Mesmo não sendo americano, marcos tornou-se um astronauta da nasa. por que isso foi possível?

O astronauta brasileiro Marcos Cesar Pontes, 43, estará nos próximos dias na órbita da Terra, oito dos quais à bordo da Estação Espacial Internacional, que se encontra a 350 Km de altitude. Ele deixou o Centro de Lançamento de Baikonur, no Cazaquistão, às 23h29 da quarta-feira, 29 de março de 2006, pelo horário de Brasília (cerca de 7h da manhã de quinta-feira, de acordo com o horário cazaque).Partiu a bordo de uma nave Soyuz-TMA 8, em companhia do russo Pavel Vinogradov e do americano Jeffrey Willians, e permanecerá na Estação, mantida por 16 países, durante oito dias, nos quais deve realizar oito experimentos científicos brasileiros, originários de diversas instituições e escolas, que precisam ocorrer em ambiente de microgravidade.

Nuvens de Interação Proteica

Em geral, os experimentos brasileiros já foram realizados no âmbito dos programas russos, europeus e americanos. No entanto, o oitavo experimento, chamado NIP (Nuvens de Interação Proteica) desperta mais curiosidades e é o que mais exigirá esforços de Pontes. O NIP foi criado pelo Centro de Pesquisas Renato Archer, em Campinas (SP) e envolve a observação em uma câmara fechada, de proteínas bioluminescentes - entre elas as responsáveis pela luz que emana do traseiro dos vaga-lumes.Nem só por isso o NIP é o experimento menos convencional a ser conduzido por Pontes, pois, além de sua natureza científica, o projeto também tem um lado estético e foi desenvolvido em parceria por pesquisadores e artistas. Os russos manifestaram atenção e admiração pelo NIP, segundo relatou o jornalista Salvador Nogueira, enviado especial da "Folha de S. Paulo" a Baikonur.

O custo da viagem

Para colocar Marcos Cesar Pontes em órbita, o governo (e nós, o povo) brasileiro desembolsamos US$ 10 milhões, além de abrir espaço para que a Rússia participe da construção de futuros satélites brasileiros. Por isso, independentemente de todo o aspecto pioneiro e aventuresco que a missão do astronauta brasileira evoca, a questão que se coloca é se ela vale realmente o quanto pesa. Se saímos ganhando, na relação custo/benefício.Não há dúvida de que o Brasil não pode ficar à margem do desenvolvimento científico e tecnológico que ocorre no mundo. Nem que os investimentos em alta tecnologia são, também, essenciais para garantir o bem-estar das futuras gerações. Os experimentos de microgravidade, por exemplo, têm grande potencial de auxílio à medicina. Mas não é exatamente essa a questão.

Vale a pena?

Embora dividida, as opiniões dos especialistas brasileiros em questões aeroespaciais apontam um pequeno saldo positivo a favor de Pontes, embora seja quase uma unanimidade que a viagem do astronauta está longe de ser o prato forte do programa especial brasileiro. Para a SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, o dinheiro deveria ter sido gasto em pesquisa e desenvolvimento espaciais dentro do país. Sem falar no fato de que os voos tripulados por brasileiros estão longe de se transformar em algo frequente.Já a Agência Espacial Brasileira - AEB acha que o valor do investimento reside na visibilidade que ele traz para nosso programa espacial. É o que pensa também José Monserrat Filho, advogado, jornalista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Direito Espacial, que considera secundários a viagem propriamente dita e os experimentos..

Propaganda e marketing

Para Monserrat Filho, portanto, cabe a Marcos Cesar Pontes deixar claro ao mundo e aos brasileiros "o que de mais relevante fazemos no espaço hoje: conhecer nossos recursos naturais, graças ao acordo com a China, que já lançou dois satélites de sensoriamento remoto e lançará mais três até 2010."Além disso, Monserrat considera a importância de introduzir a base de Alcântara (MA) no mercado mundial de lançamentos comerciais, conforme o acordo com a Ucrânia e com outros países interessados em lançar foguetes dali; construir outros satélites, um dos quais geoestacionário, indispensável às comunicações no Brasil; construir foguetes que nos abram novas portas para o espaço e para nossa indústria aqui na Terra.

Gagarin e Santos Dumont

Depois de sua breve jornada no espaço, o astronauta Marcos Cesar Pontes pode ser o grande divulgador de tudo isso. E não se deve desprezar o papel publicitário dos astronautas: Yuri Gagarin, o pioneiro dos voos espaciais em 1961, desempenhou essa missão para a extinta União Soviética, assim como o fez Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, em 1969, para os Estados Unidos.A propósito, estando a publicidade ligada ao aspecto simbólico da realidade e ao imaginário das pessoas de um modo geral, não se pode deixar de mencionar o nome dado à missão de Pontes: "Centenário", que lembra o voo de Alberto Santos-Dumont a bordo do 14-Bis, em 1906. O astronauta brasileiro, aliás, leva consigo uma réplica do chapéu do inventor. Nada mais justo.

Saiba mais sobre o astronauta e sua viagem no site oficial Marcos Pontes.

Mesmo não sendo americano, marcos tornou-se um astronauta da nasa. por que isso foi possível?
Marcos Pontes, o astronauta brasileiro Foto: Divulgação

Em março de 2006, todos os brasileiros se viam representados na figura de um só homem: o astronauta Marcos Pontes, primeiro cidadão do país a embarcar em uma missão espacial. Seu feito lhe garantiu um sucesso mundial e uma admiração nacional.

Para celebrar o aniversário do astronauta, comemorado no mês de março, a GALILEU separou algumas curiosidades e fatos da vida do homem que fez história. Confira:

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1. O brasileiro nasceu em 11 de março de 1963 em Bauru, interior de São Paulo. Desde criança, ele sonhava em pilotar aviões. “Eu sempre tive muitas fotos de aviões pregadas nas paredes do meu quarto. Hoje, quando alguma criança me escreve pedindo fotos de ônibus espaciais ou da estação internacional, fico imaginando o quarto dela e como deve ser parecido com o meu quarto, na minha infância...”, contou o engenheiro em entrevista à Revista UFO.

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2. Foi assim que ele cursou tecnologia aeronáutica na Academia de Força Aérea (AFA), em Pirassununga. Logo depois, tornou-se piloto de caça pela Força Aérea Brasileira (FBA). Mas não decidiu concluir sua carreira por aí. Pontes migrou de setor e também cursou engenharia aeronáutica no ITA e trabalhou como piloto de testes. Ele também empreendeu mestrado na área  engenharia de sistemas pela Naval Postgraduate School, em Monterrey (EUA).Com todas essas especializações, em 1998, o engenheiro foi selecionado por um concurso público da Agência Espacial Brasileira (AEB) para se tornar o primeiro astronauta do país.

Todo esse seu esforço valeu à pena: “A primeira vez que fui ao Johnson Space Center, em Houston, Texas, vi o foguete Saturno 5 no pátio. Quando cheguei ali, entrando de carro com o funcionário da seleção de astronautas, meu coração bateu forte”, relembra o engenheiro, que foi consagrado como astronauta pela NASA em dezembro de 2000.

3. Em março de 2006, Pontes tornou-se o primeiro brasileiro a ir ao espaço. O astronauta integrou a Missão Centenário, projeto criado entre o Brasil e a Rússia com destino Estação Espacial Internacional, com mais outros dois cientistas russos. Para Pontes, a missão durou 10 dias, tempo em que o engenheiro realizou diversos experimentos em ambientes de microgravidade.

4. Ao longo de sua trajetória, Pontes recebeu a Medalha Mérito Santos Dumont, condecoração dada à civis ou militares brasileiros que tenham tido destaque em seus serviços prestados à FAB, e a Medalha de Ouro Yuri Gagarin, concedida pela Federação Aeronáutica Internacional àqueles que tenham realizado grandes feitos pela conquista humana do espaço. Todas homenagens que Pontes ganhou podem ser conferidas neste link. 

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5. Durante a primeira transmissão midiática dos astronautas da Missão Centenário após ingressar na Estação Espacial Internacional, Pontes apareceu segurando a bandeira do Brasil. Ele também levou consigo a camisa da seleção pentacampeã do mundo de futebol. 

6. Teorias da conspiração movem o mundo e é claro que não poderia faltar uma que dissesse a respeito do primeiro brasileiro enviado à Estação Espacial Internacional. Há quem diga por aí que Pontes só foi convidado a empreender a viagem espacial porque o governo brasileiro entregou o ET de Varginha aos órgãos norte-americanos. 

Mesmo não sendo americano, marcos tornou-se um astronauta da nasa. por que isso foi possível?
Marcos Pontes, o primeiro brasileiro a ir para o espaço Foto: Wikicommons

7. Se Pontes acredita na história do ET de Varginha não sabemos, mas o astronauta considera a hipótese de que existe vida em outros lugares da galáxia. “Há muitas coisas no universo que ainda não conhecemos e seria muita ignorância afirmar que, pelo fato de nunca ter visto algo incomum aqui, isso não exista. Para prosseguirmos com as pesquisas, há a necessidade básica e científica de acreditarmos que existe alguma coisa, e eu acredito que há vida fora da Terra”, afirmou à Revista UFO, em 2006.

Sua opinião não mudou ao longo do tempo. Em entrevista à GALILEU em 2014, quando questionado sobre ter visto algo esquisito que pusesse em dúvida a teoria de estarmos a sós nesse universo, ele afirmou: "Sim. Não no espaço, mas como piloto".

8. Em maio de 2006, Pontes foi afastado e colocado como reserva em suas atividades da Força Aérea Brasileira. Em 2014, o astronauta tentou ingressar na carreira política como deputado federal de São Paulo pelo PSB. Ele obteve mais de 43 mil votos, número insuficiente para leva-lo até a Câmara.

No início desse ano, porém, o candidato Jair Bolsonaro, do partido PSL, anunciou que, caso vença a eleição presidencial, gostaria de ter Pontes como ministro da Ciência e Tecnologia. Ao convite, Pontes anunciou que "missão dada é missão cumprida".

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9. Mais do ser um engenheiro, membro da FAB e o primeiro astronauta brasileiro a conhecer o espaço, Pontes é exemplo de determinação. [A primeira vez que vi o espaço] lembrei foi do dia que eu era garoto em Bauru e meus amigos disseram que eu nunca seria nem piloto, pois aquilo era para filhos de rico. Aí, quando cheguei em casa, minha mãe me olhou firme com seus olhos azuis e disse: você pode ser o que quiser na vida se estudar muito, trabalhar, persistir e sempre fizer mais do que esperam de você. Ela estava certa. E eu lembrei exatamente disso ao ver a Terra do espaço pela primeira vez”, contou o brasileiro.

10. Recentemente, Pontes afirmou que gostaria de embarcar em novas missões, principalmente nas missões de colonização à Marte, empreendidas pela NASA.

*Com supervisão de Thiago Tanji