A população tem quantos de aguq

Carlos Araújo, da Rádio ONU em Nova York.*

Quase seis bilhões de pessoas usam fontes seguras de água potável, representando 87% da população mundial, demonstrando que o planeta está no caminho certo para cumprir a Meta do Milênio sobre o acesso à água.

A afirmação faz parte de um novo relatório conjunto da Organização Mundial da Saúde, OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, divulgado nesta segunda-feira em Genebra.

Saneamento

"Progressos sobre Saneamento e Água Potável-2010" indica, contudo, que ainda há muito a ser feito no que diz respeito ao cumprimento da meta sobre saneamento. Quase 40% da população mundial, 2,6 bilhões de pessoas, não tem acesso a instalações sanitárias adequadas.

O estudo ressalta que a comunidade internacional não vai conseguir alcançar até 2015 a meta sobre saneamento básico para cerca de um bilhão de pessoas.

Por outro lado, o relatório da ONU aponta um declínio na defecação ao ar livre, um dos maiores riscos ao saneamento. A prática caiu de 25% em 1990 para 17% em 2008.

Áreas Rurais

Segundo a OMS e o Unicef, apesar da população mundial estar quase igualmente dividida nas áreas urbanas e rurais, a maioria das pessoas sem acesso a água potável e saneamento vive no campo.

A cada ano, a falta de higiene e acesso a água mata cerca de 1,5 milhão de crianças com menos de cinco anos de idade.

*Apresentação: Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York.

A escassez de água no mundo é agravada em virtude da desigualdade social e da falta de manejo e usos sustentáveis dos recursos naturais. De acordo com os números apresentados pela ONU – Organização das Nações Unidas – fica claro que controlar o uso da água significa deter poder.

As diferenças registradas entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento chocam e evidenciam que a crise mundial dos recursos hídricos está diretamente ligada às desigualdades sociais.

Em regiões onde a situação de falta d’água já atinge índices críticos de disponibilidade, como nos países do Continente Africano, onde a média de consumo de água por pessoa é de dezenove metros cúbicos/dia, ou de dez a quinze litros/pessoa. Já em Nova York, há um consumo exagerado de água doce tratada e potável, onde um cidadão chega a gastar dois mil litros/dia.

Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos da metade da população mundial tem acesso à água potável. A irrigação corresponde a 73% do consumo de água, 21% vai para a indústria e apenas 6% destina-se ao consumo doméstico.

Um bilhão e 200 milhões de pessoas (35% da população mundial) não têm acesso a água tratada. Um bilhão e 800 milhões de pessoas (43% da população mundial) não contam com serviços adequados de saneamento básico. Diante desses dados, temos a triste constatação de que dez milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de doenças intestinais transmitidas pela água.

Vivemos num mundo em que a água se torna um desafio cada vez maior.

A cada ano, mais 80 milhões de pessoas clamam por seu direito aos recursos hídricos da Terra. Infelizmente, quase todos os 3 bilhões (ou mais) de habitantes que devem ser adicionados à população mundial no próximo meio século nascerão em países que já sofrem de escassez de água.

Já nos dias de hoje, muitas pessoas nesses países carecem do líquido para beber, satisfazer suas necessidades higiênicas e produzir alimentos.

Numa economia mundial cada vez mais integrada, a escassez de água cruza fronteiras, podendo ser citado com exemplo o comércio internacional de grãos, onde são necessárias 1.000 toneladas de água para produzir 1 tonelada de grãos, sendo a importação de grãos a maneira mais eficiente para os países com déficit hídrico importarem água.

Calcula-se a exaustão anual dos aqüíferos em 160 bilhões de metros cúbicos ou 160 bilhões de toneladas.

Tomando-se uma base empírica de mil toneladas de água para produzir 1 tonelada de grãos, esses 160 bilhões de toneladas de déficit hídrico equivalem a 160 milhões de toneladas de grãos, ou metade da colheita dos Estados Unidos.

Os lençóis freáticos estão hoje caindo nas principais regiões produtoras de alimentos:

  • a planície norte da China;
  • o Punjab na Índia e
  • o sul das Great Plains dos Estados Unidos, que faz do país o maior exportador mundial de grãos.

A extração excessiva é um fenômeno novo, em geral restrito a última metade do século.

Só após o desenvolvimento de bombas poderosas a diesel ou elétricas, tivemos a capacidade de extrair água dos aqüíferos com uma rapidez maior do que sua recarga pela chuva.

Além do crescimento populacional, a urbanização e a industrialização também ampliam a demanda pelo produto. Conforme a população rural, tradicionalmente dependente do poço da aldeia, muda-se para prédios residenciais urbanos com água encanada, o consumo de água residencial pode facilmente triplicar.

A industrialização consome ainda mais água que a urbanização. A afluência (concentração populacional), também, gera demanda adicional, à medida que as pessoas ascendem na cadeia alimentícia e passam a consumir mais carne bovina, suína, aves, ovos e laticínios, consomem mais grãos.

Se os governos dos países carentes de água não adotarem medidas urgentes para estabilizar a população e elevar a produtividade hídrica, a escassez de água em pouco tempo se transformará em falta de alimentos.

Estes governos não podem mais separar a política populacional do abastecimento de água.

Da mesma forma que o mundo voltou-se à elevação da produtividade da terra há meio século, quando as fronteiras agrícolas desapareceram, agora também deve voltar-se à elevação da produtividade hídrica.

O primeiro passo em direção a esse objetivo é eliminar os subsídios da água que incentivam a ineficiência.

O segundo passo é aumentar o preço da água, para refletir seu custo. A mudança para tecnologias, lavouras e formas de proteína animal mais eficientes em termos de economia de água proporciona um imenso potencial para a elevação da produtividade hídrica. Estas mudanças serão mais rápidas se o preço da água for mais representativo que seu valor.

Com esta conscientização cada vez mais crescente, cada nação vem se preparando ao longo do tempo para a valorização e valoração de seus recursos naturais.

22/03/2021

Ao celebrar o Dia Mundial da Água, um alerta nacional: o Brasil joga todos os dias na natureza o equivalente a 5,3 mil piscinas olímpicas de esgotos sem tratamento. Apesar das recomendações sanitárias, em meio à pandemia da Covid-19, cerca de 35 milhões de brasileiros – 5,5 milhões nas 100 maiores cidades do País –, não têm acesso à água potável e 100 milhões de pessoas à coleta e tratamento de esgotos, sendo 21,7 milhões nos maiores municípios. Os dados compõem o ‘Ranking do Saneamento’, divulgado nesta segunda-feira (22) pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados.

A longo prazo, a expectativa é de que o Novo Marco Legal do Saneamento (Lei Federal 14.026/2020) acelere a expansão dos serviços de água e esgotos pelo País, cumprindo as metas de acesso à água tratada para 99% da população brasileira e coleta e tratamento dos esgotos para 90% até 2033.

“O Novo Marco Legal do Saneamento é um passo importante para o resgate da vergonhosa dívida social nessa área que ainda persiste no Brasil”, aponta o presidente da Comissão de Infraestrutura (Coinfra) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Carlos Eduardo Lima Jorge.

Qual a importância da água?

Instituído em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU), a fim de alertar a população mundial sobre a importância da preservação dos recursos hídricos para a sobrevivência de todos os ecossistemas do planeta, o tema escolhido para comemorar o Dia Mundial da Água neste ano é ‘valorização da água’.

Experiências sobre ‘O que a água significa para você?’ podem ser compartilhadas por meio das redes sociais, utilizando as hashtags #WorldWaterDay e #Water2me, que alimentarão o próximo Relatório de Desenvolvimento Mundial da Água da ONU e fornecerá dados que servirão de referência para a prática de ações para o uso sustentável de recursos hídricos como formas adequadas de proteger a água com eficácia para todos.

Além de aumentar a conscientização sobre a crise global da água, um dos principais focos da data também é apoiar o cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6: água e saneamento para todos até 2030.

Por meio da sua Comissão de Meio Ambiente (CMA), a CBIC reforça a importância da reflexão sobre a responsabilidade do uso eficiente e consciente desse importante recurso hídrico.

“A indústria da construção tem um papel fundamental no compromisso de conservação da água’, destaca o presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA) da CBIC, Nilson Sarti.

Prioritário nas ações estratégicas da entidade, o tema já rendeu forte atuação do maior evento global sobre água e importantes publicações em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional):

Confira!

A população tem quantos de aguq
Considerado um direito humano pela Organização das Nações Unidas (ONU), o acesso à água potável e ao saneamento básico está longe de ser uma realidade para mais da metade da população mundial. Segundo o Relatório Mundial da ONU sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2019, lançado hoje em Genebra, falta água limpa e segura para 2,1 bilhões de pessoas, enquanto 4,5 bilhões carecem de serviços sanitários. Com o alerta de que a expectativa é de que a situação se agrave, devido às mudanças climáticas, o documento, intitulado Não deixar ninguém para trás, destaca a necessidade de políticas públicas comprometidas a mudar essa situação.

;Os números falam por eles mesmos. Como o relatório mostra, se a degradação do ambiente natural e a pressão insustentável sobre os recursos hídricos globais continuarem nas taxas atuais, 45% do Produto Interno Bruto global e 40% da produção global de grãos estarão em risco em 2050;, disse, em comunicado de imprensa, Gilbert F. Houngbo, presidente da ONU Água e do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). ;Os pobres e as populações marginalizadas serão afetados desproporcionalmente, exacerbando mais as desigualdades já crescentes. O relatório de 2019 fornece evidências da necessidade de adaptar abordagens, tanto nas políticas quanto na prática, e de adereçar às causas da exclusão e da desigualdade.;

Na semana em que se comemora o Dia da Água, celebrado na sexta-feira, o trabalho da ONU detalha as múltiplas faces da disparidade ao acesso aos recursos hídricos. Por exemplo, em países mais pobres, as mulheres estão em desvantagem dentro do grupo dos mais desfavorecidos ; nesses locais, geralmente cabe a elas andar quilômetros para coletar água. O relatório mostra que, em uma escala global, metade das pessoas que toma água de fontes não seguras vive na África. Na região subsaariana do continente, somente 24% da população têm água potável e apenas 28% contam com saneamento não compartilhado com outras pessoas.

Dentro das cidades, a desigualdade também está presente. ;Na África subsaariana, a maioria da população tem acesso nas cidades, mas, na periferia urbana, não acessam nem água nem saneamento;, exemplifica Massimo Lombardo, oficial de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil. Ele esclarece que o relatório não traz informações destacadas por países, mas diz que alguns dos problemas descritos, como desigualdades regionais, territoriais e socioeconômicas associadas ao acesso à água de qualidade, também são realidade brasileira.

Os países-membros da ONU ; mais de 190 ; têm relativamente pouco tempo para ampliar a cobertura de água potável e saneamento básico. Em 2015, eles se comprometeram com a Agenda de Desenvolvimento Sustentável, que tem como metas, entre outras, acabar com a pobreza e a fome em todos os lugares, combater a desigualdade e proteger os recursos naturais até 2030. O objetivo 6 diz que os signatários devem ;Garantir a disponibilidade e o manejo sustentável da água e do saneamento para todos;.

Massimo Lombardo afirma que, nos últimos quatro anos, foram feitos alguns avanços, mas insuficientes ante o desafio que o mundo tem pela frente. Perguntados pela ONU sobre políticas voltadas ao acesso à água e ao saneamento, 74% dos 74 países que responderam disseram ter algum plano com ações para levar os recursos hídricos aos mais pobres. Porém, somente 47% monitoram o progresso (33%, no caso dos de baixa renda) e apenas 19% aplicam os recursos previstos. De acordo com o relatório, os níveis atuais de financiamento dos serviços estão abaixo do necessário para se alcançar as metas de 2030. Para tanto, a ONU destaca a necessidade de se chegar, globalmente, a US$ 114 bilhões, três vezes mais do que o investido hoje.

Mesmo os países mais ricos não lidam com os recursos hídricos como deveriam. Por exemplo, 80% das águas residuais não são tratadas, poluindo rios e colocando em risco a vida das pessoas. Enquanto nas zonas industrializadas a água costuma ser contaminada por poluentes, nas áreas rurais a maior parte da sujeira advém da atividade agrícola. ;Precisamos de atitudes responsáveis, de perceber que a água não é ilimitada;, diz Massimo Lombardo. Embora o recado seja para governos, o oficial da Unesco ressalta que, individualmente, também é preciso respeitar a finitude desse recurso natural. Além de adotar medidas de economia da água, ele diz que os cidadãos devem cobrar, sempre, ações que garantam o acesso universal aos serviços hídricos.