A leitura é um processo de interlocução entre o autor e leitor, mediado pelo texto.

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A leitura é um processo de interlocução entre o autor e leitor, mediado pelo texto.

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para exercícios e vivências de 
letramento.
Muito tem-se falado, na educação contemporânea, da necessidade de fazer 
interagir as diferentes áreas do conhecimento. Esse processo, denominado inter-
disciplinaridade, vem sendo defendido pelos mais importantes educadores do 
século (Paulo Freire, Vygotsky, Emília Ferrero, Ivani Fazenda). Tem determinado 
comportamentos e atividades ao longo dos últimos anos, envolvendo todos os 
parceiros do sistema na busca por melhorar e aperfeiçoar o conhecimento e as 
práticas educativas. Mas, o solo epistemológico comum a todos esses conheci-
mentos encontra-se na leitura, o que a configura numa prática transdisciplinar, 
que mantém unidas e coesas todas as ciências e todo o sistema que delas trata, 
em especial o escolar.
Segundo Celani (1998, p. 133), podemos definir assim a “postura transdisci-
plinar”:
Novos espaços de conhecimento são gerados, passando-se, assim, da interação das disciplinas 
à interação dos conceitos e, daí, à interação das metodologias. A transdisciplinaridade realiza-
se em uma problemática “transversal”, “através” e “além” e dissolve-se em seu objeto.
Dessa forma, a transdisciplinaridade converteu-se no fio que enlaça e dá so-
lidez ao conhecimento. Não importa qual o suporte que a veicula (o livro, o hi-
pertexto, os textos culturais não verbais), a leitura é entendida enquanto uma 
atividade de construção de sentido (hermenêutica, portanto).
A História, a Filosofia, a Arquitetura, a Informática, a Medicina, a Psicologia, a 
Educação, a Literatura, a Administração, a Gestão de Negócios, o Direito, enfim, 
todos os campos do saber, dos mais informatizados aos mais estreitamente de-
pendentes da tecnologia do livro, todos eles têm na leitura a forma de aprender 
a refletir e conhecer. Estão, portanto, indissoluvelmente ligados pela interpreta-
ção e pelo atuante papel do leitor. Daí que a leitura se converte numa disciplina 
nova, que atravessa todas as demais, uma transdisciplina, um novo campo do 
saber científico.
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A prática da leitura
(POSSENTI, 2006, p. 91-93)
Antes de qualquer sugestão metodológica, é preciso conceituar leitura 
dentro do quadro esboçado até aqui, sem trair a concepção de linguagem 
que subjaz a essas considerações iniciais.
Para Marisa Lajolo (1982ab, p. 59), “Ler não é decifrar, como num jogo de 
adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-
lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos 
para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, 
dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, 
propondo outra não prevista”.
Creio não trair a autora citada se disser que a leitura é um processo de 
interlocução entre leitor/autor mediado pelo texto. Encontro com o autor, au-
sente, que se dá pela sua palavra escrita. Como o leitor, nesse processo, não 
é passivo, mas agente que busca significações, “o sentido de um texto não é 
jamais interrompido, já que ele se produz nas situações dialógicas ilimitadas 
que constituem suas leituras possíveis” (AUTHIER-REVUZ, 1982, p. 104).
O autor, instância discursiva de que emana o texto, se mostra e se dilui nas lei-
turas de seu texto: deu-lhe uma significação, imaginou seus interlocutores, mas 
não domina sozinho o processo de leitura de seu leitor, pois este, por sua vez, 
reconstrói o texto na sua leitura, atribuindo-lhe a sua (do leitor) significação.
É por isso que se pode falar em leituras possíveis e é por isso também 
que se pode falar em leitor maduro e “a maturidade de que se fala aqui não 
é aquela garantida constitucionalmente aos maiores de idade. É a maturida-
de de leitor, construída ao longo da intimidade com muitos e muitos textos. 
Leitor maduro é aquele para quem cada nova leitura desloca e altera o signifi-
cado de tudo o que ele já leu, tornando mais profunda sua compreensão dos 
livros, das gentes e da vida” (LAJOLO, 1982, p. 53).
Como coadunar essa concepção de leitura com atividades de sala de aula, 
sem cair no processo de simulação de leituras?
Texto complementar
Literatura, Leitura e Aprendizagem
A concepção escolar da leitura
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Não me parece que a resposta seja simples. Se fosse assim, não haveria 
razão para tantos encontros de professores, tantos textos que tematizam a 
própria leitura. Qualquer que seja a resposta, no entanto, estará lastreada 
numa concepção de linguagem, já que toda a metodologia de ensino articula 
uma opção política – que envolve uma teoria de compreensão e interpreta-
ção da realidade – com os mecanismos utilizados na sala de aula (conforme 
Fischer, 1976). No nosso caso, como compreendermos e interpretarmos o fe-
nômeno linguagem embasará a resposta ao problema.
É desnecessário dizer que este texto não pretende dar a resposta, mas uma 
resposta. E a leitura desta, para sermos coerentes com a concepção de leitura 
recém-delineada, se transformará em respostas. Por mais que eu fuja da res-
posta que quero dar, fazendo uma citação ali, alertando o leitor para o “desne-
cessário dizer”, mas dizendo, não posso fugir de dar uma resposta, sob pena de 
estar simulando, agora, a produção de um texto tornando-o “redação escolar”.
Marilena Chauí, em conferência proferida no Primeiro Fórum da Educação 
Paulista (10 a 12 de agosto de 1983), utilizou excelente imagem: o diálogo 
do aprendiz de natação é com a água, não com o professor, que deverá ser 
apenas mediador desse diálogo aprendiz-água. Na leitura, o diálogo do aluno 
é com o texto. O professor, mera testemunha desse diálogo, é também leitor, 
e sua leitura é uma das leituras possíveis.
Leitores, como nos colocamos ante o texto? Longe de querer estabelecer 
uma tipologia de vivências de leituras, gostaria de recuperar da nossa experi-
ência concreta de leitores as seguintes possíveis posturas ante o texto:
a leitura – busca de informações; �
a leitura – estudo do texto; �
a leitura do texto – pretexto; �
a leitura – fruição do texto. �
Diante de qualquer texto, qualquer uma dessas relações de interlocução 
com o texto/autor é possível. Mais do que o texto definir suas leituras possí-
veis, são os múltiplos tipos de relações que com eles nós, leitores, mantivemos 
e mantemos, que o definem.1
1 Marisa Lajolo, em O que é Literatura, defende o ponto de vista de que é literatura o que as instituições sociais, na história, disseram que é lite-
ratura. Foram, pois, leituras que a definiram. Eni Orlandi (“Histórias das leituras”, comunicação apresentada no XXVI Seminário de Gel, Unimep, 
1983) exemplifica a mesma questão a partir de textos religiosos do sânscrito, hoje lidos como poemas. Opera com o conceito de leitura privile-
giada para mostrar que a leitura de alguns leitores é imposta como a única leitura. 
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Dica de estudo
Consulte o resultado da pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, que pode �
se encontrado no site <www.institutoprolivro.org.br>. Nele você obterá 
não apenas os dados sobre a pesquisa e seus resultados, como também 
estudos que analisam esses resultados. Nele você poderá comprovar como 
a leitura tem importância histórica, social e pessoal e o quanto a escola é o 
espaço privilegiado para formar leitores.
Atividades
1. Considere as diferentes disciplinas que você já estudou em sua vida estudan-
til e analise se elas dispensaram a leitura ou não. Escreva um texto sobre esse 
resultado.
Literatura, Leitura e Aprendizagem
A concepção escolar da leitura
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2. Que critérios você deve usar para considerar uma pessoa iletrada?
Objetivos
Questionar a formação do professor como leitor e provocar uma re-
flexão sobre a necessidade de mudanças metodológicas no trabalho 
com a formação de leitores crianças.
Para que possamos pensar na leitura em sentido amplo, não devemos 
desconsiderar a formação do professor, um dos principais agentes

Como se dá a relação entre autor texto e leitor?

Uma vez publicado, o texto adquire vida própria e se nutre das diferentes leituras que acerca dele são feitas. Assim, cada leitor é um pouco autor, também, pois contribui para a existência do texto com a visão que dele tem. O sentido de um texto, portanto, é construído nesse diálogo, nessa interação autor-leitor.

Pode

Resposta Esperada: Pode-se dizer que ocorre uma espécie de conversa entre leitor e autor. Ainda que não seja de forma direta, ocorre o chamado diálogo virtual. Nesse diálogo, o leitor pode concordar, discordar, além de realizar inferências.

O que é o processo de leitura?

Segundo COLL (1990), a leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto a partir de seus objetivos, conhecimento sobre o assunto, quem é o autor do texto e todo seu conhecimento de linguagem.

Como é chamado a interação do leitor com o texto?

Concepção Bottom-up – considera a decodificação do texto como processo do ato de ler, no qual a partir da decodificação de palavras o leitor compreende o texto, entende o seu sentido. Nesta perspectiva, o texto oferece seu próprio sentido; essa concepção de leitura também é denominada ascendente.