A circulação normal das veias faz-se no sentido de retorno ao coração. Ou seja, falando do sangue que ascende dos membros inferiores o caminho faz-se até à parte direita do coração e daí em direção aos pulmões. Show Na prática, isto significa que o primeiro leito vascular com vasos de calibre progressivamente mais pequenos encontrado por um eventual êmbolo que se solte dos membros inferiores é nos pulmões. É por isso que, na maioria dos casos, salvo raras exceções muito específicas, um trombo que se solte proveniente de uma TVP nos membros inferiores pode alojar-se numa artéria pulmonar, dando origem a uma embolia pulmonar. Se isso acontecer, ocorrem sintomas muito específicos como dor torácica e, sobretudo, falta de ar. Nesse caso, o paciente pode estar perigo iminente de vida e deve dirigir-se de imediato ao hospital. Uma trombose venosa profunda pode também trazer consequências a longo prazo, muito anos depois de ocorrer. De facto, as veias atingidas podem ver o seu funcionamento definitivamente comprometido:
Quando tal acontece, pode instalar-se um quadro progressivamente agravado designado Síndrome Pós-Trombótico. O membro em questão torna-se ou permanece edemaciado, as queixas de tensão, peso e cansaço vão sendo cada vez mais significativas. Sobretudo a estrutura da pele junto dos tornozelos vai sofrendo alterações importantes: manchada, atrófica, frágil. Podem finalmente ocorrer úlceras extremamente difíceis de cicatrizar e que têm tendência a reaparecer. Apesar de sua gravidade, a trombose venosa profunda é uma doença com causas, sintomas e consequências ainda ignorados pela população em geral. Caracterizada pela coagulação do sangue nas veias profundas, especialmente nas das pernas, a trombose tem prevenção e tratamento. Mas a falta de conhecimento sobre o assunto acaba atrapalhando. De acordo com o Ministério da Saúde, dentre as pessoas que não tratam o problema, normalmente chamado apenas de trombose, de 5% a 15% podem morrer de embolia pulmonar, quando o trombo se desprende e o coágulo se movimenta na corrente sanguínea até chegar aos pulmões. Anualmente, no Brasil, dois em cada mil indivíduos podem apresentar a doença. Segundo dado da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), cerca de 90% dos casos acometem os membros inferiores. Geralmente associada a uso de anticoncepcionais, gestações ou viagens longas de avião, a trombose é causada ainda por maus hábitos evitáveis, como sedentarismo e tabagismo. Mesmo quando ocorre após procedimentos cirúrgicos que restrinjam a movimentação do paciente, casos mais comuns, também pode ser prevenida com uso de medicação. Assim sendo, apesar da relação com anticoncepcionais e gravidez, a trombose não oferece risco apenas para mulheres. O problema acontece na mesma proporção em ambos os sexos, ainda que, quando considerada a faixa etária de 20 a 40 anos, seja mais comum entre elas, segundo dado do Ministério da Saúde. Ao conhecer os fatores de risco e sinais da doença, a exemplo do inchaço na panturrilha, e procurar médico angiologista ou cirurgião vascular para diagnóstico, é possível prevenir suas graves consequências e evitar sua reincidência no futuro. Presidente do Departamento de Ergometria, Reabilitação Cardíaca e Cardiologia Desportiva da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Cláudia Lúcia de Castro detalha que, nos casos de trombose, o sangue que chega às pernas encontra dificuldades para retornar ao coração, coagulando dentro das veias e formando os trombos. Esse quadro é muito favorecido em situações de estase sanguínea, quando o fluxo do sangue fica mais lento, motivado por uma imobilidade do indivíduo. É por esse motivo que o problema acontecer em viagens longas de avião, internações hospitalares, procedimentos cirúrgicos ou recuperação de problemas ortopédicos. – A recomendação é, se a pessoa está no grupo de risco de trombose, como fumantes, obesos, mulheres que usam anticoncepcionais ou pacientes que quebraram o pé, por exemplo, deve manter-se hidratada e fisicamente ativa e procurar um médico especialista. Ao se expor a esses riscos, as chances de ter uma trombose são grandes e é preciso começar com profilaxia, como uso de coagulantes, dependendo do caso – explica a cardiologista. Pessoa que se enquadra em mais de um fator de risco, como é o caso do tabagismo, deve manter-se ativa, hidratar-se e ter acompanhamento médico — Foto: Getty Images O cirurgião vascular Roberto Sacilotto, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, comenta que não há motivos para pânico em relação à trombose venosa profunda, ainda que possa haver complicações como embolia pulmonar. Embora seja grave, não se trata de uma doença muito incidente em quem não tem predisposição para problemas de coagulação ou que aconteça por um motivo isolado, senão por uma combinação de causas. O médico destaca que a pessoa deve estar atenta se se enquadra em mais de um fator de risco e consultar um angiologista ou cirurgião vascular para diagnóstico, realizado por meio do exame de ultrassonografia ecodoppler. – A combinação tabagismo e anticoncepcional aumenta em quatro a seis vezes o risco de ter trombose, quando se compara a mulheres que fazem uso do medicamento e não fumam. A associação desses dois fatores predispõe muito à trombose – exemplifica. Com o apoio dos médicos, listamos a seguir os principais fatores de risco, sinais, complicações e formas de prevenção da trombose venosa profunda. Predisposição genética para problemas circulatórios também influencia em casos de trombose — Foto: Unsplash Causas e fatores de risco
Quando associados a outros fatores de risco, especialmente tabagismo, anticoncepcionais podem favorecer formação de coágulos e a trombose — Foto: Pixabay
Edema e dor na panturrilha são alguns dos sinais da trombose venosa profunda — Foto: iStock Sintomas
Dor torácica e falta de ar são sintomas da embolia pulmonar, complicação mais grave da trombose — Foto: Pixabay Complicações
É essencial consultar médico especialista para identificar predisposição para trombose precocemente — Foto: Pexels Prevenção
Prática de exercícios físicos, manutenção do peso ideal, hidratação e alimentação saudável devem ser associadas para prevenir chances de trombose — Foto: Unsplash Outros cuidados:
Em caso de exercícios extenuantes é essencial reforçar hidratação, para evitar que o sangue fique espesso — Foto: iStock Getty Images Exercícios físicos e tromboseA médica cardiologista enfatiza que a prática regular de atividades físicas é medida essencial para evitar a doença. Contudo, ao contrário de problemas comoosteoporose, cuja prevenção passa também por um trabalho de força, no caso da trombose, não há uma atividade que atue diretamente para evitá-la. – Exercício previne a trombose. Mas é preciso um plano que combine exercícios aeróbicos e para fortalecimento muscular, flexibilidade e equilíbrio, porque não há um específico que ajude na prevenção. A pessoa tem que se manter fisicamente ativa, além de evitar outros fatores de risco – completa a cardiologista, acrescentando que, no caso da trombose venosa, não é mandatória uma avaliação médica para liberar o paciente para a prática de atividades físicas, como no caso de quem tem insuficiência cardíaca, por exemplo. Sacilotto também diz que não há contraindicações quando se trata da combinação atividades físicas e trombose. Mas o cirurgião vascular faz um alerta para pessoas com predisposição para formação de coágulos. Quem tem esse problema e é adepto de atividades extenuantes deve reforçar a hidratação, além de prezar pelo acompanhamento médico. Atenção: não é para excluir a atividade da vida, mas redobrar os cuidados. – Já observei pacientes que fizeram maratona e tiveram trombose pequena, mas se recuperaram bem. Em atividades extenuantes, a junção do trauma muscular e da desidratação favorece a formação de trombos na barriga da perna. Mas isso não acontece em exercícios que não sejam extenuantes. Corrida na esteira ou uso de bicicletas até ajudam a evitar a formação de trombos, ao acelerar o fluxo sanguíneo – discorre Sacilotto, enfatizando que é essencial consultar médico ao notar sintomas da trombose após exercícios extenuantes. Listamos a seguir outros alertas dos médicos para a prática de exercícios:
Em viagens de avião, evite ficar sentado o tempo todo, especialmente se tem predisposição para a trombose. Levante-se ou mexa os tornozelos, enquanto estiver no assento — Foto: Pexels Dicas para viagens de aviãoEvitar ficar muito tempo sentado, procurando sempre movimentar pernas e tornozelos, é uma recomendação para o dia a dia. No entanto, como ao realizar viagens longas de avião indivíduos que se enquadram em diversos fatores de risco aumentam as chances de trombose, preparamos algumas orientações com o apoio do cirurgião vascular e da cardiologista. Confira!
Quais as sequelas da trombose venosa profunda?O desprendimento do coágulo pode provocar complicações a curto ou longo prazo. A curto prazo, ele pode deslocar-se até o pulmão e obstruir uma artéria. Esse episódio é chamado de embolia pulmonar e, conforme o tamanho do coágulo e a extensão da área comprometida, pode ser mortal.
Qual repouso para trombose venosa profunda?No geral, em tromboses de panturrilha, o repouso absoluto costuma ser de 7-14 dias, a depender lógico da evolução dos sintomas. Após esse período são liberadas atividades leves. Procure um Angiologista para avaliação e esclarecimento de dúvidas.
O que fazer depois da trombose?Manter-se bem hidratado, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e remédios para dormir durante o período da viagem também são medidas que diminuem o risco de desenvolvimento da doença. Os pacientes com TVP podem apresentar sinais e sintomas como dor, inchaço no membro e alteração da sua coloração.
Quanto tempo leva para se recuperar de uma trombose?Na maior parte dos casos, os pacientes voltam à vida normal após seis meses de tratamento com restituição de suas condições clinicas habituais. A trombose venosa profunda é a formação aguda (imediata) de coágulos (trombos) na luz das veias profundas (principais), causando obstrução total ou parcial ao fluxo sanguíneo.
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