Qual é a relação entre as chuvas na região da floresta amazônica e a presença da floresta?

Qual é a relação entre as chuvas na região da floresta amazônica e a presença da floresta?
PRESERVAÇÃO - Ambientalistas propõem que o Brasil permaneça no Acordo de Paris para conter avanços ainda maiores na floresta Mauro Pimentel/AFP

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O desmatamento da Amazôniaestá reduzindo as chuvas mais do que o previsto, aponta um novo estudo internacional liderado pela pesquisadora italiana Mara Baudena, do Instituto de Ciências da Atmosfera e do Clima do Conselho Nacional de Pesquisas de Turim (CNR-Isac, na sigla em italiano). Realizado em colaboração com a Universidade de Utrecht, na Holanda, o levantamento foi publicado no site Global Change Biology na terça-feira, 17.

A floresta amazônica gera parte da chuva que cai em sua própria área, pois tira a água do solo e a transpira para o ar circundante, fazendo com que se crie um sistema retroalimentante. Segundo a pesquisa, a destruição da mata pode levar a uma queda de 55% a 70% da precipitação anual. “Pequenas mudanças na umidade do ar, devido à presença ou ausência de árvores, podem levar a grandes mudanças nas chuvas observadas”, disse Mara, em depoimento ao CNR-Isac. “Essas ampliações até agora não foram consideradas.”

Foram analisados ​​dados de precipitação e umidade do ar ao longo de mais de dez anos sobre grande parte da floresta amazônica e áreas vizinhas, em combinação com dados e modelos desenvolvidos em trabalhos anteriores pela Universidade de Utrecht, na Holanda, que calcula como a umidade é transpirada pelas plantas e carregada pelos ventos de toda a Amazônia.

Analisando vários parâmetros em amplas áreas da floresta, os pesquisadores chegaram a uma mudança nos modelos de precipitação usados até agora. “Também um desmatamento relativo tem efeitos dramáticos sobre as chuvas, sobre as florestas e sobre as áreas próximas, sedes de plantações e de áreas de gado que, constantemente, têm origens no desmatamento em si”, pontua ainda a pesquisadora.

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1A região Amazônica é definida como uma das mais extensas áreas quentes e úmidas do Planeta, com índices pluviométricos em torno dos 2300 mm/ano, em média, e de até 5000 mm/ano na porção ocidental (MARENGO e NOBRE, 2009). Essa característica resulta da conjugação de fatores tais como a posição latitudinal (cortada pela linha do Equador) e a composição da superfície (alta densidade hydro-botanica) além, sobretudo, das interações entre a circulação geral da atmosfera e a dinâmica dos sistemas atmosféricos que atuam nessa área do continente sul-americano (MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2007).

  • 1 A Alta da Bolívia é um anticiclone em altos níveis (200 hPa), com centro no altiplano boliviano. Es (...)

2A distribuição das chuvas na Amazônia guarda estreita relação com a dinâmica da atuação dos principais sistemas atmosféricos em superfície na região, a saber: 1) Massa de Ar Equatorial Continental, com centro de origem no oeste da região; 2) Zona de Convergência Intertropical, formada pela convergência dos ventos alísios; e 3) frentes frias, oriundas de latitudes extratropicais que atingem com mais freqüência o sul da região. Ainda em superfície, a região conta com importante aporte de umidade do Oceano Atlântico, por meio do Jato de Baixos Níveis (JBN). Já nos níveis mais altos da troposfera, outros sistemas, como a Alta da Bolívia, atuam conjuntamente com aqueles na produção de chuva sobre a Amazônia1. As secas (ou estiagens) sazonais observadas em parte da região ocorrem sob ausência dos sistemas produtores de chuva. A sazonalidade pluvial constitui, desse modo, característica climática de uma porção significativa da Amazônia, não representando qualquer anormalidade.

3A pluviosidade na região Amazônica é, ainda, largamente influenciada por condições vigentes nos oceanos Atlântico (Tropical) e Pacífico. A Oscilação Sul no Pacífico Equatorial, associada ao fenômeno El Niño, permite compreender, juntamente com o Atlântico Tropical a maior parte da variabilidade interanual do clima na região (MARENGO; NOBRE, 2009).

4Cavalcanti e Silveira (2013) afirmam que o aquecimento do Pacífico (El Niño) está associado à redução da precipitação no nordeste da região. No leste, oeste e noroeste da Amazônia, a redução da precipitação pelo El Niño ocorre em apenas alguns meses do ano. Segundo Fisch et al. (1998), o El Niño de 1982-1983 foi responsável por um período extremamente seco durante a estação chuvosa na Amazônica Central. Nobre et al. (2009) associam a forte seca que assolou o setor centro-norte da Amazônia em 1997-1998 ao aquecimento do Pacífico equatorial naquele ano. Nesses eventos parece haver uma alteração no posicionamento da Célula de Walker, com deslocamento de seu ramo descendente sobre a Amazônia, o que prejudica os processos convectivos (FISCH et al., 1998).

5O Atlântico tropical também tem papel fundamental no clima de todo o Brasil, e, por conseguinte, na região Amazônica. A temperatura da superfície do mar (TSM) do Atlântico afeta o posicionamento da ZCIT, o que pode causar períodos excepcionalmente secos ou chuvosos na região. Águas mais frias no Atlântico Tropical Sul deslocam a ZCIT para norte, causando anos secos ou muito secos em parte da região Amazônica. A situação inversa, em que a TSM do Atlântico Tropical Sul encontra-se acima do normal, favorece a ocorrência de anos mais chuvosos nessa área (figura 01).

Figura 01 Influência da TSM do Atlântico Tropical no posicionamento da ZCIT

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Elaboração: FRANCA, R. R.

6A seca de 2005, que se concentrou no oeste e sudoeste da região, teve relação com o aquecimento anormal das águas do Atlântico Tropical Norte, que manteve a ZCIT mais ao norte de sua posição climatológica. A seca de 2010, por sua vez, apresentou maior abrangência e severidade que a de 2005 e teve como causa tanto o aquecimento do Pacífico (El Niño) quanto do Atlântico Norte (CAVALCANTI et al., 2013).

7A área de interesse deste trabalho encontra-se no sul da Amazônia. Neste texto analisa-se a variabilidade pluvial (temporal e espacial) e também as conexões extra-regionais entre a pluviosidade regional e os índices oceânicos em outras regiões da Terra.

Materiais e métodos

  • 2 O Brasil e, sobretudo, as regiões Norte e Nordeste do país apresentam baixa densidade de estações m (...)

8Foram selecionadas 41 estações meteorológicas2 dentro da área de estudo, com no mínimo 20 anos de dados (série ininterruptas), entre as coordenadas geográficas de latitude 7ºS e 13ºS e de longitude 51°W e 69ºW, que compreendem o estado de Rondônia, extremo sul do Amazonas, leste do Acre e norte do Mato Grosso (figura 02). A área, com aproximadamente 602.286 km2, é aqui denominada Amazônia Meridional.

9As fontes de dados desta pesquisa são o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) do Brasil, e o Hidroweb, banco de dados virtual de informações hidrológicas que reúne dados de estações pluvio e fluviométricas de diversos órgãos, como a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) do Brasil. Ambas as fontes de dados os disponibilizam gratuitamente via acesso eletrônico.

Figura 02 Amazônia Meridional: localidades selecionadas na área de estudo desta pesquisa

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Elaboração: FRANCA, R. R.

10A relativa baixa densidade de estações meteorológicas na área de estudo pôde ser atenuada por meio da aplicação de métodos para interpolação espacial de dados. A interpolação é um procedimento de estimação do valor de um atributo em locais não amostrados, a partir de pontos amostrados na mesma área, região ou espaço onde os dados se encontram distribuídos. A previsibilidade de dados é feita a partir do raciocínio de que, em média, valores dos atributos tendem a ser similares em locais mais próximos do que em locais mais afastados.

11Dentre os diversos métodos de previsibilidade espacial de dados a Krigagem se destaca no mapeamento de fenômenos do campo atmosférico (CAMARGO, 2003). As vantagens desse método decorrem da utilização de médias móveis ponderadas, isto é, com pesos diferentes para cada ponto amostral. Esses diferentes pesos são definidos a partir de uma análise espacial. Pereira (2011) afirma que a Krigagem Ordinária apresenta-se como excelente procedimento de interpolação para determinar dados espacialmente localizados, contudo este método apresenta algumas limitações, dentre as quais a mais importante se refere a um efeito de suavização da variação espacial da informação em questão a partir de estimativas. Portanto, outros métodos de interpolação, como o inverso do quadrado da distância, vizinho mais próximo, curvatura mínima, regressão polinomial e triangulação foram considerados e testados, mas os resultados apresentados pela Krigagem sobressaíram perante os demais, o que justifica a sua escolha.

12O recorte temporal estabelecido nesse estudo compreende um período de 31 anos (1981-2011). Nesta pesquisa optou-se por não utilizar técnicas para preenchimento de falhas. Os vazios da série foram desconsiderados no cálculo das médias, razão pela qual não houve prejuízos às análises.

13As diversas informações numéricas foram tabuladas em planilhas do software Excel, versão 2007, em intervalos mensais, sazonais e anuais. Uma vez tabulados, os dados foram estatisticamente tratados. Essa etapa teve início com a definição do total de chuva para cada ano da série. Esse valor foi obtido a partir do somatório dos valores mensais. A aplicação de médias para o período de 31 anos permitiu determinar o comportamento climatológico mensal e anual das chuvas para cada localidade, assim como para o conjunto da Amazônia Meridional.

14Os resultados dessas análises possibilitaram estabelecer os períodos que compõem as estações seca e chuvosa na região, os quais foram tomados como referência nas análises sazonais (dos trimestres mais seco e chuvoso). Toda a estatística descritiva foi desenvolvida no Excel. Posteriormente, estes dados foram exportados para o software ArcMap 9.3, donde foram confeccionados os mapas apresentados. Para tanto foram utilizadas bases cartográficas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

  • 3 As anomalias da temperatura da superfície do mar do Pacífico (ONI) se referem à região do Niño 3.4 (...)
  • 4 Os dados de anomalias da temperatura da superfície do mar do Atlântico Tropical Norte (TNA) se refe (...)
  • 5 O endereço visitado foi <http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/climateindices/list/> Acesso em 5 de julho de 2014.

15Os dados dos seis índices utilizados para identificar a influência de teleconexões extra-regionais sobre o comportamento das chuvas na região – o North Atlantic Oscillation (NAO), o Oceanic Niño Index (ONI)3, o Tropical Northern Atlantic Index (TNA) e o Tropical Southern Atlantic Index (TSA)4, o Southern Oscillation Index (SOI) e o Pacific Decadal Oscillation (PDO) – foram obtidos gratuitamente no sítio do Earth System Research Laboratory (ESRL) da National Oceanicand Atmospheric Administration (NOAA)5. As análises estatísticas foram efetuadas para o período 1981-2011 a partir da tabulação dos dados mensais em planilhas do Excel.

16Testes de correlação linear entre esses índices e a precipitação pluvial na Amazônia Meridional permitiram analisar a influência de outras áreas do globo no comportamento das chuvas na região. Os resultados da correlação estatística são expressos pelo coeficiente de correlação de Pearson que varia entre -1 (correlação negativa perfeita) e +1 (correlação positiva perfeita).

Resultados

Pluviosidade na Amazônia Meridional: análise espaço-temporal

17A análise dos dados indica uma pluviosidade média anual na Amazônia Meridional de 1870,7 mm. Embora elevado, esse volume concentra-se nos meses do verão do Hemisfério Sul, ou seja, entre dezembro e março. O trimestre plus pluvieuse (TMC) na região é constituído por dezembro (278,3 mm), janeiro (302,9 mm) e fevereiro (282,6 mm), quando ocorre quase metade de toda a chuva anual (863,8 mm ou 46,2 % do total). De forma antagônica, o trimestre composto por junho (18,4 mm), julho (12,2 mm) e agosto (25,6 mm) – inverno no Hemisfério Sul – quase não registra chuva e contribui com apenas 56,2 mm ou ínfimos 3,0 % do total anual. Esse é o trimestre plus séche (TMS) do ano. Os dados confirmam a forte sazonalidade do regime pluvial da porção sul da região Amazônica, determinada pela dinâmica atmosférica regional e comum a praticamente todo o interior do Brasil (figura 03).

Figura 03 Amazônia Meridional: climatologia da pluviosidade – 1981-2011

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Fonte: ANA e INMET / Elaboração: FRANCA, R. R.

18No que se refere à distribuição espacial da chuva na região, destacam-se as localidades de Lábrea (2374 mm/ano), Machadinho d’Oeste (2243,8 mm/ano) e Porto Velho (2235,4 mm/ano) como as de maior pluviosidade. Essa característica decorre da posição geográfica dessas localidades em face da atuação dos principais sistemas produtores de chuva da região, a exemplo da Massa Equatorial Continental.

19Em posição oposta, as localidades de Capixaba (1547 mm/ano), Brasiléia (1588,2 mm/ano) e Chupinguaia (1564,5 mm/ano) registraram os menores volumes médios de chuva anual. Esses valores estão relacionados à atuação de sistemas produtores de tempo estável, como a Massa Tropical Atlântica (continentalizada). O restante da região apresentou valores intermediários, sempre com incremento em direção ao norte (figura 04).

20Figura 04 Amazônia Meridional: climatologia da pluviosidade – isoietas médias anuais – 1981-2011

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Fonte: ANA e INMET / Elaboração: FRANCA, R. R.

21Considerando apenas o TMC, a localidade com maior volume médio acumulado é Lábrea (1022,0 mm), seguida por Comodoro (1009,5 mm) e Brasnorte (999,1 mm). Em posição oposta estão as localidades de Brasiléia (651,6 mm), Capixaba (681,6 mm), Xapuri (700,5 mm) e Guajará-Mirim (700,5 mm), com estação chuvosa menos proeminente (figura 05).

Figura 05 Amazônia Meridional: climatologia da pluviosidade – isoietas médias do TMC – 1981-2011

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Fonte: ANA e INMET / Elaboração: FRANCA, R. R.

22No TMS, os menores volumes médios anuais foram os de Feliz Natal (10,3 mm), Marcelândia (13,6 mm), Vila Rica (13,7 mm), Sinop (13,8 mm), Brasnorte (14,7 mm) e Porto Alegre do Norte (15,1 mm). Essas localidades estão situadas no extremo leste da região, o que ressalta a expressividade da estação seca na região central do Brasil. Antagonicamente, Lábrea (139,8 mm), Rio Branco (119,6 mm), Porto Velho (114,6 mm) e Bujari (111,9 mm) foram as localidades que registraram maior volume médio de chuva no TMS, o que sugere estação seca menos severa ao norte da região, onde há atuação mais freqüente de sistemas produtores de chuva e disponibilidade de umidade do próprio bioma amazônico (figura 06).

Figura 06 Amazônia Meridional: climatologia da pluviosidade – isoietas médias do TMS – 1981-2011

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Fonte: ANA e INMET / Elaboração: FRANCA, R. R.

23A análise sobre da configuração temporal da precipitação pluvial no período 1981-2011 evidencia o ritmo interanual da distribuição das chuvas na Amazônia Meridional, assim como a ocorrência – esperada – de desvios, anomalias e extremos em relação às médias climatológicas.

24O gráfico da figura 07 representa a variabilidade interanual da precipitação pluvial na Amazônia Meridional no período 1981-2011. Seu eixo horizontal está disposto sobre o valor 1870,7 mm – média climatológica regional para o período – em torno do qual são projetados os valores anuais observados na região. Outra linha – reta de regressão linear – indica ligeira tendência de redução da precipitação pluvial ao longo do período. Como a variabilidade do conjunto de dados é elevada, muito pouco pôde ser explicado ou predito pelo modelo linear. Apenas 1,82 % da variação do comportamento da chuva na área de estudo é ajustada pela reta linear (r2=0,0182).

Figura 07 Amazônia Meridional: variabilidade interanual da pluviosidade - 1981-2011

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Fonte: ANA e INMET / Elaboração: FRANCA, R. R.

25Ao longo desse período, os anos mais chuvosos na Amazônia Meridional foram 1989 (2041,8 mm em média), 2009 (2041,4 mm) e 1994 (1967,0 mm). Em situação oposta, os anos de 1983 (1731,6 mm), 2005 (1769,8 mm) e 2002 (1770,5 mm) se caracterizaram por seus baixos volumes de chuva, sendo os mais secos da série para o conjunto regional. Já os anos de 2003 (1875,5 mm) e 1997 (1875,7 mm) foram aqueles que apresentaram valores médios de chuva mais próximos a media climatológica do período, com anomalia de apenas +0,3%.

26Os resultados dos testes de correlação linear realizados entre os volumes médios de chuva anual e trimestrais (TMC e TMS) na Amazônia Meridional e a North Atlantic Oscillation (NAO), o Tropical Northern Atlantic Index (TNA), o Tropical Southern Atlantic Index (TSA), o Oceanic Niño Index (ONI), a Southern Oscillation Index (SOI) e a Pacific Decadal Oscillation (PDO) ao longo do período 1981-2011 estão sintetizados na tabela 1. De modo geral, os resultados indicam correlações fracas para o total anual e mais expressivas para os trimestres chuvoso e seco.

Tabela 1: resultados dos testes de correlação linear entre a pluviosidade na Amazônia meridional e índices oceânicos (1981-2011)

Fonte: ESRL / NOAA Elaboração: FRANCA, R. R.

27Foi observado um considerável valor de correlação negativa (-0,46) entre a temperatura da água do oceano Atlântico Tropical Norte e as chuvas durante o trimestre seco na Amazônia Meridional. A correlação anual foi de -0,38, o que implica no fato de que quando as temperaturas na referida área do Atlântico Norte estão altas (baixas) são registrados baixos (elevados) volumes de chuva na Amazônia Meridional. Esta situação pode ser compreendida a partir da oscilação das instabilidades tropicais para norte (sul), mais distante (próximo) da costa do Nordeste brasileiro, de onde provém a umidade marítima que penetra na região amazônica, o que ressalta a influencia do Oceano Atlântico nas características do clima da Amazônia. É importante notar que também foi observada correlação negativa, embora mais fraca (-0,26), entre o Atlântico Tropical Sul e as chuvas do trimestre mais seco do ano na região.

28A correlação positiva (+0,24) entre a North Atlantic Oscilation e as chuvas anuais na Amazônia Meridional pode ser resultante do fortalecimento da Alta dos Açores sobre o Atlântico Tropical Norte em fases positivas da NÃO. Nestas condições observa-se o deslocamento das instabilidades da ZCIT para o Atlântico Equatorial Sul, área de origem da umidade marítima que ingressa na Amazônia.

29No que se refere ao fenômeno El Niño, foi observada correlação positiva (+0,22) entre o aquecimento (resfriamento) das águas do Pacífico Equatorial (ONI) e a ocorrência de chuvas (seca) no trimestre mais seco do ano no sul da Amazônia. Esta situação reflete a presença do fenômeno no Pacífico durante os meses de junho, julho e agosto, e pode atenuar a seca nesse setor amazônico. Já no trimestre chuvoso, a correlação foi negativa (-0,14), o que sugere que o curso do fenômeno entre dezembro e fevereiro minimiza a expressividade da estação chuvosa na região. É necessário ressaltar que os valores encontrados são muito baixos e as relações devem ser interpretadas com cautela, isto é, os argumentos não conduzem a conclusões confiáveis e plenas sobre a influência do El Niño na configuração da pluviosidade da região.

30Correlações mais fortes e relevantes foram observadas entre o comportamento das chuvas na estação chuvosa, com o SOI (0,43) e a PDO (-0,34). No que se refere ao Índice de Oscilação Sul, tal resultado sugere que quando ocorrem pressões mais elevadas (baixas) sobre o Pacífico Central (Tahiti), situação favorável a formação do fenômeno La Niña (El Niño), há aumento (redução) das chuvas no trimestre mais chuvoso do ano na Amazônia Meridional. Já a correlação negativa com a Oscilação Decadal do Pacífico indica que fases de temperaturas altas (baixas) nessa área do Pacífico, que favorecem a ocorrência de episódios de El Niño (La Niña), estão relacionadas à ocorrência de menos (mais) chuva no trimestre mais chuvoso do ano na área de estudo. Os resultados do ONI, SOI e PDO são, desse modo, coerentes entre si.

Conclusões

31Este artigo oferece uma abordagem sobre a configuração da precipitação pluvial na Amazônia Meridional a partir de dados de 41 localidades no período de 31 anos entre 1981 e 2011. Os resultados confirmam o conhecimento prévio sobre o clima dessa região da Amazônia, onde a sazonalidade pluvial é uma característica marcante, o que produz repercussões importantes sobre a fauna, a flora, os rios e as populações ribeirinhas e urbanas.

32As análises mostram que, embora o sul da Amazônia apresente um elevado volume pluviométrico anual (próximo a 1900 mm), quase metade desse total ocorre no decorrer de um único trimestre (dezembro-janeiro-fevereiro). Entre junho e agosto, a região experimenta sua estação seca, com volumes inexpressivos de precipitação pluvial. Tal comportamento é semelhante àquele encontrado em áreas tropicais do interior da América do Sul e condiz com a posição geográfica da área de estudo, localizada na transição entre os biomas de savana e floresta equatorial.

33Em função de sua grande extensão, a distribuição espacial das chuvas na região exibe heterogeneidade. De modo geral, as análises permitem concluir que o extremo norte da Amazônia Meridional se distingue por apresentar maior volume anual de chuva e estação seca menos proeminente. Já em sua porção mais meridional, bem como em suas extremidades oriental e ocidental, o volume anual de chuva é menor. Os mapas sugerem que a o extremo leste da região apresenta regime pluvial fortemente sazonal, típico de savana, com ampla desproporcionalidade entre os trimestres mais chuvoso e seco do ano.

34A análise da variabilidade interanual da pluviosidade na Amazônia Meridional indica alternância natural entre anos habituais (normais), secos e chuvosos, com destaque para os extremos de chuva em 1989 (2041,8 mm) e 2009 (2041,4 mm) e de seca em 1983 (1731,6 mm) e 2005 (1769,8 mm). Os dados coincidem com o conhecimento existente sobre a ocorrência das grandes secas de 1983, associada a um episódio de El Niño, e de 2005, atribuída ao aquecimento do Atlântico Tropical Norte, além do período excepcionalmente chuvoso de 2009, quando o rio Negro em Manaus atingiu um dos maiores valores de sua história (inferior apenas ao recorde que ocorreu no ano de 2012). Nesta análise não foram identificadas tendências estatísticas (lineares) no que se refere ao aumento ou redução das chuvas na área.

35Por fim, as análises sobre as teleconexões extra-regionais permitiram concluir que a pluviosidade na Amazônia Meridional é largamente influenciada por características vigentes na região tropical do Oceano Atlântico, de onde provém importante parcela da umidade presente na região. A influência do Pacífico Equatorial, por sua vez, é mais complexa, pois o fenômeno ENOS parece influenciar de maneira desigual os diferentes setores da região, além de apresentar expressões diversas conforme a época do ano em que ocorre.

Qual é a relação entre as chuvas na região da floresta amazônica e a presença da floresta?

A explicação para a alta incidência de chuvas na Amazônia está em uma combinação de fatores, mas principalmente pela existência da própria floresta, pois esta é responsável pela geração de uma grande quantidade de umidade na atmosfera.

Qual a relação entre a vegetação da floresta amazônica e as chuvas?

De acordo com os pesquisadores, a floresta emite vapores orgânicos para o ar por meio da evapotranspiração, provocando o condensamento e a formação das chuvas. O ar úmido que também é gerado pode precipitar-se e deslocar-se para outras regiões, incluindo o Centro-Oeste do país, o Sudeste e também o Sul.

Qual é a importância da floresta amazônica para as chuvas?

A Amazônia funciona como uma bomba d`água. Toda a umidade evaporada do Oceano Atlântico segue floresta adentro pelos ventos alíseos, é descarregada em forma chuva, que cai na floresta, e é muita chuva, que coloca a região em uma das mais quentes e úmidas do planeta.

Qual a relação entre a umidade oriunda da floresta amazônica e a ausência de chuvas nos anos de 2013 e 2014 na região Sudeste do Brasil?

A umidade para as chuvas do Sudeste não é produzida na Amazônia. Ela vem do Atlântico Tropical, apenas passa sobre a Amazônia e interage com a floresta.