Como estava constituída a sociedade romana na época de atuação dos irmãos Tibério e Caio Graco

Como estava constituída a sociedade romana na época de atuação dos irmãos Tibério e Caio Graco

1 | Projeto Medicina – www.projetomedicina.com.br Exercícios de História Roma 1) (ENEM-2000) “Somos servos da lei para podermos ser livres.” Cícero “O que apraz ao príncipe tem força de lei.” Ulpiano As frases acima são de dois cidadãos da Roma Clássica que viveram praticamente no mesmo século, quando ocorreu a transição da República (Cícero) para o Império (Ulpiano). Tendo como base as sentenças acima, considere as afirmações: I. A diferença nos significados da lei é apenas aparente, uma vez que os romanos não levavam em consideração as normas jurídicas. II. Tanto na República como no Império, a lei era o resultado de discussões entre os representantes escolhidos pelo povo romano. III. A lei republicana definia que os direitos de um cidadão acabavam quando começavam os direitos de outro cidadão. IV. Existia, na época imperial, um poder acima da legislação romana. Estão corretas, apenas: I e II. I e III. II e III. II e IV. III e IV. 2) (UNIFESP-2007) Em Roma antiga, e no Brasil colonial e monárquico, os escravos eram numerosos e empregados nas mais diversas atividades. Compare a escravidão nessas duas sociedades, mostrando suas a) semelhanças. b) diferenças. 3) (UFSCar-2006) Considere os acontecimentos da história romana. I. Construção da Muralha de Adriano. II. Início da República Romana. III. Revolta dos escravos liderada por Espártaco. IV. A cidadania romana é concedida a todos os habitantes do Império. V. Primeira Guerra Púnica. Esses acontecimentos, colocados na ordem cronológica correta, são: A) I, II, III, IV e V. B) III, IV, V, II e I. C) II, V, III, I e IV. D)V, IV, III, II e I. E) II, I, IV, V e III. 4) (FUVEST-2006) Em Brasília, em julho de 2005, numa das sessões da CPI dos Correios, o relator citou o início das Catilinárias, de Cícero (63 a.C.): “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda esse teu rancor nos enganará? Até que ponto a (tua) audácia desenfreada se gabará?” Transcendendo a história romana, o nome de Cícero continua presente no vocabulário político-cultural do Ocidente, estando associado a a) democracia, oligarquia e moralismo. b) realeza, ruralismo e sobriedade. c) império, populismo e tolerância. d) república, civismo e eloqüência. e) aristocracia, demagogia e ostentação. 5) (Fuvest-2005) Karl Marx afirmou mais de uma vez que, na antiguidade romana, era o Estado que sustentava o proletariado e não este àquele, como ocorre na modernidade. Com base nessa afirmação, explique: a) Como o Estado romano sustentava o proletariado? b) Por que é possível sustentar que a derrota do programa de reforma agrária dos irmãos Graco abriu caminho para tal política? 6) (Mack-2001) A crise do Império Romano foi marcada por um processo que: a)alterou as relações sociais e políticas, determinando novos vínculos, assentados, principalmente, na posse de terras. b) foi responsável pela consolidação e expansão das instituições políticas e sociais romanas por toda a Europa. c)criou novas atividades econômicas e intensificou as relações comerciais entre o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente. d)favoreceu o crescimento das cidades, devido ao êxodo rural provocado pelos constantes ataques dos invasores bárbaros. e) transformou as terras de cultivo em pastagens cercadas, tornando-as propriedades privadas, o que ocasionou a marginalização dos agricultores. 7) (Vunesp-2001) “Meu caro Plínio, você agiu como devia tê-lo feito, examinando as causas daqueles que lhe foram delatados como cristãos. Não se pode ter uma regra geral e fixa a este respeito. Não devem ser perseguidos, mas se forem denunciados e perseverarem, devem ser punidos.” (Carta do Imperador Trajano a Plínio, 112 d.C.) 2 | Projeto Medicina – www.projetomedicina.com.br Baseando-se no texto, responda. a) Cite um tipo de punição dada aos cristãos nessa época. b) Por que os cristãos eram perseguidos? 8) (UNICAMP-2001) Acerca do fascínio exercido pelos espetáculos de sangue na arena, muitos romanos afirmavam que eles inspiravam um nobre desprezo pela morte. Mas é possível interpretar esses espetáculos como um ritual que reafirmava o poder e a autoridade do Estado romano. Os gladiadores, por exemplo, eram indivíduos sem direitos, marginalizados ou condenados por subversão da ordem pública. Ao executá-los em público, o povo romano reunido celebrava a sua superioridade e o seu direito de dominar. (Adaptado de J. A. Shelton, As the Romans Did, Oxford, 1998, p. 350.) a) De que maneira esse texto interpreta a popularidade dos espetáculos de sangue na Roma antiga? b) Por que, segundo o texto, o sacrifício de um gladiador perante o público reforçava as relações de dominação na sociedade romana? c) Explique por que os cristãos foram perseguidos em nome da ordem pública romana. 9) (UNICAMP-1999) Leia com atenção os dois comentários abaixo sobre colonização: A colonização foi um meio de consolidação da dominação romana e a única medida político-social de longo alcance com que o estado romano conseguiu atenuar os desequilíbrios que afetavam o seu corpo social. (Adaptado de M. Weber, História Agrária Romana, Martins Fontes, 1994) O esforço de colonização dos portugueses distingue-se principalmente pela predominância do seu caráter de exploração comercial antes de tudo litorânea e tropical. (Adaptado de S. Buarque de Hollanda, Raízes do Brasil, 1936) a) Quais os principais objetivos da colonização romana? b) Compare o processo de colonização portuguesa com o processo de colonização romana, apontando as diferenças. 10) (Vunesp-1999) "A atividade dos Gracos foi objeto de debates apaixonados e formulavam-se sobre ela os juízos mais diversos (...). Os políticos romanos dividiam-se nitidamente em dois grupos ou partidos, pelos quais os Gracos eram considerados heróis ou criminosos." (M. Rostovtzeff. História de Roma.) O autor refere-se aos irmãos Tibério e Caio Graco, tribunos da Assembléia da Plebe de Roma no século II a.C. a) Como estava constituída a sociedade romana na época de atuação dos irmãos Tibério e Caio Graco? b) Dê uma razão pela qual os irmãos Graco eram "objeto de debates apaixonados". 11) (UFPR-1998) Em Roma, "famuli" era, originalmente, o termo usado para designar o conjunto dos serviçais domésticos reunidos na moradia. Entre eles estavam os escravos, que cumpriam tarefas dentro e fora de casa, desde as mais simples às mais árduas ou sofisticadas. Sobre a escravidão na Roma antiga, é correto afirmar: (01) Em Roma, os escravos eram obtidos pela guerra, pela pirataria ou pela compra. Até 326 a.C., porém, um indivíduo poderia também ser escravizado por dívidas. (02) Ao contrário do que ocorria entre os gregos, na sociedade romana os escravos não constituíam simples mercadoria. Possuíam alguns direitos que lhes permitiam a participação na vida política da cidade. (04) Entre os romanos, os escravos não eram considerados propriedade individual ou bens de família; conseqüentemente, não podiam ser transmitidos por herança. (08) À medida que a expansão romana se consolidava nas regiões mediterrânicas, a utilização da mão-de-obra escrava entrou em declínio na sede do Império. (16) O Estado Romano também era proprietário de escravos, utilizando seu trabalho nas grandes construções, obras de urbanização e até em minas e pedreiras. (32) O principal resultado das inúmeras revoltas de escravos no Império Romano, durante os séculos III e II a.C., foi o fortalecimento, no Senado, de um movimento pela supressão da escravidão. Marque como resposta a soma dos itens corretos. 12) (UNICAMP-1997) "Augusto conquistou os soldados

Como estava constituída a sociedade romana na época de atuação dos irmãos Tibério e Caio Graco
Como estava constituída a sociedade romana na época de atuação dos irmãos Tibério e Caio Graco
Como estava constituída a sociedade romana na época de atuação dos irmãos Tibério e Caio Graco

Os irmãos Graco, Tibério e Caio, foram dois políticos em Roma marcados por procurarem realizar uma reforma agrária nesse território. As propostas de ambos causaram grande agitação política e resultaram na articulação de grupos para assassiná-los. As motivações que levaram os dois a defenderem propostas em defesa da população mais pobre ainda são debatidas pelos historiadores, apesar disso e de  qualquer forma, elas evidenciaram o real limite das pautas em defesa dos mais pobres naquele período.

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Contexto histórico: a questão agrária em Roma

Na segunda metade do século II a. C., Roma estava na fase da República e consolidada como uma grande potência no Mediterrâneo. Os romanos tinham conseguido conquistar toda a Península Itálica e acabado de derrotar os poderosos cartaginenses na luta travada durante as Guerras Púnicas.

Como estava constituída a sociedade romana na época de atuação dos irmãos Tibério e Caio Graco
As terras cultiváveis aumentaram na República romana depois das conquistas territoriais dos últimos séculos.

Isso significa dizer que a quantidade de terras disponíveis no domínio romano havia aumentado, mas esse aumento não significava que os mais pobres teriam acesso a elas. Existe um debate entre os historiadores acerca da situação agrícola de Roma naquele período, e alguns deles afirmam que os pequenos camponeses, além de não terem acesso às novas terras, perderam as poucas que possuíam.

As justificativas apresentadas pelos historiadores argumentam que as agitações dos últimos anos das Guerras Púnicas e o envio de camponeses para a guerra haviam deixado as famílias dos camponeses pobres mais vulneráveis, e, assim, grandes proprietários compraram as terras delas, forçando-as a mudarem-se para as grandes cidades.

Essa disputa por terras, obviamente, era um ponto de tensão em Roma, uma vez que os plebeus buscavam, desde o início da República, no século VI a. C., garantir seus direitos e a melhoria de sua vida. Nessa questão agrária, dois nomes em particular tornaram-se extremamente importantes: Tibério Graco e Caio Graco.

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Tibério Graco

Tibério Graco tornou-se político em 133 a. C., quando foi eleito tribuno da plebe. Esse cargo tinha sido criado no começo da República em Roma, em 494 a. C., e o objetivo dos tribunos da plebe era garantir os interesses dos plebeus e não permitir que senadores e magistrados realizassem abusos contra essa parcela da sociedade romana.

Como estava constituída a sociedade romana na época de atuação dos irmãos Tibério e Caio Graco
Tibério Graco tentou realizar a reforma agrária em Roma e acabou assassinado por isso. [1]

Em exercício de sua função, Tibério desejava fazer uma reforma agrária e, assim, tomar terras de quem as tinha em demasia e distribuí-las para os despossuídos. No entanto, quais foram as motivações que levaram Tibério Graco a debruçar-se sobre essa questão? A historiadora Mary Beard trabalhou sobre possíveis razões para tanto|1|.

O primeiro motivo trata da indignação de Tibério ao constatar, durante uma viagem, que, no norte da Península Itálica, as pequenas propriedades haviam desaparecido. Dentro disso, sua principal indignação dava-se pelo fato de que os camponeses iam para a guerra contra os cartaginenses, mas, quando retornavam, não tinham direito nenhum às terras romanas.

Outro ponto levantado trata-se de uma possível tentativa de vingança de Tibério, em relação a um acordo que havia formulado à época de uma guerra travada na Hispânia (atual Península Imbérica), contra o Senado romano, que o humilhara nessa ocasião. Realizar a reforma agrária seria, então, o meio utilizado por ele para prejudicar aqueles que haviam perpetrado a humilhação. Além disso, existem outras teorias que não descartam o fato de que a autopromoção era o grande interesse de Tibério em defender essa reforma.

No que consistia essa proposta de reforma agrária? Ela estipulava que todas as propriedades deveriam ter o tamanho máximo de 500 iugera (120 hectares) e que as que ultrapassassem isso seriam tomadas pelo Estado para serem distribuídas entre camponeses que não possuíssem terras. A distribuição disponibilizaria uma terra de 30 iugera por família beneficiada.

A proposta imediatamente chamou a atenção dos senadores, principalmente porque a maioria deles era dona de uma grande quantidade de terras, e a proposta de Tibério só poderia prejudicá-los. A lei criou muita tensão entre Tibério e essas autoridades políticas, mas foi aprovada, e Tibério foi nomeado para a comissão responsável pela reforma.

A tensão que surgiu dessa proposta foi enorme, uma vez que o Senado recusava-se a liberar recursos suficientes para conduzi-la. Acontece que, em 133 a. C., o rei de Pérgamo, Átalo III, faleceu e deixou todos os seus bens para o povo de Roma. Rapidamente, Tibério solicitou esses recursos para conduzir sua reforma.

A ação de Tibério preocupava os senadores não só porque era um ataque direto aos seus privilégios mas porque a forma que Tibério conduziu todo o processo era considerada uma afronta. Os conservadores do Senado temiam que ele estivesse acumulando poderes demais. Para piorar a situação, naquele ano ainda, o então tribuno da plebe decidiu disputar a reeleição ao cargo (o que era proibido) e acabou sendo reeleito de fato. Isso deu início à violência contra Tibério.

Antes da reeleição, já existia uma articulação entre membros do Senado para assassinar Tibério. Quando ele foi reeleito, a articulação deu início à violência. Um grupo de opositores armou-se e iniciou um pequeno confronto com Tibério e seus apoiadores nas ruas de Roma. Nessa confusão, Tibério e centenas de seus apoiadores foram assassinados.

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Caio Graco

Como estava constituída a sociedade romana na época de atuação dos irmãos Tibério e Caio Graco
As reformas promovidas por Caio Graco trouxeram-lhe inimigos e fizeram com que ele, supostamente, tenha cometido suicídio para não ser surrado. [1]

Dez anos depois da morte de Tibério, seu irmão, Caio Graco, tornou-se tribuno da plebe ao ser eleito. Caio, assim como seu irmão, atuou diretamente na questão agrária, embora suas medidas fossem muito mais amplas e não se restringissem exclusivamente à questão da reforma.

As medidas tomadas por Caio também eram em benefício das camadas mais pobres de Roma. Mary Beard afirma que ele tomou uma dúzia de iniciativas em defesa dos mais necessitados, tais como a proibição de convocação para o exército de menores de 17 anos e a obrigatoriedade do Estado em pagar pelos equipamentos militares dos soldados.

No caso de leis relacionadas com a questão agrária, destacam-se duas: a tentativa de realizar reforma agrária em terras da Sicília e de onde ficava a cidade de Cartago (atual Tunísia) e a estipulação de uma quantidade de grãos a ser vendida a valores baixos para todo cidadão romano.

As leis demonstravam a preocupação de Caio em garantir acesso à terra para os despossuídosacesso a alimentos para os mais pobres. Isso porque Roma era abastecida pela produção de Sicília, Sardenha e do norte da África, mas quando a produção nesses locais era insuficiente, o preço da comida em Roma disparava e prejudicava os mais pobres.

Essa proposta fazia com que certa quantidade de grãos fosse mensalmente vendida a preços baixos por meio de subsídios disponibilizados pelo próprio Estado. Mary Beard afirma que Caio preocupou-se em desenvolver uma estrutura mínima para viabilizar sua intenção, e, assim, foi organizado um local para armazenamento e distribuição dos alimentos. Além disso, recursos foram disponibilizados para a compra desses grãos e um sistema que permitia controlar quem tinha e quem não tinha recolhido sua parte foi desenvolvido.

No caso da reforma agrária, ele estipulou a criação de colônias na Sicília e em Cartago, mas sua ideia foi barrada. A atuação de Caio e suas leis, sempre voltadas para a defender o povo, foram entendidas pelos membros do Senado como uma ameaça. Eles acreditavam que Caio queria tornar-se popular entre os pobres para garantir apoio caso ele desejasse tornar-se rei.

Caio, assim como Tibério, acabou tornando-se alvo quando uma pequena confusão iniciou-se em Roma. Em 121 a. C., um inimigo de Caio ofendeu-o publicamente e por isso foi atacado e morto pelos apoiadores de Caio. Em consequência disso, o Senado acabou aprovando uma lei que o permitia executar, sem julgamento, qualquer pessoa que fosse encarada como uma ameaça para o Estado.

Essa lei desencadeou uma grande perseguição a Caio e seus apoiadores, e, no decorrer dessa situação, Caio morreu. Os historiadores não sabem ao certo se ele foi assassinado ou se ele suicidou para evitar ser espancado até a morte. Outros três mil seguidores de Caio foram mortos tendo como base o vácuo dessa autorização do Estado para executar pessoas enxergadas como “ameaça” para Roma. As reformas de Caio, menos a de distribuição de grãos, foram revertidas depois de sua morte.

As mortes de Tibério e Caio Graco mostraram a disposição das autoridades romanas em perseguir e silenciar todos aqueles que procurassem realizar reformas mais radicais e que desagradassem os interesses dos ricos romanos.

Nota:

|1| BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga. São Paulo: Planeta, 2017

Créditos das imagens

[1] Commons