A teoria mais difundida sobre o povoamento das Américas dizia que os primeiros humanos teriam chegado ao continente pelo Estreito de Bering, entre a Rússia e os Estados Unidos, por volta de 12 mil anos atrás. A arqueóloga brasileira Niède Guidon, porém, encontrou no Piauí vestígios de fogões primitivos e utensílios de pedra lascada (material lítico) utilizados por caçadores há mais de 100 mil anos. Esses vestígios de presença humana foram descobertos em escavações arqueológicas feitas principalmente junto a abrigos rochosos naturais com muitas pinturas rupestres, no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO. Em reconhecimento ao seu trabalho, no dia 7 de junho, o Museu do Amanhã receberá a arqueóloga para uma homenagem às mulheres na ciência. A presença feminina na Ciência - Homenagem a Niède Guidon, acontece das 14h às 18h, aqui no nosso Auditório. Show
Niéde chegou ao Piauí em 1973, enquanto pesquisadora do Centre National de La Recherche Scientifique em Paris, e nunca mais saiu da região. Além de sacudir as teorias da arqueologia tradicional, ela fundou o Parque Nacional da Serra da Capivara, um conjunto de chapadas e vales inscrito pela Unesco na lista do Patrimônio Mundial. Prestes a completar 40 anos, o parque guarda mais de 100 sítios arqueológicos com pinturas e gravuras rupestres, além de outros vestígios que marcam a presença dos ancestrais. O espaço, atualmente, é administrado pela Fundação Museu do Homem Americano (Fundham), entidade presidida pela arqueóloga. Guardiã de um grande tesouro, Niéde defende que os primeiros humanos vieram para as Américas parando de ilha em ilha, numa época em que a África estava muito mais próxima e o nível do oceano bem mais baixo. “No ano passado, foi descoberto no México o esqueleto de uma jovem datado em 17 mil anos e exames mostraram que tinha DNA asiático e africano. Asiáticos teriam vindo pela América do Norte e africanos pelo nordeste do Brasil. Portanto, hoje, tudo está demonstrando que houve várias migrações para a América”, afirma a arqueóloga. Após a homenagem à arqueóloga-símbolo da Serra da Capivara, haverá debate sobre a presença feminina na ciência. Mediado por Sérgio Brandão, curador internacional da Mostra VerCiência, o evento e contará com as participações de Dimila Mothé, PhD em Paleontologia pelo Museu Nacional/UFRJ, Gabriela Antunes, PhD em Astronomia pelo Observatório Nacional e Maria Leão, doutoranda em Antropologia da Saúde pela UERJ. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Niède Guidon OMC • OLH (Jaú, 12 de março de 1933) é uma arqueóloga franco-brasileira conhecida mundialmente pela defesa de sua hipótese sobre o processo de povoamento das Américas e por sua luta pela preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí. Biografia[editar | editar código-fonte]Nascida no interior do estado de São Paulo, filha de pai francês e mãe brasileira, Niède Guidon possui dupla nacionalidade, tanto a francesa quanto a nacionalidade brasileira. Graduada em História Natural pela Universidade de São Paulo (1959), especializou-se em Arqueologia Pré-histórica, com ênfase em arte rupestre,[1] na Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne (1961-1962), e obteve o seu doutorado em Pré-história, pela mesma universidade (1975), com a tese intitulada Les peintures rupestres de Varzea Grande, Piauí, Brésil, sob a orientação de André Leroi-Gourhan.[2] A primeira notícia sobre o que viria a ser o Parque Nacional da Serra da Capivara chegou a ela em 1963, numa exposição de pinturas rupestres de Minas Gerais, realizada no Museu do Ipiranga. Lá, ela recebeu a visita do prefeito de Petrolina, que lhe falou da existência de pinturas semelhantes, no Piauí,[1] na região de São Raimundo Nonato, no sítio arqueológico de Coronel José Dias - a cerca de 525 km de Teresina. Porém, já em 1964, pouco depois daquele encontro, Niède teve que sair do Brasil. Ela conta:
Ela somente conseguiria visitar o Piauí em 1973, depois de ter estado cerca de oito anos fora do Brasil, lecionando na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris.[3][4] Em 1978, ela convenceu o governo francês a estabelecer uma missão arqueológica para estudar a pré-história no Piauí. Volta então ao Brasil (com passaporte francês), integrando a Missão Arqueológica Franco-Brasileira, uma iniciativa do Museu de História Natural de Paris para desenvolvimento de projetos de arqueologia. Até sua aposentadoria como docente, Niède Guidon seria a líder da missão, composta por pesquisadores nacionais e internacionais e assistentes de campo locais. Depois disso, a seu convite, Eric Boëda, pesquisador do CNRS e professor da Universidade de Paris, sucedeu-a na liderança.[5] Também em 1978, ela e outros pesquisadores solicitaram ao governo brasileiro a criação de uma área protegida na região da Serra da Capivara. O Parque Nacional da Serra da Capivara foi criado em 1979, abrangendo uma área protegida pela UNESCO.[6]
Foi também diretora-presidente da Fundação Museu do Homem Americano, sediada em São Raimundo Nonato, e hoje é presidente emérita.[7] Como arqueóloga chefe, Guidon foi responsável pela preservação, desenvolvimento e gerenciamento dos projetos arqueológicos do Parque. Ela e seus colegas descobriram mais de 800 sítios pré-históricos, que contribuíram para esclarecer o processo de povoamento das Américas. Desses sítios, mais de 600 contêm pinturas. Em Pedra Furada, ela e seus colegas escavaram um sítio arqueológico de arte rupestre para descobrir evidências de uma cultura paleoamericana que eles acreditam ser de c. 30.000 anos A.P., [8] datação muito mais antiga do que a preconizada por teorias anteriores acerca dos primeiros habitantes na área.[9] Niède registrou mais de 35.000 imagens arqueológicas e publicou inúmeros artigos e livros. A Pedra Furada, no Parque Nacional da Serra da Capivara. Suas descobertas vieram à tona pela primeira vez em 1986, com uma publicação na revista britânica Nature, na qual ela afirmou ter descoberto lareiras e artefatos humanos datados de c. 32,000 A.P.[10]. Embora a datação tenha suscitado controvérsia,[5] Guidon e seus colegas mostraram que a área foi ocupada por culturas de arte rupestre paleoamericanas e arcaicas - culturas que subsistiram com base na caça e coleta. Em 1988 ela iniciou uma parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), para facilitar a continuação de suas escavações. Pedra Furada[editar | editar código-fonte]O mais famoso sítio pré-histórico estudado por Guidon é a Toca do Boqueirão da Pedra Furada[11], no parque da Serra de Capivara, em São Raimundo Nonato, Piauí. Pedra Furada é um abrigo rupestre com 17 metros de profundidade; suas paredes são pintadas com mais de 1.150 imagens pré-históricas. Ali, Guidon encontrou milhares de artefatos que poderiam sugerir trabalhos manuais humanos - incluindo uma estrutura semelhante a uma fogueira, formada por troncos e pedras - que ela estima datarem de 48 700 anos A.P.[12] Ela acredita que humanos chegaram ao Brasil há cerca de 100 000 anos, provavelmente de barco, provenientes da África.[13] Os restos vegetais e animais recuperados dos níveis de c. 10 000 anos desse sítio e de níveis comparáveis de outro abrigo rochoso na Serra, o sitio de Perna, mostram que a área era mais úmida e mais florestada do que hoje. Todavia, o geoarqueólogo Michael R. Waters, da Universidade A&M do Texas, observou a ausência de evidências genéticas, nas populações modernas, para apoiar a reivindicação de Guidon.[14] A hipótese mais aceita, atualmente, sobre a chegada de humanos à América é a da passagem pelo
Estreito de Bering - embora haja outras menos populares. Por exemplo, a hipótese da passagem pelo Oceano Pacífico, que afirma que essas migrações, em direção às Américas, teriam vindo da Austrália, passando pelas ilhas - que eram então mais numerosas, em razão do nível do mar mais baixo.
Niède Guidon adere à segunda hipótese, além sustentar a hipótese de que os primeiros povoadores vieram pelo Atlântico, provenientes da África, o que explicaria vestígios datados de até 58 000 anos. [15]
Os achados arqueológicos de Guidon[16] levam a crer que o povoamento do continente americano tenha-se dado muito antes do que se supõe. Enquanto a hipótese mais aceita, acerca do povoamento das Américas, postula que os primeiros humanos chegaram no continente há 15,000 anos, alguns dos sítios arqueológicos estudados por Niède contêm artefatos que datam de até 58 000 anos AP. O problema dessa hipótese é que muitos dos artefatos (produtos do trabalho humano) encontrados por Guidon e sua equipe são considerados geofatos (produtos da ação de forças naturais) por alguns estudiosos. Os arqueólogos se dividem quanto à questão: alguns aceitam as evidências arqueológicas sem contestá-las; outros pensam que elas não são sólidas o suficiente para derrubar as antigas hipóteses. Em 2006, divulgaram-se os resultados das pesquisas de Eric Boeda, da Universidade de Paris, e Emílio Fogaça, da Universidade Católica de Goiás, segundo os quais os objetos achados por Niède, em 1978, no Boqueirão da Pedra Furada, foram realmente feitas por seres humanos e são datados de 33 000 a 58 000 anos, contrariando hipóteses anteriores.[17] Embora sua hipótese tenha lacunas, o acúmulo de evidências arqueológicas tende a fortalecer cada vez mais suas hipóteses. Seu trabalho resultou na descobertas de mais de 1 300 sítios arqueológicos e de centenas de fósseis, na região da caatinga brasileira.[18] Aposentadoria[editar | editar código-fonte]Por quase cinco décadas, Niède Guidon protagonizou as pesquisas arqueológicas na área de São Raimundo Nonato e lutou pela conservação do Parque,[19] até que, em 2020, aos 87 anos, as sequelas da chikungunya lhe causaram problemas nas articulações, obrigando-a a usar uma bengala para andar, e impossibilitando-a a fazer suas longas caminhadas pelo parque [1] - ela decidiu que estava na hora de parar.[20] Em dezembro do mesmo ano, o Governo Federal, na época representado pelo presidente Jair Bolsonaro, autorizou a concessão do Parque Nacional da Serra da Capivara - patrimônio cultural da humanidade atualmente vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) [21] - para exploração pelo setor privado.[22][23] Prêmios e honrarias[editar | editar código-fonte]Nacionais[editar | editar código-fonte]
Internacionais[editar | editar código-fonte]
Referências
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
Qual é a hipótese defendida pela arqueóloga Niède Guidon?Segundo Niède, o material arqueológico resgatado até agora no Piauí – alvo de controvérsias entre os estudiosos – indica que o homem chegou à região há cerca de 100 mil anos. A pesquisadora acredita que o Homo sapiens deve ter vindo da África por via oceânica, atravessando o Atlântico.
Por que a teoria defendida pela arqueóloga Niède Guidon é considerada polêmica?Resposta verificada por especialistas
A teoria defendida pela arqueóloga Niéde Guidon é considerada polêmica porque não há certeza se o material arqueológico encontrado por ela no Brasil é resultado da atividade humana ou foi produzido pela ação de forças naturais.
Como Niède Guidon explica o povoamento do continente americano?A teoria mais difundida sobre o povoamento das Américas dizia que os primeiros humanos teriam chegado ao continente pelo Estreito de Bering, entre a Rússia e os Estados Unidos, por volta de 12 mil anos atrás.
Por que alguns cientistas não aceitam as provas apresentadas por Niède Guidon sobre a presença humana na América?Outros cientistas, porém, não aceitaram as provas apresentadas por Niède Guidon, dizendo que o carvão encontrado por ela pode ter sido produzido por incêndios florestais e que as lascas de pedra podem ser resultado do esfacelamento das rochas; ou seja, esses materiais seriam resultado de fenômenos naturais, e não da ...
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