O geógrafo Milton Santos deixou, como um dos seus principais legados teóricos, a noção de Meio técnico-científico-informacional, que corresponde à evolução dos processos de produção e reprodução do meio geográfico. Para compreender o seu conceito, é necessário entender a evolução das transformações do espaço, que vão desde o meio natural, passando pelo meio técnico, até chegar ao período atual, em que há uma maior inserção das ciências e do meio informacional sobre as formas com que as produções espaciais ocorrem¹. Show
Portanto, as três etapas mencionadas (meio natural, meio técnico e meio técnico-científico-informacional) formam uma periodização do meio geográfico, conforme a sua apropriação pelas atividades humanas. Assim, estabelece-se uma melhor noção das relações entre natureza e sociedade ao longo do tempo. O meio natural corresponde ao período em que o emprego das técnicas esteve diretamente vinculado à dependência sobre a natureza, da qual o homem fazia uso sem propiciar grandiosas transformações. Assim, as ações de interferência sobre o meio eram, sobretudo, locais, e a participação das atividades antrópicas, bem como as suas transformações, era limitada pela harmonização e preservação da própria natureza. Milton Santos utilizou como exemplos do conceito de meio natural as técnicas de pousio, rotação de culturas e agriculta itinerante, em que o uso do solo limitava-se à sua preservação para manter um equilíbrio entre uso e preservação da natureza.
O meio técnico representa a emergência do espaço mecanizado, com a introdução de objetos e sistemas que provocaram a inserção das tecnologias no meio produtivo. Podemos citar como exemplo mais determinante a I Revolução Industrial, mesmo que antes disso já houvesse algumas técnicas em que a atuação mecânica existisse e agisse sobre o meio geográfico. Assim, nesse período, ocorreu uma crescente forma de substituição ou de sobreposição dos objetos técnicos sobre os objetos culturais e naturais, mesmo que essa substituição não tenha se manifestado de forma igualitária, justa e homogênea nas diferentes regiões e territórios. Nesse momento, a Divisão Internacional do Trabalho intensificou-se, bem como a dependência das atividades humanas sobre o uso de maquinários e instrumentos. Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
O meio técnico-científico-informacional representa, então, a atual etapa na qual se encontra o sistema capitalista de produção e transformação do espaço geográfico, estando relacionado, sobretudo, à Terceira Revolução Industrial, que, não por acaso, passou a ser reconhecida como Revolução Científica Informacional, cuja impactação manifestou-se de forma mais intensa a partir dos anos 1970. Nesse momento ocorreu uma união entre técnica e ciência, guiadas pelo funcionamento do mercado, que, graças aos avanços tecnológicos, expande-se e consolida o processo de Globalização. Um exemplo de como as técnicas e as ciências estão constantemente se interagindo e propiciando a expansão do capital pode ser visto na recente ação promovida pelo Facebook em levar o acesso à internet a comunidades afastadas por meio do uso dos drones, veículos aéreos não tripulados.
Portanto, além de serem técnicos, os objetos também carregam em si a informação e trabalham a partir dela, o que justifica o nome do atual período de transformação do meio geográfico. Podemos, então, dizer que o processo de globalização só se manifesta em seu atual estágio graças aos avanços propiciados pelo meio técnico-científico-informacional. _________________________ ¹ A obra em que Milton Santos trabalha de forma mais aprofundada o tema é: SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Ed. Hucitec, 1996. Índice:
O documentário, baseado na obra do geógrafo brasileiro Milton Santos, nos traz um recorte singular sobre a globalização. As crises econômicas, as divisões da sociedade e do território, o papel da mídia e as revoltas populares são retratados como consequência da globalização desigual em que estamos inseridos atualmente. Qual é a opinião de Milton Santos sobre a mídia internacional?Críticas de Milton Santos à globalização Em uma de suas mais célebres frases, ele afirmava que “Essa globalização não vai durar. Primeiro, ela não é a única possível. Segundo, não vai durar como está porque como está é monstruosa, perversa. Não vai durar porque não tem finalidade”. Como a globalização como fábula é discutida no documentário?No filme, Milton Santos ressalta as três faces da globalização: A primeira seria o mundo tal como nos fazem vê- lo: a globalização como fábula; a segunda seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade; e a terceira, o mundo tal como ele pode ser: uma outra globalização. Quais os três tipos de globalização que Milton Santos propôs?No filme, Milton Santos ressalta as três faces da globalização: A primeira seria o mundo tal como nos fazem vê- lo: a globalização como fábula; a segunda seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade; e a terceira, o mundo tal como ele pode ser: uma outra globalização. Como poderia ser a globalização?O processo de globalização é um fenômeno do modelo econômico capitalista, o qual consiste na mundialização do espaço geográfico por meio da interligação econômica, política, social e cultural em âmbito planetário. Qual o posicionamento crítico de Milton Santos e o que ele propôs?A obra de Milton Santos caracterizou-se por apresentar um posicionamento crítico ao sistema capitalista e aos pressupostos teóricos predominantes na ciência geográfica de seu tempo. ... Nessa obra, defendia também o caráter social do espaço, que deveria ser o principal enfoque do geógrafo. Quem foi Milton Santos e qual sua contribuição para o Brasil e para o mundo?Conhecido por suas pesquisas sobre urbanização, especialmente em países pobres, e globalização, Santos foi reconhecido em 1994 com o prêmio Vautrin Lud, considerado o "Nobel da Geografia". O baiano foi o primeiro fora do mundo anglo-saxão e único brasileiro a receber a distinção. O que é globalização como fábula?Assunto polêmico e relevante, a globalização vem desafiando os intelectuais contemporâneos. ... A globalização como fábula está relacionada aos mitos que a cercam, como a aldeia global, a contração do espaço e tempo, a velocidade do cotidiano e a desterritorialização. O que é a globalização como fábula como nos fazem crer );?O mundo que percebemos: a globalização como fábula Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta através da disposição, cada vez maior, de mercadoria para o consumo quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Leia também
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Quais os principais aspectos negativos da globalização?Pontos negativos da globalização:
Monopólio das grandes empresas; Redução de salários; Aumento do desemprego; Crises econômicas globais.
Porque Milton Santos critica a globalização?Para Milton Santos, apesar de o mundo tornar-se unificado, em virtude das atuais condições técnicas que são uma base sólida para as ações humanas mundializada, a globalização se impõe à maior parte da população como perversidade. Vive-se uma dupla violência: a tirania do dinheiro e a tirania da informação.
Quais foram os aspectos positivos e negativos da globalização?A Globalização fez surgir a Geração Y, a primeira que está vivendo num mundo hiper conectado e com menos barreiras comerciais e culturais. Como ponto negativo é preciso afirmar que a maior parcela do dinheiro fica entre os países mais desenvolvidos.
O que é a globalização Segundo Milton Santos?Quando Milton Santos inicia a introdução do seu livro, Por uma outra globalização — do pensamento único à consciência universal, fica bem evidente que a fábula é utilizada como um meio de confundir a percepção de mundo, e com essa confusão, distorcer a realidade para que a perversidade não possa vir à tona.
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