só, assim como os seus profissionais, sem depender de muitos treinamentos, exigindo que todos os funcionários sejam extremamente autodidatas, engajados e saibam aprender e lidar com funções que, muitas vezes, estão fora da sua zona de conforto.

Além do mais, profissionais que trabalham em startups estão constantemente sendo inseridos em grupos de pessoas com questionamentos e raciocínios diversos do seu no intuito de abordar e solucionar problemas ou desenvolver algum projeto necessário naquele estágio da empresa. Por isso, é fundamental que todos tenham a capacidade de trabalhar em equipes, sabendo gerenciar crises, conflitos, apresentar suas ideias de maneira clara, resiliente e adaptável às novas demandas.

As startups utilizam-se de métodos diferenciados para poderem estruturar os seus negócios da forma mais dinâmica e eficiente possível, diferentemente de empresas tradicionais. Alguns dos exemplos de técnicas estão o Lean Startup e o Design Thinking, abordagem inovadoras para soluções das dores e necessidades do consumidor. O lean startup é uma metodologia que ajuda o empreendedor a desenvolver as suas ideias e desenvolver produtos para lançar ao mercado. Já o Design Thinking é uma abordagem que se baseia nas fontes de co-criação, empatia e iteração para abordar problemas. Assim, nesse método há uma busca por insights no "small data", a fim de adquirir informações relevantes para a inovação de um produto ou processo, baseando-se no próprio consumidor e propondo soluções a ele.

Atualmente percebe-se que as empresas tradicionais que antes lideravam e inspiravam o mercado estão aprendendo com o formato vigente das startups. Uma característica proeminente é que estas sabem trabalhar muito com pouco recurso, sempre visando elevar suas receitas, operando muitas vezes no negativo. Por estarem mais expostas à situações adversas, conseguem se adaptar com maior facilidade, além de ser mais ágil na hora de tomar decisões. Já afirmava Darwin: "Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças". 

FONTES

https://distrito.me/startups-unicornios-o-que-e-quem-sao/?gclid=Cj0KCQiA-4nuBRCnARIsAHwyuPqgnC9jM4LX7mdeDcbJ13Xx6QcR6xIVVANq4S2Qx6xf4Fz9Jw65-mkaAkQNEALw_wcB

https://analistamodelosdenegocios.com.br/modelo-de-negocio-da-99-taxi/

https://analistamodelosdenegocios.com.br/modelo-de-negocio-airbnb/

https://analistamodelosdenegocios.com.br/modelo-de-negocio-do-uber/

https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/lean-startup/

Carolina Beu, Thiago Carletti, Gabriel Olanda, Mariana Kachani, Vitor Shin, Patrick Licht, Bruno Iampolsky e Luiz Peralta