Porque podemos considerar o supremo bem?

A felicidade pensada por Aristóteles relaciona-se com os conceitos de virtude, amizade, honra e prazer.

Para Aristóteles, a felicidade é o bem maior desejado pelo ser humano e, por isso, suas ações serão em direção a esse fim. Para alcançar a felicidade, o ser humano precisa pautar suas ações na prática de ações virtuosas.

Essas ações são definidas por meio do exercício do pensamento, de forma que justiça e razão sejam relacionadas intimamente: o ser humano, que se difere dos outros animais pela capacidade de pensar, consegue examinar suas ações e determinar o que é justo e, assim, torna-se feliz.

A amizade desempenha também grande importância no caminho do ser humano em relação à felicidade: o ser humano vive em comunidade e, por isso, suas ações têm impacto não apenas sobre si. Dessa forma, é na cidade, no convívio com outros humanos, que se pode agir – e agindo de forma virtuosa que se vivencia a felicidade.

Vamos ver com mais calma agora:

A palavra grega para “felicidade”

Aristóteles, em seu livro, utiliza o termo grego “eudemonia”, formado a partir do prefixo eu- (bem) e do substantivo daimon- (espírito). Traduzida por “felicidade”, essa palavra tem também os sentidos de “prosperidade”, “riqueza”, “boa fortuna”. O termo de Aristóteles pode ser traduzido como “viver bem” e “florescimento”. Outros estudiosos preferem manter a palavra sem tradução.

O significado de “virtude”

A palavra utilizada por Aristóteles é arete. Alguns estudiosos, como Marco Zingano, traduzem a arete por “virtude”; outros, como Mário da Gama Kury, traduzem por “excelência”. O pensamento de Aristóteles é que a felicidade (eudemonia) só pode ser alcançada por meio de uma “excelência da alma”.

A virtude/excelência pode ser intelectual, adquirida a partir da natureza e aperfeiçoada pelo ensino, e moral, adquirida por hábito. O exemplo que Aristóteles oferece para que entendamos a diferenciação que ele faz é o seguinte: quando o ser humano nasce, já tem em si as faculdades da audição e da visão. O ser humano não precisa de um treinamento para começar a ver e a ouvir. Ele diz: “Tínhamos antes de começar a usá-las, e não foi por usá-las que passamos a tê-las”. (Aristóteles, 2003. p. 40)¹.

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A virtude/excelência moral, ao contrário, surge a partir de cada ação humana, da decisão diária de praticar atos justos. Se não é praticada, o ser humano perde a disposição moral. O exemplo que Aristóteles oferece é o da prática excessiva ou ausência de exercício físico: tanto o excesso quanto a falta têm impacto no vigor da pessoa. Por isso, Aristóteles desenvolve o pensamento de que a virtude está no meio.

A virtude está no meio

A tese de que encontramos a virtude no meio (meson) foi uma importante contribuição da filosofia de Aristóteles: “Por 'meio termo em relação a nós' quero dizer aquilo que não é nem demasiado, nem muito pouco, e isto não é o único e o mesmo para todos”(Aristóteles, 2003. p. 47)¹.

Isso significa que a pessoa corajosa, por exemplo, não seria uma pessoa que não tem medo de nada, e sim uma pessoa que resguarda uma parcela de temor, a cautela, pela qual mantém sua capacidade de ação sem colocar em risco sua vida.

A partir da noção de “meio-termo”, nós podemos entender a virtude/a excelência moral de uma forma mais profunda: no exercício da virtude moral, podemos nos comportar em relação a nossas ações e paixões optando por uma “mediania”, ou seja, evitando o excesso e a falta.

Há, no entanto, paixões e ações para as quais não há meio-termo, como o assassinato. Não é possível matar uma pessoa de forma “moderada”. Matar uma pessoa, independentemente das circunstâncias, será um erro.

¹ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Martin Claret. São Paulo, 2003.


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POLÍTICA

A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso. O estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. Desta ciência trata Aristóteles precisamente na Política, de que acima se falou.

O estado, então, é superior ao indivíduo, porquanto a coletividade é superior ao indivíduo, o bem comum superior ao bem particular. Unicamente no estado efetua-se a satisfação de todas as necessidades, pois o homem, sendo naturalmente animal social, político, não pode realizar a sua perfeição sem a sociedade do estado.

Visto que o estado se compõe de uma comunidade de famílias, assim como estas se compõem de muitos indivíduos, antes de tratar propriamente do estado será mister falar da família, que precede cronologicamente o estado, como as partes precedem o todo. Segundo Aristóteles, a família compõe-se de quatro elementos: os filhos, a mulher, os bens, os escravos; além, naturalmente, do chefe a que pertence a direção da família. Deve ele guiar os filhos e as mulheres, em razão da imperfeição destes. Deve fazer frutificar seus bens, porquanto a família, além de um fim educativo, tem também um fim econômico. E, como ao estado, é-lhe essencial a propriedade, pois os homens têm necessidades materiais. No entanto, para que a propriedade seja produtora, são necessários instrumentos inanimados e animados; estes últimos seriam os escravos.

Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo; mas constata que na sociedade são necessários também os trabalhos materiais, que exigem indivíduos particulares, a que fica assim tirada fatalmente a possibilidade de providenciar a cultura da alma, visto ser necessário, para tanto, tempo e liberdade, bem como aptas qualidades espirituais, excluídas pelas próprias características qualidades materiais de tais indivíduos. Daí a escravidão.
Vejamos, agora, o estado em particular. O estado surge, pelo fato de ser o homem um animal naturalmente social, político. O estado provê, inicialmente, a satisfação daquelas necessidades materiais, negativas e positivas, defesa e segurança, conservação e engrandecimento, de outro modo irrealizáveis. Mas o seu fim essencial é espiritual, isto é, deve promover a virtude e, conseqüentemente, a felicidade dos súditos mediante a ciência.

Compreende-se, então, como seja tarefa essencial do estado a educação, que deve desenvolver harmônica e hierarquicamente todas as faculdades: antes de tudo as espirituais, intelectuais e, subordinadamente, as materiais, físicas. O fim da educação é formar homens mediante as artes liberais, importantíssimas a poesia e a música, e não máquinas, mediante um treinamento profissional. Eis porque Aristóteles, como Platão, condena o estado que, ao invés de se preocupar com uma pacífica educação científica e moral, visa a conquista e a guerra. E critica, dessa forma, a educação militar de Esparta, que faz da guerra a tarefa precípua do estado, e põe a conquista acima da virtude, enquanto a guerra, como o trabalho, são apenas meios para a paz e o lazer sapiente.

Não obstante a sua concepção ética do estado, Aristóteles, diversamente de Platão, salva o direito privado, a propriedade particular e a família. O comunismo como resolução total dos indivíduos e dos valores no estado é fantástico e irrealizável. O estado não é uma unidade substancial, e sim uma síntese de indivíduos substancialmente distintos. Se se quiser a unidade absoluta, será mister reduzir o estado à família e a família ao indivíduo; só este último possui aquela unidade substancial que falta aos dois precedentes. Reconhece Aristóteles a divisão platônica das castas, e, precisamente, duas classes reconhece: a dos homens livres, possuidores, isto é, a dos cidadãos e a dos escravos, dos trabalhadores, sem direitos políticos.

Quanto à forma exterior do estado, Aristóteles distingue três principais: a monarquia, que é o governo de um só, cujo caráter e valor estão na unidade, e cuja degeneração é a tirania; a aristocracia, que é o governo de poucos, cujo caráter e valor estão na qualidade, e cuja degeneração é a oligarquia; a democracia, que é o governo de muitos, cujo caráter e valor estão na liberdade, e cuja degeneração é a demagogia. As preferências de Aristóteles vão para uma forma de república democrático-intelectual, a forma de governo clássica da Grécia, particularmente de Atenas. No entanto, com o seu profundo realismo, reconhece Aristóteles que a melhor forma de governo não é abstrata, e sim concreta: deve ser relativa, acomodada às situações históricas, às circunstâncias de um determinado povo. De qualquer maneira a condição indispensável para uma boa constituição, é que o fim da atividade estatal deve ser o bem comum e não a vantagem de quem governa despoticamente.

FAMILIA E EDUCAÇÃO

O Estado deve promover a família e a educação, legislando sobre as mesmas.

"Convém fixar o casamento das mulheres nos dezoito anos, e o dos homens nos trinta e sete, ou pouco menos. Assim a união será feita no momento do máximo vigor e os dois esposos terão um tempo pouco mais ou menos igual para educar a família, até que cessem a ser próprios à procriação" (Política, 4,c.14, § 6).

Com vistas à depuração social defende ainda:

"Quanto a saber quais os filhos que se devem abandonar ou educar, deve haver uma lei que proíba alimentar toda a criança disforme. Sobre o número dos filhos (porque o número dos nascimentos deve sempre ser limitado), se os costumes não permitem que os abandonem e se alguns casamentos são tão fecundos que ultrapassem o limite fixado de nascimentos, é preciso provocar o aborto, antes que o feto receba animação e a vida; com efeito, só pela animação e vida se poderá determinar se existe crime" (Política, 4,c.14, § 10).
Só modernamente se veio a saber melhor sobre a vida. Enquanto isto demorou, até moralistas cristãos admitiram o aborto antes da referida animação de que fala Aristóteles, como acontecida apenas em um estágio adiantado da gestação.

O grande Aristóteles, apesar de sua vida relativamente curta (62 anos) e da perda de seus livros mais literários e brilhantes, continua sempre grande.

Não se sabendo dizer se foi mesmo o maior filósofo dentre os até agora nascidos, certamente é Aristóteles ainda uma das cordilheiras mestras do pensamento humano.

Como deve ser o bem supremo?

Para inferir a natureza desse Bem Supremo, não se precisa de muitas palavras ou discussões circulares; deve ser apontado com o dedo indicador, por assim dizer, e não estar dissipado em muitas partes.

O que é o bem supremo?

Essa palavra grega significa o bem supremo, o máximo, aquilo que é soberano (na sua vida, no seu empreendimento) ou, como disse Aristóteles (Ética a Nicômaco), aquilo que é final (na nossa vida, na nossa atividade empreendedora individual ou empresarial), aquilo que se elege por si mesmo e nunca por outra coisa.

O que é o bem supremo em Aristóteles e como podemos alcançar o bem supremo?

3) O Sumo Bem Era necessário que existisse um fim último para a ação humana. A esse fim último, Aristóteles refere-se como Sumo Bem, “o melhor dos bens”. Como é o “melhor que existe”, o Sumo Bem deve ser objeto de um saber supremo, uma ciência que seja superior às outras ciências. Para ele, essa ciência era a Política.

Por que a felicidade é considerada o bem supremo?

Segundo o autor, a felicidade consiste em uma atividade da alma conforme a virtude. É o bem supremo, que tem um fim em si mesmo, sendo almejado por todos. O que constitui a felicidade são as ações virtuosas, e as atividades viciosas conduzem o contrário.