Qual o assunto tratado nos textos os bens culturais materiais dos povos indígenas?

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Resumo

Este trabalho aborda o patrimônio cultural imaterial entre o povo indígena autoidentificado Kariri da comunidade de Serra Grande, localizado no município de Queimada Nova, Estado do Piauí. Levando em consideração o dispositivo legislativo 3.551, de 04 de agosto de 2000, do IPHAN, e a Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, de 17 de outubro de 2003 da UNESCO, buscou-se realizar o registro da pintura e ornamentação corporal Kariri com o objetivo de assegurar o reconhecimento, o respeito, a valorização, a promoção e a transmissão de saberes deste bem cultural que constitui as formas expressivas de arte do grupo. Para o entendimento das referências simbólicas e culturais lançou-se mão da observação participante e da descrição densa, entendidas a partir do conceito antropológico de cultura defendido por Geertz (1989). Além disso, adotou-se o conceito de cidadania patrimonial de Lima Filho (2015) como importante instrumento da dimensão sociocultural capaz de promover o empoderamento de grupos colocados em situação de “subalternos”.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Imaterial; Identidade e Cidadania; Povos Indígenas do Piauí.

1. Tema, Objeto e Objetivos

Este trabalho de intervenção cultural é fruto de uma pesquisa participante (BRANDÃO, 1990; FALS BORDA, 1990) desenvolvida entre o povo indígena autoidentificado Kariri da comunidade de Serra Grande, localizado no município de Queimada Nova, Estado do Piauí (APÊNDICE A – Mapa de localização). Através do processo conhecido como etnogênese – movimento que descreve a ressurgimento de novos grupos étnicos a partir dos anos de 1970 –, os Kariri, agrupamento formado por aproximadamente 30 famílias, buscam (re)significar sua forma de ser e estar no mundo e, através da arte, expressam sua luta pelo reconhecimento étnico, enquanto indígenas, e da terra que ocupam hoje.

Os Kariris (ou Cariris) são uma família indígena predominante no Nordeste Brasileiro, presente desde o Ceará e a Paraíba até a porção setentrional do sertão baiano. Dominavam especificamente o Planalto da Borborema e as Serras dos Kariri e do Araripe. A partir do século XVII esses grupos foram deslocados e espalhados em regiões vizinhas (entre elas o Piauí) em um trabalho catequético denominado “missões rurais” (CARVALHO, DANTAS e SAMPAIO, 1998, p.438).

Durante séculos a presença de povos indígenas no Estado do Piauí foi invisibilizada, dado o processo histórico de extermínio desses grupos na região. O Estado foi um dos últimos a reconhecer a existência de uma história indígena e a considerar o ressurgimento de suas culturas (KÓS, 2016).

O ponto de partida deste projeto interventivo teve como mote o reconhecimento e a valorização do patrimônio cultural imaterial do povo Kariri e da cidadania patrimonial como importante instrumento da dimensão sociocultural capaz de promover o empoderamento de grupos “subalternos”, isto é, aqueles colocados em situação de segregação, preconceito e discriminação (LIMA FILHO, 2015). Esta proposição teve por objetivo promover ações de valorização, proteção, salvaguarda e divulgação do bem cultural em consonância com a Lei 3.551, de 04 de agosto de 2000 do IPHAN, que trata sobre o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e, a Convenção da UNESCO para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, de 17 de outubro de 2003.

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Ao reconhecer a importância das formas expressivas de arte na luta pelos direitos originários dos povos indígena no Brasil, a pesquisa buscou realizar o registro da cultura imaterial Kariri, dando especial atenção às pinturas e aos adornos corporais elaborados e produzidos por eles. Tal registro ocorreu durante a “II Assembleia dos Povos Indígenas do Piauí”, realizada na comunidade de Serra Grande, nos dias 25 e 26 de maio de 2018. O evento reuniu as etnias Tabajara, Gamela e os Kariri e contou com a presença de representes políticos de órgão públicos a nível municipal, estadual e federal em função de debater questões como saúde, educação, cultura, territorialidade e terras indígenas, entre outros temas que são de fundamental importância para o reconhecimento desses povos na luta por seus direitos originários.

A ação interventiva, subsidiada por recursos metodológicos da pesquisa-ação, propôs, em diálogo com a etnia, o desenvolvimento de uma exposição fotográfica das formas expressivas Kariri com o objetivo de dar visibilidade à presença do grupo no Estado do Piauí. Com isso, procuramos sensibilizar e conscientizar sobre a importância da salvaguarda do patrimônio cultural imaterial e o respeito à diversidade cultural nas comunidades, grupos e indivíduos envolvidos.

O caminho teórico-metodológico proposto para o entendimento das referências simbólicas e culturais presentes nos ornamentos corporais Kariri, baseou-se nos princípios da etnografia sugerida por Clifford Geertz (1989). Para o autor, o conceito de cultura é essencialmente semiótico, adotar este caminho é, portanto, se inscrever no campo da observação participante e se comprometer com uma “descrição densa”, isto é, uma ação interpretativa em busca de significados. A interlocução investigativa não se restringiu ao universo da “aldeia”, ela ocorreu através de encontros na sede da cidade, conversas informais, depoimentos, entrevistas com membros-chave da comunidade e, acima de tudo, por meio da observação participante com registro em diário de campo. Tudo isso, com o propósito de identificar os sentidos e significados de seus usos e costumes. A coleta dos dados foi efetivada por meio da observação in loco, entrevistas, registro fotográfico, audiovisual e georreferenciamento.

2. Planejamento Ou Percurso

A proposta de intervenção estabelecida em conjunto com os Kariri propôs, em um primeiro momento, realizar uma roda de conversa sobre a temática da cultura imaterial indígena por meio de suas criações “cosmo-estéticas” – pinturas e ornamentos corporais (RODRIGUES, 2016). Tendo em vista que, “[...] pensar sobre arte entre os ameríndios equivale a pensar a noção de pessoa e de corpo. Porque objetos, pinturas e corpos são ligados no universo indígena, no qual a pintura é feita para aderir a corpos e objetos, são feitos para completar a ação dos corpos” (LAGROU, 2007, p.50). Intercalado a esta ação, levou-se a proposta da realização de uma exposição dos registros fotográficos feitos junto ao grupo durante a “II Assembleia dos Povos Indígenas do Piauí”, no qual o foco recaiu sobre suas formas expressivas.

Esta ação interventiva ocorreu no dia 26 de julho de 2018, na sala de aula anexa da recém-formada turma indígena da Escola Estadual Francisco de Sousa, agendada por intermédio da professora Maria Ivaneide, integrante da própria comunidade. Dadas as condições estruturais mínimas, os próprios indígenas me cederam um projetor e computador, no intuito que pudesse realizar minha apresentação e proposta interventiva perante o grupo escolar. Trata-se de uma turma do Programa de Educação Jovens e Adultos (EJA), em funcionamento no período noturno. Participaram da roda de conversa cerca de 9 estudantes dos 18 matriculados.

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O diálogo estabelecido com os alunos e alunas buscou esclarecer de modo didático as noções de cultura em seu sentido antropológico e de patrimônio cultural, segundo os Art. 215 e 216 da Constituição Federal de 1988. Através desta intervenção e por meio das fotografias reunidas pelo pesquisador, foi possível identificar no discurso dos Kariri as referências culturais que implicam diretamente em questões abrangentes sobre suas pinturas e ornamentação corporal. A exibição prévia das imagens tinha por objetivo selecionar as fotografias que comporiam a exposição, se assim fosse autorizada sua divulgação. Esta apresentação oportunizou aos indígenas se reunirem em torno do bem cultural e refletir sobre ele, assim como poderem se ver e, também, de pontuar como gostariam de serem vistos pela sociedade em geral.

A fotografia apropriada como recurso metodológico para a produção de conhecimento antropológico foi pioneiramente utilizada por Margaret Mead e Gregory Bateson (1942). Para os autores, a imagem é polissêmica precisando, portanto, de um discurso verbal que direcione o olhar à leitura. No Brasil, experiências de autores como Etienne Samain (2012), Sylvia Caiuby Novaes (2012) e Cornelia Eckert (2016) demonstram importantes contribuições na consolidação desta área de estudo denominada “Antropologia Visual”. Na etnologia indígena, os trabalhos de Dominique Gallois (2002), Barcelos Neto (2006) e Fernando Tacca (2011) ganham destaque ao abordarem as artes gráficas ameríndias. Em comum, esses autores defendem a importância do campo da visualidade para além da finalidade testemunhal e ilustrativa. No contexto contemporâneo, o uso das imagens possibilita a construção de narrativas e atribuição de sentidos que levam em conta as subjetividades do objeto, podendo ser apropriadas no uso da “transmissão cultural”, colocando em questionamento os valores da tradição. Assim, as imagens podem sugerir novos estilos e padrões de comportamento diversos.

Ao considerar que essas experiências visuais contribuem para tornar ainda mais explícitas a identidade cultural construída pelos povos indígenas no Piauí, entre outros, como o direito à memória e a história (MAGALHÃES, 2004); empregou-se o método da fotografia com o interesse de registrar as práticas dos Kariri no momento em que fazem uso dos seus adornos e pinturas corporais no campo interétnico. Assim, as imagens captadas recaíram sobre suas formas expressivas de pintura e ornamentação corporal.

Criar uma exposição fotográfica abordando a cultura imaterial foi o meio pelo qual se optou para dar visibilidade à (re)existência dos povos indígenas do Piauí, em especial dos Kariri de Serra Grande na luta por seus direitos ancestrais, tendo em vista que, pensarmos nos “povos das florestas” e mencionarmos os povos indígenas, remete-nos sempre às questões das artes e artisticidade.

Por artisticidade, entende-se aqui um estado geral de ser – envolvendo o pensar, o sentir, o fazer – abrangentemente em busca da “beleza”, compreendida esta – para longe de suas formulações ocidentais consuetudinárias, tipicamente academicistas –, tão só como passe de ingresso nos universos da arte (tanto quanto a “monstruosidade”, a “prototipicidade”, a “eficácia”, a “formatividade” e outras senhas). Esse estado geral, segundo os estudos tematicamente mais variados – cobrindo não somente as áreas que o Ocidente consagrou como “belas artes” –, é uma característica marcante das culturas da região, para as quais, então, as coisas e seres do mundo são e constantemente estão vindo a ser obras de arte. Isto, desde a pessoa até o cosmo, passando abrangentemente pela vida social (veja Overing, 1989). (MENEZES BASTOS, 2007)

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A exposição foi um empreendimento que não ocorreu de forma isolada. Ela fez parte de um conjunto de pesquisas sobre o levantamento do patrimônio cultural realizado na região pela equipe multidisciplinar da Archaeo Pesquisas Arqueológicas, da qual sou membro integrante. A exibição ocorreu em conjunção a dois eventos culturais, o primeiro no dia 31 de julho de 2018, na cidade de Queimada Nova, onde se localiza o território dos Kariri e, o segundo, no dia 11 de agosto de 2018, em Lagoa do Barro, município vizinho – ambos eventos realizados em praça pública em parceria com órgãos públicos das respectivas cidades (prefeituras e secretarias municipais). Buscou-se, com esta ação, sensibilizar um grande número de pessoas sobre a presença dos povos indígenas no estado, ao passo que se propôs dar visibilidade ao patrimônio cultural imaterial Kariri. A exposição totalizou o número de 226 assinaturas no livro de registro.

3. Descrição e Análise Crítica das Cenas, das Imagens, das Sonoridades ou de Cada Relato da(s) Pessoa (as) Entrevistada(s)

“Todas as pinturas significam, de uma forma ou de outra, luta”

(Maria dos Humildes, 25/05/2018)

A “II Assembleia dos Povos Indígenas do Piauí” foi um evento de cunho político social que reuniu as etnias Gamela, Tabajara e os Kariri em torno de um mesmo objetivo, o reconhecimento de suas terras e da identidade indígena que reafirmam diante do poder do Estado. Portadores de experiências diversas em seu processo de formação, esses povos têm em comum a permanência no processo de etnogênese, entendido a partir da reflexão antropológica, segundo João Pacheco de Oliveira (1999), como a “emergência histórica de um povo que se autodefine em relação a uma herança cultural, a partir da reelaboração de símbolos e reinvenção de tradições culturais, muitas das quais apropriadas no processo da colonização e relidas pelo horizonte indígena”.

A convite do estudante de arqueologia Charles Oliveira da Silva, fui ao evento organizado pelos Kariri, em conjunto com as demais etnias, instituições e organizações envolvidas no dia 25 de maio de 2018. Logo na mesa de abertura sou tomado pelo discurso articulado de uma representante quilombola que chamou a atenção do público:

Essa é a reconstrução de uma história que não se iniciou agora. Então, aos parentes que não são daqui, gostaria de dizer que a comunidade indígena Kariri, no início do seu processo de resgate, para sair da invisibilidade contou com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Queimada Nova, que tem sempre dado esse apoio por entender que estes estão mais distante das instâncias, principalmente das outras aldeias [indígenas]. Tem contado também com este apoio da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas. Então, aqui, somos “parentes” e ao mesmo tempo parceiros nessa luta, por entender que, os “parentes indígenas” são os legítimos donos da terra, porque quando invadiram o Brasil eles já estavam aqui. Então a luta dos “parentes indígenas” pela permanência da terra não é para adquirir um pedaço de terra, mas é uma luta pela devolução daquilo que lhe foi arrancado à força. E, de uma forma muito desumana, ainda deixou todos no mundo da invisibilidade. Não foi diferente com nós, negros e negras que fomos trazidos à força como ser humano para nos tornarmos escravos no Brasil. A intenção do sistema era para colocar negros e índios para brigarem [uns contra os outros]. Ao contrário, nós nos tornamos irmãos. Irmãos na luta para defender e exigir respeito à vida e a nossa existência. Então é preciso “parentes”, a gente resistir para existir em um sistema de sociedade que nós temos que é muito excludente. Digo isso porque até pouco tempo no Piauí os governantes diziam que não existiam comunidades quilombolas no Piauí, ou seja, para os governantes, até o ano de 2000 nós éramos invisíveis nesse Estado. O Estado que hoje somos mais de 200 comunidades quilombolas. Da mesma forma, tentaram levar para o mundo da invisibilidade os nossos “parentes indígenas” (Maria Rosalina dos Santos, coordenadora estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí, 25/05/2018).

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A fala proferida na abertura do evento por “Maria do Povo”, como é popularmente conhecida, foi de fundamental importância para se pensar o projeto de intervenção que desse a visibilidade necessária a causa dos Kariri e da presença dos povos indígenas na região. Atualmente, o grupo está estabelecido em uma localidade que habitam desde tempos imemoriais, no qual a luta pela permanência na terra é uma constante na vida dessas pessoas. O espaço territorial que ocupam está interligado ao município de Queimada Nova (PI) e às diversas terras de quilombo presentes nesta região. Os quilombolas foram os primeiros grupos étnicos a serem reconhecidos pelo governo do estado. Um dos pontos observados em campo foi a intensa relação que os indígenas mantêm com essas pessoas e suas respectivas comunidades.

A relação entre os Kariri e os quilombolas culminou em uma parceria que remonta a tempos muito antigos, para além das redes de fortalecimento dos movimentos sociais atuais. Nesse sentido, é muito comum observar casamentos, relações de parentesco e copaternidade entre eles. Contudo, existem mesmo aquelas pessoas que se identificam tanto como negros (descentes quilombolas), tanto como indígenas. Essas associações vêm sendo descrita pelos estudos antropológicos recentes como “relações afro-indígenas” (GOLDMAN, 2014), aonde os atores sociais “demonstram princípios e fundamentos que podem ser denominados ameríndios e afro-americanos em função das condições objetivas de seu contato” (idem, p. 216). Nas imagens captadas podemos ver a presença dessas pessoas, que apesar de tímidas, portam consigo as pinturas presentes na simbologia Kariri, demonstrando, com isso, as relações de identidade e pertencimento estabelecidas entre eles (ver Foto 21).

O registro das formas expressivas da cultura imaterial Kariri ocorreu dada a abertura estabelecida com o grupo e o meu interesse pela temática abordada. Está ação só foi possível por conta de minha permanência no município de Queimada Nova e do desejo em participar do evento em apoio a causa e a militância dos povos indígenas nesta região do país, o Nordeste Brasileiro. Além disso, por entender que é através de suas pinturas e ornamentos corporais que os Kariri constroem uma identidade cultural que lhes é própria, refletida na sua maneira de ser e estar no mundo, isto é, baseada em sua filosofia, trajetória e história de vida.

Tendo por base a noção de cidadania patrimonial compreendida pela concepção de Lima Filho (2015, p.139) como “[...] a capacidade operativa dotada de alto poder de elasticidade de ação social por parte de grupos sociais e étnicos, em suas dimensões coletivas ou individualizadas de construir estratégias de interação (de adesão à resistência/negação) com as políticas patrimoniais”, buscou-se chamar atenção das capacidades cognitivas e de agência dos Kariri ao realizar uma descrição densa de suas “trajetórias histórico-culturais” a partir da leitura de suas formas expressivas.

Como critério, considerou-se a importância da emergência de novos grupos sociais e étnicos, decorrente do processo de exclusão e marginalização dos mesmos, relacionado à questão de raça, gênero e classe e, também, tendo em vista o direito à informação e ao acesso dos bens culturais simbólicos, para além daqueles previstos na legislação, que tem como referência a noção de excepcionalidade (dos bens tombados) e relevância (dos bens registrados). Com isso, buscou-se garantir o direito à informação, o direito à fruição cultural, o direito à produção cultural, o direito à participação e engajamento deste grupo colocado em condição de “subalternação”.

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Congregados em um momento de comunhão entre seus pares e demais agentes sociais envolvidos, marcar o corpo com símbolos significa, para além da diferenciação entre eles, um ato de resistência política. É através de suas formas expressivas que os povos indígenas do Piauí se reafirmam perante a sociedade envolvente como portadores de uma identidade específica e diferenciada. Nesse sentido, suas pinturas e ornamentos corporais são vistos como marcadores de diferença entre o “eu” e “outro”. Diferenciação que assinala a qualidade do devir indígena em contraste com o devir quilombola ou devir branco/negro/pardo (DELEUZE e GUATTARI, 1997).

Com relação à questão racial, existe uma preocupação muito grande entre os Kariri, por entenderem que, com o passar do tempo, o “fenótipo” concebido como indígena e vários “traços culturais” que realizavam no passado foram “perdidos”. É por isso que, hoje, vivem uma corrida em busca desta história interrompida, travada durante o processo de colonização e extermínio dos grupos indígenas no Piauí.

Nas sociedades ameríndias, o corpo é visto como um “idioma simbólico focal” (SEEGER; DAMATTA; VIVEIROS DE CASTRO, 1979, p.3), ou seja, corpo e objetos compartilham relações de consubstancialidade que os tornam, em suma, elementos indissociáveis entre si. Em contato com os alunos e alunas da escola intercultural é recorrente expressarem que tais pinturas e adornos eram usados pelos seus avós e bisavós em momentos específicos dos quais não se lembram, mas que, provavelmente, ocorriam em cerimonias, rituais e festas, os quais foram proibidos de realizar. Em um processo que ressignificou esses traços, os Kariri atribuem o sentido de luta às pinturas que utilizam hoje. De acordo com a história oral levantada entre eles, a descendência Kariri remonta a populações indígenas oriundas de Pernambuco, Ceará e Bahia.

Durante a roda de conversa, ao serem indagados sobre quando iniciou a prática de se pintar, a resposta era unânime, “desde quando iniciou as lutas”. Tais pinturas fazem parte da Organização Indígena Kariri de Serra Grande, movimento que já chegou a contabilizar a adesão de mais de 60 famílias, muitas das quais, desestimuladas pela influência de representantes políticos e sociais que não querem a presença dos mesmos na região foram cooptadas a desistirem de lutar e, até mesmo, desmerecer a causa indígena. Os Kariri relatam que estas pinturas têm sido utilizadas frequentemente em defesa de suas terras há pelo menos 10 anos. Através da roda de conversa na escola essas histórias foram rememoradas.

Teve um intervalo que o nosso povo não usou. Eles não usavam para se identificar por causa da “vastidão” que aconteceu entre os nossos povos. Então eles se “recantoaram”, se esconderam e não quiseram se identificar que eles portavam uma pinta. E isso a gente sabe que pode passar milhões e milhões de anos... (Francisca Kariri, 26/07/2018).

Eles falavam para gente que eles não faziam para gente ver. Assim eles falam: “a minha mãe era de tal lugar, era assim...”. O marido da mulher que já era a filha, né? Ele era morto por outras pessoas, aí eles não deixam pintar mais. E só falavam o que era, mas não pintavam mais. Não demonstrava. Falava para os filhos, para os netos, mas já não pintava mais com medo, né? Porque já tinham vindo de Pernambuco, Ceará. Vieram de lá e vieram se esconder aqui, né? Aí por isso que passou um tempo que a gente não pintava não. Eles falavam para as pessoas, mas não expunham, não pintavam. Não fazia suas coisas, não faziam as coisas que os índios fazem. Eles faziam caladinho (Rosiane, 26/07/2018).

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Em termos de arqueologia histórica e pré-histórica, o estado do Piauí é um dos mais ricos em provas e documentações da presença do homem no território americano, com datações que vão de 49.000 a 6.000 anos AP, ocupações humanas atestadas por um rico conjunto de artefatos líticos e estruturas de fogueiras de diferentes tipologias (GUIDON, 1985 e 1986; PARENTI, 2001; BOEDA et.al., 2016). Prova disso, são os inúmeros sítios arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara, patrimônio histórico e cultural da humanidade registrado pela UNESCO. Desta perspectiva, é impossível pensar que esses grupos não possuem nenhuma relação com este homem do passado e, ainda, é impossível mensurar que não existiram povos indígenas nessa região do país.

Através da troca de conhecimentos e saberes, os Kariri e os “parentes indígenas” se apoiam na tentativa de compreender os processos históricos que levaram ao extermínio e à disseminação dos grupos étnicos que originalmente povoaram o Piauí. Os Kariri, os Gamela e os Tabajara – estes últimos, visivelmente mais proeminentes em suas investidas sobre os direitos indígenas em relação ao Estado –, se uniram no sentido de fortalecer o sentimento de pertença e identidade entre eles, de modo a garantir o direito à memória e a história (MAGALHÃES, 2004). Eventos públicos como a “II Assembleia dos Povos Indígenas do Piauí” vêm se consolidando com importante espaço de construção da etnicidade e reforçando o lugar de fala dos indígenas desta região do Brasil, como importante momento de debate e publicização das manifestações culturais como meio de protesto e, também, como espaço por excelência de reivindicações desses grupos.

Nós aqui no Piauí sempre estamos, a cada dia, nos reforçando. Porque nós fomos muito tímidos até... intimidados, até nós não dizer que era índio né? Isso aqui teve uma grande resistência! E as pessoas aqui ainda têm medo de autoidentificar e dizer que é indígena. Então, a gente, desde 2010, 2008 por aí assim... Desde de 2002 que os povos [indígenas] do Piauí começaram a perder esse medo e dizer, se identificar, dizer que estamos aqui. Porque a sociedade começou a dizer que no Piauí não tinha índio. E a gente aqui se intimidava a dizer, porque que nós éramos a origem dessa terra. Nossos antepassados eram a origem dessa terra. Porque que nós ainda não permaneçamos aqui? E nós não somos dessa origem? Porque que nós não estamos aqui? Estamos sim! E nós vamos perder esse medo de dizer que nós não existimos aqui, nós existimos sim! E nós estamos começando a se fortalecer, nos unir, nos organizar, nos mobilizar e dizer para a sociedade que no Piauí tem índio sim. (Francisca Kariri, 25/05/2018)

A resistência dos povos indígenas no Piauí também ocorre através das suas formas de expressão artística, como as pinturas e ornamentação corporal. Na ocasião do evento foram registradas entre os Kariri três formas diferentes de aplicação dos desenhos, com algumas variações de cor. A primeira é composta de duas faixas horizontais em vermelho e preto ou somente preto. A segunda, composta por um padrão de três faixas horizontais intercaladas em vermelho/preto/vermelho. E, a terceira, composta por um padrão com duas faixas horizontais em vermelho e um círculo preto entre elas. Utilizam como matéria-prima de suas pinturas tinta guache, nas cores preto e vermelho, e como suporte para aplicação, hastes de cotonete. Até o momento, é sabido que atribuem a todas essas variações um mesmo significado, o de luta; que representa a experiência vivenciada por eles e elas em busca do reconhecimento das terras que reivindicam no presente.

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Nas sociedades indígenas brasileiras tanto as pinturas, quanto os adornos e ornamentos corporais se destinam ao uso em arena pública, isto é, em momentos de festas, cerimônias e nos rituais da comunidade. Segundo Vidal e Silva (1992, p.281): “nas sociedades indígenas, as artes são uma ornamentação para as manifestações públicas e os talentos manuais, mesmo os mais individualizados, são bastante compartilhados pela população”. Nesse sentido, é notável que essas marcas apareçam em eventos de interesse participativo do grupo, manifestações públicas em movimentos reivindicatórios e em situações de afirmação de sua identidade étnica, tal como, o evento ocorrido na aldeia dos Kariri.

Para além das pinturas corporais, registrou-se outro tipo de adorno comumente utilizado pelas mulheres. O primeiro deles e o mais imponente é o cocar, criado pela própria cacique Francisca Kariri, primeira de sua linhagem a liderar e representar o grupo de Serra Grande. Ela me conta que através da itinerância entre os povos indígenas do Brasil e de sua percepção buscou, em contato com sua realidade, elementos representativos da natureza local. Desse modo, seu cocar é formado por penas de guiné ou galinha-d'angola (Numida meleagris) preta com bolinhas brancas, intercaladas com plumas coloridas tingidas artificialmente de vermelho. Estes elementos são então agrupados em uma trama trançada por ela com fitas de agave (Agave), plantas suculentas da família Agavaceae comum na Caatinga brasileira. Com exceção das plumas coloridas comercializadas em lojas na sede do município, todo material foi extraído da região de Serra Grande. O cocar possui uma forma circular que acompanha toda fronte e o occipício da cabeça. Questionada sobre a designação de uso do objeto a partir do gênero, ela diz que: “Assim, os homens também podem usar. Se a gente trabalha no mundo dos preconceitos, para não ter mais preconceito, então tem que ser igual” (Francisca Kariri). Desta forma, observou-se que as pinturas não distinguem status de gênero entre eles, podendo ser utilizadas por homens, mulheres e crianças.

Um segundo adorno de cabeça registrado chama a atenção por ser realizado tendo por base o crochê, técnica manual tradicional da região Nordeste. O exemplar, feito por Maria Aparecida, indígena da comunidade, utilizou uma lã na tonalidade rosa intercalado com contas de madeira. Em sua extremidade, ela aplicou plumas nas cores preta e vermelha.

Além do diadema, outras mulheres indígenas utilizavam brincos e prendedores de cabelo com penas coloridas em sentido vertical que, de uma forma ou de outra, na perspectiva Kariri, ressaltam seus atributos indígenas em conjunto com suas pinturas corporais. Com isso, observa-se que a utilização de penas é mais uma característica entre as mulheres. Enfeites que são produzidos por elas e, também, provindos das “relações de trocas” estabelecidas com os “parentes indígenas”, seja por ocasião de visitar uma aldeia diferente ou de encontros em eventos como o descrito aqui.

Outra “relação de troca” marcante observada entre os “parentes indígenas” é a justaposição das pinturas de uma etnia e de outra. Os Tabajara, assim como os Gamela, ao incorporarem as pinturas Kariri em sua ornamentação corporal, demonstram, através de um ato de solidariedade, o reconhecimento da luta indígena de seus “parentes”. A incorporação da ornamentação é interessante porque ela culmina na adesão de todos ao Toré, sistema ritual Tabajara que comunica e, ao mesmo tempo, exprime os valores e ideais compartilhados pelos povos indígenas do Piauí.

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Essas “relações de trocas” postas são importantes não só porque reafirmam os sentidos de identidade e reforçam a transmissão das tradições culturais entre eles, mas também porque são capazes de estimular o reavivamento das memórias em movimentos simultâneos de “lembrar”, “esquecer” e “saudade” (PECLÁT, 2013). E, a partir disso, são capazes de formular sentidos de “vir-a-ser”, “estar-aí”, “ver-se-aí” que são categorias importantes que constroem visões de mundo e perspectivas sensoriais (HEIDEGGER, 1977; PECLÁT, 2013).

As crianças também são incentivadas ao uso do bem cultural, ao observar que elas são peças fundamentais no sentido de combater o estigma social arraigado pela desaprovação das características culturais Kariri diante da sociedade envolvente, os Kariri entendem que este é um passo que deve ser reforçado desde a infância. Assim, a prática contribui para melhorar a autoestima no interior da própria sociedade, buscando promover, desde a infância, o sentimento de pertencimento e identidade entre eles.

Antes da apresentação das imagens passar pela criticidade dos estudantes Kariri houve dúvidas a respeito delas atenderem a objetivos específicos da empresa que realiza a instalação do parque eólico na região – situação de conflito que precisou ser esclarecida, dado o papel desempenhado na empresa de consultoria em arqueologia. Nesse sentido, busquei informar que se tratava de um trabalho para fins acadêmicos e que, portanto, não estaria vinculado diretamente ao parque eólico. Minha fala foi reforçada pela professora Maria Ivaneide, que possui vasta experiência com pesquisas acadêmicas e, deste modo, todos os presentes naquele momento passaram a apoiar a proposta da exposição dos registros fotográficos.

O momento de debate foi enriquecedor, pois despertou nos agentes sociais curiosidade sobre as manifestações culturais do grupo que, por vezes, se encontravam “adormecidas”, trazendo luz a problemáticas internas e externas da etnia. Um exemplo, foi a discussão em torno da foto de Maria José, descendente quilombola casada com Elias, indígena Kariri. Ao ver sua fotografia no projetor ela se sentiu envergonhada, ao que relutou sua exposição. Segundo alegava, não gostava de fotografia. No entanto, foi de entendimento do grupo escolar que a foto permanecesse na exposição, pois consideraram que a imagem, além de revelar “uma beleza”, também comunicava muito sobre o processo de formação da comunidade Kariri a partir da junção com os quilombolas. A fala da cacique Francisca Kariri durante a intervenção é elucidativa: “Eu sou índia mas meu pai... minha mãe era índia, mas meu pai era negro. E eu me identifico como negra e como índio também, por isso que nós temos essa aproximação. Porque nós somos uma família, nós somos os dois”.

Todo o processo de impressão e montagem da exposição fotográfica foi realizado por mim, em parceria com a Archaeo, que promoveu o evento do patrimônio cultural na praça pública. Através deste momento, houve uma série de divulgações na rádio local e ações de panfletagem que incentivaram a presença do grande público durante sua realização. Tanto a exposição em Queimada Nova, quanto a de Lagoa do Barro tiveram excelente receptividade por parte da gestão pública e dos agentes culturais nas respectivas prefeituras, assim como obtiveram boa repercussão entre o público-alvo e os agentes sociais envolvidos nesse processo (APÊNDICE C – Registros imagéticos das exposições).

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Na minha opinião essa exposição do Danilo foi muito importante porque quando a gente anda por aí diz: quando que lá na Serra Grande tem índio, rapaz? O povo lá da Serra Grande eu conheço, lá não tem índio não! É uns negros do cabelo enrolado e outros brancos dos olhos azuis. [...] Então essa exposição do Danilo, é importante porque o povo de outros lugares vai passar a conhecer a cultura daqui. Vai passar a entender que mesmo a gente tendo o cabelo enroladinho, ou a pele branca, o que importa é o parentesco, é a identidade. É a valorização da cultura (Maria Ivaneide).

Esta intervenção teve como uma de suas metas propiciar aos visitantes o contato com o contexto da presença indígena na região, trazendo informações sobre o objeto de estudo, as pinturas e ornamentos corporais Kariri e tudo que envolve suas características físicas e simbólicas. Esta ação permitiu um maior (re)conhecimento sobre os Kariri e sua representatividade no quadro local – o Sudoeste do Piauí – dentro de um panorama dos povos indígenas no Nordeste brasileiro.

4. Desfecho ou Conclusão

As imagens captadas durante o evento buscaram revelar as “sensações visuais” dos momentos vividos, extraídas das experiências sensíveis por meio da relação estabelecida com os Kariri. A fotografia foi utilizada como uma arma de estímulo na proximidade entre o pesquisador e seu campo de investigação, ao entender que o “ato de fotografar implica empatia e certamente intersubjetividade” (NOVAES 2014, p.64).

Observou-se que os ornamentos corporais do grupo são utilizados como uma espécie de “arma de guerra” (DELEUZE E GUATTARI, 1995) no campo interétnico, elementos que reforçam suas características naturais e imemoriais. Dado a ausência do “fenótipo indígena” entre eles, estes recursos foram criados e ressignificados como forma de expressarem suas tradições e, também, como meio de comunicarem a (re)existência do grupo diante da perda dos seus padrões culturais, dada sua repressão, datada de longos anos, de intenso contato com a sociedade envolvente.

Embora ainda não sejam reconhecidos por alguns grupos e instituições, vários avanços demonstram que a luta indígena tem o seu valor, a exemplo da conquista da primeira turma indígena e da sala anexa na Escola Estadual Tomas Francisco de Sousa.

A pintura e a ornamentação corporal entre os Kariri são vistas como traços identitários, marcador de diferença, que lhes dão a legitimidade de dizerem que são quem dizem que são, isto é, “dizer que eu sou, quem eu digo que sou”. Isto é fundamental para conquista da cidadania patrimonial e da existência dos grupos colocados em situação de subalternização. Assim, os adornos corporais são interpretados como marcadores de diferença entre eles e nós; sempre relacionados a esta dicotomia “nós” e “outros” imposta pela própria conjuntura social que hierarquiza as relações.

O que isso poderia contribuir para o nosso pensamento? É preciso refletir o que está posto nessa dicotomia, no que ela implica e quais suas consequências. Eu diria, em uma reflexão resumida, que tal processo dicotômico, predominante em nossa sociedade, estimula ainda mais o preconceito e limita a abertura para se pensar a diversidade cultural, assim como a multiplicidade das formas de ser e viver que temos presenciado no mundo contemporâneo, em suas mais diversas manifestações. Tal dicotomia implica a subtração do reconhecimento de inúmeras formas da diversidade linguística, cultural, de gênero, de sexualidade, das manifestações religiosas entre outras chaves que constituem as relações sociais como um fato social total (MAUSS, 1974).

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Acredito que o pensamento baseado em dicotomia tem engessado a consciência humana ao não reconhecimento do “outro”, isto é, à não aceitação das identidades para além dos traços diacríticos ou de fenótipos estereotipados aceitos e estabelecidos em um padrão hierárquico. O desafio que se coloca é como superar esta questão dicotômica para poder avançar em relação à diversidade, buscando a prosperidade nessas ações. Acredito que o primeiro passo é aprender com esses povos e comunidades que ao longo de anos foram colocadas em situações de subalternação, pois há muito que aprender com relação à solidariedade, tolerância, respeito, entre outros.

Sugere-se, como encaminhamento desta intervenção e das pesquisas iniciais nela realizadas, que avancem no sentido de levar aos grupos envolvidos material capaz de estimular nos agentes sociais o pensamento reflexivo sobre essas propostas; o que se coloca como um desafio didático e metodológico ao pesquisador intervencionista.

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