Formação e prática comunitária do psicólogo no âmbito do terceiro setor

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Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 2, 2004

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Psicologia & Sociedade 19, 30-37, 2007

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O psicólogo e a escola: uma introdução ao estudo da psicologia escolar 2, 2004

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49 2003

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Publicado em: 2020-08-25

Formação e prática comunitária do psicólogo no âmbito do terceiro setor
Estudos de Psicologia
ISSN: 1413-294X

Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Brasil
Lemos de Paiva, Ilana; Yamamoto, Oswaldo Hajime
Formação e prática comunitária do psicólogo no âmbito do "terceiro setor"
Estudos de Psicologia, vol. 15, núm. 2, mayo-agosto, 2010, pp. 153-160
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Natal, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26119148003
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Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
ISSN (versão eletrônica): 1678-4669
Formação e prática comunitária do psicólogo no âmbito do “terceiro
setor”
Ilana Lemos de Paiva
Oswaldo Hajime Yamamoto
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Resumo
O objetivo deste estudo é investigar a prática social do psicólogo no âmbito do “terceiro setor”, buscando
as estratégias utilizadas no enfrentamento das mazelas da questão social, bem como a formação necessária
para atuar no campo. Foram realizadas vinte entrevistas semi-estruturadas com psicólogos que atuam em
no “terceiro setor”. As entrevistas foram analisadas qualitativamente, à luz da perspectiva crítica, além dos
preceitos da Psicologia Comunitária e da Intervenção Psicossocial.Aperspectiva defendida neste estudo é que
os psicólogos devem intervir profissionalmente de forma proativa buscando o desenvolvimento, a organização
e a emancipação das pessoas, grupos e comunidades, promovendo mudanças efetivas nas suas vidas.
Palavras-chave: Psicologia Comunitária; Intervenção Psicossocial; “terceiro setor”; compromisso social; emancipação humana.
Abstract
Psychologist’s community training and practice at the “third sector”. The purpose of this study is to
investigate the social practice of psychologists working at the “third sector”, focusing the strategies used to face
the wounds of social issues and the professional training required for this practice. Semi-structured interviews
were conducted with twenty psychologists working at the “third sector”. The interviews were analyzed
in a qualitative way using a critical perspective derived from community psychology and psychosocial
intervention. We suggest that psychologists should work proactively pursuing the people’s, group’s and
communities’ development, organization and emancipation in order to promote real changes in their lives.
Keywords: community psychology; psychosocial intervention; “third sector”; social commitment; human emancipation.
F
alar sobre as mazelas da questão social no Brasil não se
trata de nenhuma novidade, tendo em vista que habitamos
um dos países mais desiguais do planeta.
Evidentemente, a Psicologia não poderia fechar os olhos
para os problemas sociais, já que somos profissionais inseridos
no campo do bem-estar. Mas, de que forma podemos lidar com
esse complexo fenômeno? Tais reflexões se fazem necessárias
e urgentes para nossa prática social, afinal, é para a atuação
neste cenário que estamos formando nossos profissionais de
Psicologia.
Fenômenos como pobreza e desigualdade social têm sido
tratados de formas distintas: ou não encaramos o problema de
frente, ou o olhamos de forma equivocada ou insuficiente para
compreendê-lo e enfrentá-lo.
Arealidade a nossa volta cria, então, inimigos invisíveis, que
assim se tornam porque não conseguimos (ou não queremos)
enxergá-los. Percebemos isso claramente nos discursos
dos profissionais que lidam com comunidades e sentem-se
impotentes diante dos problemas que enfrentam.
Dessa forma, é preciso ir além de uma concepção simplista
de inclusão social e perceber que “a sociedade exclui para incluir
e esta transmutação é condição da ordem social e desigual, o
que implica o caráter ilusório da inclusão” (Sawaia, 1999, p.8).
Concorda-se com Sawaia (1999) quando diz que em lugar
de exclusão, o que temos é a dialética exclusão/inclusão, pois
fazem parte do mesmo processo. E é justamente essa lógica
dialética que compreende a exclusão social como parte sine
qua non do sistema, o que leva à total negação das concepções
de adaptação e normatização, ou mesmo da culpabilização
individual relacionada à pobreza. Ainda segundo Sawaia
(1999): “o pobre é constantemente incluído, por mediações de
diferentes ordens, no nós que o exclui, gerando o sentimento de
culpa individual pela exclusão” (p. 9), e conclui que a exclusão
é processo que envolve o homem por inteiro e suas relações
com os outros. Não tem uma única forma e não é uma falha
do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a
Estudos de Psicologia, 15(2), Maio - Agosto/2010, 153-160
154
ordem social, ao contrário, ele é produto do funcionamento do
sistema. (Sawaia, 1999, p. 9, itálicos nossos)
Mesmo diante do quadro de miséria e violência que
vivenciamos no país, as perspectivas atuais apontam para a
redução do gasto público destinado às políticas sociais.
Com o enxugamento do Estado, o chamado “terceiro setor”
tem sido utilizado como estratégia política de enfrentamento às
mazelas da questão social, e tem se configurado como amplo
campo de atuação para o psicólogo.
Dentro da perspectiva adotada por este estudo, a Psicologia,
e o “terceiro setor” em geral, precisam compreender que o
excluído não está à margem da sociedade, mas ele repõe e
sustenta a ordem social, gerando sofrimento na lógica da inclusão
perversa presente no sistema social vigente, como afirmamos
anteriormente. Sendo assim, a preocupação é que as ações sociais
articuladas no âmbito do “terceiro setor” possam não considerar
a relação entre a lógica econômica e a coesão social anteriores
às situações de ruptura representadas pela exclusão.
Embora no nosso atual cenário político, social e econômico,
existam novos elementos, novas faces, novas expressões
imediatas da questão social, que poderiam levar a pensar que é
nova, “ela continua a manter os traços essenciais e constitutivos
da sua origem” (Pastorini, 2004, p. 12). Trata-se aqui de
entender, afinal, quais são as categorias que estão superadas,
quais são as demandas não integráveis à lógica capitalista. No
limite, essas são questões insolúveis para o capital.
Para sair do discurso funcionalista e fatalista, precisamos
vislumbrar outras possibilidades de interpretação por parte
dos próprios sujeitos, para que concebam posturas críticas,
que possam desencadear ações organizativas, que explicitem
seus potenciais de sujeitos e de comunidade. Saindo do que
Demo (2003) chamou de pobreza política, que é a negação da
autonomia emancipatória. Fazendo novas construções sobre
si mesmo, sobre sua comunidade, sobre seu mundo. Na nossa
prática social, poderíamos dizer que, se não estimulamos a
organização, a participação e a emancipação da comunidade, não
devemos ter expectativas de alcançar mudanças significativas1.
Por isso, consideramos que o campo das políticas sociais
configura-se como mais do que um espaço novo de atuação para o
psicólogo, possuindo foco de trabalho e objetivos bem diferentes
de uma prática tradicional. Esse é um espaço de atuação que se
nutre de conhecimentos psicológicos diversos e uma concepção
de indivíduo abordado dentro de um viés psicologista, não
responde às necessidades dessa nova demanda. Nesse contexto,
passamos a nos referir, então, a indivíduos concretos, vivos,
historicamente constituídos.
Muitos psicólogos atuam por um ideal de mudança social,
mas, muitas vezes, não sabem por onde começar. Há a clara
necessidade de espaços de reflexão sobre suas atuações, além
da formação contínua, para que se possam dar respostas mais
efetivas às demandas sociais. Parece-nos que há uma prática
irrefletida, que o cotidiano de trabalho mascara a concretude do
real (Kosik, 2002), que os psicólogos se afastam dela.
Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi investigar a
formação e a prática comunitária do psicólogo, no âmbito do
“terceiro setor”. Dito em outras palavras, buscou-se, a partir
de uma perspectiva crítica, analisar as estratégias utilizadas no
enfrentamento da pobreza, bem como a formação necessária
para atuar no campo.
Materiais e Método
Foram realizadas 20 entrevistas semi-estruturadas com
psicólogos que atuavam em 14 (quatorze) diferentes instituições
sem fins lucrativos. As entrevistas foram gravadas em áudio,
sendo firmado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
com cada um dos psicólogos.
A finalidade do roteiro de entrevista era relacionar o
trabalho do psicólogo com um contexto institucional específico,
conhecer quais são as suas demandas de trabalho, para, por fim,
questioná-lo sobre as estratégias da Psicologia utilizadas em
resposta a elas. Enfim, buscou-se, com as entrevistas, o desenho
da prática social do psicólogo no âmbito do “terceiro setor” e
suas problematizações.
Os dados da pesquisa foram analisados à luz da perspectiva
crítica, além dos referenciais da Psicologia Comunitária (PC)
e da Intervenção Psicossocial, para uma relativa comparação
entre a prática dos psicólogos entrevistados e os preceitos
desenvolvidos pela área.
A abordagem metodológica utilizada na análise das
entrevistas está baseada no Método Comparativo Constante
– MCC, caracterizado pelo fato de que, desde o começo, o
pesquisador codifica e reflexiona sobre o tipo de dados que
está coletando (Trinidad, Carrero & Soriano, 2006). Nessa
abordagem, a elaboração das categorias é um dos elementos
centrais. Para Strauss e Corbin (1990), a categorização é o
processo de agrupar conceitos que parecem pertencer ao mesmo
fenômeno. Inicialmente, a comparação origina categorias
desconexas, que aos poucos vão se conectando, formando o
desenho que se pretendia investigar. Dessa forma, na presente
pesquisa, não foi definida nenhuma categoria a priori, mas
elaboradas a partir da análise, comparando-se resposta a resposta
dos participantes.
Vale salientar ainda que, para a codificação e categorização
dos dados, foi utilizado o software para análise qualitativa QDA-
Miner (Qualitative Data Analysis Software).
Resultados e Discussão
Para muitos psicólogos entrevistados, o momento da
realização desta pesquisa foi um primeiro momento de reflexão
sobre sua prática, sobre o que pensam e sobre a problemática
que é estar inserido no “terceiro setor”.
Um primeiro ponto de discussão diz respeito à formação
para a intervenção psicossocial, pois a crise de identidade do
psicólogo social deve-se, em parte, à formação precária que
receberam para atuar junto a esses contextos.
Nesses contextos de atuação, faz-se necessário pensar, não
em intervenções centradas no indivíduo, mas em intervenções
psicossociais, que pensem o grupo social e sua organização. Na
literatura psicológica brasileira, encontramos poucos trabalhos
escritos sobre intervenção psicossocial, apesar da ampla
inserção de psicólogos em organizações sem fins lucrativos e
I. L. Paiva & O. H. Yamamoto
155
em programas governamentais de assistência social.
O objetivo da Intervenção Psicossocial é, justamente, reduzir
ou prevenir situações de vulnerabilidade, melhorando condições
humanas, e, para isso, requer uma abordagem interdisciplinar.
Sarriera (2004) define intervenção psicossocial da seguinte
maneira:
A intervenção psicossocial é, dessa maneira, um trabalho de
relação direta entre facilitador-interventor com o grupo-alvo,
que incide em transformações nas histórias, ou melhor, na
vida cotidiana, espaço onde as histórias pessoais, grupais ou
coletivas ocorrem. (p. 25)
Podemos dizer que esse tipo de intervenção, diferentemente
da Psicologia individual, se sustenta na prevenção e educação,
na promoção e otimização, no fortalecimento dos recursos e
potencialidades dos grupos e coletivos sociais (Espinosa, 2004).
Os psicólogos entrevistados reconhecem a limitação da
formação que tiveram. Quando perguntados como a graduação
em Psicologia contribuiu para sua prática comunitária atual,
todas as respostas apontam para alguma falha grave (Tabela 1).
com as questões sociais”. Vejamos outro exemplo, no destaca
da fala do entrevistado 3:
Pensando de forma específica, o que eu estudei na graduação
que me ajuda a estar aqui? Teoricamente, não me ocorre, não
estou me lembrando de nada, fora algumas disciplinas comple-
mentares (...). Então, eu acho que existe um novo movimento
do Conselho, dessa história de Psicologia e compromisso social
que tem despertado, tem apontado essas novas alternativas, que
é necessário trabalhar com essa população, que a Psicologia tem
que sair do seu consultório, agora teoricamente, como fazer isso
eu não conheço, pode ser que tenha, mas eu não conheço. (E3)
O debate a respeito dos problemas sociais não adentra a
formação básica da graduação do psicólogo. Não se trata, então,
de criticar o atendimento individual, mas sim a pura e simples
transposição de um modelo clínico para um trabalho que requer
dimensões sociais e políticas muito mais abrangentes.
Apesar de ser tema tão amplamente discutido, mas, sem
dúvida, não superado, a formação maciça em clínica prepara para
uma relação dual, importante, mas com aplicação pouco eficaz
para a inserção na comunidade.Além disso, não é uma formação
que favoreça o desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares,
nem orientada para demandas específicas que se apresentam
nesse tipo de instituição. Não favorece, por exemplo, o
planejamento das ações a serem desenvolvidas na comunidade
(não favorece nem o contato efetivo com a comunidade), nem
a avaliação dessas ações, essencial no âmbito social, como
discutimos anteriormente.
Além disso, esse tipo de formação torna precário também
o conhecimento e a discussão a respeito de políticas públicas,
Sistema de Garantia de Direitos, Estatuto da Criança e do
Adolescente, Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), Lei
de Diretrizes e Bases (LDB), Sistema Único de Saúde (SUS),
Sistema Único de Assistência Social (SUAS), entre outras, e
como o psicólogo se insere nessas discussões.
Sobre isso, Botomé (1979) questionava os currículos de
Psicologia, já que os mesmos não preparavam os alunos para
atuar no complexo cenário das dificuldades da nossa população.
Para o autor, os psicólogos se preparavam basicamente para
situações de testes, salas de clínica ou laboratórios e ambientes
de treinamento. O quadro atual não parece diferir de forma
significativa daquele apontado pelo autor, quase três décadas
atrás, o que nos leva a afirmar que ainda somos os mesmos,
apesar de toda reflexão realizada dentro da Psicologia brasileira.
Esses fatores trazem como conseqüência o sentimento
de insegurança e falta de preparo na atuação profissional, já
que alguns psicólogos afirmam que não se sentem preparados
suficientemente, como destacamos na fala seguinte:
Eu acho que na área social... eu, claro, já tive alguma experiên-
cia, eu venho caminhando nesse sentido, mas eu acho que é isso,
ainda está em construção, eu ainda não me sinto preparada,
sabendo o que, como é, como faz, ainda não. (E4)
A questão que se coloca é: como podemos nos capacitar
adequadamente, para uma melhor atuação diante das demandas
sociais?
Tabela 1
Contribuição da formação dos psicólogos para a prática social
Formação Casos (N)
Dissociada da prática social 4
Valorização de áreas clássicas 7
Não prepara suficientemente 9
Total 20
Um primeiro grupo de respostas indica a formação como
dissociada da prática social, ou seja, afastada dos problemas e
grupos sociais em situação de vulnerabilidade, como vemos nos
exemplos destacados abaixo:
Eu nunca vi uma ação específica, vim ver já no final do curso,
eu já estava aqui envolvida, então nem fazia sentido ir correr
atrás, mas não tinha acesso às informações de ações, práticas,
mesmo, que não só pesquisa, ou teoria... (E2)
Na universidade a gente não tem contato com outras experiên-
cias, que estejam acontecendo, que estão consolidadas (...).
De ter conhecimento dessas práticas, de práticas da Psicologia
social e comunitária que estão acontecendo hoje, a gente não
teve.Acho que isso faltou, até para segurança profissional. (E8)
A Psicologia constitui-se historicamente como uma
atividade a serviço da classe dominante, e a entrada em campos
como o da política social força-lhe a reaprender a fazer e pensar
Psicologia. O que não deve ocorrer, no entanto, é a criação de
mundos paralelos (Vasconcelos, 1999), ou seja, a dissociação
completa entre a formação em Psicologia e a nossa atuação,
que somos obrigados a reinventar quando nos deparamos com
outra realidade, diferente da que aprendemos nas salas de aula.
Outra questão importante diz respeito ao segundo grupo de
respostas, que aponta também a formação precária em Psicologia
Social, mas pela ênfase dos cursos em áreas tradicionais e a falta
de disciplinas na área social, como disse o entrevistado 13, “O
curso ficou muito no campo da clínica. (...) e não problematizava
Formação e prática do psicólogo no “terceiro setor”
156
O Colégio Oficial de Psicólogos da Espanha (COP, 2008)
publicou documentos que tratam da formação do psicólogo
na área que denominam de Psicologia da Intervenção Social.
Tais documentos chamam a atenção para a complexidade dessa
formação, que deve se compor de um corpo comum a todos os
profissionais que atuam no setor, incorporando modelos teóricos
e conhecimentos da Psicologia social como área extensa, além
de técnicas de avaliação e intervenção gerais, porém, aplicadas
ao contexto social, em seus diferentes níveis: individual, grupal
e comunitário.
No entanto, cada setor específico de intervenção social vai
requerer uma aprendizagem específica que, somada à anterior,
conformaria uma segunda especialidade. Fala-se, então, de
conteúdos transversais (comuns a todos os setores de intervenção
social) e específicos (para cada setor de intervenção), como por
exemplo, atuação junto a mulheres, terceira idade, pessoas com
deficiência, etc..
Logo, a formação para a intervenção psicossocial deve
abarcar:
Montero (2004) também traz uma reflexão sobre
características desejáveis para a formação dos psicólogos
comunitários. Antecipa que esta não é uma questão simples,
já que a PC não pode se fundamentar unicamente nos aspectos
teóricos da literatura existente no campo, estando apoiada na
união entre prática e reflexão sobre a prática. Esse cuidado na
formação deve vir acompanhado do melhor ensino teórico e
metodológico possível, para uma prática rigorosa e ética. Por
fim, a autora chama a atenção para a reflexão crítica que deve
acompanhar a formação e a prática comunitária, pois cada
intervenção exige um plano de trabalho específico. No entanto,
alguns temas são essenciais, como noção de comunidade,
participação, compromisso e investigação-ação.
No nosso contexto, acreditamos que o isolamento
profissional e acadêmico tem resultado em formações
insuficientes e desconectadas da realidade social, além de gerar
angústia e insegurança para os profissionais que estão adentrando
na área.
Disciplinas isoladas, sem a construção de um corpo
conceitual consistente, nem de metodologias adequadas a novas
demandas, tem sido a característica da Psicologia aplicada a
comunidades nas nossas Universidades e Faculdades. Além
do mais, o conhecimento sobre políticas públicas, aliado à
capacidade de reflexão crítica, são, a nosso ver, essenciais para
a formação do psicólogo.
Questionamos aos psicólogos, também, quais eram os
objetivos do seu trabalho na instituição e obtivemos respostas
bastante variadas (Tabela 3):
1. Conhecimento do marco normativo, administrativo e organizativo dos programas e serviços sociais;
2. Características psicossociais dos setores de intervenção;
3. Estratégias e técnicas mais habituais de intervenção (nos níveis individual, grupal e comunitário);
4. Modelos teóricos de intervenção social;
5. Metodologia: planejamento, avaliação de necessidades, avaliação de programas.
Tabela 2
Aspectos fundamentais para a formação em intervenção psicossocial
Acerca da PC, o poder e o controle sobre as circunstâncias
da vida, por parte dos membros da comunidade, bem como a
transfor...

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Comentários para: Formação e prática comunitária do psicólogo no âmbito do terceiro setor

Qual o papel do psicólogo no terceiro setor?

O que se pretende com a ampliação dos serviços psicológicos no terceiro setor é oferecer um serviço diferencial que proporcione promoção e prevenção por meios de atividades multi e interdisciplinares focadas nas condições de vida da comunidade.

Qual o papel do psicólogo na psicologia comunitária?

O trabalho do psicólogo comunitário em uma comunidade visa sobremaneira à formação de uma consciência crítica da própria população, que nesse processo, participa de forma ativa na identificação e na resolução de suas necessidades principais.

Qual o papel do psicólogo comunitário na sociedade?

Desse modo, a Psicologia Social Comunitária visa promover a consciência e minimizar a alienação, procura promover a participação reflexiva dos grupos com os quais trabalha na definição das prioridades de atuação, planejamento, execução e avaliação de suas atividades.

Quais são as possíveis formas de atuação do psicólogo comunitário?

(1992) destacam outras tarefas desse psicólogo: avaliação de programas sociais, consultoria para a promoção de mudanças nas comunidades e a prática de pesquisa científica. A atuação nessa área enfatiza a participação de indivíduos na construção de um ambiente que seja favorável para as relações sociais.