Os textos das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são de fontes diversas: jornais, livros, revistas, gibis e até músicas são usadas para ilustrar as perguntas das provas. As letras de canções da Música Popular Brasileira (MPB) são recorrentes nas provas e, além de estampar questões da prova de Linguagens, podem abordar o contexto histórico em que foi composta. Diante disso, o ex-professor de história do Brasil Escola Rainer Gonçalves de Sousa, que atualmente leciona no Instituto Federal de Goiás (IFG), resolveu produzir junto com Victor Creti Bruzadelli, também professor de História, o livro História da Música Popular Brasileira para Vestibulares e Enem. O Brasil Escola conversou com Rainer, que deu algumas dicas valiosas sobre o tema. Segundo o professor, antes das dicas é preciso entender o termo MPB não apenas como o gênero musical surgido na década de 1960. “No livro, consideramos MPB toda a canção de origem não-erudita produzida ao longo do século XX no Brasil”. Conheça o contexto da músicaMais do que simplesmente ouvir música, o Rainer indica que é necessário conhecer o contexto em que foi feita a composição. “Mesmo quando empregada em outras áreas de conhecimento, o domínio do contexto de produção de certas canções e gêneros musicais é de suma importância para o entendimento dessas questões”, explica o professor. A forma como a situação histórica influenciou a letra pode ser a chave da questão. Durante a ditadura militar no Brasil, por exemplo, o cerceamento político causou um certo desconforto nos artistas, obrigando-os a desenvolverem estratégias para evitar a censura. Neste período de regime militar, diversos artistas foram presos e/ou exilados, a maioria sob a acusação de protestos públicos com suas músicas. Entre estes é possível citar nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Geraldo Vandré, Raul Seixas e Rita Lee. Do samba ao rockApesar de não poder destacar um gênero musical ou um autor em específico, Rainer afirma que a frequência dessas questões é considerável. No Enem, já apareceram questões ligadas ao movimento tropicalista, bossa-nova, ao samba e ao desenvolvimento do rap brasileiro. As canções de protesto e o rock dos anos 80 também aparecem reiteradamente nas provas. Veja alguns exemplos de questões e as explicações do professor: Para se pensar essa canção, é praticamente inevitável falar a respeito da carreira de Luiz Gonzaga. Considerado o inventor do “baião”, esse importante ícone da música popular do Brasil se montou de um verdadeiro personagem para subir aos palcos e cantar sobre o seu lugar de origem: o Nordeste. Entre a denúncia dos graves problemas e a lembrança saudosa das belezas desse lugar, Gonzagão se tornou um grande fenômeno ao atingir profundamente a subjetividade de vários imigrantes que também saíram do nordeste em busca de melhores condições de vida. No caso dessa questão em específico, se destaca o deslocamento como uma experiência recorrente à época. Sendo assim, marcamos a letra C. Quando se fala da cena musical brasileira da década de 1960, devemos ter sempre uma ideia na cabeça: efervescência. Nesse sentido, a canção acima é um dos mais emblemáticos “hinos” da canção de protesto daquela época. Com um canto em forma de lamento, originalmente interpretado por Nara Leão, “Opinião” debate o problema da habitação nas grandes cidades. Ao mesmo tempo, elege a figura do morador da favela como um legítimo representante do “povo”, personagem esse sistematicamente e diversamente evocado para se fazer a denúncia explícita de vários problemas políticos e sociais que atravessavam a época. Dadas essas características, não resta dúvidas sobre o gabarito, sendo correta a letra D. DicasSegundo o professor Rainer, a principal dica é escutar muita música. Não é possível entender o tom ou a representação de uma letra apenas lendo uma narrativa. “Só depois disso que a leitura e a reflexão teórica sobre esses gêneros passam a fazer sentido e podem melhor capacitar o estudante para as provas de vestibular” explica. Além disso, entender o contexto da criação e a relação intertextual e estética entre os gêneros musicais facilita a interpretação da letra. O olhar fracionado para a história da canção popular produzida no Brasil impede de perceber as relações que a música possui com a história no geral.
01. (UEL) Apesar de você Chico Buarque Amanhã vai ser outro dia Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão, não A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão Viu? Você que inventou esse Estado Inventou de inventar Toda escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar o perdão (http://letras.terra.com.br/chico-buarque/7582/) As composições de Chico Buarque sempre estiveram permeadas de contextualização política e protesto social. No trecho acima citado pode-se apreender o período ditatorial dos militares no Brasil. Sobre esse período podemos concluir que:
02. (ENEM) Opinião Podem me prender Podem me bater Podem até deixar-me sem comer Que eu não mudo de opinião. Aqui do morro eu não saio não Aqui do morro eu não saio não. Se não tem água Eu furo um poço Se não tem carne Eu compro um osso e ponho na sopa E deixa andar, deixa andar... Falem de mim Quem quiser falar Aqui eu não pago aluguel Se eu morrer amanhã seu doutor, Estou pertinho do céu Zé Ketti. Opinião. Disponível em: http:/www.mpbnet.com.br. Acesso em: 28 abr. 2010. Essa música fez parte de um importante espetáculo teatral que estreou no ano de 1964, no Rio de Janeiro. O papel exercido pela Música Popular Brasileira (MPB) nesse contexto, evidenciado pela letra de música citada, foi o de
03. (FAMEMA) O período mais produtivo da Época de Ouro da MPB coincide, basicamente, com o Estado Novo (1937-1945), implantado por Getúlio Vargas. Não é uma simples coincidência. Em 1937, Vargas criou o Ince (Instituto Nacional de Cinema Educativo), o SNT (Serviço Nacional de Teatro) e o INL (Instituto Nacional do Livro). De outro lado, Vargas também operava, com mão de ferro, o famigerado DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). (José Arbex Jr. e Maria Helena V. Senise. Cinco séculos de Brasil, 1998. Adaptado.) Durante o Estado Novo,
04. (ESPM) Recentemente, uma das maiores expressões da MPB envolveu- se em conturbada polêmica devido a captação da vultosa quantia de R$ 1,3 milhão em incentivos fiscais para a montagem de um blog sobre poesia. As críticas foram intensas, inclusive dentro da classe musical, devido ao fato de tal soma, em vez de ir para investimento público via captação de tributos, seria convertida em interesse privado. A personagem envolvida com a polêmica foi:
05. (CESUPA) “Em 14 de setembro de 1967, tal como anunciou o jornal ‘A Província do Pará’, ocorreu (em Belém), o ‘1º Festival de Música Popular Brasileira no Pará’. Mais tarde os jornais locais corrigiram o nome do evento informando que se tratava na verdade do ‘1º Festival de Música Popular Paraense’. (COSTA, Tony Leão da. Música do Norte: intelectuais, artistas populares, tradição e modernidade na formação da “MPB” no Pará (anos 1960-1970). Dissertação (mestrado). Belém: UFPA, 2008. P. 15. In: http://www3.ufpa.br/pphist/index.php. “Fiquei sabendo que ele ia passar de carro pela João Alfredo e fugi com umas amigas, da aula do Colégio Moderno. Era um carro vermelho, acho que um Galaxy conversível. Estavam todos de porre e no som tocava ‘A Banda’. Eu sei que estava com uma sandália, que perdi pelo meio do caminho e armada dos dois discos, enquanto o seguia.” (relato de uma então estudante. Belém, setembro de 1967) (COSTA, Tony Leão da. Op. cit., p.19) A partir da leitura dos trechos acima e dos estudos históricos sobre Música Popular Paraense, assinale a alternativa correta:
06. (IFSC) A televisão começou a se popularizar em meados dadécada de 1960, influenciando na música. Nestaépoca, a TV Record organizou o Festival de MúsicaPopular Brasileira. Nestes festivais foram lançados:
07. (UEL) Em 1967, o Festival da TV Record premiou o time dos sonhos da MPB: pela ordem, do primeiro ao quarto lugar, vebceram canções de Edu Lobo e Capinam, Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda e Caetano Veloso. Assinale a alternativa que contém os títulos das quatro canções premiadas dos respectivos compositores:
08. (FMABC) "O conceito de MPB [Música Popular Brasileira], em suas variáveis ideológicas e estéticas, é inseparável de uma cultura política marcada pelo chamado 'nacional-popular' de esquerda. A busca de uma expressão que fosse, ao mesmo tempo, nacional e cosmopolita, popular e sofisticada marcou a gênese da MPB 'moderna', em meados dos anos 60, tornando-a o centro da reorganização da própria tradição musical brasileira." Marcos Napolitano. “MPB: totem-tabu da vida musical brasileira”, in Anos 70: trajetórias. São Paulo: Iluminuras, 2006, p. 126. A partir do texto, pode-se afirmar que o conceito de MPB vincula-se
09. (PUC-Campinas) Lembrando e pensando a TV [1] Houve um tempo em que a TV − acreditem, ó jo- vens! − ainda não existia. Ouvia-se rádio, ia-se ao cine- ma. Mas um dia chegou às casas das pessoas um apa- relho com o som vivo do rádio acoplado a vivas ima- [5] gens, diferentes das do cinema, imagens chegadas de algum lugar do presente, “ao vivo”. Logo saberíamos que todas as imagens do mundo, inclusive os filmes do cinema, poderiam estar ao nosso alcance, naquela telinha da sala. Modificaram-se os hábitos das famílias, [10] seus horários, sua disponibilidade, seus valores. A TV chegou para reinar. A variedade da programação já indicava o amplo alcance do novo veículo: notícias, reportagens, musi- cais, desenhos animados, filmes, propagandas, seria- [15] dos, esportes, programas humorísticos, peças de teatro − tudo desfilava ali, diante dos nossos olhos, ainda no tubo comandado por grandes válvulas e com imagem em preto e branco. Boa parte dos primeiros aparelhos de TV tinham telas de 16 a 21 polegadas, acondicio- [20] nadas numa enorme e pesada caixa de madeira. Havia uns três ou quatro canais, com alcance bastante limitado e programação restrita a cinco ou seis horas por dia. Mais tarde as transmissões passariam a ser via satélite e ocupariam as 24 horas do dia. [25] Os custos da programação eram pagos pela publi- cidade, que tomava boa parte do tempo de transmissão. Vendia-se de tudo, de automóveis a margarina, de xaro- pes para tosse a apartamentos. Filmetes gravados e propagandas ao vivo sucediam-se e misturavam-se a [30] notícias sobre exploração espacial, enquanto documen- tários estrangeiros falavam da revolução russa, da II Guerra, do nazismo e do fascismo, das convicções pacifistas de Ghandi, das ideias do físico Einstein sobre a criação e a legitimação da ONU etc. etc. Já as incur- [35] sões históricas propiciadas pelos filmes nos levavam ao tempo de Moisés e do Egito Antigo, ao Império Romano e advento do Cristianismo, tudo entremeando-se ao humor de Chaplin, às caretas de Jerry Lewis e às trapa- lhadas das primeiras comédias nacionais do gênero [40] chanchada. Houve também o tempo em que as famílias se agrupariam diante dos festivais da canção, torcendo por músicas de protesto, baladas românticas ou de ritmos populares “de raiz”. Enfim, a TV oferecia a um pú- blico extasiado um espetáculo variadíssimo, tudo nas [45] poucas polegadas do aparelho, que não tardou a incor- porar outras medidas, outros sistemas de funcionamen- to, projeção em cores e controle remoto. As telas de plasma, o processo digital e a interface com a informática foram dotando a TV de muitos outros [50] recursos, até que, bem mais tarde, tivesse que enfrentar a concorrência de outras telas, muito menores, portáteis, disponíveis nos celulares, carregados de aplicativos e serviços. Apesar disso, nada indica que a curto prazo desapareçam da casa os aparelhos de TV, enriquecidos [55] agora por incontáveis dispositivos. No plano da cultura e da educação, a televisão teve e tem papel importante. Os telecursos propiciam informação escolar específica nas áreas de Matemática, Física, História, Química, Língua e Literatura, fazendo [60] as vezes da educação formal por meio de incontáveis dispositivos pedagógicos, inclusive a dramatização de conteúdos. Aqui e ali há entrevistas com artistas, políti- cos, pensadores e personalidades várias, atualizando ideias e promovendo seu debate. No campo da política, [65] é relevante, às vezes decisivo, o papel que a TV tem na formação da opinião pública. A ecologia conta, também, com razoável cobertura, informando, por exemplo, sobre os benefícios da reciclagem de lixo, da cultura de pro- dutos orgânicos e da energia solar. [70] Seja como forma de entretenimento, veículo de informação, indução aos debates e repercussão atuali- zada dos grandes temas de interesse social, a TV vem garantindo seu espaço junto a bilhões de pessoas no mundo todo. Por meio dela, acompanhamos ao vivo mo- [75] mentos agudos da política internacional, a divulgação de um novo plano econômico do governo, a escalada da violência urbana. Ao toque de uma tecla do controle re- moto, você pode se transferir, aleatoriamente, do palco de um ataque terrorista para o final meloso de uma co- [80] média romântica. Numa espécie de espelhamento multiplicativo e fragmentário da nossa vida e dos poderes da nossa imaginação, a TV vem acompanhando os passos da vida moderna e ditando, mesmo, alguns deles, sem dar [85] sinal de que deixará tão cedo de nos fazer companhia. (Percival de Lima e Souto, inédito) Num dos festivais da música popular brasileira, a canção “Disparada”, de Geraldo Vandré, obteve grande repercussão e fez história. Entre seus versos estão estes: (...) gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente. Se você não concordar não posso me desculpar, não canto pra enganar, vou pegar minha viola, vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar, São versos que, nos anos subsequentes a 1964,
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