O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

Lidar com birra de crianças não é nada fácil. O problema ganha uma proporção ainda maior quando esses ataques de raiva e frustração convergem em parada cardíaca. É o que acontece com a pequena Charlie, de 3 anos.

Os pais dela, Rebecca Barrow, 29, e Andrew Drinkwater, 41, contaram ao jornal britânico Metro que precisam estar constantemente atentos. Pelo menos uma vez na semana, eles têm que recorrer a manobras de ressuscitação cardiopulmonar na menina.

“Pode ser a coisa mais aterrorizante ter a vida de seu filho em suas mãos – mas tento não pensar nisso demais”, diz Rebecca.

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

Crédito: Reprodução/FacebookCondição rara faz menina sofrer parada cardíaca

Segundo ela, os médicos perceberam ainda na gestação que havia algo errado com a menina. Ela foi diagnosticada com espinha bífida, que é quando a medula espinhal não se desenvolve adequadamente no útero.

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Depois que a menina nasceu, também foi  observado outro problema: malformação de Chiari, uma condição rara, que ocorre quando o tecido cerebral se estende até o canal espinhal. Isso pode acontecer se o crânio for anormalmente pequeno ou deformado, o que pressiona o cérebro para baixo.

Tudo isso implica em sérias complicações para o sistema respiratório e o coração.

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

Crédito: PA Real LifeCharlie tem uma série de problemas de saúde graves, incluindo malformação de Chiari

Rebecca diz o problema geralmente começa com um típico acesso de raiva, em que a criança prende a respiração para chamar atenção dos pais. Mas, ao contrário de outras crianças, cujos cérebros as forçam a respirar, o dela não faz isso.

“Em vez disso, ela prende a respiração ao ponto de ter parada respiratória ou cardíaca. Se for respiratório, ela começará a ficar azulada e se for o coração, ela ficará com uma cor cinza-esbranquiçada”, conta a mãe.

Quando é respiratório, os pais usam um reanimador auto-inflável – para bombear o ar para os pulmões e trazê-la de volta. Mas quando é uma parada cardíaca, precisam fazer a massagem com compressões torácicas, o que, segundo a mãe, acontece uma vez por semana.

Mais sobre malformação de Chiari

Segundo o Johns Hopkins Medicine, criança com malformação de Chiari tem um defeito congênito (presente no nascimento) que ocorre na conexão da parte de trás da cabeça com a coluna vertebral. Este distúrbio geralmente causa uma protrusão na parte de trás da cabeça.

Ainda não se sabe a causa exata dessa condição. Os médicos suspeitam que seja causada durante a gravidez e pode ser devido ao contato do  bebê com substâncias perigosas. Também pode estar ligado à problemas genéticos que ocorrem na família, falta de nutrientes na dieta, infecção ou consumo de drogas e álcool.

Existem quatro tipos de malformações de Chiari:

Tipo 1 – este tipo ocorre de forma não perceptível até que o problema agrave-se na adolescência ou na fase adulta. As dores de cabeça, sintoma mais típico no tipo 1 da malformação Chiari, estão geralmente localizadas  na parte de trás da cabeça e são muitas vezes agravadas pelo esforço.

Tipo 2 –  é o mais comum e é causado pelo deslocamento da parte posterior do cérebro para baixo através da parte inferior do crânio. Esse tipo é geralmente visto em criança com espinha bífida.

Tipo 3 – ocorre quando a parte de trás do cérebro sobressai pela abertura na parte de trás da área do crânio.

Tipo 4 – ocorre quando a parte posterior do cérebro não se desenvolve normalmente.

Um dos piores cenários, seja na emergência ou no pré-hospitalar, é o da parada cardiorrespiratória (PCR). Devido à necessidade de atuação imediata e coordenada, foram criadas metodologias de sistematização do atendimento com o intuito de melhorar a sobrevida após o evento. Na faixa etária da pediatria, temos o PALS (Pediatric Advanced Life Support) ou, em portugês, SAVP (Suporte Avançado de Vida em Pediatria) como forma de sistematização do atendimento.

Não podemos esquecer que na pediatria a maior parte das PCRs ocorre como desfecho de uma piora respiratória (hipóxia) ou cardiocirculatória progressiva. Nas crianças, os principais ritmos cardíacos que indicam PCR são: bradicardia, assistolia e AESP.

Reconhecimento da PCR

Ao encontrar uma criança desacordada, a prioridade é garantir a segurança da cena.

O próximo passo é testar sua responsividade com um estímulo verbal e um tátil (em lactentes, damos suaves batidas nas plantas dos pés; em crianças mais velhas, leves batidas nos ombros). Na ausência de resposta devemos – imediatamente – chamar ajuda: ligar para o SAMU (192) se for um ambiente extra hospitalar ou trazer carrinho de parada/DEA em situações hospitalares. 

Agora, devemos checar a respiração e os pulsos centrais:

  1. Expomos o tórax do paciente para melhor visualização;
  2. Checamos simultaneamente o pulso e a respiração em até 10 SEGUNDOS:
  3. Até 1 ano: PULSO BRAQUIAL

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

     b.   Acima de 1 ano,  o PULSO CAROTÍDEO ou o FEMORAL

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

Se após esses 10 segundos percebemos que a criança não respira e não tem pulso ou apresenta frequência cardíaca < 60 bpm e sinais de hipoperfusão, diagnosticamos uma parada cardiorespiratória.  

PCR confirmada! E agora?

Iniciamos IMEDIATAMENTE o algoritmo da RCP. Na faixa etária pediátrica, como a principal causa de parada cardiorrespiratória é a HIPÓXIA, preconiza-se a sequência C-A-B, dando ênfase às compressões torácicas.

É imprescindível realizar uma RCP de alta qualidade, por isso não podemos esquecer de:

  • Manter o paciente em uma superfície rígida e plana;
  • Posicionar adequadamente para a realização das compressões:
    • Em < 1 ano:
      • 1 socorrista: usar técnica dos 2 dedos, no centro do tórax, logo abaixo da linha mamilar;

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Técnica dos 2 dedos. Fonte: PALS 2020

  • 2 socorristas: usar técnica dos 2 polegares, no centro do tórax, logo abaixo da linha mamilar;

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Técnica dos 2 polegares. Fonte: PALS 2020

  • Em  > 1 ano:
  • Duas mãos sobre a metade inferior do esterno.
  • Comprimir efetivamente
    • Compressão de pelo menos ⅓ do diâmetro anteroposterior do tórax:
      • Em média de 4 cm em menores de 1 ano e 5 cm em maiores de 1 ano;
    • Frequência de 100-120 compressões por minuto;
    • Permitir retorno total do tórax;
  • Coordenar compressão e ventilação:
    • 1 socorrista: 30 compressões para 2 ventilações;
    • 2 socorristas: 15 compressões para 2 ventilações;
  • Minimizar as interrupções nas compressões por no máximo 10 segundos.

Enquanto as compressões são realizadas, devemos garantir fornecimento de oxigênio a 100% por meio do dispositivo bolsa-válvula-máscara (mais conhecido como AMBU), monitorização cardíaca, oxímetro de pulso e um acesso venoso periférico.

Dando continuidade ao algoritmo, sem interromper as compressões (“C”), passamos para o “A”: vias aéreas! Nesse momento, devemos retificar a via aérea da criança com as manobras de elevação do queixo  e anteriorização da mandíbula. Além disso, devemos colocar um coxim para facilitar o posicionamento (em < 1 ano, na região dos ombros; nos >  1 ano, na região occipital).

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Colocação correta dos coxins conforme idade. À esquerda, coxim na região occipital. À direita, coxim na região dos ombros. Fonte: PALS 2020

A assistência à ventilação, considerando que estamos em ambiente hospitalar, deve ser realizada – inicialmente – com o dispositivo bolsa-válvula-máscara, sendo ofertado oxigênio sempre a 100% de FiO2. Atenção na hora de escolher uma máscara! Ela deve cobrir desde a ponte nasal até o queixo.

Uma vez com o dispositivo completo (AMBU + máscara), utilizamos a técnica do “CE” para a correta vedação da máscara à face. Nessa técnica, os dedos polegar e indicador formam o “C” sobre a máscara. Os terceiro, quarto e quinto dedos foram o “E”, tracionando a mandíbula.

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Técnica do “CE”. Fonte: https://blog.maconequi.com.br/como-utilizar-um-ambu/

Mantemos esse fluxo até que o monitor cardíaco ou DEA seja instalado e – com isso – possamos avaliar o ritmo cardíaco. Agora, damos início a uma nova etapa: a ressuscitação avançada.

Carrinho de parada chegou, o que fazer?

A partir do momento em que o carrinho de parada está disponível, interrompe-se as compressões e checa-se o pulso e o ritmo cardíaco no monitor. Avaliamos então se estamos lidando com uma PCR por um ritmo chocável (fibrilação ventricular ou taquicardia ventricular sem pulso) ou por um ritmo não chocável (assistolia ou atividade elétrica sem pulso).

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Taquicardia ventricular sem pulso (TVSP). Fonte: PALS

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Fibrilação ventricular (FV). Fonte: PALS

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Atividade elétrica sem pulso (AESP). Fonte: PALS

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Assistolia. Fonte: PALS

Frente a um ritmo chocável (FV ou TVSP), não há dúvidas: desfibrilação. 

A dose é progressiva: 2 J/Kg na primeira tentativa, 4 J/Kg na segunda, 6 J/Kg na terceira, 8 J/Kg na quarta, 10 J/Kg na quinta e nas subsequentes.

Para a aplicação do choque, pode-se utilizar as pás autoadesivas (fáceis de aplicar e menos risco de faíscas de corrente) ou as manuais. 

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

Aplique as pás de modo que o coração fique entre elas: uma no lado superior direito do tórax (abaixo da clavícula direita) e a outra à esquerda do mamilo esquerdo (na linha axilar anterior). As pás não podem se tocar, ok? Deixe – pelo menos – 3 cm entre elas.

Após a aplicação do choque (lembre-se de avisar toda a equipe antes de aplicá-lo!), as compressões torácicas devem ser reiniciadas IMEDIATAMENTEe mantidas – junto com as ventilações – até completar um ciclo de 2 minutos. Checa-se novamente o pulso e o ritmo. Se o paciente retomar a circulação, indicaremos os cuidados pós-parada. Caso ele continue em PCR e com ritmo chocável, indicaremos o segundo choque com carga de 4 J/Kg.

Além da desfibrilação, a partir do segundo choque indica-se a adrenalina, que pode ser realizada endotraqueal ou endovenosa. 

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

A partir da segunda desfibrilação, além da adrenalina, geralmente indica-se uma via aérea avançada (intubação orotraqueal) para garantir ventilação adequada e minimizar as interrupções durante as compressões.

Após um novo ciclo de 2 minutos, checa-se pulso e ritmo. Caso haja persistência da PCR e do ritmo chocável, indica-se o terceiro choque (6 J/Kg) e a realização de um antiarrítmico: amiodarona ou lidocaína.

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

A partir desse momento, o algoritmo se repete até a retomada da circulação OU a determinação da parada da RCP. 

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Algoritmo nos ritmos chocáveis. Fonte: PALS 2020

E nos ritmos não chocáveis? Não há indicação de desfibrilação. Iremos realizar as compressões torácicas de alta qualidade, associadas à ventilação, e administrar a adrenalina a cada 3-5 minutos. Aqui também não realizaremos os antiarrítmicos (amiodarona ou lidocaína).

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?
Algoritmo nos ritmos não chocáveis. Fonte: PALS 2020

Frente a qualquer caso de parada cardiorespiratória, precisamos investigar e tratar as principais causas reversíveis: os 6 Hs e 5 Ts.

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

Via aérea no PALS

Existem diferentes dispositivos que podem ser utilizados na PCR para garantir a via aérea: a cânula orofaríngea (o famoso Guedel – utilizada apenas em pacientes inconscientes); a cânula nasofaríngea e a máscara laríngea. 

Por fim, temos a intubação orotraqueal. Antes de qualquer tentativa, devemos escolher e checar adequadamente os materiais necessários. Utilizamos a lâmina reta do laringoscópio em < 4 anos (lembrem-se que pinçamos a epiglote) e a curva em maiores de 4 anos.  Para o tamanho do tubo, aplicamos a seguinte regra entre 2 a 10 anos:

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

Uma vez realizada a intubação orotraqueal, precisamos avaliar se a cânula está bem posicionada. Para isso podemos avaliar a expansibilidade torácica (avaliar se está simétrica), auscultar os campos pulmonares e estômago, avaliar a oximetria de pulso e – o padrão ouro – a capnografia em forma de onda.

E se meu paciente apresenta deterioração clínica após a IOT? Precisamos pensar e agir rapidamente! Seguindo esse mnemônico chegamos nas principais causas da piora clínica:

O que pode causar uma parada respiratória em uma criança?

O paciente voltou, e agora?

Após o retorno da circulação espontânea (RCE), é hora de darmos uma ajeitada na situação. Os cuidados pós-parada são tão importantes quanto os passos anteriores. 

De forma geral, iremos otimizar a oxigenação (mantendo saturação de oxigênio acima de 94%) para reduzir o risco de lesão por reperfusão; providenciaremos via aérea definitiva ou avaliaremos posicionamento do tubo endotraqueal (se o paciente já estiver intubado); manteremos suporte hemodinâmico (iniciar drogas vasoativas caso necessário, evitando a hipotensão arterial); corrigiremos possíveis distúrbios hidroeletrolíticos; manteremos normoglicemia e normotermia.

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O que causa parada respiratória em criança?

A causa mais comum de PCR em bebês e crianças é a hipóxia, mas a parada cardiorrespiratória também pode surgir por conta de algum outro quadro que vem se arrastando, infeccioso, respiratório ou de outro tipo.

O que leva a uma parada respiratória?

A parada respiratória é a parada súbita da respiração, ou seja, a parada dos movimentos de inspiração e expiração. Com isso, há falta de oxigênio nos tecidos do corpo, principalmente em órgãos vitais, que necessitam de um maior teor de oxigênio, como o coração e o cérebro.

Qual a causa mais comum de parada cardiorrespiratória em criança?

em crianças as principais etiologias da PCR pré-hospitalar são síndrome da morte súbita do lactente (20-60%), trauma (19-53%) e causas respiratórias (4-41%).

Quais são os sintomas de uma parada cardiorrespiratória em criança?

A RCP pediátrica é utilizada para reverter a parada cardiorrespiratória (PCR), situação muitas vezes multifatorial..
Asfixia;.
Obstrução das vias aéreas altas ou baixas;.
Intoxicações;.
Quadros infecciosos;.
Febre;.
Distúrbios hidroeletrolíticos;.
Sufocamento;.
Entre outros..