O processo histórico denominado revolução inglesa ou revolução gloriosa teve como palco a inglaterra

A Revolução Gloriosa foi a última fase da Revolução Inglesa, iniciada em 1642. Com a deposição de Jaime II e a ascensão de Guilherme de Orange ao poder na Inglaterra, essa revolução mudou a política ao decretar o fim do poder absolutista e o surgimento de uma monarquia constitucional, ou seja, o rei permaneceria no trono inglês, mas com poderes reduzidos. Esse evento foi importante para o fortalecimento da burguesia.

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Tópicos deste artigo

Resumo

  • A Revolução Gloriosa foi a última fase da Revolução Inglesa e determinou o fim do absolutismo na Inglaterra e a formação da monarquia constitucional.

  • Na Inglaterra, predominou o poder do Parlamento sobre o poder real.

  • As consequências da Revolução Gloriosa foram a redução dos poderes do rei e o predomínio da burguesia sobre o Parlamento.

Contexto

Até 1640, a Inglaterra era governada por Carlos I, um rei absolutista. As suas desavenças com o Parlamento provocaram uma guerra civil. O rei queria manter seus poderes totais e os parlamentares pretendiam justamente o contrário: a formação de uma monarquia constitucional que limitasse os poderes reais.

Carlos I esperava que o Parlamento aprovasse o aumento de impostos para equilibrar os gastos reais, mas a proposta real foi rejeitada. Assim, o Parlamento foi dissolvido, iniciando a guerra entre o rei e os parlamentares. Carlos I perdeu a guerra e foi decapitado.

O processo histórico denominado revolução inglesa ou revolução gloriosa teve como palco a inglaterra
Sede do Parlamento inglês, em Londres, que impôs a monarquia constitucional em 1688.

Com o fim da monarquia, a Inglaterra tornou-se uma república. Oliver Cromwell governou o país, implantando uma ditadura de 1653 até 1658. Com a morte de Cromwell, seu filho Richard assumiu o poder inglês, mas sem a força política do pai. Logo, foi destronado, e o Parlamento convidou Carlos II, filho do rei decapitado, para ser o novo rei da Inglaterra, mas com poderes reduzidos.

O novo rei entrou em conflito com os parlamentares ao tentar governar de forma absolutista e por sua proximidade com os católicos. O Parlamento foi dissolvido, e Carlos II governou até sua morte em 1685. Jaime II, irmão de Carlos II, assumiu o trono inglês e buscou fazer um governo absolutista, em constante conflito com o Parlamento.

O processo histórico denominado revolução inglesa ou revolução gloriosa teve como palco a inglaterra
Jaime II foi deposto com a Revolução Gloriosa. [1]

A Revolução Gloriosa foi um movimento contra o poder absolutista de Jaime II. Ao fortalecer os católicos, o rei entrou em confronto com o Parlamento, que defendia a formação de uma monarquia constitucional e praticante do puritanismo, ou seja, da religião calvinista. Não tardaria para as duas forças políticas entrarem em guerra.

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Com o nascimento de Jaime Eduardo, filho e herdeiro de Jaime II, o Parlamento resolveu agir contra o rei, pois o novo filho se tornaria herdeiro do rei absolutista, perpetuando não apenas a dinastia de Jaime II, mas também a força da religião católica na Inglaterra. Os parlamentares se uniram à Maria Stuart, filha do rei, e seu marido, Guilherme de Orange, para se mobilizarem contra Jaime II. Essa aproximação se deu por conta da religião, ambos eram calvinistas.

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Maria Stuart e o marido, Guilherme de Orange, tornaram-se reis ingleses com poderes reduzidos em 1688.

Guilherme de Orange, em 1688, conseguiu convocar suas tropas, que prontamente cercaram Jaime II. Sem apoio político e muito menos militar, o rei inglês fugiu para a França, permanecendo lá até a sua morte. Destronado o rei absolutista, Guilherme de Orange e Maria Stuart foram coroados rei e rainha da Inglaterra. Porém, antes da coroação, os dois prestaram juramento ao Parlamento de que nunca se tornariam reis absolutistas.

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Consequências da Revolução Gloriosa

A Revolução Gloriosa determinou o fim da monarquia absolutista na Inglaterra e o predomínio do Parlamento. A Europa assistia à formação de uma monarquia constitucional, ou seja, o rei poderia permanecer no trono, mas com poderes reduzidos. Outra consequência dessa revolução foi o fortalecimento da burguesia no poder inglês. Com a Revolução Gloriosa, os burgueses dispensaram o apoio real, ao contrário do que se viu na transição da Idade Média para a Idade Moderna, ocorrida 200 anos antes, quando a burguesia apoiou a formação dos Estados nacionais na Europa e o poder dos reis.

O Parlamento predominantemente calvinista e representantes da burguesia abriram espaços para a aprovação de leis que beneficiaram a economia burguesa e lançou as sementes para a fundação da Revolução Inglesa poucas décadas depois.

Exercícios resolvidos

1) A Revolução Gloriosa foi muito importante para a Europa do século XVII porque:

a) inaugurou a monarquia absolutista e o fechamento do Parlamento inglês.

b) determinou o predomínio do Parlamento ao reduzir os poderes do rei.

c) o Papa se tornou o chefe soberano da monarquia inglesa.

d) houve a formação de reinos por meio da descentralização do poder.

Resposta

Letra B. A Revolução Gloriosa representou o fim do absolutismo na Inglaterra e a força do Parlamento.

2) As consequências da Revolução Gloriosa na Inglaterra foram:

a) a força do catolicismo.

b) a volta da nobreza ao poder

c) o predomínio da burguesia no Parlamento.

d) expulsão dos calvinistas da Inglaterra.

Resposta

Letra C. Logo após o fim da Revolução Gloriosa, a burguesia mostrou sua força no Parlamento, pavimentando o caminho para a Revolução Industrial.

Créditos das imagens

[1] chrisdorney / Shutterstock.com

Por Carlos César Higa
Professor de História

A Revolução Inglesa, ocorrida no século XVII, foi um dos principais acontecimentos da Idade Moderna. Foi considerada a primeira das grandes revoluções burguesas, isto é, as revoluções encabeçadas por lideranças da burguesia europeia, que havia se tornado expressivamente forte, do ponto de vista econômico, ao longo dos séculos XVI e XVII, e que precisava alcançar legitimidade política.

Com o processo da revolução, a burguesia da Inglaterra, por meio de uma guerra civil e da atuação do Parlamento, conseguiu combater o Estado absolutista desse país e reformular a estrutura política, que culminaria na modelo da Monarquia Parlamentarista em 1688.

Podemos dividir o processo histórico da Revolução Inglesa em quatro fases principais:

1) Revolução Puritana e a Guerra Civil;

2) República de Oliver Cromwell;

3) Restauração da dinastia dos Stuart;

4) Revolução Gloriosa.

Veja também: Reforma protestante – grande acontecimento da Idade Moderna

Antecedentes históricos da Revolução Inglesa

Durante grande parte do século XVI, a burguesia inglesa esteve bem articulada com os nobres e os reis pertencentes à dinastia Tudor (Henrique VIII e sua filha Elizabeth), que consolidaram a Reforma Anglicana. A reforma religiosa de Henrique VIII proporcionou grandes benefícios financeiros tanto para nobres quanto para burgueses da Inglaterra. Isso porque teve início o processo de conversão das antigas terras feudais, de domínio da Igreja Católica, em propriedades privadas, o que possibilitou a formação dos cercamentos e dos arrendamentos que foram vendidos aos burgueses que pretendiam explorar minas de carvão ou praticar alguma atividade agrícola.

Além disso, a ruptura com a Igreja Católica (que não era apenas uma instituição com poder espiritual, mas detentora de um poder político continental, ao qual boa parte das Coroas europeias estava ligada) dispensou a Inglaterra de pagar tributos para Roma, bem como colocou a marinha inglesa em flagrante rivalidade com os navios dos países católicos, sobretudo com os espanhóis. Muitos piratas ingleses, conhecidos como “lobos do mar”, atacavam navios espanhóis e levavam sua mercadoria (na maior parte das vezes, metais preciosos) para Inglaterra, o que contribuía para o aquecimento do mercado interno do país.

Como se vê, as principais ações políticas dos Tudor acabaram proporcionando uma grande ascensão da burguesia, de modo que no fim do século, na década de 1590, os burgueses já tinham grande força representativa na chamada Câmara dos Comuns (uma das câmaras do Parlamento Inglês, que tinha como oposição a Câmara dos Lordes, isto é, dos nobres apoiadores da Coroa). O problema é que essa força adquirida pela burguesia estava associada ao puritanismo (o calvinismo inglês), que era a religião que mais atraía a burguesia e que dava suporte ideológico para o radicalismo político antiabsolutista.

Somou-se a isso o fato de que os nobres e a Coroa viam-se ameaçados pela capacidade da burguesia puritana de acumular riquezas. Enquanto a renda da burguesia era oriunda do trabalho e de investimentos financeiros, a renda dos nobres advinha de privilégios hereditários, da cobrança de impostos e da formação de monopólios estatais ao modo mercantilista. Os monarcas que sucederam os Tudor, isto é, os Stuart, perceberam que, se não freassem a burguesia no campo político, a estrutura monárquica estaria fadada à ruína.

O primeiro monarca da dinastia Stuart foi Jaime I, que governou de 1603 a 1625. Para tentar adequar a Coroa à nova realidade financeira da Inglaterra e controlar a ascensão da burguesia, Jaime I passou a tomar duas medidas principais: 1) aumento de impostos e estabelecimento de empréstimos forçados; e 2) a formação de monopólios estatais como forma de participação nos rendimentos dos negócios burgueses. Além disso, Jaime deflagrou uma perseguição religiosa aos puritanos. Confrontado pela Câmara dos Comuns, dissolveu o Parlamento, que ficou inativo de 1614 a 1622.

Com a ascensão de Carlos I, filho de Jaime, ao trono, em 1625, houve uma nova tentativa de acordo entre a Coroa e o Parlamento para que houvesse um novo aumento de impostos. A Câmara dos Lordes ficou a favor do rei, mas a Câmara dos Comuns novamente o confrontou. O rei decidiu então dissolver novamente o Parlamento, que ficou inativo até 1640. Em 1640, Carlos I entrou em um novo conflito contra a Escócia e precisou novamente do tributo dos burgueses para bancar a guerra, convocando, assim, mais uma vez, o Parlamento. Novamente a Câmara dos Comuns recusou-se a ajudá-lo. Mas ao contrário do que ocorrera antes, os burgueses puritanos prepararam-se para um enfrentamento total contra o rei e a nobreza.

Um líder radical puritano chamado Oliver Cromwell organizou um exército burguês conhecido como exército dos “Cabeças redondas” por se recusarem a usar as perucas dos nobres. Esse exército deflagrou guerra contra a Coroa, que foi defendida pelos “Cavaleiros”, isto é, o exército tradicional da nobreza. Teve assim início a Revolução Puritana, ou Guerra Civil Inglesa.

O processo histórico denominado revolução inglesa ou revolução gloriosa teve como palco a inglaterra
Oliver Cromwell instaurou um regime ditatorial na Inglaterra após a Guerra Civil.

Revolução Puritana e Guerra Civil (1640-1649)

A guerra civil entre a burguesia puritana e a Coroa ficou mais intensa quando, em 1642, Oliver Cromwell convocou a base da pequena burguesia e de camponeses para formar o Novo Exército Modelo (New Model Army).

Nessa base, destacaram-se os Diggers e Levellers, que se caracterizaram por sua radicalidade política em assuntos como reforma agrária (Diggers) e igualdade de diretos entre todos os cidadãos (Levellers). Com o Novo Exército Modelo, Cromwell conseguiu esmagar as forças da Coroa. Em 1649, a ala radical burguesa exigiu a decapitação de Carlos I, que ocorreu no dia 31 de janeiro. Para saber mais sobre esse momento de disputas políticas, leia: Guerra Civil Inglesa.

“República” de Oliver Cromwell (1649-1658)

Em 19 de maio de 1649 foi proclamada a República, e Cromwell recebeu do Parlamento o título de Lord Protector (Lorde Protetor da República). Muitas transformações políticas operadas por Cromwell beneficiaram a burguesia que foi por ele liderada na Guerra Civil. Uma dessas transformações foi possibilitada pelos chamados Atos de Navegação, aprovados em 1650, que restringiam o transporte de produtos ingleses apenas aos navios da própria Inglaterra.

No entanto, a exemplo dos monarcas autoritários que havia combatido, Cromwell acabou por se voltar contra o Parlamento. Em 1653, ele o dissolveu com o auxílio do Exército burguês e instituiu uma ditadura aberta, que teve como característica principal a execução das lideranças que o ajudaram a formar esse mesmo Exército, isto é, os Diggers e Levellers, como diz o historiador Christopher Hill, em sua obra A Revolução Puritana de 1640:

“A história da revolução inglesa de 1649 a 1660 pode ser contada em poucas palavras. O fuzilamento por Cromwell dos Levellers, em Burford, tornou absolutamente inevitável a restauração da monarquia e dos senhores, pois a ruptura entre a grande burguesia e a pequena nobreza, por um lado, e as forças populares, por outro, significava que o seu governo só poderia ser mantido por um exército (o que, a longo prazo, provou ser extraordinariamente dispendioso e de difícil controle) ou por um compromisso com os representantes da velha ordem que restavam.”|1|

Um tempo mais tarde, em 1657, Cromwell propôs um novo acordo com os parlamentares e reabilitou o Parlamento inglês. Todavia, antes que esse acordo pudesse vigorar, Cromwell faleceu (1658). Em seu lugar, assumiu seu filho, Richard Cromwell, que não tinha o mesmo prestígio que o pai, sobretudo frente às classes mais radicais da burguesia. Temendo um levante popular e uma nova guerra civil, o Parlamento fez uma manobra arriscada: convocou Carlos II, filho do rei decapitado, para assumir o trono e restaurar a dinastia dos Stuart.

Veja também: Revolução Francesa – o marco histórico que deu início à Contemporaneidade

Restauração da dinastia Stuart (1660-1688)

Em 1660, Carlos II assumiu o trono prometendo respeitar os interesses do Parlamento. Mas logo começou a se articular com antigas lideranças da nobreza para restaurar o absolutismo, aproximando-se da França de Luís XIV. Entretanto, a realidade social já era bem diferente de quando seu pai havia reinado e, não conseguindo uma nova composição tradicional, Carlos II iniciou uma ampla perseguição religiosa contra os calvinistas.

Essa perseguição tinha como pano de fundo também a aproximação de Carlos II de membros da Igreja Católica. Apesar de anglicanos, os Stuart mantinham boas relações com os membros do clero, os quais ainda possuíam grande influência social, além de posse de terras.

O Parlamento, composto por maioria puritana, ao repudiar as ações de Carlos II, viu-se novamente vítima do autoritarismo: o monarca dissolveu-o em 1681 e governou sozinho até a sua morte, em 1685. Seu irmão, Jaime II, assumiu o torno, reativou o Parlamento, mas procurou dar seguimento às ações de Carlos II, no que se refere à restauração do absolutismo. No entanto, Jaime II foi mais além, convertendo-se ao catolicismo e decretando uma série de medidas que beneficiavam os católicos, como a isenção de impostos. Novamente, a reação do Parlamento foi imediata. Temendo que Jaime reivindicasse apoio da França, os membros do Parlamento trataram de organizar uma manobra política que evitasse um possível conflito armado.

Revolução Gloriosa e a fundação da Monarquia Parlamentarista

A manobra consistiu na convocação da filha de Jaime II, Maria II, à época casada com Guilherme de Orange, governador dos Países Baixos, para assumir com o marido o trono da Inglaterra. Guilherme de Orange, inicialmente, não viu com bons olhos o plano, imaginando que sua esposa, como herdeira legítima, teria mais poderes que ele. Contudo, mesmo assim, ainda em 1688, Guilherme invadiu a Inglaterra com seu exército para depor Jaime II e apoiar o Parlamento.

A Cavalaria da nobreza, que também estava descontente com o rei, em vez de defendê-lo, aliou-se a Guilherme. A Jaime II, já sem defesa alguma, Guilherme de Orange permitiu a fuga para a França, onde o monarca permaneceu exilado até o último dia de vida.

Guilherme de Orange assumiu o trono inglês como Guilherme III. Por sua ação militar não ter resultado em guerra e derramamento de sangue, ela recebeu o nome de Revolução Gloriosa. O Parlamento, contudo, estabeleceu diretrizes novas para Guilherme e Maria antes de coroá-los. Ambos os reis tiveram que se comprometer a cumprir a chamada Declaração de Direitos de 1689 (Bill Of Rights). A Declaração de Direitos limitava a ação dos reis, de modo a impedir qualquer retorno do absolutismo. Os reis passaram a ter o poder restrito, e o poder de decisão política concentrou-se no Parlamento, formando-se, assim, uma Monarquia Parlamentarista. Além disso, havia o comprometimento com as liberdades individuais, principalmente com a liberdade de crenças religiosas. Para saber mais sobre essa etapa da Revolução Inglesa, leia o nosso texto: Revolução Gloriosa.

Notas
|1| HILL, Christopher. A Revolução Inglesa de 1640. Trad. Wanda Ramos. Lisboa: Editorial Presença; São Paulo: Livraria Marins Fontes, 1985. p. 101.

Aproveite para conferir as nossas videoaulas sobre o assunto: