Qual foi principal medida que tornou possível a erradicação da varíola?

O Monkeypox, conhecido como vírus da varíola dos macacos, circula de maneira endêmica em alguns países da África, sendo descritos, ocasionalmente, surtos em países fora do continente. Entretanto, foi verificado no decorrer do último mês um número crescente de casos em ao menos 12 diferentes países não africanos.   

 A virologista pondera que ainda é cedo para afirmar que a varíola dos macacos se tornará um problema mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou comunicados em tom de alerta até o momento, diferente da época da disseminação da Covid-19, cuja transmissão era mais eficaz, o que levou rapidamente a situação de pandemia. 

A transmissão do vírus da varíola dos macacos se dá, principalmente, por contato próximo com fluidos corpóreos e lesões da pele da pessoa doente. Portanto, medidas que visem identificar os doentes e pessoas próximas a eles e isolá-los devem ser prioritárias para frear o avanço e evitar que a doença se torne um problema, segundo ela. 

“Agora vai depender de como serão tomadas as medidas de saúde pública dos países que estão sendo acometidos para tentar conter isso sem grandes consequências. Mas não temos bola de cristal, e o que existe é uma frente de alerta para tentar prevenir seu avanço”, ressalta.

Segundo a virologista, Monkeypox conhecida como varíola dos macacos, é uma espécie de “prima” da varíola. Ambos pertencentes ao gênero Orthopoxvirus da família Poxviridae. Porém, diferentemente da varíola dos macacos, a varíola humana foi uma das doenças mais mortais da história da humanidade e foi oficialmente declarada como erradicada do planeta em 1980, após uma ampla campanha mundial de vacinação em massa.

Vacinação pode ser a solução?

Quem se vacinou antes da erradicação do vírus da varíola, pode ter imunidade cruzada para a varíola dos macacos. Mas a proteção não é uma certeza, pois a vacinação massiva ocorreu há mais de 40 anos, destaca Viviane.

“As pessoas vacinadas contra varíola têm anticorpos que protegem contra o Monkeypox, o que não sabemos é se isso dura até hoje porque são mais de 40 anos.”, afirma.

Após a extinção da circulação do vírus da varíola, a vacina deixou de ser fabricada em larga escala no mundo e atualmente há um imunizante que é fabricado e recomendado em determinadas situações, como por exemplo, para quem precisa manipular o vírus em laboratório, portanto, não está disponível em larga escala. O Imvanex é o imunizante fabricado pela companhia dinamarquesa Bavarian Nordic, e é aplicado em duas doses.

Diante disso, a principal medida a ser feita neste momento é criar redes de monitoramento de casos nos países já atingidos e nos demais. No Brasil, o Ministério da Saúde investiga casos suspeitos, mas não há nenhum confirmado até o momento – apesar de o paciente confirmado na Alemanha ser um brasileiro que está isolado no país. Segundo a virologista, um grupo de especialistas já foi criado pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCTI), e o Ministério da Saúde anunciou esta semana a criação de um grupo de monitoramento de casos no país.

“O mais importante quando você tem um vírus novo é atacar em várias frentes, sendo a principal trabalhar na detecção do vírus e no isolamento das pessoas doentes. Trabalhar na prevenção, com vacinas, é importante, mas se houver uma disseminação rápida, não haverá tempo de ter a vacina para todo mundo. O melhor é bloquear a transmissão e isso nós aprendemos com o próprio SARS-CoV-2”, conclui Viviane.

  • Paula Adamo Idoeta
  • Da BBC News Brasil em Londres

30 maio 2022

Qual foi principal medida que tornou possível a erradicação da varíola?

Crédito, Acervo COC/Fiocruz

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Campanha de vacinação contra a varíola em 1971 no Brasil; país receberia, três anos depois, certificação de erradicação da doença

Há pouco mais de quatro décadas, ocorria algo inédito na história da humanidade: uma doença infecciosa humana deixava de circular no mundo. No ano de 1980, a varíola humana era considerada erradicada.

Foi uma das doenças mais devastadoras que já existiram. Quase uma em cada três pessoas contaminadas com a varíola morria. Só no século 20, ela matou estimadas 300 milhões de pessoas no mundo - ou seja, 4 milhões por ano.

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E, no Brasil, que foi um dos últimos países do mundo a eliminar a varíola humana, nos anos 1970, o combate à doença criou as bases do programa nacional de vacinação que conhecemos hoje, explica Tania Maria Fernandes, professora de pós-graduação em História das Ciências da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

Marquinha no braço até 1971

Aqui, os últimos casos da varíola humana foram registrados em 1971, na região norte da cidade do Rio de Janeiro.

Já eram naquele momento casos isolados da doença, porque desde a década anterior o país vinha promovendo campanhas em massa de vacinação.

Segundo Tania Fernandes, a vacinação abrangia inicialmente desde crianças a partir de seis anos até adultos. Depois, passou-se a vacinar também bebês com menos de um ano.

Quem nasceu até 1971 - último ano da vacinação no país - possivelmente tem um certificado de vacinação da época ou uma marquinha no braço ou na perna esquerda. Isso é importante porque esse grupo demográfico talvez ainda tenha algum tipo de imunidade que valha agora contra a varíola dos macacos (mais detalhes sobre a doença abaixo).

Na época, eram realizadas grandes festas populares em praças de cidades do país para atrair público e imunizar quem quer que aparecesse, diz Fernandes. Havia também vacinação em postos de saúde e campanhas em escolas para imunizar crianças.

"Todo mundo, de zero a cem anos, era vacinado", detalha a historiadora.

Crédito, Acervo COC/Fiocruz

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Vacinação contra a varíola em 1970 no Brasil estabeleceu as bases para o Programa Nacional de Imunização

O Brasil criou em 1962 um órgão público federal voltado especificamente para o controle da varíola, batizado quatro anos depois de Campanha de Erradicação da Varíola (CEV) e encarregado de centralizar as ações contra a doença e monitorar seu avanço - como parte de uma iniciativa global da Organização Mundial da Saúde (OMS) contra a varíola.

"No período de 1966 a 1971, a CEV coordenou a organização e execução de campanhas de vacinação em massa em todos os municípios brasileiros e cooperou com as secretarias estaduais de saúde na estruturação de unidades de vigilância epidemiológica", segundo o acervo histórico da Fiocruz.

Essa vigilância tinha de notificar e investigar casos suspeitos de varíola em todo o país e rastrear eventuais cadeias de contágio. A partir disso, fazia-se a técnica chamada de vacinação de bloqueio: as pessoas próximas ao paciente infectado eram imunizadas para interromper a cadeia de transmissão.

O comprovante de vacinação também passou a ser exigido na matrícula de crianças na escola, explica Fernandes.

"Essas lógicas é que possibilitaram criar o Programa Nacional de Imunização (PNI)", que perdura até hoje no Sistema Único de Saúde brasileiro, afirma Fernandes.

"O mesmo modelo foi daí aplicado contra o sarampo, e criou-se o programa nacional de vigilância epidemiológica, que centraliza a notificação de doenças de notificação compulsória - as doenças são notificadas e catalogadas e por isso temos acesso a números de casos, vacinação e mortes" de tantas doenças no Brasil, ela agrega.

Esse conjunto de fatores fez os casos de varíola chegarem a zero no Brasil ainda em 1971. Dois anos depois, o Brasil foi certificado pela OMS como livre da doença.

Feito isso, detalha Tania Fernandes, o Brasil acabou exportando profissionais que haviam participado da campanha de vacinação brasileira para implementar programas parecidos em países que ainda lutavam contra a varíola humana na Ásia e na África, como Bangladesh, Etiópia e Somália.

A erradicação no mundo

O último caso conhecido de varíola no mundo foi registrado na própria Somália, em 1977. Três anos depois, a OMS decretou a doença erradicada - um caso único até hoje na história mundial.

Crédito, OMS

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Pôster de 1980 da OMS comemorando a erradicação da varíola - um caso único na história da saúde pública global

"É a primeira e única doença humana erradicada em uma escala global, graças à cooperação de países", diz a OMS. "Esse continua sendo um dos mais notáveis e profundos sucessos de saúde pública da história."

Esse sucesso não é fácil de ser replicável em outras epidemias - por exemplo, a de covid-19 - porque as doenças têm características muito diferentes entre si, explica Tania Fernandes.

A "vantagem" do combate à varíola (e, agora, à varíola dos macacos) é que os pacientes são sintomáticos - apresentam lesões e bolhas na pele bastante particulares, que facilitam a identificação da doença.

Além disso, os vírus da família pox, à qual pertencem a varíola humana e a dos macacos, são considerados estáveis, o que significa que não passam por muitas mutações. Por isso, a imunização costuma ser de longo prazo para quem foi contaminado ou vacinado.

Já o Sars-CoV-2, vírus da covid-19, é bastante diferente: muitas vezes é transmitido de forma assintomática, então passa despercebido em muita gente.

E é um vírus de molécula de RNA, que costuma sofrer muitas mutações - e algumas delas podem driblar a imunização do corpo humano e, em alguns casos, a das vacinas.

Então, assim como o sarampo, por exemplo, a covid-19 é mais difícil de ser completamente erradicada - e as estratégias de saúde pública para essas e outras doenças acabam servindo mais para o controle do que para a erradicação plena.

Da Revolta da Vacina à varíola dos macacos

Vale destacar que a história da varíola é muito antiga - o que contamos acima foram apenas seus capítulos finais.

A OMS estima que o vírus tenha mais de 3 mil anos de existência, e sua vacina foi criada em 1796 pelo médico inglês Edward Jenner.

Os surtos, porém, continuaram ao longo do século 19 e 20.

No Brasil, um marco histórico foi a Revolta da Vacina, em 1904, quando o país vivia um surto particularmente virulento da doença. Só no Rio de Janeiro, capital do país, 3,5 mil pessoas morreriam da doença naquele ano, segundo os arquivos da Fiocruz.

A vacina de Jenner já existia por aqui, mas sua obrigatoriedade não era implementada com rigor. Até que Oswaldo Cruz propôs encaminhar ao Congresso um projeto de lei que reforçasse a campanha obrigatória.

Isso gerou uma reação forte entre diversos setores da sociedade - entre outros motivos, por medo (infundado) de que a vacina propagasse a doença, e pelo incômodo social com o fato de que mulheres casadas mostrassem o braço ou a perna em público para serem vacinadas.

Crédito, Acervo Fiocruz

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Revolta da Vacina foi um dos marcos no combate à doença no Brasil; acima, bonde virado na praça da República, no Rio de Janeiro, em protesto contra a lei da vacinação obrigatória da varíola, em 14 de novembro de 1904

Em novembro de 1904, milhares de pessoas saíram às ruas do Rio para protestar, em uma insurreição que acabou tentando derrubar o próprio governo federal e que foi reprimida com violência.

Nas décadas seguintes, a vacinação avançou com altos e baixos no Brasil e no mundo, até a campanha global bem-sucedida ocorrer nos anos 1960.

Depois da erradicação mundial, o vírus da varíola humana ainda foi armazenado em laboratórios - e sempre circulou o medo de que ele pudesse ser usado como arma biológica contra populações mais jovens, que não estavam mais sendo vacinadas.

Por isso, a OMS e alguns países mantiveram estoques da vacina de primeira geração contra a varíola humana. E agora, diante do recente avanço da varíola dos macacos - que até este ano raramente era vista fora de países da África Ocidental e Central - fábricas de imunizantes já estão sendo acionadas para produzir vacinas para esses dois tipos de vírus.

A vacina da varíola humana é considerada de alta eficiência - 85% - contra a varíola dos macacos justamente porque os vírus são parecidos e estáveis, com poucas chances de mutação.

Crédito, Reuters

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Fábrica dinamarquesa que produz vacina contra a varíola, agora sendo usada também contra a varíola dos macacos

Outro ponto importante é que a varíola dos macacos é considerada uma doença muito mais branda do que a varíola humana. Sua taxa de mortalidade é estimada entre 1% e 10%, a depender da cepa do vírus e do tipo de paciente (crianças menores e com o sistema imunológico comprometido estão sob risco maior), contra uma mortalidade historicamente de 30% da varíola humana.

"O vírus da varíola foi muito perigoso, matou muito, (...) e era muito fácil de se contaminar", afirma Fernandes.

Mas, com toda a devastação que ele provocou, seu controle acabou trazendo um aprendizado útil até hoje diante da varíola dos macacos: já conhecemos mais sobre as características da doença e do vírus que a causa, e também criamos estruturas mais robustas para enfrentá-lo, com vacinação e monitoramento de casos, no mundo e no Brasil.

"Com certeza o processo de erradicação da varíola e depois (de combate ao) sarampo deu corpo aos sistemas de notificação e controle das doenças e ao programa de imunização no Brasil", diz Tania Fernandes.

Além disso, "havia uma vacina de eficácia muito grande, obrigatória, que teve uma aceitação razoável no Brasil. É importante registrar isso: o país tem (até hoje) uma cultura de vacinação muito séria", afirma a historiadora.

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O que tornou possível a erradicação da varíola?

A doença foi erradicada graças a um esforço global de 10 anos, liderado pela Organização Mundial da Saúde, que envolveu milhares de profissionais de saúde em todo o mundo para administrar meio bilhão de vacinas para eliminar a varíola.

Qual foi a principal medida que tornou possível a Erradicacao da varíola?

A vacina contra a varíola foi a responsável por erradicar a doença do planeta, pondo fim em anos de mortes e sequelas irreversíveis. A vacina contra a varíola foi criada por Edward Jenner, um médico da Inglaterra.

Como a varíola foi erradicada no Brasil por causa das campanhas de vacinação?

Criada através do Decreto nº 59.153, de 31 de agosto de 1966, a Campanha da Erradicação da Varíola substituiu a Campanha Nacional contra a Varíola, que fora organizada pelo governo brasileiro em 1962. A Campanha da Erradicação da Varíola compreendia quatro fases, onde uma delas era a vacinação em massa da população.