Porque os seringueiros ficaram conhecidos como soldados da borracha no segundo ciclo da borracha?

Mestre em História (UFAM, 2015)
Graduado em História (Uninorte, 2012)

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O chamado ciclo da borracha pode ser dividido em duas fases. A primeira vai da década de 1870, quando o surto migratório ganha forma na região norte do Brasil, até os anos 1912, quando há uma retração da economia gomífera ocasionada pelo crescimento da concorrência internacional. A segunda fase foi alavancada pela Segunda Guerra Mundial, no contexto da Era Vargas e marcada por uma verdadeira Batalha da Borracha, onde milhares de soldados sangravam as seringueiras para suprir demandas da indústria norte-americana. Ambas foram acompanhadas por grandes fluxos migratório de outras regiões do país.

Como base da economia gomífera no ciclo da borracha, o sistema de aviamento não pode ser pensado sem seus principais elementos: o seringal, o seringalista e o seringueiro. O seringal era formado por uma espécie de barracão, onde moravam os “patrões” e algumas famílias de trabalhadores, formando um vilarejo. Era geralmente localizado próximo a rios para facilitar o abastecimento de mercadorias e escoamento da produção. Como unidade produtiva e social o seringal também se constituía pela posse de uma imensa área conectada por caminhos onde se localizavam as seringueiras. O seringalista era conhecido como “patrão”, o dono dos meios de produção que comandava seus capatazes, gozando dos privilégios de mando. O seringueiro provinha das camadas mais pobres da população e, na maioria das vezes, era o migrante nordestino que, imerso num sistema de endividamento do qual dificilmente conseguia escapar, vivia numa condição semi-escravista, à mercê dos “patrões”.

A partir dos dados sobre demografia na Amazônia, podemos considerar que o ciclo da borracha esteve relacionado à grande migração nordestina para a região. Tal fenômeno emergiu à medida que o processo de vulcanização da borracha tornou-se conhecido. Este fluxo foi motivado pela fome e miséria que assolava grande parte da sociedade brasileira no Segundo Reinado no Brasil. Nos anos 1870, os governos incentivaram a migração como uma forma de amenizar os conflitos sociais resultantes da concentração fundiária iniciada ainda no Período Colonial. Os conflitos no campo, a seca que se alastrou pelo nordeste e o sonho de uma vida melhor levou muitos migrantes a buscar alternativas. A partir dos anos 1940 até 1960, somaram-se aos mais de 35 mil nordestinos que já estavam na região outros 54 mil dos quais mais da metade migraram do Ceará com financiamentos do Banco de Crédito da Amazônia.

Pode-se considerar que, para além dos recursos naturais extraídos ao longo daquele período, outros recursos altamente explorados foram o sangue e o suor de milhares de nordestinos que desfaleceram na Amazônia sem poder resistir às doenças e aos enganos do modo de produção gomífera. Além disso, as condições em que se criavam os seringais, nem sempre eram amistosas. Estas resultaram, muitas vezes, em grandes conflitos com os grupos indígenas da Amazônia. O resultado foi que milhares de seringueiros foram mortos pelos índios e muito mais indígenas foram mortos nesses confrontos. Etnias inteiras foram dizimadas em troca do estabelecimento dos seringais. Se as vidas dos seringueiros eram muitas vezes desvalorizadas, as vidas dos indígenas nem parecem ter sido postas a preço tamanha a crueldade com que foram perseguidos e escravizados em pleno despontar do século XX.

Referências bibliográficas:

CHEROBIM, Mauro. Trabalho e comércio nos seringais amazônicos. Perspectivas: Revista de Ciências Sociais, 1983. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/108221/ISSN1984-0241-1983-6-101-107.pdf?sequence=1; Acesso em: 11 set. 2017.

MONTEIRO, Jorgemar. Seringal, seringalista e seringueiro. Centro Cultural dos Povos da Amazônia. Disponível em: http://portalamazonia.globo.com/detalhe-artigo.php?idArtigo=210; Acesso em: 07 set. 2017.

SILVA, Maria de Andrade. A Borracha passada na História: Os Soldados da Borracha durante a Segunda Guerra. Monografia para obtenção do grau de Bacharel em História. Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: 2005. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/15856847/SILVA-MAria-A-Borracha-passa-na-Historia-Os-Soldados-da-Borracha-na-Segunda-Guerra-Mundial; Acesso em: 05 set. 2017.

SILVA, Antônio Carlos Galvão da & SILVA, Josué da Costa. Seringueiros na Amazônia. Disponível em: http://www.neer.com.br/anais/NEER-2/Trabalhos_NEER/Ordemalfabetica/Microsoft%20Word%20-%20AntonioCarlosGalvaodaSilva.ED2V.pdf; Acesso em: 19 set. 2017.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/ciclo-da-borracha/


Porque os seringueiros ficaram conhecidos como soldados da borracha no segundo ciclo da borracha?

A cidade de Manaus no século XIX: o desenvolvimento urbano proporcionado pela extração do látex.

A utilização da borracha foi desenvolvida em função das diversas descobertas científicas promovidas durante o século XIX. Inicialmente, o látex era comumente utilizado na fabricação de borrachas de apagar, seringas e galochas. Anos mais tarde, os estudos desenvolvidos pelo cientista Charles Goodyear desenvolveu o processo de vulcanização através do qual a resistência e a elasticidade da borracha foram sensivelmente aprimoradas.

A vulcanização possibilitou a ampliação dos usos da borracha, que logo seria utilizada como matéria-prima na produção de correias, mangueiras e sapatos. A região amazônica, uma das maiores produtoras de látex, aproveitou do aumento transformando-se no maior pólo de extração e exportação de látex do mundo. No curto período de três décadas, entre 1830 e 1860, a exportação do látex amazônico foi de 156 para 2673 toneladas.

A mão-de-obra utilizada para a extração do látex nos seringais era feita com a contratação de trabalhadores vindos, principalmente, da região nordeste. Os seringueiros adotavam técnicas de extração indígenas para retirar uma seiva transformada em uma goma utilizada na fabricação de borracha. Não constituindo em uma modalidade de trabalho livre, esses seringueiros estavam submetidos ao poder de um “aviador”. O aviador contratava os serviços dos seringueiros em troca de dinheiro ou produtos de subsistência.

A sistemática exploração da borracha possibilitou um rápido desenvolvimento econômico da região amazônica, representado principalmente pelo desenvolvimento da cidade de Belém. Este centro urbano representou a riqueza obtida pela exploração da seringa e abrigou um suntuoso projeto arquitetônico profundamente inspirado nas referências estéticas européias. Posteriormente atingindo a cidade de Manaus, essas transformações marcaram a chamada belle époque amazônica.

No início do século XX, a supremacia da borracha brasileira sofreu forte declínio com a concorrência promovida pelo látex explorado no continente asiático. A brusca queda do valor de mercado fez com que muitos aviadores fossem obrigados a vender toda sua produção em valores muito abaixo do investimento empregado na produção. Entre 1910 e 1920, a crise da seringa amazônica levou diversos aviadores à falência e endividou os cofres públicos que estocavam a borracha na tentativa de elevar os preços.

Esse duro golpe sofrido pelos produtores de borracha da região norte ainda pode ser compreendido em razão da falta de estímulo do governo imperial. Atrelado ao interesse econômico dos cafeicultores, o governo monárquico não criou nenhuma espécie de programa de desenvolvimento e proteção aos produtores de borracha. Em certa ocasião, atendendo ao pedido de industriais norte-americanos, chegou a proibir que o governo do Pará criasse taxas alfandegárias protecionistas maiores aos exportadores estrangeiros.

Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as indústrias passaram a adotar uma borracha sintética que poderia ser produzida em ritmo mais acelerado. Essa inovação tecnológica acabou retraindo significativamente a exploração da seringa na Floresta Amazônica. No entanto, até os dias de hoje, a exploração da borracha integra a economia da região norte do Brasil.

Por Rainer Sousa

Graduado em História
Equipe Brasil Escola

O Primeiro Ciclo da Borracha

1850-1912

          A  Hevea Bralisiensis ( nome Científico da seringueira) já era conhecida e utilizada pelas civilizações da América Pré-Colombiana, como forma de pagamento de tributos ao monarca reinante e para cerimônias religiosas. Na Amazônia, os índios Omáguas e Cambebas utilizavam o látex para fazer bolas  e outros utensílios para o seu dia-a-dia.

         Coube  a Charles Marie de La Condamine e François Fresneau chamar a atenção dos cientistas e industriais para as potencialidades contidas na borracha. Dela, podia ser feito, borrachas de apagar, bolas, sapatos, luvas cirúrgicas etc...

         Precisamente no ano de 1839, Charles Goodyear descobriu o processo de Vulcanização que consistia em misturar enxofre com borracha a uma temperatura elevada ( 140º /150º) durante certo número de horas, Com esse processo, as propriedades da borracha não se alteravam pelo frio, calor, solventes comuns ou óleos,

        Thomas Hancock, foi o primeiro a executar com sucesso um projeto de manufatura de borracha em larga escala. Em 1833 surgiu a primeira indústria americana de borracha,a Roxbury Índia Rubber Factory, posteriormente outras fábricas se instalaram na Europa.

         Com o processo de vulcanização, as primeiras fábricas de beneficiamento de borracha e com a indústria automobilística surgindo nos Estados Unidos ( Henry Ford- carros Ford T-20) possibilitou o crescimento da produção de borracha nos seringais amazônicos. A região amazônica era uma área privilegiada por ter diversos seringais.

         Apesar desse surto econômico favorável para a Amazônia brasileira, havia um sério problema para a extração do látex, a falta de mão-de-obra, o que foi solucionado com a chegada à região de nordestinos ( Arigós) que vieram fugindo da seca de 1877 e, com o sonho de enriquecer e voltar para o nordeste. A grande maioria cometeu um ledo engano, pois encontraram uma série de dificuldades como: Impaludismo ( Malária), índios e , sobretudo, a exploração dos seringalistas, o que impossibilitou a concretização deste sonho.

        Em relação ao número de nordestinos que vieram para a Amazônia brasileira, há uma divergência entre os diversos historiadores amazônicos. Alguns chegam a escrever que vieram 300.000 nordestinos e outros, 150.000 nordestinos nesse ciclo.

        A exploração dos seringalistas sobre o seringueiro é evidente neste período. Os seringalistas compravam das Casas Aviadoras, sediadas em Belém do Pará e Manaus os mantimentos para os seringais e, pagavam a essas casas, com a produção de borracha feita pelos seringueiros, que , por sua vez, trabalhavam exaustivamente nos seringais para poder pagar sua dívida contraída nos barracões dos seringais. Os seringueiros dificilmente tinham lucro, porque eram enganados pelo gerente ou pelo seringalista, esse sim, obtinha lucro e gastava o dinheiro em Belém do Pará, Manaus ou Europa.

        Os seringais amazônicos ficavam às margens de rios como: Madeira, Jaci-Paraná, Abunã, Juruá, Purus, Tapajós, Mamoré, Guaporé, Jamary etc...

        Em 1876, Henry Alexander Wyckham contrabandeou 70.000 sementes de seringueiras da região situada entre os rios Tapajós e Madeira e as mandou para o Museu Botânico de Kew, na Inglaterra. Mais de 7.000 sementes brotaram nos viveiros e poucas semanas depois, as mudas foram transportadas para o Ceilão e Malásia.

        Na região asiática as sementes foram plantadas de forma racional e passaram a contar com um grande número de mão-de-obra, o que possibilitou uma produção expressiva, já nom ano de 1900. Gradativamente, a produção asiática vai superando a produção amazônica e, em 1912 há sinais de crise, culminando em 1914, com a decadência deste ciclo  na Amazônia brasileira.

       Para a economia brasileira , este ciclo teve suma importância nas exportações, pois em 1910, a produção de borracha representou 40 % das exportações brasileiras.

       Para a Amazônia, o 1º Ciclo da Borracha foi importante pela colonização de nordestinos na região e a urbanização das duas grandes cidades amazônicas: Belém do Pará e Manaus.

ECONOMIA
- Por causa da crescente demanda internacional por borracha, a partir da segunda metade do século XIX, em 1877, os seringalistas com a ajuda financeira das Casas Aviadoras de Manaus e Belém, fizeram um grande recrutamento de nordestinos para a extração da borracha nos Vales do Juruá e Purus.
- De 1877 até 1911, houve um aumento considerável na produção da borracha que, devido às primitivas técnicas de extração empregada, estava associado ao aumento do emprego de mão-de-obra.
- O Acre chegou a ser o 3° maior contribuinte tributário da União. A borracha chegou a representar 25% da exportação do Brasil.
- Como o emprego da mão-de-obra foi direcionado à extração do látex, houve escassez de gêneros agrícolas, que passaram a ser fornecidos pelas Casas Aviadoras.

Sistema de Aviamento
- Cadeia de fornecimento de mercadorias a crédito, cujo objetivo era a exportação da borracha para a Europa e EUA. No 1° Surto, não sofreu regulamentações por parte do governo federal. AVIAR= fornecer mercadoria a alguém em troca de outro produto.
- O Escambo era usual nas relações de troca - as negociações eram efetuadas, em sua maioria, sem a intermediação do dinheiro.
- Era baseado no endividamento prévio e contínuo do seringueiro com o patrão, a começar pelo fornecimento das passagens.
- Antes mesmo de produzir a borracha, o patrão lhe fornecia todo o material logístico necessários à produção da borracha e à sobrevivência do seringueiro. Portanto, já começava a trabalhar endividado. Nessas condições, era quase impossível o seringueiro se libertar do patrão.

"O sertanejo emigrante realiza ali, uma anomalia, sobre a qual nunca é demasiado insistir: é o homem que trabalha para escravizar-se". Euclides da Cunha.

SOCIEDADE
(Seringalista x Seringueiro)
Seringal: unidade produtiva de borracha. Local onde se travavam as relações sociais de produção.
Barracão: sede administrativa e comercial do seringal. Era onde o seringalista morava.
Colocação: era a área do seringal onde a borracha era produzida. Nesta área, localizava a casa do seringueiro e as "estradas" de seringa. Um seringal possuía várias colocações.
Varadouro: pequenas estradas que ligam o barracão às colocações; as colocações entre si; um seringal a outro e os seringais às sedes municipais. Através desses trechos passavam os comboios que deixavam mercadorias para os seringueiros e traziam pélas de borracha para o barracão.
Gaiola: navio que transportava nordestino de Belém ou de Manaus aos seringais acreanos.
Brabo: Novato no seringal que necessitava aprender as técnicas de corte e se aclimatar à vida amazônica.
Seringalista (coronel de barranco): dono do seringal, recebiam financiamento das Casas Aviadoras.
Seringueiro: O produtor direto da borracha, quem extraia o látex da seringueira e formavam as pélas de borracha.
Gerente: "braço-direito" do seringalista, inspecionava todas as atividades do seringal.
Guarda-livros: responsável por toda a escrituração no barracão, ou seja, registrava tudo o que entrava e saía.
Caixeiro: Coordenava os armazéns de viveres e dos depósitos de borracha.
Comboieiros: responsáveis de levar as mercadorias para os seringueiros e trazer a borracha ao seringalista.
Mateiro: identificava as áreas da floresta que continha o maior número de seringueiras.
Toqueiro: Abriam as "estradas".
Caçadores: abastecia o seringalista com carne de caça.
Meeiro: seringueiro que trabalhava para outro seringueiro, não se vinculando ao seringalista.
Regatão: negociantes fluviais que vendiam mercadorias aos seringueiros a um preço mais baixo que os do barracão.
Adjunto: Ajuda mútua entre os seringueiros no processo produtivo.
- Havia alta taxa de mortalidade no seringal: doenças, picadas de cobra e parca alimentação.
- Os seringueiros eram, em sua maioria, analfabetos;
- Predominância esmagadora do sexo masculino.
- A agricultura era proibida, o seringueiro não podia dispensar tempo em outra atividade que não fosse o corte da seringa. Era obrigado a comprar do barracão.

CRISE (1913)
- Em 1876, sementes de seringa foram colhidas da Amazônia e levadas a Inglaterra por Henry Wichham.
- As sementes foram tratadas e plantadas na Malásia, colônia inglesa.
- A produção na Malásia foi organizada de forma racional, empregando modernas técnicas, possibilitando um aumento produtivo com custos baixos.
- A borracha inglesa chegava ao mercado internacional a um preço mais baixo do que a produzida no Acre. A empresa gumífera brasileira não resistiu à concorrência Inglesa.
- Em

1913, a borracha cultivada no Oriente (48.000 toneladas) superava a produção amazônica (39.560t). Era o fim do monopólio brasileiro da borracha.
- Com a crise da borracha amazônica, surgiu no Acre uma economia baseada na produção de vários produtos agrícolas como mandioca, arroz, feijão e milho.
- Castanha, madeira e o Óleo de copaíba passaram a ser os produtos mais exportados da região.
- As normas rígidas do Barracão se tornaram mais flexíveis. O seringueiro passou a plantar e a negociar livremente com o regatão.
- Vários seringais foram fechados e muitos seringueiros tiveram a chance de voltar para o nordeste.
- Houve uma estagnação demográfica;
- Em muitos seringais, houve um regresso a economia de subsistência.

CONSEQÜÊNCIAS


- Povoamento da Amazônia.
- Genocídio indígena provocado pelas "correrias", ou seja, expedições com o objetivo de expulsar os nativos de suas terras.
- Povoamento do Acre pelos nordestinos;
- Morte de centenas de nordestinos, vítimas dos males do "inferno verde".
- Revolução Acreana e a conseqüente anexação do Acre ao Brasil (1889-1903);
- Desenvolvimento econômico das cidades de Manaus e Belém;
- Desenvolvimento dos transportes fluviais na região amazônica;

Eduardo de Araújo Carneiro, licenciado em História pela UFAC, concludente do Curso de Economia/UFAC e está se especializando em linguística e literatura da Amazônia. É professor de História do Universo Pré-Vestibular no Acre.

GLOSSÁRIO

Casa Aviadoras: Casa Comerciais que forneciam mercadorias aos seringalistas. Geralmente situadas em Belém do Pará e Manaus.

Barracão : Sede administrativa do seringal, onde morava o gerente ou o dono do seringal. A borracha colhida pelos seringueiros era trazida para este local e, os seringueiros compravam os gêneros de que necessitavam.

Seringal : Espaço geográfico onde existem seringueiras de onde se extraía a goma elástica ( Látex).

Seringalista : Dono do seringal que explorava o trabalho do seringueiro.

Colocação : Local onde morava o seringueiro.

Estrada : Local onde o seringueiro extraía a borracha.

Brabo : Seringueiro que não sabia cortar a seringueira.

O 2º Ciclo da   Borracha

1942 -1945 2ª Guerra Mundial

          Na Segunda Guerra Mundial ( 1939-1945) o Japão, aliado da Alemanha e da Itália ( países do Eixo) conquista e ocupa o Sudeste Asiático área que produzia borracha e, os aliados ficam sem esse importante produto para a sua indústria.

          Os Estados Unidos que entraram na guerra em decorrência do ataque japonês a base americana de Pearl Harbour no Havaí, necessitava da borracha para a sua indústria. O presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt e o presidente do Brasil Getúlio Dorneles Vargas, assinaram os Acordos de Washington ( 1942), pelo qual o Brasil comprometia-se a reativar os seringais amazônicos, através de uma operação conjunta com os EUA. O Brasil entrou com os seringais, mão-de-obra e 58% de capital para a criação do Banco de Crédito da Borracha. Os EUA entraram com 42% de capital para o Banco de Crédito da Borracha e, forneciam meios para a produção, transporte e escoamento.

         Inicialmente, os norte-americanos investiram 5 milhões de dólares para serem aplicados pelo Instituto Agronômico do Norte, nas pesquisas científicas para a melhoria e fomento da produção e mais 5 milhões de dólares para o saneamento a ser feito pela Fundação Rockfeller. Esses  acordos proporcionaram à região, a montagem de um esquema logístico institucional do qual participou ativamente o governo brasileiro com o apoio norte-americano, abrindo-se muitas frentes operacionais e estratégicas na área.

         Os objetivos no entanto, de um e de  outro governo, eram em certo ponto conflitante, os norte-americanos tinham seus interesses marcado pela urgência e pelo prazo curto, enquanto o governo brasileiro tinha o interesse voltado para o permanente e o duradouro desejo de manter na Amazônia uma política de desenvolvimento.

         Com o apoio financeiro dos EUA, o governo brasileiro montou uma infra-estrutura que possibilitou aos seringais uma expressiva produção. A infra-estrutura criada foi a seguinte:

SEMTA ( Serviço de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia) e CAETA (  Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia) com o objetivo de recrutar, encaminhar e colocar trabalhadores, principalmente nordestinos, nos seringais, sob a supervisão do Departamento Nacional de Imigração.

SAVA ( Superintendência de Abastecimento da Vale Amazônico) que fazia o abastecimento direto dos seringais com gêneros de primeira necessidade.

RRC  ( Rubber Reserve Company) que passou a posteriormente a denominar-se  RDC ( Rubber Devenlopment Company) encarregada de transporte de passageiros e de suprimentos através da SAVA.

SESP (  Serviço Especial de Saúde Pública): foi criado para promover o melhoramento urbano, o combate a Malária e o saneamento

Banco da Borracha-1942 : Que realizava operações de crédito, fomento à produção e financiamento aos seringalistas. O Banco exercia o monopólio da compra e venda da borracha.

Criação de Territórios : Território do Guaporé ( hoje Rondônia), Rio Branco ( hoje Roraima) e Amapá, em 1943, iniciando-se assim o processo de reorganização do espaço político amazônico.

           O movimento migratório da Batalha da Borracha, que se desenvolveu no decorrer dos anos de 1941 e início de 1943, adquiriu um novo colorido com a chegada a partir de 1943 e durante os anos de 1944/1945, de novos contingentes humanos, os nordestinos que ficaram sendo conhecidos como soldados da borracha.

            A diferença entre essas duas correntes de migrantes era flagrante, enquanto a primeira se constituía na sua maioria de cearenses que se deslocavam do interior. A partir de 1943 até 1945, provinha dos centros urbanos, geralmente composta de homens solteiros ou desgarrados de sua parentela, muito deles desempregados ou sem profissão definida, vinham para a Amazônia pelo simples sabor da aventura  e para fugir à convocação para a FEB ( Força Expedicionária Brasileira) que lutava na Itália,

           Com o término da Guerra em 1945, foram liberadas as plantações de borracha da região asiática, cessando o interesse norte-americano pela borracha produzida na Amazônia, que passou  a acumular em estoques crescentes, já que o mercado interno não tinha capacidade de absorver toda a produção. A tentativa de produzir borracha ainda permaneceu até os idos de 1960. A partir desta data, paulatinamente a produção de borracha cai, ocasionando o fim desse ciclo.

2º Ciclo da Borracha- Nº de Migrantes Nordestinos

Ano

Homens

Mulheres

Total

1941

13.910

8.267

22.177

1942

17.928

9.023

26.951

1943

24.399

9.419

33.818

1944

27.139

10.287

37.426

1945

21.807

9.959

31.766

Total

105.183

46.955

152.138

Fonte: Benchimol, Samuel.Amazônia: um pouco antes-além depois.

1858: Entrada de nordestinos para os seringais do rio madeira e Purus: 5000 pessoas. 

Fonte: Arthur Cezar Ferreira

Porque os seringueiros eram chamados soldados da borracha?

Soldados da Borracha foram os brasileiros que entre 1943 e 1945 foram alistados e transportados para a Amazônia pelo Semta, com o objetivo de extrair borracha para os Estados Unidos da América (Acordos de Washington) na II Guerra Mundial.

O que significa soldados da borracha?

Os soldados da borracha são trabalhadores recrutados na 2ª Guerra Mundial, principalmente da Região Nordeste, para a extração do látex na Floresta Amazônica. A proposta de emenda constitucional que previu esse benefício foi promulgada pelo Congresso Nacional em maio do ano passado.

Como a borracha era conhecida na região no período do ciclo da borracha?

Manaus ficou conhecida como a "Paris dos Trópicos" durante o Ciclo da Borracha, enquanto Belém ficou conhecida como "Paris n'America".

Como era recrutados os trabalhadores para os seringais no segundo ciclo da borracha?

A mão-de-obra utilizada para a extração do látex nos seringais era feita com a contratação de trabalhadores vindos, principalmente, da região nordeste. Os seringueiros adotavam técnicas de extração indígenas para retirar uma seiva transformada em uma goma utilizada na fabricação de borracha.