Por que existe maldade no mundo

Pode ser que o meu artigo – “Se existe o mal, existe Deus?” – tenha colocado alguns leitores em crise, e eles continuem se perguntando: «Se Deus é bom, se é o Todo-Poderoso, se, por seis vezes, a Bíblia garante que, ao criar o mundo, Ele “viu que tudo era bom” (Gn 1,10.12.18.21.25.31), por que, logo depois, “a maldade humana crescia em toda a parte e ele se arrependeu de ter criado o homem”?» (5,5-6).

Por que existe maldade no mundo

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Como fizemos no artigo anterior, para uma tentativa de resposta – porque a resposta completa só obteremos no Paraíso –, também desta vez recorremos aos livros do teólogo espanhol, padre Andrés Torres Queiruga: “Um Deus para hoje” e “Repensar o mal”.

Primeiramente, importa lembrar que tudo o que nasce, morre, ou seja, por mais perfeito que seja o ser humano e tudo o que o cosmos encerra, ele é sempre contingente, sujeito aos percalços da vida. Se Deus criasse algo idêntico a si em perfeição, o que resultaria seria o panteísmo, onde a natureza se confunde com a divindade.

As consequências do mundo em evolução

É o que tenta explicar o padre Queiruga: «O descobrimento da autonomia das realidades mundanas, ao mostrar sua consistência, mostra também o cunho infranqueável de seus limites, o caráter estritamente inevitável do mal no seio de um mundo finito. Um mundo em evolução não pode se realizar sem choques e catástrofes; uma vida limitada não pode escapar ao conflito, à dor e à morte; uma liberdade finita não pode excluir a situação-limite da falha e da culpa. Dada a sua decisão de criar, Deus “não pode” evitar essas consequências na criatura, porque equivaleria a anular com uma mão o que teria criado com a outra. Isso não vai contra sua onipotência real e verdadeira, porque, falando com propriedade, não é que Deus “não possa” criar e manter um mundo sem mal, mas isso “não é possível”. Seria tão contraditório como fazer um círculo quadrado». Se essa é a dinâmica do amor de Deus, qual a atitude o padre Andrés pede aos cristãos? «Urge, portanto, tirar com todo o rigor a consequência justa, que consiste em dar reviravolta radical à compreensão. Um Deus que cria por amor, é evidente que quer o bem – e só o bem – para suas criaturas. O mal, em todas as suas formas, é precisamente o que se lhes opõe da mesma forma a ele e a elas. Existe, porque é inevitável, tanto física como moralmente, nas condições de um mundo finito e de uma liberdade limitada. Por isso, não se deve jamais dizer que Deus manda ou permite o mal, mas que o sofre e o padece como frustração da obra de seu amor em nós».

A alegria de quem vive a fé é saber que Deus é maior do que o mal e o pecado, e se serve da própria fraqueza humana para realizar as suas maravilhas: «Felizmente, o mal não é um absoluto. Podemos e devemos lutar contra ele, sabendo que o Senhor está ao nosso lado, limitando-o e superando-o no possível já agora, dentro dos limites da história, e assegurando-nos o triunfo definitivo quando se romperão esses limites pela morte. Por isso, em elementar rigor teológico, não tem sentido que “peçamos” ou tentemos “convencer” a Deus para que nos livre de nossos males. Pelo contrário, ele é o primeiro a lutar contra eles e é ele quem nos chama e “suplica” que colaboremos com essa sua luta».

Por que existe maldade no mundo

Um Deus para hoje

O padre Queiruga inicia o seu volume – “Um Deus para hoje” – com estas palavras: «Dize-me como é teu Deus, e dir-te-ei como é tua visão do mundo; dize-me como é tua visão do mundo, e dir-te-ei como é teu Deus». Assim sendo, ele conclui: «Esta é a imagem do Senhor que os cristãos e as cristãs atuais devemos gravar em nosso coração e transmitir aos outros: não um Deus que, podendo livrar-nos do mal, não o faz ou o faz somente às vezes, ou em favor de uns quantos privilegiados, mas um Deus solidário conosco até o Sangue de seu Filho, que sofre conosco e nos compreende. Só por ter-se mantido, sem corrigir-se a tempo, a falsa imagem de uma onipotência arbitrária, puderam alguns crentes pensar que, depois de Auschwitz era impossível orar. Pelo contrário, a partir do Deus vivo e verdadeiro compreendemos que só a fé em Deus é capaz de manter viva a esperança das vítimas dentro do terror brutal da história».

Autor: Dom Redovino Rizzardo, cs

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Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

Cecília Meireles

Toda a maldade é fraqueza.

John Milton

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Por que existe maldade no mundo

(Foto: Karen Bueno)

Os tempos difíceis de crise levam muitas pessoas a se perguntarem: Por que Deus faz isso conosco? Por que ele nos envia tanto sofrimento? Por que tantas mortes, tanta fome, tanta desunião? O número de perguntas é tão grande – e importante de serem feitas – que até parece um retorno à fase da infância, quando perguntávamos sem parar: “Papai, por que isso? Mamãe, por que aquilo?”

Esses questionamentos revelam, de certa forma, que nossa imagem de Deus precisa ser ainda amadurecida e aprofundada. E eis que chegou a hora! As crises podem ser oportunidades especiais para se reconhecer Deus por trás de cada situação. O Pe. Rafael Fernandez, neste trecho abaixo, nos fala sobre a ação do Pai Eterno em nossa vida, que jamais “envia” sofrimento, mas sim “permite” que ele aconteça – e nisso há grande diferença. Veja abaixo:

Muitas vezes cremos que o mal existente no mundo vem de Deus. Atribuímos a Ele todas as desgraças e maldades com que nos deparamos. Mas com isso cometemos um erro. Não é Deus quem introduz o mal no mundo. Quando concluiu a criação, relata-nos o livro do Gênesis: “E Deus viu que tudo era bom”. O demônio e o homem são os que, pelo pecado, introduziram o mal no mundo.

Onde há pecado, há desordem e dor. Mas, por que Deus permite que o homem peque? Simplesmente porque quis criar o homem como uma pessoa livre: fê-lo à sua semelhança, não como o resto da criação; a dos vegetais, a dos insetos, a dos animais que os fez como seres determinados por leis físicas ou por seus instintos. Em outras palavras, não lhes deu a capacidade de decidir e de amar. E essa é a grandeza do ser humano. Mas, sendo o homem livre, ele supunha que podia abusar de tal liberdade. E isso é o que fez.

Grande parte de nossas crises, com respeito à fé prática na Divina Providência, se fixam precisamente aqui. Escandaliza-nos o mal que há no mundo e nos perguntamos como pode existir um Deus Pai que permite tudo isso. Nós dizemos: “Se Deus existe, como pode haver tanta miséria e injustiça?” Deduzimos, então, ou que Deus não existe ou que não se preocupa conosco. Esquecemos que também nós somos agentes ativos na história, atribuímos a Deus coisas das quais nós somos responsáveis.

Somos nós que, pelo pecado, introduzimos o mal no mundo. E isto, desde o princípio. Portanto, se consideramos a realidade do pecado e a influência do demônio no mundo, não devemos estranhar que estejamos aqui na terra sempre rodeados de misérias.

Compreender plenamente este conjunto de realidades, tampouco será possível nesta vida. Sempre nos encontramos diante do misterioso plano de Deus. No entanto temos a certeza: se Deus permite a dor e a cruz, é por um bem maior.

Permite-o, em primeiro lugar, porque nos quer pessoas livres. E, se pecando, abusamos de nossa liberdade, Ele não nos abandona. Sempre nos estende a mão misericordiosa para devolver-nos a dignidade perdida.

E se permite ou coloca cruzes em nosso caminho, por elas nos faz crescer, nos purifica, acrisola nosso amor e nos faz partícipes da missão redentora de Cristo Jesus.

Criados conforme a imagem de Cristo, todos estamos destinados a compartilhar, cada um a seu modo, seu caminho de cruz. São Paulo, ao anunciá-lo, compreende que isso soa como “escândalo para os judeus e loucura para os pagãos”, mas para nós nos revela que a cruz é “poder de Deus e sabedoria de Deus”. Dito em outras palavras: que a dor é o caminho que a sabedoria de Deus aproveita para desenvolver do modo mais admirável seu ilimitado poder criador e vivificador.

Quem está consciente destas verdades, não teme entregar-se a Deus por inteiro. Sabe que haverá cruzes no caminho; mas, ao mesmo tempo, possui a firme confiança filial, seja qual for a dor, perda ou golpe do destino que nos advenha, que Deus saberá colocar as coisas para que tiremos proveito delas. Um proveito que muitas vezes não é material, mas espiritual e sobrenatural. Não devemos perder de vista “que estamos no mundo, mas não somos do mundo”.

Pistas para reflexão:

– Qual tem sido minha experiência diante da dor?

– Que momentos de dor tive em minha vida pessoal ou familiar? Que ajuda ou graça recebi nesse momento?

– Que significou esta experiência de dor em minha vida?

– Que aprendi ou que Deus me deu através dela?

* Trecho do livro: Sim Pai – Nossa Entrega Filial a Deus, Pe. Rafael Fernandez; 1ª edição brasileira, julho de 2005