Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales ISSN: 1988-7833 Show
Autores e infomación del artículoJosiel Alan Leite Fernandes Marques* Luciano Marcos dos Santos** Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil Resumo: O estudo analisa o discurso do geógrafo Milton Almeida dos Santos no livro
intitulado Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal, lançado no ano de 2000 e dirigido a todas as pessoas do mundo, conforme esclarece o autor. Com uma forte crítica à globalização contemporânea, o Orador procura convencer as pessoas da necessidade de uma outra globalização, que seja mais humana e solidária. Sob a óptica da Teoria Retórica do Discurso proposta por Ivo Dittrich em 2008, a dimensão argumentativa analisada é a racionalizadora por meio de
argumentos técnicos, sensibilizadores e legitimadores. Abstract: The study analyzes the rant Geographer Milton Almeida dos Santos in the book entitled For another globalization - the only thought to the universal consciousness, launched in 2000 and addressed to all people of the world as the author explains. With a strong criticism of contemporary globalization, the
speaker seeks to convince people of the need for another kind of globalization that is more human and caring. From the perspective of the Rhetorical Theory of Discourse proposed by Ivo Dittrich in 2008, the argumentative dimension analyzed is the rationalizer through technical, sensitizing and legitimating arguments. Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: Josiel
Alan Leite Fernandes Marques y Luciano Marcos dos Santos (2017): “Análise retórica do discurso de Milton Santos: por uma outra globalização”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero-marzo 2017). En línea: http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1701milton-santos Introdução Este estudo tem como objetivo principal analisar o discurso Por uma outra
globalização – do pensamento único à consciência universal (Milton Santos, 2000). O Orador faz uma severa crítica à globalização contemporânea e a acusa de ser perversa e alienante, ao tempo em que sugere uma unificação entre os povos intercontinentais num movimento de ação que implique profunda mudança com a concepção de uma outra globalização: mais humana e mais solidária. A Análise de um discurso: a teoria apontada Uma análise de discurso requer em sua essência o uso da Retórica, e a compreensão da retórica. Não é mera repetição de termos, mas distinção necessária para construir como também analisar um discurso seja de natureza filosófica, política, jurídica, econômica, religiosa, ou outras. Na literatura é fatível se referir à Retórica como a Teoria da Persuasão ou da Argumentação, enquanto a retórica é
a arte de elaborar um discurso persuasivo; de persuadir de maneira articulada,“entre argumentos de ordem técnica, emotiva e representacional” (DITTRICH, 2008, p.21). Reboul (2004) lembra que com base nesses conceitos que a retórica somente é aplicada em discursos que visam persuadir. Mas sua definição vai além dos propósitos desse artigo, pois, além das clássicas, na contemporaneidade o termo tem reunido distintos e, por vezes, divergentes significados. ethos é o caráter que o orador deve assumir para inspirar confiança no auditório [...] O pathos é o conjunto de emoções, paixões e sentimentos que o orador deve suscitar no auditório [...] o logos diz respeito à argumentação propriamente dita do discurso, é o aspecto dialético da retórica [...]. (REBOUL, 2004, p. 47). Nessa perspectiva, Perelman e Tyteca, por meio da obra Tratado da argumentação: a nova retórica (2005), ancorados pelo trabalho de Aristóteles, apresentam novas configurações aos estudos que envolvem a Retórica. [...] os seres que querem ser importantes para outrem, adultos ou crianças, desejam que não lhe ordenem mais, que lhe ponderem, que se preocupem com suas reações, que os considerem membros de uma sociedade mais ou menos igualitária. Quem não se incomoda com um contato assim com os outros, será julgado arrogante, pouco simpático [...] (PERELMAN; TYTECA, 2005, p. 18)
Para Perelman e Tyteca (2005), o orador constrói seu ethos em função das expectativas de seu auditório, das imagens que faz dele, e a interação entre os dois por meio da imagem que um faz do outro. Já em se tratando do pathos, para estes autores, para argumentar, é necessário que o orador tenha apreço, seja ouvido, com o objetivo de obter a adesão e influenciar o auditório ao qual se dirige; mas, acima de tudo, é preciso “preocupar-se com ele, interessar-se por seu estado de espírito” (p. 18).
Dessa maneira, o pathos tem dentre suas funções a de despertar a empatia e a sensibilidade do auditório, tornando o discurso agradável e atraente sem deixar de ser pensado, ou melhor dizendo racionalizado. […] provocar ou aumentar a adesão dos espíritos às teses que se apresentam a seu assentimento: uma argumentação eficaz é a que consegue aumentar a intensidade de adesão, de forma que se desencadeie nos ouvintes a ação pretendida (ação positiva ou abstenção), ou, pelo menos, crie neles uma disposição para a ação , que se manifestará no momento oportuno (PERELMAN; TYTECA, 2005, p.50) Os autores citados enfatizam que na argumentação o orador pretende influenciar a opiniões do auditório procurando provocá-lo ou tentando aumentar a adesão. Trata-se, pois, de um processo discursivo. racionaliza sua tese, apoiando-se em preceitos de ordem técnica, para fazer com que o auditório entenda a opinião e as justificativas em que se assenta: não se trata somente do conteúdo dos argumentos (conhecer); também de como se relacionam para gerar uma conclusão plausível (entender); no segundo, em preceitos de ordem emotiva, mostrando-lhe as razões que a tornam boa, por que vale a pena assumi-la, afinal, o que o auditório pode ganhar, adotando-a; no terceiro, em um ethos prévio – institucional ou pessoal – e na constituição de um ethos discursivo para conquistar a confiança do interlocutor. (DITTRICH, 2008, p. 23). Nesta linha de raciocínio o discurso persuasivo se assenta em três (3) dimensões argumentativas: a racionalizadora, a estética e a política. Por ser esta a parte basilar da Teoria Retórica do Discurso, disponibilizaremos mais didaticamente as explicações.
Dittrich (2008) afirma que a Teoria ora proposta é, semelhante a ciência, uma construção devido à dinamicidade que a própria retórica encerra, e se pretende como teoria e metodologia nas análises retóricas de discursos de distintas naturezas, quer na visão simultânea das três (3) dimensões argumentativas, ou em apenas uma, ou em partes ou aspectos delas. Nesta compreensão, o estudo analítico ora proposto se dará calcado nesta Teoria Retórica do Discurso sob o aspecto da dimensão argumentativa racionalizadora. Dada a dinamicidade desta Teoria bem como de uma análise de discurso como esta, nada impede que outros aspectos sejam, por vezes, analisados, o que contribuirá para uma melhor compreensão do trabalho em questão. Contextualização O geógrafo Milton Almeida dos Santos, ou como ficou conhecido Milton Santos, nasceu em maio de 1926 na cidade de Brotas de Macaúbas, interior do Estado da Bahia, Brasil. Casou com Marie-Hélène Tiercelin dos Santos com quem teve dois filhos. Em junho de 2001 Milton Santos veio a falecer vítima de
insuficiência respiratória ocasionada por uma carcinomatose advinda de um câncer de próstata com o qual sofreu os seus últimos sete (7) anos de vida. marginalizadas pelo perverso processo de globalização ora em curso, e deixou sua marca de indignação e revolta por todos os meios e instrumentos nos quais teve a oportunidade de manifestar suas ideias, fossem eles textos acadêmicos, aulas na universidade, artigos de jornais ou entrevistas nos programas de televisão. (CARVALHO, 2002). Na década de 1980, teóricos persuadidos pela imprensa financeira internacional acreditaram que a globalização estava a florescer, e a
tornaram “sinônimo de aplicações financeiras e investimentos pelo mundo afora.” (RIBEIRO, 2002). Nesta perspectiva, a globalização econômica ganhou adeptos e o estudo focou o “papel das empresas na internacionalização do capital, mas também os fluxos financeiros” (RIBEIRO, 2002). Milton Santos foi um desses teóricos que assimilou o processo globalizador à economia, aos fluxos financeiros, ao capital, ao capitalismo. Em seu discurso Por uma outra globalização – do pensamento único à
consciência universal,trata que a “globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista” (SANTOS, 2001, p. 23). E prossegue com afirmações de que um sistema de técnicas criado no fim do século XX pelos avanços da ciência preside as relações locais e globais; é, por assim, de presença planetária. Esse sistema de técnicas é homogeneizador e está ao serviço de um mercado global que, por sua vez, influencia nos processos políticos. A dimensão racionalizadora da análise do discurso persuasivo Todo discurso de argumentação possui uma tese que é sustentada por um ou mais argumentos. Dittrich (2008) em sua Teoria Retórica do Discurso afirma que os argumentos estão maiormente vinculados à dimensão
racionalizadora da análise do discurso persuasivo. Cita que os argumentos técnicos convergem para tornar a tese consistente; os argumentos sensibilizadores, para mostrar sua utilidade e suas consequências; e os argumentos legitimadores, para atestar a competência do orador e a natureza ética da tese em apreciação. Argumentação técnica Os argumentos técnicos são os fatos e/ou dados que dão sustentabilidade à tese principal. No caso específico da análise do discurso de Milton Santos em Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal, a tese capital é voltada para as pessoas do mundo todo e afirma que a globalização atual é perversa e alienante e por isso deve ser pensado a construção de um outro mundo, mediante uma globalização mais humana. Neste caso, o Orador coagido pelo meio social e cultural do momento vivido à época, analisa o estado da arte nesta situação e afirma estar a globalização “se impondo como uma fábrica de perversidades para a maior parte da humanidade” (SANTOS, 2001, p. 19) e, dessa forma, estabelece a primeira tese que apoia a principal, “a perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização”(SANTOS, 2001, p. 20), e é sustentada por argumentos fatuais: A tirania da informação e do dinheiro e o atual sistema ideológico: As técnicas da informação são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de desigualdades SANTOS, 2001, p. 39). A competitividade A competitividade tem a guerra como norma. Há, a todo custo, que vencer o outro, esmagando-o, para tomar seu lugar (SANTOS, 2001, p. 46). O consumo A produção do consumidor, hoje, precede à produção dos bens e dos serviços (SANTOS, 2001, p. 48). Argumentação sensibilizadora Com intuito de despertar paixões e emoções, apreços e desapreços, a ligação afetiva com a causa em curso, o Orador busca argumentar de forma sensibilizadora as consequências dessa globalização perversa, que delimita a tese subsidiária. “Seja qual for o ângulo pelo qual se examinem as situações características do período atual, a realidade pode ser vista como uma fábrica de perversidades” (SANTOS, 2001, p. 58) onde “a compreensão do que se está passando chega com clareza crescente aos pobres e aos países pobres, cada vez mais numerosos e carentes” (SANTOS, 2001, p. 118). Os argumentos sensibilizadores são elencados, portanto, como tragédias pessoais e descompassos globais socioeconômicos. As questões socioeconômicas O desemprego crescente torna-se crônico
(SANTOS, 2001, p. 19). As questões humanas Novas
enfermidades como a SIDA se instalam (SANTOS, 2001, p. 19). Argumentação legitimadora A legitimidade da tese é apoiada na credibilidade do Orador. Milton Santos na condição de Orador do discurso escopo dessa análise possui credibilidades curriculares e argumentativas, esta última conferida pelas duas argumentações precedentes – a técnica e a sensibilizadora. Mas, para a retórica do discurso persuasivo aquela primeira credibilidade não é o fator primordial, o
que este recai sobre a segunda; é, pois, o conjunto argumentativo que confere mormente ao Orador a credibilidade no discurso. Ademais, a relevância social e os princípios e valores éticos são postos e compartilhados no discurso e visam a aceitação da tese por parte do Auditório.
O orador procura de forma ética e também jurídica estabelecer a legitimidade para si e para as pessoas do mundo todo no intuito de unir-se para lutar por uma outra globalização, destarte, mais humana, mais solidária: “somente agora a humanidade pode identificar-se como um todo e reconhecer sua unidade, quando faz sua entrada na cena histórica como um bloco” (SANTOS, 2001, p.170). Como a atual globalização influencia negativamente em especial os pobres, Milton Santos acredita nesse grupo da sociedade como capital para as mudanças: “as mudanças sairão dos países subdesenvolvidos”. A racionalização da tese: uma síntese Milton Santos na condição de Orador com credibilidade curricular e argumentativa, como bem exemplificado pelas inúmeras obras literárias e científicas publicadas ao longo de sua carreira profissional, além da crítica acadêmica e jornalística nacional e internacional que concebe, se dirige, em um discurso persuasivo intitulado Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal, a um Auditório amplo e diversificado que extrapola as fronteiras
nacionais do Brasil concebendo uma polêmica crítica ao processo globalizador contemporâneo. Nesta, constrói sua capital tese sobre o tema, que pode ser assim sintetizada: a globalização atual é perversa e alienante e por isso deve ser pensado a construção de outro mundo, mediante uma globalização mais humana. Considerações finais Referências CARVALHO, M. B (2002). "Milton Santos: intelectual, geógrafo e cadadão indignado". In: El ciudadano, la globalización y la geografía. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, núm. 124, 30 de septiembre de 2002. http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-124b.htm [ISSN: 1138-9788]. DITTRICH, Ivo José (2012). O discurso de Lutero contra os camponeses: retórica da ação. Antares, Caxias do Sul, v. 4, n. 8, p.111-124, jul. 2012. Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/antares/article/view/1407/1161>. Acesso em: 10 mar. 2016. DITTRICH, Ivo José (2008). Por uma retórica do discurso: argumentação técnica, emotiva e representacional. Alfa, São Paulo, v. 52, n. 1, p.21-37, jan. 2008. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/view/1465/1170>. Acesso em: 15 fev. 2016. DITTRICH, Ivo José (2008). Por uma retórica do discurso: princípios teórico-metodológicos. Ideação, Foz do Iguaçu, v. 10, n. 2, p.91-116, jul. 2008. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/ideacao/article/download/4472/3392>. Acesso em: 01 mar. MAINGUENEAU, Dominique (2008). Análise de Textos de Comunicação. Trad. Cecília P. de MAINGUENEAU, Dominique (1997). Novas Tendências em Análise do Discurso. Trad. Freda Indursky. 3. ed. Campinas, SP: Pontes: Editora da Universidade Estadual de Campinas. ORLANDI, Eni Pulcinelli (2007). Análise do Discurso: princípios e procedimentos. 7. ed. Campinas, SP: Pontes Editores. PERELMAN, Chaim; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie (2005). Tratado de Argumentação: a nova retórica. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes. Tradução de Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. REBOUL, Olivier (2004). Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. RIBEIRO, W. C (2002). "Globalização e geografia em Milton Santos". In: El ciudadano, la globalización y la geografía. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, núm. 124, 30 de septiembre de 2002. http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-124h.htm [ISSN: 1138-9788] SANTOS, Marie-hélène Tiercelin dos et al. Biografia: Milton Santos. (2001). Disponível em: <http://miltonsantos.com.br/site/biografia/>. Acesso em: 14 mar. 2016. SANTOS, Marie-hélène Tiercelin dos et al. Curriculum Vitae de Milton Santos. (2001). Disponível em: <http://www.miltonsantos.com.br/site/miltonsantos_curriculum.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2016. SANTOS, Milton (2001). Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Ed. Record. * Geógrafo e Técnico administrativo na Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA. ** Professor de Língua Portuguesa e Língua Espanhola do Instituto Federal do Paraná – IFPR. Recibido: 14/12/2016 Aceptado: 20/03/2017 Publicado: Marzo de 2017 Nota Importante a Leer:
Qual a crítica de Milton Santos sobre o mundo globalizado?"O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais mas não há um espaço mundial. Quem se globaliza mesmo são as pessoas" (Milton Santos, 1993).
O que Milton Santos define de uma outra globalização?Este novo livro de Milton Santos trata da globalização como fábula, como perversidade e como possibilidade aberta ao futuro de uma nova civilização planetária. Os atores mais poderosos desta nova etapa da globalização reservam-se os melhores pedaços do Território Global e deixam restos para os outros.
Quais os principais pensamentos de Milton Santos?Frases de Milton Santos. “O Brasil jamais teve cidadãos, nós, a classe média, não queremos direitos, nós queremos privilégios, e os pobres não têm direitos, não há, pois, cidadania neste país, nunca houve!”. “A geografia brasileira seria outra se todos os brasileiros fossem verdadeiros cidadãos.. Quais são as 3 visões de Milton Santos em relação a globalização?No filme, Milton Santos ressalta as três faces da globalização: A primeira seria o mundo tal como nos fazem vê- lo: a globalização como fábula; a segunda seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade; e a terceira, o mundo tal como ele pode ser: uma outra globalização.
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