no Contexto da Mudança do Clima Show O setor agrícola brasileiro é constituído por uma grande diversidade de sistemas de produção, que juntos contribuem com 23% do PIB nacional, com 35% dos empregos gerados no país (ASSAD et al, 2013) e com a produção de alimentos, fibras e energia para consumo interno e externo, sendo o Brasil o terceiro maior exportador mundial de produtos agrícolas. A agricultura é altamente influenciada por fatores climáticos, como temperatura, chuva, umidade do solo e do ar, ventos e radiação solar, de tal maneira que o clima e sua variabilidade são os principais fatores de risco para a agricultura. Estima-se que cerca de 80% da variabilidade da produtividade agrícola advenha da variabilidade climática sazonal e interanual, enquanto que os demais 20% estão associadas às questões econômicas, políticas, de infraestrutura e sociais. Exemplo disso é que apenas 5% das áreas agrícolas no Brasil são irrigadas e 95% das áreas dependem diretamente nas variações naturais da chuva. Dessa maneira, o aumento das temperaturas em função da mudança do clima resultará no aumento do consumo de água pelas culturas agrícolas e a redução da disponibilidade de água, colocando em risco a capacidade de produção. Decorrente dos impactos físicos, as perdas econômicas estimadas para o setor agrícola no país devido ao aumento de temperatura podem chegar a R$7,4 bilhões em 2020 (BRASIL, 2016a), com impactos sociais representativos, como o aumento de preços dos produtos alimentícios e o aumento da migração populacional de áreas de alto risco climático para outras aptas às práticas agrícolas. Impactos da mudança do clima que podem alterar a produtividade agrícola:
Riscos climáticos e impactos nas diferentes culturas e regiões do Brasil Para determinar as áreas agrícolas de risco climático, considera-se o balanço hídrico (relação clima, solo e planta) e o risco é quantificado através de análises probabilísticas e frequenciais. No Brasil, há a previsão de que as principais culturas comerciais se encontrarão em áreas de risco climático já em 2020. A exceção é a cana de açúcar, que deverá ser favorecida pelo aumento de temperatura projetado para grande parte do Brasil. Porém, é preciso ampliar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura coordenado pelo MAPA, para evoluir nos estudos sobre outras culturas agrícolas, orientando o produtor sobre riscos, época de plantio e semeadura, visando reduzir perdas (EMBRAPA, 2015). De acordo com diversos estudos com foco na América do Sul e Brasil (Brasil, 2016a; IPCC, 2014), os impactos nas diferentes culturas e regiões do país podem levar aos seguintes cenários. Arroz: A produção será concentrada nas áreas irrigáveis e com boa oferta de chuva - nos estados de Goiás, norte de Mato Grosso e Pará. Na região Sudeste, é projetado aumento na produtividade do arroz irrigado. Batata: A produção de batata, atualmente viável todo o ano, pode ficar restrita a alguns meses. Café: Maiores temperaturas poderiam inviabilizar o cultivo de café nos estados de Minas Gerais e São Paulo. Por isso, este cultivo tende a migrar para as regiões do sul do país, onde as temperaturas são mais amenas e os riscos de geadas serão menores. Cana de açúcar: O aumento da produtividade da cana de açúcar poderá alcançar 6% no estado de São Paulo até 2040, devido ao aumento de temperatura. Feijão: O aumento das temperaturas e aumentos de dias de calor podem ocasionar perdas de cerca de 37% nas áreas de cultivo de feijão, com alta deficiência hídrica. A tendência é que este cultivo seja predominante no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e parte do sul de Minas Gerais onde as temperaturas são mais amenas e o déficit hídrico reduzido. Para o feijão de segunda safra, as perdas de áreas de baixo risco para esse cultivo podem chegar a 71 %. Este poderá ser produzido também em Rondônia, no Pará e em Goiás, onde o déficit hídrico é reduzido no período da produção da segunda safra. As soluções para adaptação passam por variedades tolerantes à seca e ao aumento de temperatura e mudança de manejo das culturas, introduzindo os sistemas integrados, plantio direto ou irrigação. Milho: As áreas de alto risco para produção de milho da safra de verão aumentariam para mais de 5 milhões de hectares, que confirma tendências observadas nos últimos 20 anos alcançando perdas de produtividade de até 7%. Quanto ao milho safrinha, o risco aumenta substancialmente, em função do aumento da temperatura e da deficiência hídrica. Na região Sul, a redução das geadas pode ser benéfica para manter a produção. O aumento de temperatura ainda provoca deficiência hídrica no momento em que o milho safrinha precisa de água. As restrições de produção ficam limitadas em quase todo o território nacional. Caso não se busque soluções de manejo e adaptação, os impactos podem atingir mais de 90% de redução na produção de milho safrinha. Soja: Deve ser a cultura mais afetada na região Centro-Oeste pelo aumento da temperatura e, na região Amazônica, a produtividade da soja poderá apresentar uma redução de cerca de 44% no pior cenário em 2050. Isto significa que se adaptaria melhor em áreas do Sul. As perdas de áreas de baixo risco para cultivo da soja podem ficar acima de 81%. Caso não se busque soluções de manejo e adaptação, os impactos podem atingir 80% na produção de soja. Soluções para o cultivo no norte do Mato Grosso são cultivares com alta tolerância a seca e deficiência hídrica, assim como uma mudança nos sistemas de produção para manutenção da água no solo. Carne: A mudança do clima poderá afetar significativamente a produção de leite e alimentação na pecuária leiteira no Brasil, com mudanças substanciais nas áreas viáveis para pecuária. Por exemplo, em 2060, em um cenário mais quente e seco, a produção de pecuária leiteira, porcos e frango poderá reduzir de 0,9 a 3,2%. Com isso, a escolha por espécies pode mudar para melhor adaptação. Vulnerabilidade e capacidade de adaptação A incapacidade produtiva impactará principalmente os pequenos agricultores, os quais são geralmente mais vulneráveis aos choques econômicos e ambientais, além de terem menos acesso aos recursos para se adaptar. Por outro lado, quando comparados aos produtores de larga escala, os quais dependem de uma ou duas culturas em latifúndios, os pequenos agricultores podem ter um papel crucial para a promoção de uma maior capacidade de adaptação em nível de paisagem quando utilizadas práticas de produção mais sustentáveis. Entre estas práticas pode-se mencionar a utilização de uma variedade de produtos da agrobiodiversidade e a preservação de serviços ambientais e a participação em seus mercados emergentes (compensações de carbono e de biodiversidade, fluxos hidrológicos para reduzir as inundações e/ou melhoria da qualidade da água) (ASSAD et al., 2013). Medidas de adaptação para o setor agropecuário Existem diversas medidas de adaptação para o setor agropecuário. Algumas são descritas a seguir (Brasil, 2016a; Brasil, 2016b; Embrapa2017; Lasco et al.,2014):
Referências do texto:
Qual o impacto das mudanças climáticas na agricultura?O impacto da agricultura na mudança climática compreende os seguintes fenômenos. Depleção e degradação do solo (erosão do solo, redução da matéria orgânica, salinização, acidificação, perda de fertilidade).
Como o clima interfere na agricultura praticada?A agricultura é uma atividade altamente dependente de fatores climáticos, por isso a mudança no clima pode afetar a produção agrícola de várias formas: mudança na severidade de eventos extremos, no número de graus-dia de crescimento devido as alterações na temperatura do ar, modificação na ocorrência e na severidade de ...
Quais são os principais impactos do aquecimento global na agricultura brasileira?Quais são os efeitos das mudanças climáticas na agricultura do Brasil?. Redução média de 30% na produção de trigo;. Redução média de 16% na produção de milho;. Redução das áreas de cultivo de café, chegando a 95% de perdas em Estados como Goiás, São Paulo e Minas Gerais.. Qual a importância dos elementos climáticos para a agricultura?As plantações são totalmente dependentes das variações climáticas, a quantidade de chuvas e temperaturas, esses fatores intervém diretamente nas colheitas e produção das lavouras. Assim da para definir quais espécies devem ser plantadas em cada região de acordo com a temperatura predominante.
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