Foram os primeiros os primeiros habitantes do Brasil?

Por Priscila Melo em 17/06/2014

Talvez algumas pessoas não saibam, mas os primeiros habitantes do Brasil não foram os portugueses, no período de sua exploração em 1500. Esses, ao chegarem em território brasileiro identificaram que já existia uma população vivendo nessas terras, Os índios. Mas porque essa população fora chamada de índios? Esses habitantes receberam o nome de índios porque ao chegar ao Brasil, os portugueses acreditavam que tinham chegado As Índias.

Foram os primeiros os primeiros habitantes do Brasil?

Foto: Reprodução

O início

Na época em que os portugueses chegaram ao Brasil estima-se que existiam cerca de 5 milhões de índios no território brasileiro, e 100 milhões em todo o continente Sul americano. Os índios brasileiros eram divididos por tribos diferentes, de acordo com a língua que cada um praticava. Exemplos dessas tribos são: tupi-guarani (que se encontravam na região litorânea), macro-jê ou tapuias (habitavam a região do Planalto Central), Aruaques e Caraíbas (que viviam na região da Amazônia).

A chegada e o contato direto com os portugueses fez com que a cultura indígena fosse cada vez mais se perdendo com o tempo. Em 2010, estudos feitos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) apontavam que 896.917 mil índios viviam no Brasil, em reservas indígenas preservadas pelo Governo Federal. São em média 200 etnias indígenas e 170 línguas diferentes, no entanto, a vida dos índios já não é mais como era antes da chegada dos portugueses.

A cultura indígena

A cultura raiz foi se perdendo ao ser ter contato com o povo branco. Isso aconteceu devido ao choque de cultura ser tão forte estre esses dois povos. Os índios viviam uma vida bastante simples, sem quase nenhuma tecnologia. Tudo que precisavam para sobreviver tiravam da natureza, inclusive suas vestimentas. Não existe classe social dentro de uma tribo, todos devem receber o mesmo tratamento não havendo diferenciação.

Os homens adultos eram responsáveis pelo trabalho pesado, como a caça, pesca, derrubada de árvores para o cultivo de plantas e guerras. As mulheres pela comida, cuidado com as crianças, colheita e plantio. Os curumins (como são chamados as crianças indígenas) tinham um crescimento na base artesanal, tudo que aprendiam era na base da prática, como exemplo, os pais levavam seus filhos nas caçadas e o mesmo ia aprendendo como se fazer. Quando completavam 13 a 14 anos eles passavam por um cerimônia para entrarem na fase adulta.

Os índios cultivavam alimentos como o milho, a batata-doce, feijão, a abóbora, entre outros, mas tinha na mandioca seu principal alimento. Domesticava animais pequenos como porco espinhos, araras, pequenos lagartos, capivara, e outros. Os objetos utilizados pela população indígena eram todos retirados da natureza, e trabalhados de forma manuais para atender a determinas necessidades. Exemplos são as canoas, arco-flechas, ocas, potes de barro e muitos outros. Lembrando que os índios até hoje respeitam muito a natureza e dela só retiravam o que realmente precisava para sobreviver e nada a mais.

O pajé e o cacique

Duas figuras são bastante importantes dentro de uma tribo, o Pajé e o Cacique. O Pajé era uma espécie de curandeiro e sacerdote da tribo, conhecedor nato de vários tipos de plantas, as utilizava para gerar a cura de várias enfermidades e também era responsável pelo contato com os deuses. Já o cacique, era tido como o líder da tribo e sua função era organizar e orientar os índios para que os mesmos pudessem ter uma vida melhor.

É de conhecimento dos historiadores que no Brasil existiram tribos canibais (que comiam carne humana). Rituais eram feitos com a crença de que se comecem a carne do corpo do inimigo, isso lhe passariam a força, sabedoria e valentia que ele possuía.

Jorge Eremites de Oliveira[i], para o Cafezinho

No dia 3 de fevereiro de 2019, o jornalista Lauro Jardim, d’O Globo, publicou num blog a postagem intitulada ‘Amiga de Tereza Cristina’, secretária diz que índios não foram os primeiros habitantes do Brasil[ii]. A fala é atribuída à advogada Luana Ruiz Silva de Figueiredo, citada como Luana Figueiredo, atual secretária-adjunta de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura do governo federal.

O assunto foi rapidamente divulgado em vários espaços virtuais (Brasil 247, Blog da Cidadania, Diário do Centro do Mundo, O Expresso etc.), e tem gerado polêmicas nas redes sociais. Há, inclusive, diversos comentários jocosos, haja vista que a afirmativa denota, à luz da antropologia e da arqueologia, um ponto de vista estapafúrdio sobre os povos indígenas.

Importa explicar que o termo “índio” foi cunhado no âmbito do encontro colonial, iniciado em fins do século XV. Passou a ser empregado para designar genericamente os povos originários das Américas, cujos antepassados mais antigos vieram da Ásia e aqui chegaram em tempos pleistocênicos, há mais de 12 mil anos. Naquela época, havia uma ponte de terra e gelo, a Beríngia, ligando a Sibéria ao Alasca. O clima do planeta era mais frio e seco e o nível dos oceanos era mais baixo em relação ao atual, cerca de 50 m aonde está o Mar de Bering. Interessante observar que quando se analisa o mapa-múndi, percebe-se que a Sibéria, na Rússia, está situada no lado oposto ao Alasca, nos Estados Unidos. A representação cartográfica tem a ver com os tempos da Guerra Fria e, consequentemente, atendia ao propósito de distanciar geograficamente os mundos capitalista (EUA) e socialista (antiga URSS).

Foi pela Beríngia que chegaram as primeiras levas de grupos humanos que passaram a ocupar o continente, inicialmente a partir da porção setentrional da América do Norte, posteriormente passando pela América Central, até atingirem a parte meridional da América do Sul. Significa dizer que não há evidências arqueológicas, linguísticas e genéticas que possibilitam afirmar que antes dos índios existiriam outros humanos no “Novo Mundo”. A própria Luzia, nome atribuído ao esqueleto da mulher mais antiga conhecida para o atual território nacional, com data estimada em mais de 10 mil anos, possui DNA tipicamente ameríndio e não australo-melanésio, como se pensava até pouco tempo[iii]. Ainda que fosse diferente, teria que ser considerada indígena porque o termo não está vinculado à genética, mas historicamente à ideia de pessoa originária do continente americano, onde ela nasceu, viveu e morreu.

Embora o termo índio seja uma categoria colonial, empregado para designar povos dos mais diferentes, vale dizer que há uma indianidade que os une como “parentes” ou “patrícios”, como costumam a se referir uns aos outros. Portanto, dizer que os índios não seriam os primeiros habitantes do Brasil e das Américas denota, dentre outras coisas, o propósito de desqualificar reivindicações pelo reconhecimento de terras tradicionalmente ocupadas por comunidades indígenas.

No Brasil, terra indígena é uma categoria jurídica, estabelecida no Art. 231 da Constituição Federal de 1988. Não tem a ver com antiguidade relacionada ao período pré-colonial, mas a formas tradicionais ligadas à ocupação costumeira de determinados espaços. Esta situação tem sido comprovada em diversos estudos antropológicos, elaborados por meio de procedimentos científicos mundialmente consagrados e orientados por legislação específica, como é o caso do Decreto n. 1.775 e da Portaria MJ n. 14, ambos de 1996.

No caso de Mato Grosso do Sul, onde há três décadas realizo estudos a respeito dos povos indígenas pretéritos e contemporâneos, sabe-se que toda sua atual extensão territorial estava ocupada pelos ameríndios desde muito antes dos primeiros europeus cruzarem o Atlântico em suas caravelas. Hoje em dia, as terras ali reivindicadas por comunidades Guarani, Kaiowá, Terena e de outras etnias têm a ver com áreas de onde muitas delas foram expulsas décadas atrás. Não estou a falar, que se faça bem entendido, de terras dos tempos de Colombo e Cabral, tampouco da Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, ou do bairro Morumbi, em São Paulo. Em livro de minha coautoria, intitulado Ñande Ru Marangatu[iv], escrito em parceria com o antropólogo Levi Marques Pereira, consta um laudo pericial produzido para a Justiça Federal sobre a terra indígena homônima, tradicionalmente ocupada por comunidade Kaiowá no município de Antônio João, na fronteira do Brasil com o Paraguai. Trata-se de área disputada por indígenas e fazendeiros, dentre os últimos alguns parentes da referida secretária-adjunta de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura. Resumos sobre o assunto constam nos artigos Para compreender os conflitos pela posse da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu… e Para compreender Ñande Ru Marangatu[v].

Assim sendo, a fala atribuída à advogada está situada no senso comum das frases feitas, espécie de pós-verdade que causa impacto negativo sobre o imaginário das pessoas, especialmente daquelas que a priori se opõem aos direitos dos indígenas. Ao que tudo indica, faz parte do que poderá ser o norte colonialista da política indigenista oficial, orientada por viés integracionista e assimilacionista, via aculturação, dos povos indígenas à chamada “comunhão nacional”.

A citada postagem também registra que a advogada “desce a borduna nas políticas de demarcação de terras e diz que os índios do Mato Grosso do Sul estão obesos, com pressão alta e diabetes, doenças estranhas aos indígenas”. Falas nesta direção são antagônicas ao que tenho observado em várias aldeias Guarani e Kaiowá, no centro-sul do estado. Apenas para exemplificar, naquela parte do Centro-Oeste, episódios ligados à desnutrição infantil ficaram conhecidos internacionalmente nos anos 2000, e ainda hoje assombram a região.

No artigo Conflitos pela posse de terras indígenas em Mato Grosso do Sul, publicado na revista Ciência e Cultura[vi], apresento uma pequeníssima relação de lideranças indígenas assassinadas no estado: Marcos Veron, Kaiowá, 72 anos (Juti, 13/01/2003); Genivaldo Verá, 21 anos, e Rolindo Verá, 23 anos, ambos Guarani (Paranhos, 31/10/2009); Oziel Gabriel, Terena, 35 anos (Sidrolândia, 30/05/2013); Nísio Gomes, Kaiowá, 69 anos (Aral Moreira, 18/11/2011); Marinalva Manoel, Kaiowá, 27 anos (Dourados, 01/11/2014); Simeão Fernandes Vilhalba, Kaiowá, 24 anos (Antônio João, 29/08/2015); Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza, Kaiowá, 26 anos (Caarapó, 14/06/2016). Somam-se à lista outros tantos homicídios, como o do Kaiowá Nelson Franco, em 1952, e do Guarani Marçal de Souza, no dia 25/11/1983, no mesmo município de Antônio João, mencionado anteriormente.

No meu entendimento, o Brasil é um país de dimensões continentais e nele há espaço para todos vivermos bem e em paz, especialmente em estados como o de Mato Grosso do Sul, onde a maioria das terras indígenas possui tamanho diminuto para uma população que atualmente supera a 80 mil pessoas, considerando o crescimento demográfico verificado no último censo do IBGE, de 2010.

Notas:

I Graduado em História pela UFMS, mestre e doutor em História/Arqueologia pela PUCRS, com estágio de pós-doutoramento em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ, e professor na Universidade Federal de Pelotas.

II ‘Amiga de Tereza Cristina’, secretária diz que índios não foram os primeiros habitantes do Brasil (https://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/amiga-de-tereza-cristina-secretaria-diz-que-indios-nao-foram-os-primeiros-habitantes-do-brasil.html).

III DNA antigo conta nova história sobre o povo de Luzia, de 8/11/2018, assinada por Silvana Salles e publicada no Jornal USP (https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/dna-antigo-conta-nova-historia-sobre-o-povo-de-luzia/).

IV Ñande Ru Marangatu (http://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/EDITORA/catalogo/nande-ru-marangatu-laudo-antropologico-e-historico-sobre-uma-terra-kaiowa-na-fronteira-do-brasil-com-o-paraguai-municipio-de-antonio-joao-mato-grosso-do-sul.pdf).

V Para compreender os conflitos pela posse da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu (http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/7093/3934) e Para compreender Ñande Ru Marangatu (http://www.ihu.unisinos.br/noticias/546492-para-compreender-nande-ru-marangatu).

VI Conflitos pela posse de terras indígenas em Mato Grosso do Sul (http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v68n4/v68n4a02.pdf).

Imagem: Ricardo Stuckert

Quem foram os primeiros habitantes do nosso país Brasil?

Eles viviam em tribos – suas casas eram as ocas que não tinham janelas, somente uma entrada que faziam de porta. E entre elas estavam: potiguaras, tupiniquins, tabajaras, tupinambás, caetés, tapirapés, carijós, tamoios (entre os tupis e guaranis).

Quem foram os primeiros habitantes do Brasil resposta?

OS ÍNDIOS FORAM O PRIMEIROS HABITANTES DO BRASIL. NA ÉPOCA DO DESCOBRIMENTO, EXISTIAM APROXIMADAMENTE 3 MIL GRUPOS INDÍGENAS.

Quais foram os primeiros habitantes do Brasil e como eles vieram?

A hipótese mais aceita para explicar a origem dos índios brasileiros é a de que eles são descendentes de povos asiáticos que atravessaram o estreito de Bering há 62 mil anos. Estudos arqueológicos recentes estabelecem a chegada dos primeiros habitantes do Brasil à Bahia e ao Piauí entre 20 mil e 40 mil anos atrás.