O que o texto indica sobre as relações entre Estados Unidos e China?

Entenda a tensão entre China e EUA com visita de Pelosi a Taiwan

Para o professor de relações internacionais Bruno Hendler, Taiwan se torna um "peão" manipulado pelas duas potências

O que o texto indica sobre as relações entre Estados Unidos e China?

Presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, em reunião com integrantes do governo de Cingapura durante visita oficial à Ásia Gabriela Mestre 02.ago.2022 (terça-feira) - 20h48

O Ministério das Relações Exteriores da China comunicou, nesta 3ª feira (2.ago.2022), que a visita da presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan, é uma provocação que tem levado à escalada de tensões na região e terá “impactos severos”.

Como pano de fundo da visita, a 1ª de um representante da Câmara dos EUA à região, estão o que a China chama de “forças secessionistas da ‘Independência de Taiwan'” endossadas pelos Estados Unidos. Apesar de ser governada de forma independente desde 1949, depois de uma guerra civil, a ilha de Taiwan é considerada pela República da China como seu território.

O que o texto indica sobre as relações entre Estados Unidos e China?

Na opinião do professor de relações internacionais da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) Bruno Hendler, o movimento dos EUA diz mais sobre a política externa norte-americana do que as relações entre China e Taiwan. Ao Poder360, Hendler considerou a política como “errática“, que leva a instabilidade.

O professor afirma que o discurso norte-americano é o mesmo de 25 anos atrás. “Porém, eles [Estados Unidos] estão usando o mesmo vocabulário para uma Ásia totalmente diferente, que gradualmente tem gravitado em torno da economia chinesa. Esses países dependem cada vez mais da China”, disse.

Para a China, Taiwan tem uma importância simbólica de orgulho e segurança nacional. Mas para os Estados Unidos, a região tem “função estratégica altíssima na lógica de contenção da China”, afirma o especialista. 

“Taiwan se torna um joguete, um peão a ser manipulado pelas duas potências“, diz Hendler. Ele explica, ainda, que a ilha funciona como um porta-aviões voltado para a China, que compõe uma cadeia de bases militares de países aliados dos Estados Unidos.

Para o professor, a China é a grande ameaça ao poder norte-americano, que historicamente é movido por conflitos estruturantes. “Não é um conflito aberto, mas é uma disputa, uma concorrência entre duas grandes potências. Eu vejo que o mundo tende a girar em torno desse G2″, afirma.

O QUE DIZEM OS LADOS

A diplomacia chinesa afirmou em seu comunicado que a visita resultará em consequências para a relação bilateral, que infringe a soberania territorial da China e “prejudica severamente a paz e a estabilidade” da região de Taiwan. “Tudo isto são atos muito perigosos como se brincasse com o fogo, e quem brinca com o fogo acaba se queimando”, declarou.

De acordo com a porta-voz do ministério de Relações Exteriores da China, Hua Chunying, o país tomará “medidas fortes e resolutas” para defender sua soberania e interesses de segurança. Já nesta 3ª feira (2.ago), o Ministério de Defesa Nacional da China informou que iniciará uma série de operações militares ao redor da ilha.

Hua Chunying disse em entrevista que os Estados Unidos devem tomar a inteira responsabilidade por escaladas de tensões em Taiwan. Para ela, a China está “apenas exercendo seu direito como qualquer país soberano independente faria”.

Os Estados Unidos, por sua vez, consideraram que a visita de Pelosi não mudaria sua política em relação à China. “Não há razão para Pequim transformar uma potencial visita consistente com a política de longa data dos EUA em algum tipo de crise ou conflito, ou usá-la como pretexto para aumentar a atividade militar agressiva dentro ou ao redor do Estreito de Taiwan”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.

Pelosi disse, em comunicado, que a visita “honra o compromisso inabalável dos Estados Unidos em apoiar a vibrante democracia de Taiwan”. Em publicação no Twitter, ela confirmou que as discussões com a liderança da ilha reafirmam o “apoio ao nosso parceiro e promovem nossos interesses compartilhados, incluindo o avanço de uma região do Indo-Pacífico livre e aberta”.

PRECEDENTES DA VISITA

O Ministério de Relações Exteriores da China tem relembrado o Comunicado Conjunto sobre o Estabelecimento das Relações Diplomáticas China-EUA, firmado pelos Estados Unidos em 1979. O compromisso reconhece o Governo da República Popular da China como o único legítimo do país.

A porta-voz do ministério de Relações Exteriores da China afirmou que a comunicação com os Estados Unidos tem se estreitado “em diferentes níveis e por diferentes canais” e, com isso, espera um entendimento claro dos oficiais norte-americanos sobre os “potenciais perigos” da visita. Desde julho, o ministério sinalizou possíveis consequências de uma visita de Pelosi à ilha.

A visita a Taiwan não estava prevista na agenda de Pelosi até o início de tour pela Ásia nesta 3ª feira (2.ago.), quando a autoridade norte-americana chegou em Cingapura. O movimento enfrentou resistências dos militares norte-americanos, e o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que o Pentágono não considerou a viagem como uma “boa ideia”. Pelosi já planejava visitar Taiwan em abril, mas adiou, por ter sido diagnosticada com Covid-19.

Em maio de 2022, Biden anunciou que estava disposto a usar a força para defender Taiwan de possíveis ataques chineses, depois de se reunir com o premiê do Japão, Fumio Kishida. “O pensamento de que [Taiwan] pode ser tomada à força, apenas tomada por força, simplesmente não é apropriado”, afirmou o presidente norte-americano.

Biden conversou sobre Taiwan com seu homólogo na China, Xi Jinping, em 28 de julho de 2022. Em um telefonema de 2 horas e 17 minutos, o chefe de Estado chinês se opôs à independência da região firmemente, bem como às interferências externas.

Do outro lado, a Casa Branca relatou que “Biden ressaltou que a política dos Estados Unidos não mudou e que os EUA se opõem fortemente aos esforços unilaterais para mudar o status quo ou minar a paz e a estabilidade de Taiwan”.

PRÓXIMOS PASSOS

O professor Hendler entende uma tendência de escalada dos conflitos “não porque a China fez um movimento de provocação, mas porque os norte-americanos fizeram esse movimento de provocação sem a menor necessidade”.

“Vamos ver se a China vai tomar alguma ação militar mais incisiva ou não, mas eu acho que a China, como o adulto na sala, vai acabar sendo mais moderada e botar panos quentes”, disse o professor. Segundo ele, a atitude de Xi Jinping “abaixar a cabeça” para os EUA pode afetar sua popularidade.

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Qual é a relação entre os Estados Unidos e a China?

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Como são as relações entre China e Estados Unidos economicamente?

Os dois países obtiveram ganhos recíprocos a partir da aproximação, por meio de fortes fluxos de investimento externo norte-americano na China e posterior fluxo de exportações chinesas para os EUA. Atualmente, é inegável a conclusão de que tais países apresentam economias com grande interdependência.

Como está a relação comercial entre Estados Unidos Brasil e China?

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