Por qual motivo a atividade industrial iniciou-se somente após tanto tempo no território brasileiro

O Brasil faz parte do grupo de países que realizaram a chamada industrialização tardia, ou seja, o processo de implantação das indústrias demorou mais a começar do que em outros países. Enquanto na Inglaterra esse processo iniciou-se no XVIII, no Brasil, ele só foi ocorrer quase 200 anos depois.

Essa demora na industrialização brasileira ocorreu em virtude da forma como o país foi colonizado. Por ser uma colônia de exploração de Portugal, que mantinha uma forte relação comercial com a Inglaterra, berço da Revolução Industrial, ter muitas riquezas naturais e espaço de sobra para a produção de produtos primários, desde o início de sua colonização o Brasil voltou-se para a produção de bens primários a partir de mão de obra escrava. Em 1785, inclusive, foi oficialmente proibida a produção de manufaturas no Brasil, sob justificativa de que a mão de obra escrava presente no país era essencial nas atividades agropecuárias e na extração de minério, não podendo ser utilizada na produção de produtos manufaturados.

Ao longo do século XIX e início do século XX, o café consolidou-se como o principal produto brasileiro, gerando um enorme desenvolvimento econômico e de infraestruturas (meios de transportes, estradas de ferro, rodovias, serviços bancários, rede elétrica, etc.) indispensáveis para o surgimento das primeiras indústrias no país. Além disso, com a abolição da escravatura, em 1888, houve um aumento do mercado consumidor brasileiro, tanto em virtude da quantidade de escravos que passaram a comprar quanto pela vinda de muitos migrantes do mundo inteiro, que estavam acostumados a produzir e a consumir produtos industrializados. Com isso, houve um aumento da demanda por esse tipo de produto.

A partir de 1808, a medida de restrição a manufaturas foi abolida e gradativamente foram surgindo pequenas indústrias concentradas principalmente na cidade de São Paulo, cidade com maior infraestrutura para suportar a implantação de indústrias, iniciando, assim, a industrialização brasileira. Esse crescente número de empresas estavam voltadas, principalmente, para abastecer o mercado interno com bens de consumo não duráveis, como alimentos, tecidos, bebidas, calçados etc., substituindo as importações. Nesse momento, o desenvolvimento industrial ocorria muito mais pela iniciativa individual do que por uma política pública de incentivo à produção industrial.

Durante a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929, o café perdeu muito o seu valor de mercado. Para não perderem mais dinheiro, os cafeicultores brasileiros passaram a investir em produtos industrializados. Nos dois governos de Getúlio Vargas, visando ao enfraquecimento das oligarquias, que dominavam o país a partir do seu controle sobre a terra, o Estado passou a investir em uma política de desenvolvimento industrial, incentivando o desenvolvimento de indústrias de base, principalmente estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional, a Petrobras, a Companhia Vale do Rio Doce e outras.

No período de Juscelino Kubitschek, com a política de 50 anos em 5, o Estado procurou investir em infraestrutura básica para atrair indústrias privadas, principalmente as automobilísticas, e em indústrias de base. Nesse período, as principais características da industrialização brasileira eram:

  • A concentração industrial: A maioria das indústrias estava localizada na cidade de São Paulo e arredores, em virtude, principalmente, da maior quantidade de infraestruturas e mão de obra que a região possuía em relação ao restante do país. Essa situação só começou a mudar a partir de 1970 graças ao investimento em infraestrutura nas demais regiões do país, incentivos fiscais e, sobretudo, ao esgotamento da cidade de São Paulo, que passou a ter um alto custo de produção e baixa qualidade de vida em face da quantidade de indústrias ali localizadas.

  • Dependência econômica e tecnológica: A industrialização brasileira desenvolveu-se essencialmente por meio do capital estrangeiro, a partir de empréstimos, e de tecnologia importada, já que o país não possuía nem capitais nem tecnologia suficiente para industrializar-se. Com isso, em razão dos altos juros e custos com equipamentos importados, o Brasil perdeu competitividade em relação aos demais países do globo.

Atualmente, o principal desafio do processo industrial brasileiro consiste em ingressar de forma autônoma, sem depender de capital ou tecnologia estrangeira, na terceira fase da Revolução Industrial, que faz uso intenso de alta tecnologia (informática, robótica, biotecnologia etc). Além disso, o país precisa dinamizar sua produção, evitando desperdícios e diminuindo os custos, para conseguir competir com os produtos industrializados de outros países.

¹ Crédito da imagem: Shutterstock.com e Alf Ribeiro.

Por Thamires Olimpia

Graduada em Geografia

Geografia - Manual do Enem

O processo de industrialização brasileira - ou seja, o fortalecimento dos investimentos no setor fabril e a expansão e crescimento econômico das indústrias - é considerado tardio, uma vez que, enquanto as potências europeias já experienciaram suas revoluções industriais desde os primeiros anos do século XIX, o Brasil ainda vivia sob o regime de economia colonial.

Foi só a partir de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, que o Brasil passou a investir no segundo setor - ou setor industrial - e passou por profundas mudanças econômicas, políticas e sociais.

Mais tarde, durante o governo de Juscelino Kubitschek, o país viu seu ramo industrial crescer exponencialmente, diante do slogan “50 anos em 5” do então presidente.

Veremos, aqui, os fatores centrais da industrialização brasileira durante esses períodos. 

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Enquanto o Brasil teve Portugal como metrópole (1500-1808), a implantação de indústrias foi proibida na colônia, a fim de se evitar a concorrência comercial dos produtos e, principalmente, que o país conquistasse autonomia financeira suficiente para uma possível independência.

Por isso, durante mais de 300 anos, a produção no Brasil foi exclusivamente artesanal, salvo o caso dos engenhos de açúcar

Em 1808, com a chegada da família real portuguesa no Brasil, o cenário começou a mudar: a implantação de indústrias foi permitida e a importação de matéria-prima para abastecimento das fábricas também.

Entretanto, alguns requisitos deveriam ser cumpridos, como o pagamento de taxas de importação de 15%.

As primeiras indústrias surgidas no Brasil dedicavam-se à produção de tecidos, sabão, alimentos e outros produtos que não demandavam alto grau de tecnologia.

Apesar do surgimento dessas indústrias neste período, até os últimos anos da década de 1920 o maior interesse e investimento econômico no país era direcionado para a ampliação e exportação do café

A partir de 1929, o Brasil viveu uma grave crise do modelo agrário-exportador, com a intensa queda do rendimento de lucro das plantações de café.

Crise do Café fez com que os investimentos passassem a ser direcionados para atividades urbanas como as indústrias e, devido à redução das importações, tornou-se necessária a produção de bens de consumo, o que também impulsionou as indústrias. 

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Entre 1930 e 1955, o setor industrial recebeu muitos investimentos dos ex-cafeicultores que haviam acumulado lucros. Com a crise do café, não investiriam mais no setor agrário.

Além disso, outros fatores foram importantes para possibilitar o crescimento da indústria no Brasil:

  • a chegada dos imigrantes estrangeiros e suas técnicas industriais;
  • a dificuldade de importação de produtos em decorrência da Primeira Guerra Mundial;
  • o começo da formação da classe média urbana consumidora.

A industrialização brasileira teve como consequência a transformação do espaço geográfico e mudanças em diversos aspectos sociais e econômicos, impulsionados pelo Governo Getúlio Vargas.

Dentre elas podemos citar:

  • melhoria dos meios de transporte (malha ferroviária e malha rodoviária, principalmente) para facilitar a distribuição dos produtos;
  • criação da Companhia Siderúrgica Nacional (1942-1947) em Volta Redonda, responsável pela produção de metais - principalmente aço - fornecidos como matéria-prima para outras fábricas;
  • criação da Companhia Vale do Rio Doce, empresa de exploração de mineração;
  • criação da Petrobrás, empresa estatal produtora de energia;
  • criação das Leis Trabalhistas pelo governo de Getúlio.

Por qual motivo a atividade industrial iniciou-se somente após tanto tempo no território brasileiro
Construção da Companhia Siderúrgica Nacional

É importante pontuar que a maior parte das indústrias neste período encontravam-se no eixo Rio de Janeiro-São Paulo. A concentração de infraestrutura, mercado consumidor e mão de obra qualificada tornaram a Região Sudeste pioneira na industrialização do país.

Entre 1930 e 1955, as indústrias produziram tanto bens de consumo duráveis - como automóveis - quanto bens de consumo não duráveis - desde calçados e roupas até alimentos.

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O processo de industrialização brasileiro adquiriu novos rumos a partir do governo do presidente Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1960. 

Governo JK é considerado nacional-desenvolvimentista, uma vez que o Estado é o grande responsável pelo desenvolvimento econômico e industrial nacional, ao mesmo tempo em que existe certa abertura para o capital estrangeiro. É por conta dessa política que JK acabou por aumentar muito a dívida externa brasileira

Foi durante esse período que houve um grande crescimento industrial e o consequente aumento do padrão de vida, além da possibilidade de consumo de uma parcela da população: a classe média.

Entretanto, houve também o grande aumento da desigualdade social.  

Algumas das características centrais das políticas para a indústria nesse período foram:

  • internacionalização da economia: ou seja, abertura para o capital internacional, o que levou a entrada de grandes indústrias multinacionais no país - principalmente automobilísticas - como a Ford, General Motors etc;
  • economia baseada em três pilares:
  • o Estado e seu capital investindo nas indústrias de base e infraestrutura;
  • o capital privado nacional direcionado às indústrias de bens de consumo não duráveis;
  • o capital internacional, com investimentos na produção de bens duráveis;
  • grande desenvolvimento das áreas urbanas: enquanto foram escassos os investimentos nas áreas rurais.

Por qual motivo a atividade industrial iniciou-se somente após tanto tempo no território brasileiro
Inauguração da fábrica da GM pelo presidente JK 

As premissas básicas das políticas industriais de JK, apesar de adaptadas, permanecem no país até hoje.

Durante a Ditadura Militar, por exemplo, foi intensificada a entrada de empresas e capital estrangeiro, o que veio a comprometer a autonomia do crescimento econômico do país.

Além disso, a modernização econômica que deu origem ao chamado “Milagre Econômico”, entre 1968 e 1973, que aconteceu diante do aprofundamento da dívida externa.

O desgaste causado pelas políticas dos militares foi sentido na década de 1980, quando Brasil teve sua atividade industrial reduzida e altas taxas de inflação

Desde a década de 1990, as políticas industriais têm sido marcadas pela perspectiva neoliberal, com privatizações de empresas estatais, flexibilização das leis trabalhistas, redução de investimentos em âmbitos sociais etc. 

Exercício de fixação

ENEM/2013

Observe a charge abaixo:

Por qual motivo a atividade industrial iniciou-se somente após tanto tempo no território brasileiro

Meta de Faminto

JK   —  Você agora tem automóvel brasileiro, para correr em estradas pavimentadas com asfalto brasileiro, com gazolina brasileira. Que mais quer?

JECA — Um prato de feijão brasileiro, seu doutô!

(THÉO. In; LEMOS, R. (Org ). Uma história do Brasil através da caricatura (1840-2001) Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras & Expressões, 2001)

A charge ironiza a política desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek, ao:

A evidenciar que o incremento da malha viária diminuiu as desigualdades regionais do país.

B destacar que a modernização das indústrias dinamizou a produção de alimentos para o mercado interno.

C enfatizar que o crescimento econômico implicou aumento das contradições socioespaciais.

D ressaltar que o investimento no setor de bens duráveis incrementou os salários de trabalhadores.

E mostrar que a ocupação de regiões interioranas abriu frentes de trabalho para a população local.