Quais foram os principais focos de ocupação do interior da América Portuguesa?

Résumés

O objetivo deste artigo é discutir alguns modelos interpretativos acerca do processo de ocupação territorial da América Portuguesa. Nosso propósito é colocar em diálogo estudos historiográficos diversos, que abrangem autores da história do urbanismo e da história política e econômica, visando apresentar limites explicativos e trazer ideias que possam contribuir para o debate a partir das discussões e pesquisas desenvolvidas dentro do projeto “Atlas Digital da América Lusa”. O conjunto de dados organizado dentro desse projeto resultou em contribuições que divergem de elementos apresentados tradicionalmente pela historiografia. Assim, nos propomos a repensar o debate tendo em conta esses resultados.

L’objectif de cet article est de débattre de certains modèles interprétatifs autour du processus d’occupation territoriale de l’Amérique Portugaise. Il s’agit d’établir un dialogue entre plusieurs recherches historiographiques – qui englobent des auteurs de l’histoire de l’urbanisme et de l’histoire politique et économique – dans le but de présenter les limites explicatives et d’apporter des idées capables de contribuer au débat à partir des discussions et recherches développées au sein du projet « Atlas Digital de l’Amérique Lusitanienne ». L’ensemble des données organisées et analysées au sein de ce projet a débouché sur des contributions divergentes par rapport aux éléments traditionnellement présentés par l’historiographie. Ainsi, nous proposons de redéfinir les contours du débat à partir de ces résultats.

This article aims to discuss some of the models used to interpret the process of territorial occupation in Portuguese America. Our goal is to establish a dialogue between different historiographical studies which includes authors from urban history and political and economic history. We seek to present the interpretive limits of these models and also put forward ideas that might contribute to this debate. These ideas came from the discussions and researches developed under the project known as “Atlas Digital da América Lusa”. The data organized and analyzed inside this project resulted in contributions that diverge from aspects traditionally presented by historiography. Thus, considering these results, we propose to rethink the historiographical debate on this subject.

El propósito de este artículo es discutir algunos modelos interpretativos sobre el proceso de ocupación territorial en la América portuguesa. Nuestro propósito es poner en diálogo diversos estudios historiográficos, que incluyen autores de la historia del urbanismo y de la historia política y económica, con el objetivo de presentar límites explicativos y aportar ideas que puedan contribuir al debate desde las discusiones e investigaciones desarrolladas dentro del proyecto “Atlas Digital da América Lusa”. El conjunto de datos organizado dentro de este proyecto resultó en aportes que difieren de elementos que tradicionalmente la historiografía presenta. Así, nos proponemos repensar el debate teniendo en cuenta estos resultados.

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Texte intégral

1O objetivo deste artigo é reavaliar alguns dos modelos interpretativos correntes acerca da ocupação territorial da América Portuguesa, entendendo que esse processo deve ser explicado não apenas a partir de suas características intrínsecas, mas levando em conta aspectos sociais e políticos das sociedades nativas e europeias. As contribuições existentes para este objeto são muitas e muito diversas entre si, englobando autores da história do urbanismo, da história política e da história econômica. Reconhecendo as particularidades de cada estudo, nosso propósito é tentar colocar estas historiografias em contato e apresentar alguns limites explicativos, trazendo também algumas ideias que possam contribuir para o debate, feitas a partir de uma revisão de dados produzida pelos autores.

  • 1 Endereço de acesso ao site do projeto “Atlas Digital da América Lusa”: http://lhs.unb.br/atlas
  • 2 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva) (...)

2O presente artigo é fruto das discussões desenvolvidas no seio do projeto “Atlas Digital da América Lusa”1, assim como a partir das informações contidas em um banco de dados construído na execução do projeto, cujo objetivo era fazer um levantamento exaustivo das vilas e cidades do Brasil colonial. Quando este levantamento foi iniciado, dispúnhamos de algumas listas feitas anteriormente, em especial uma lista produzida nos anos 1950 pelo geógrafo Aroldo de Azevedo2, que serviu de baliza para o nosso esforço. Apesar de ter décadas de existência, a lista de Azevedo é a mais recente disponível e muitos autores posteriores a usaram sem muita crítica.

  • 3 Studart, Guilherme de, Dicionário biobibliográfico cearense, Fortaleza, Typo-Lithographia a Vapor, (...)
  • 4 Barbosa, Waldemar de Almeida, Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais, [s.l.], Editôra Sat (...)

3Empreendemos uma revisão profunda dos lugares indicados por Azevedo, checando sua lista e buscando informações sobre outras vilas e cidades em acervos diversos, muitos dos quais desconhecidos por aquele autor, especialmente os documentos do “Projeto Resgate Barão do Rio Branco”, além de dezenas de dicionários históricos e geográficos locais, como o do Barão de Studart3, para o Ceará, ou o de Waldemar Barbosa4, para Minas Gerais. Os dados obtidos neste levantamento foram igualmente submetidos à crítica. O resultado da empreitada foi uma lista substancialmente maior que a apresentada por Azevedo, na qual algumas regiões específicas tiveram um grande aumento no número de vilas reconhecidas, especialmente na região norte.

  • 5 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial b (...)
  • 6 Holanda, Sérgio Buarque de, Raízes do Brasil, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1979 (...)
  • 7 Reis Filho, Nestor Goulart, Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil: 1500-1720, São Pa (...)

4Tradicionalmente, a historiografia sobre o tema salienta demasiadamente a morfologia do processo, em busca de um princípio estrutural que possa ser resumido em uma variável, quase sempre de matriz externa. Trabalhos como os de Antonio Carlos Robert de Moraes5 e Sérgio Buarque de Holanda6, apesar da enorme diferença de abordagem de cada um, criaram diversas metáforas visuais para descrever o processo de formação urbana colonial, como a conhecida imagem da fundação de cidades levada a cabo pelo colonizador português “semeador” encontrada na obra “Raízes do Brasil”. Há aqueles que destacam o caráter exportador da economia colonial como mais forte elemento de ação sobre o espaço, como a perspectiva de Moraes acerca do peso da economia do açúcar, argumento no qual é acompanhado por autores como Nestor Goulart Reis Filho7.

  • 8 João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa (orgs.), O Antigo Regime nos trópico (...)
  • 9 Bicalho, Maria Fernanda, A cidade e o império: o Rio de Janeiro no século XVIII, Rio de Janeiro, C (...)

5A historiografia sobre o processo de ocupação lusa, normalmente objeto da história política, tende a dar maior relevo, na sua versão mais tradicional, para a história de certos personagens e, mais recentemente, para certos processos, como tem sido o caso da noção de Antigo Regime nos Trópicos8. Essas contribuições, apesar de seus avanços, deram pouco espaço para a análise do conjunto de vilas no tempo e no espaço, dedicando maior atenção para estudo de casos.9 A história econômica, por sua vez, tampouco enfatizou o agregado de vilas como um elemento de análise, preferindo, antes, priorizar as trocas como elemento de dominação, em certa historiografia, ou como elemento de concentração de riquezas, em análises mais recentes. Já a história do urbanismo (e da fundação de vilas), de modo geral, aparece sempre um pouco descolada das demais abordagens.

O levantamento das vilas e cidades

6A pesquisa realizada no âmbito do projeto “Atlas Digital da América Lusa” deu especial atenção aos registros de vilas e cidades no Brasil colonial. Nossa pesquisa iniciou com um levantamento realizado dentro do projeto, a partir, primeiramente, das localidades apontadas no Censo de 1872, para, mais recentemente, realizar uma revisão exaustiva tendo como contraponto ao trabalho de Azevedo. Em seu célebre artigo de 1956, o autor não apenas apontou um modelo para a formação urbana brasileira como indicou quais as localidades que foram fundadas ao longo dos quatro primeiros séculos da história do Brasil. Sua lista mencionava 213 vilas e cidades no Brasil até 1822, das quais 177 estavam no período entre 1500 e 1808, recorte deste artigo.

  • 10 Idem.

7A listagem de Azevedo foi submetida a uma crítica documental: cada uma das localidades foi verificada por meio da utilização de diversos critérios, em especial da existência de alguma referência concreta ao uso da expressão “vila” ou “cidade” ou ao fato concreto da localidade ter tido uma data de fundação ou ereção enquanto “vila” ou “cidade”. Além disso, o critério de um lugar possuir uma Câmara Municipal era um sinal diacrítico de ser um município.10

8Cada localidade foi alvo de uma pesquisa em particular, na qual buscamos informações sobre sua data de fundação e instalação, além de seus antecedentes e características socioeconômicas. O conjunto da pesquisa acabou utilizando 182 referências, entre fontes históricas, artigos, teses, dissertações, livros, dicionários e páginas da internet. Dentre os resultados mais importantes, nossa pesquisa identificou 72 vilas e cidades que não haviam sido catalogadas por Azevedo, além de descartar nove que eram “falsos positivos” na filtragem daquele autor (lugares que não eram vilas mas foram consideradas como tal por Azevedo). Chegamos, então, ao total de 240 vilas e cidades no Brasil colonial (para o período entre 1500 e 1808), um incremento nada desprezível de 42 % ao conjunto apontado por Azevedo.

  • 11 Casal, Manuel Aires de, Corografia Brasílica, Rio de Janeiro, Imprensa Régia, 1817.

9Devido às diferenças encontradas entre as duas listas, convém explorar um pouco estes números. Azevedo não aponta, caso a caso, quais são as fontes que utiliza para estabelecer seu número. Talvez seja a obra de Aires de Casal11 sua maior fonte de referência, com a qual Azevedo dialoga até determinado ponto. Para as Capitanias do Norte, no entanto, Azevedo se mostra mais seletivo, indicando que Casal atribuíra o rótulo de vila a povoados que não o eram. Para a verificação dos dados, a pesquisa por nós realizada utilizou 111 itens de bibliografia, dentre artigos, comunicações, livros e teses, além de outras 70 obras com documentação de época, especialmente relatos e “relatórios” eclesiásticos, tais como as “Notícias do Bispado do Rio de Janeiro”, de 1678, ou as “Memórias Históricas” de Pizarro e Araújo, publicadas em 1820. O volume de dados parece ter sido um fator significativo para a diferença na identificação de vilas.

10O levantamento por nós realizado partiu de diversas abordagens, buscando em dicionários geográficos, mapas antigos, documentos de época, trabalhos acadêmicos, dentre outros, para formar listas provisórias de potenciais vilas que seriam, caso a caso, investigadas para que pudéssemos confirmar se a mesma poderia ter aquela classificação. Isso fez com que cada vila tivesse mais de duas fontes na enorme maioria dos casos. Para tanto, foram feitas pequenas biografias de cada povoação, as quais permitiram à equipe detalhar cada caso e ter, assim, um banco de dados feito com bastante cuidado. Todas as biografias municipais estão disponíveis online no site do projeto.

  • 12 Endereço de acesso ao site do “Projeto Resgate”: http://www.resgate.unb.br/
  • 13 Barbosa, Waldemar de Almeida, Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais, [s.l.], Editôra Sat (...)
  • 14 Galvão, Sebastião de Vasconcellos, Diccionario chorographico, histórico e geographico de Pernambuc (...)
  • 15 Studart, Guilherme de, Dicionário biobibliográfico cearense, Fortaleza, Typo-Lithographia a Vapor, (...)

11As fontes mais utilizadas dentro deste levantamento foram: os documentos do “Projeto Resgate”12, acervo do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), disponível no portal da Biblioteca Nacional, que contém milhares de documentos históricos do período lusitano no Brasil; os Dicionários Históricos e Geográficos regionais, tal como a conhecida obra de Waldermar Barbosa13, para Minas, de Sebastião de Vasconcellos Galvão14, para Pernambuco, e do Barão de Studart15, para o Ceará; fontes diversas, como os Relatos de Gabriel Soares de Souza e do Frei Noronha; e obras gerais, especialmente de história regional. Os dicionários históricos foram as fontes mais polpudas em termos de qualidade de dados para o trabalho de datar a origem das vilas e cidades. Eles propiciaram dados para 105 vilas e cidades, das quais 21 eram ignoradas pela listagem de Aroldo de Azevedo. Em segundo lugar, estão as obras gerais com foco em história regional, que trouxeram dados para 76 vilas e cidades, das quais 26 não estavam na lista de Azevedo.

12Contudo, os dados mais inovadores não vieram do estudo da bibliografia. Os acervos do “Projeto Resgate” foram utilizados para obter informações sobre 64 vilas e cidades, das quais 32 eram desconhecidas por Azevedo. É oportuno informar que este último sequer teve acesso àqueles conjuntos documentais, pois a Coleção do Brasil no AHU não estava suficientemente organizada na época, o que teria impedido Azevedo de realizar semelhante pesquisa.

13Os trabalhos acadêmicos mais recentes consultados no contexto do projeto “Atlas”, ainda que tenham adotado uma saudável ênfase nos estudos regionais, não trouxeram tantos dados novos para a pesquisa. Com dissertações, teses, artigos e comunicações, pudemos obter informações para 43 vilas e cidades, das quais apenas nove eram inexistentes na lista de Azevedo.Muitos dos novos trabalhos, desde 2010, trouxeram novas indicações sobre vilas e cidades. Estes trabalhos, porém, não apresentaram listas com datas de fundação de vilas e, portanto, não foram tão utilizados no nosso levantamento.

14Dito isso, fica evidente que a grande diferença entre o número de vilas e cidades da lista de Azevedo e a nossa é fruto da disponibilização posterior dos documentos do “Projeto Resgate”, além das informações obtidas a partir de trabalhos acadêmicos mais recentes. Do total de obras que utilizamos, 77 % eram posteriores ao artigo de 1956 (ver gráfico 1). Por meio deste conjunto, foi possível obter informações sobre 157 vilas e cidades. Os 23 % restantes propiciaram o aprofundamento das histórias locais de 126 vilas e cidades. Mesmo assim, algumas fontes existentes antes da obra de Aroldo foram usadas para caracterizar 25 vilas e cidades por ele ignoradas. Estes dados não incluem os documentos do “Projeto Resgate”, que também se enquadram no mesmo processo.

Gráfico 1 – Quantidade de fontes usadas no projeto “Atlas”, por década de publicação.

Quais foram os principais focos de ocupação do interior da América Portuguesa?

Fonte: http://lhs.unb.br/​atlas. Sistematizado pelos autores.

15O uso de documentação diversa e sobre casos tão diferentes acabou exigindo, ao mesmo tempo, rigor e comparação. Em alguns casos, os historiadores locais insistiam em classificar como município localidades que não o eram. Em outros, historiadores regionais o faziam, mas com razão. Neste caso, o uso da documentação nos permitiu dirimir muitas dúvidas. Por fim, um banco de dados adicional foi criado para uma revisão completa dos dados utilizados na pesquisa, suas datas, localizações e fontes. Assim, todos os dados foram revisados três vezes. O resultado final, tomado no mapa, foi o seguinte:

Mapa 1 – Comparação entre o total de vilas coletadas pela pesquisa de Aroldo de Azevedo (1), as vilas encontradas no projeto “Atlas Digital da América Lusa” (2) e o conjunto total encontrado e revisado pelo projeto “Atlas Digital da América Lusa” (3). Em cada mapa, um “mapa de calor” (algoritmo de Kernel) salienta as áreas com maior concentração.

Quais foram os principais focos de ocupação do interior da América Portuguesa?

Os modelos explicativos da dinâmica urbana colonial

  • 16 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva) (...)
  • 17 Reis Filho, Nestor Goulart, Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil: 1500-1720, São Pa (...)
  • 18 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial b (...)
  • 19 Fonseca, Cláudia Damasceno, Arraiais e vilas d'el rei: espaço e poder nas Minas setecentistas, Bel (...)
  • 20 Araújo, Renata Malcher de, “A urbanização da Amazónia e do Mato Grosso no século XVIII povoações c (...)
  • 21 Arraes, Esdras Araujo, “As vilas de índios dos sertões do Norte: desenho, território e reforma urb (...)

16O debate que permeia a questão da ocupação territorial e urbanização no Brasil colonial é tão controverso quanto outras disputas explicativas célebres. Vamos nos concentrar nas obras de Aroldo de Azevedo16, Nestor Goulart Reis Filho17, Antônio Carlos Robert de Moraes18. Além disso, também vamos tomar em conta algumas obras mais recentes, todas renovadoras e com forte toque regional, como as obras de Cláudia Damasceno Fonseca19, Renata Malcher de Araujo20, Esdras Arraes21, entre outros.

17Como dito anteriormente, Azevedo trata deste tema no texto “Vilas e cidades do Brasil colonial”, publicado pela primeira vez em 1956. Azevedo empreende um estudo cronológico e geográfico do surgimento e do desenvolvimento das vilas e cidades brasileiras entre o século XVI e os anos iniciais do século XIX. Azevedo procura mostrar uma tendência de urbanização que partiu do litoral do território brasileiro para o interior. O começo desse processo teria se dado com a implementação do sistema de capitanias, que teria proporcionado a paulatina povoação da orla litorânea durante os séculos XVI e XVII. É no século XVIII, contudo, que Azevedo vai identificar uma significativa mudança no panorama urbano do Brasil. O autor defende que, por meio da expansão povoadora e da conquista de grande parte do planalto e da Amazônia, a obra urbanizadora teria se desprendido do litoral. Nesse momento, devido à mineração, o centro da vida colonial seria transferido da cidade de Salvador para a cidade do Rio de Janeiro. O Leste, assim, teria se transformado no eixo econômico, social e demográfico da colônia.

18Os estudos de Aroldo de Azevedo foram uma referência importante para os trabalhos sobre urbanização do Brasil colonial feitos posteriormente por Reis Filho e Moraes. Os dois autores formularam modelos de ocupação distintos, mas não tinham como objetivo questionar abertamente o levantamento de vilas e cidades apresentado por Azevedo.

19Reis Filho desenvolveu seu modelo de ocupação na obra “Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil (1500-1720)”. O autor tomou como ponto de partida o que seriam as origens do processo de urbanização brasileiro e procurou analisar as mudanças qualitativas que teriam ocorrido nesse processo ao longo do tempo. Na obra, ele argumenta que entender o processo de urbanização no Brasil exigiria o conhecimento sobre o sistema social da colônia e sobre a política de colonização portuguesa, tanto na América quanto em outros continentes. As formações urbanas brasileiras deveriam ser estudadas como parte de uma estrutura dinâmica, a rede urbana, que teria uma origem social. O autor propõe, então, o tratamento das formações urbanas brasileiras em dois níveis distintos: o nível mais amplo da rede urbana, definida como conjunto ordenado de elementos espaciais; e o nível mais restrito do núcleo urbano, definido como unidade ou parcela ordenada daquele conjunto.

20Seguindo essa lógica, Reis Filho analisa, em primeiro lugar, a evolução urbana do Brasil do ponto de vista da rede, enxergando o papel que os núcleos urbanos exerciam no conjunto da colônia e as estratégias e os objetivos definidos pela política urbanizadora. Em segundo lugar, analisa o processo de evolução urbana do ponto de vista dos núcleos, enfatizando os elementos de organização espacial no interior das vilas e cidades.

21Reis Filho cita diretamente os autores Aroldo de Azevedo, Aires de Casal, Sérgio Buarque de Holanda e Mário Chicó. Os dados apresentados por Azevedo em “Vilas e cidades do Brasil colonial” e por Aires de Casal em “Corografia Brasílica” servem de ponto de partida para a análise do autor. Ao contrário de Azevedo e de Casal, no entanto, Reis Filho procura caracterizar a evolução da rede urbana no Brasil sem focar detalhadamente em aspectos quantitativos e apresentando uma periodização diferente. Não é relevante para ele, por exemplo, chegar a um número preciso de vilas existentes no período colonial, mas sim traçar os fatores que ajudariam a explicar o desenvolvimento da rede urbana como um todo.

22Para desenvolver sua pesquisa, Reis Filho utilizou como fontes os mapas e a iconografia da época, plantas de vilas e cidades, ordenações, cartas régias e atas das câmaras municipais. A investigação feita pelo autor abarca o período entre 1500 e 1720, indo do primeiro contato dos portugueses com o território e com a população indígena até a década de 1720, quando teria se completado, para o autor, o processo de centralização administrativa e econômica da colônia. O período colonial é dividido, então, em dois blocos de acordo com as características da rede urbana: no primeiro, entre 1500 e 1720, o funcionamento da rede urbana e dos seus núcleos seria subordinado às atividades do campo e aos interesses do setor agroexportador; no segundo bloco, a partir da década de 1720, com a implantação de uma estratégia de centralização política na colônia e o desenvolvimento da economia mineradora.

  • 22 Reis Filho, Nestor Goulart, Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil: 1500-1720, São Pa (...)

23O modelo de ocupação criado por Reis Filho coloca como motor da urbanização, pelo menos até meados do século XVIII, a agricultura de exportação, que orientaria a economia e a fundação das cidades.22 A economia brasileira, baseada na agricultura de exportação, seria complementar ao mercado europeu e atenderia a seus interesses. Mesmo a agricultura de subsistência não oferecia um estímulo diferente à urbanização, já que mantinha relação semelhante com o meio urbano. Durante a maior parte do período colonial, portanto, a rede urbana não teria passado por nenhuma transformação qualitativa apesar do aparecimento de novas vilas e cidades.

  • 23 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial b (...)
  • 24 Idem, p. 232.

24Por sua vez, a obra de Antonio Carlos Robert de Moraes, "Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no ‘longo’ século XVI", é bem mais recente que a de Azevedo e a de Reis Filho, tendo sido publicada em 2000 (baseada na tese de 1991). Moraes, embora cite Azevedo, não discute os dados apresentados por ele nem por Reis Filho. O seu modelo foi construído tendo como referência trabalhos como o do historiador Pierre Chaunu, especialista em estudos sobre América Espanhola. A obra de Moraes, dividida em doze capítulos, é uma das mais completas dedicadas ao tema, vasculhando profundamente nas origens ibéricas da formação espacial da América Portuguesa para, segundo o autor "rastrear a espacialidade da acumulação primitiva"23. O carro-chefe da explicação de Moraes – e nisso ele se aproxima de Reis Filho – é a forma como a produção de exportação, com ênfase na produção do açúcar, delineou a ocupação portuguesa, o que criou um sentido "exomorfo", voltado para fora mesmo quando em busca de interiorização. Ao comparar a América Lusa com a Espanhola, o autor apontou aquele que seria o motor da sua explicação junto com o açúcar: a busca por minérios. Ainda no século XVI, na América Lusa: "o móvel mais forte da ocupação colonial está ausente, e também inexiste uma estrutura social anterior com base na qual se possa organizar a colonização."24

25Entre os autores clássicos, o historiador Sérgio Buarque de Holanda é uma referência importante nas obras abordadas até aqui e para se pensar em modelos de ocupação territorial de modo geral. Na obra “Raízes do Brasil”, publicada pela primeira vez em 1936, o autor contrapõe os modelos português e espanhol de ocupação territorial, argumentando que, enquanto os espanhóis procuravam fundar grandes núcleos urbanos ordenados e estáveis para assegurar o domínio sobre o território, a atuação portuguesa teria sido caracterizada pela falta de planejamento. Os portugueses teriam povoado o território sem uma orientação centralizada, mas apenas se acomodando às circunstâncias que iam aparecendo. Na América portuguesa, teria havido, para o autor, uma oposição entre esplendor rural e miséria urbana. A centralidade do Brasil colônia não estaria, portanto, nas cidades, mas no meio rural.

26Até aqui demos ênfase para os clássicos da historiografia, mas há uma nova geração de historiadores (muitos dos quais com formação em arquitetura e urbanismo) que vem – especialmente depois de 2010 (ainda que com pesquisas iniciadas antes) – apresentando novos modelos que renovam este campo de conhecimento. Dentre estes autores, dialogaremos com os trabalhos de Cláudia Damasceno Fonseca, Renata Malcher de Araujo, Maria Fernanda Derntl, Clóvis Jucá Neto e Maria Moura Filha.

27Damasceno Fonseca, na obra “Arraiais e vilas d’el rei: espaço e poder nas Minas setecentistas”, difere dos modelos apresentados pelos três autores tratados até aqui, estudando a formação de novos agrupamentos urbanos em Minas Gerais durante o século XVIII com foco nas relações entre os poderes locais e centrais, enxergando essas relações como o principal impulsionador do processo de urbanização. Sua pesquisa tem como foco apenas a região das Minas no século XVIII, e não é um de seus objetivos considerar se as suas conclusões poderiam ser ampliadas para entender a colonização em outras regiões e em outros períodos. Damasceno Fonseca mostra como as discussões para a fundação de novas vilas eram travadas nas câmaras municipais de Minas Gerais e como os poderes locais tinham modos de ditar a dinâmica da urbanização.

  • 25 Fonseca, Cláudia Damasceno, Arraiais e vilas d'el rei: espaço e poder nas Minas setecentistas, Bel (...)

28A instituição de vilas é apresentada por Damasceno Fonseca como uma forma utilizada pela Coroa para a expansão do braço da justiça e do fisco. Nas Minas, o pelourinho configurava um dos principais emblemas da vila e a sua ereção “materializava a justiça administrada pelos oficiais da municipalidade”.25 De acordo com a autora, em arquivos mineiros e no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, é possível encontrar documentos nos quais arraiais mineiros buscavam justificar o seu pedido para a concessão do título de vila, apresentando qualidades e virtudes da povoação, assim como os problemas por ela enfrentados, entre os quais encontra-se de modo recorrente a dificuldade de acesso à justiça. Quanto à relação entre as atividades econômicas e à fundação de novos núcleos urbanos em Minas Gerais ao longo do período colonial, Damasceno Fonseca salienta a importância de se considerar não apenas a mineração, mas também a agropecuária e o comércio como fatores que influenciaram o surgimento e o desenvolvimento de povoações.

  • 26 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial b (...)

29Os modelos de urbanização de Aroldo de Azevedo, Reis Filho e Antônio de Moraes apresentados anteriormente apresentam diferenças em relação ao trabalho de Damasceno Fonseca, na medida em que dão pouca importância à política local na dinâmica de formação de novas vilas e cidades. Apesar de Reis Filho afirmar que a instalação da rede urbana foi feita, na maior parte dos casos, pelo esforço, interesse e recursos de donatários e colonos, o que orientaria a formação dessa rede era a agricultura exportadora. As elites locais, para o autor, tanto do meio rural quanto do urbano, eram formadas por grandes proprietários de terra que produziam para o mercado europeu. Essas elites controlavam as alcaidarias e os conselhos municipais. O processo de urbanização teria se moldado pela dinâmica entre esses poderes locais e os interesses da metrópole e estaria completamente submetido à lógica da economia agroexportadora, particularmente açucareira.26 Por seu turno, Moraes ignora totalmente a atuação dos poderes locais, afirmando a predominância de fatores externos à colônia, que explicariam inclusive, para o autor, o processo de interiorização. Com forte base documental, Damasceno demonstra como os conflitos intra-elites nas Minas do século XVIII mudaram o desenho do processo de urbanização.

30Renata Malcher de Araújo, por sua vez, concentra-se também em regiões específicas, no caso, a Amazônia e o Mato Grosso, fruto de diferentes pesquisas que foram sintetizadas pela autora em “A urbanização da Amazónia e do Mato Grosso no século XVIII povoações civis, decorosas e úteis para o bem comum da coroa e dos povos”, publicado em 2012. Ela enfatiza a fronteira e a geopolítica do século XVIII – organizada a partir das disputas entre Portugal e Espanha e das negociações dos tratados de limites – como chave explicativa da ocupação e da fundação de vilas nas áreas por ela abordadas, especialmente as diversas transformações de aldeamentos em vilas ocorridas durante o período.

  • 27 Derntl, Maria Fernanda, “Método e arte: criação urbana e organização territorial na capitania de S (...)
  • 28 Dentro deste período, a autora privilegiou o governo de Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, Morg (...)
  • 29 Derntl, Maria Fernanda, “Método e arte: criação urbana e organização territorial na capitania de S (...)

31Outro trabalho que faz um recorte regional é a tese de Maria Fernanda Derntl, defendida em 2010.27 A autora analisou a política de urbanização que teria sido elaborada na capitania de São Paulo entre 1765 e 181128, procurando entender a lógica de formação de novas povoações e vilas. Para ela , a política urbanizadora na capitania de São Paulo não poderia ser vista somente como um projeto pré-definido pela metrópole, mas como um projeto conflituoso sujeito às “práticas, experiências e dinâmicas locais”.29

32No cenário exposto por Derntl, a elevação de novas vilas seria explicada por uma série complexa de fatores, entre os quais estariam a política urbanística metropolitana do final do século XVIII, a atuação de técnicos e engenheiros militares no Império Português, a atuação de governadores e ouvidores das capitanias, a atuação das câmaras municipais, as características geográficas das novas vilas, os interesses das elites locais, as disputas territoriais entre portugueses e espanhóis, entre as diferentes capitanias e entre autoridades seculares e eclesiásticas, além da disponibilidade de recursos materiais e humanos para povoar uma nova localidade.

  • 30 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva) (...)

33A atuação das populações indígenas, um tema importante na história do Brasil colonial, é pouco destacado por esses autores como chave explicativa para o processo de urbanização, não sendo um elemento significativo na construção de suas interpretações. Azevedo não faz referência direta a grupos indígenas e apresenta uma visão eurocêntrica sobre a fundação de vilas e cidades, afirmando que a concentração destas no litoral durante o século XVI, por exemplo, se devia em parte à necessidade dos “audazes pioneiros” portugueses de manterem contato com o mundo civilizado de então.30 Além disso, o autor ignora a população indígena na contagem que faz do número de habitantes de cada núcleo urbano, considerando apenas a população branca de cada localidade. Na obra de Reis Filho, grupos indígenas são citados em poucas passagens e só aparecem como obstáculo à ação urbanizadora dos portugueses, sem nenhuma agência relevante no processo de urbanização.

  • 31 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial b (...)
  • 32 Idem, p. 293.
  • 33 Idem, p. 293.
  • 34 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial b (...)

34A atuação indígena também não é um foco de análise central nas obras de Moraes e de Cláudia Damasceno Fonseca. Os indígenas são mencionados na obra de Moraes somente no capítulo 8 e, de modo geral, como mão de obra utilizável para os conquistadores, além da importância dos caminhos abertos pelos nativos no processo. Nenhuma ação indígena é retratada como capaz de modificar o desenho da América Lusa ou mesmo refrear a ação europeia. Em algum momento, o autor aponta que os nativos "representaram um vetor central da colonização"31, mas não adentra no tema, ressaltando sua baixa demografia, para depois argumentar que "a sobrevivência dos primeiros colonos repousava em muito numa boa acolhida dos nativos. Tal dependência advinha do pequeno número de portugueses deixados em terra"32. Não pela importância dos grupos nativos, mas pelo baixo número de europeus nos primeiros contatos.33 Moraes não ignora os aldeamentos, que seriam estoques de mão-de-obra, ou as políticas de casamento entre indígenas e europeus, estas últimas sendo resultado da "consciência da necessidade de uma base indígena para o êxito de empreendimento colonial e da experiência do uso abusivo da escravidão nas instalações dos núcleos litorâneos"34. Para Moraes, portanto, os indígenas só entrariam na história – quando entram – pela "consciência" europeia. Damasceno Fonseca fala pouco de grupos indígenas, na medida em que eles não parecem ser centrais na formulação de seu modelo de urbanização. Malcher de Araújo é quem mais enfatiza, nos modelos recentes, o papel dos aldeamentos na formação de novas vilas, apontando sua relevância geopolítica em um contexto muito particular de redefinição de fronteiras, mesmo que os grupos nativos propriamente ditos não apareçam com voz na sua análise.

  • 35 Vidal, Laurent, “Considerações sobre uma experiência negligenciada: a fundação de vilas no tempo d (...)
  • 36 Weimer, Günter, Origem e evolução das cidades rio-grandenses, Porto Alegre, Livraria do Arquiteto, (...)

35Outra questão interessante para observar nas obras aqui tratadas é a do peso do continente africano ou mesmo da presença portuguesa na África para o processo de urbanização no Brasil colonial. Azevedo, Damasceno e Moraes não tinham como objetivo discutir o assunto. Reis Filho só fala sobre o continente africano como fornecedor de mão-de-obra escravizada e como retaguarda rural do mercado europeu. Mesmo afirmando durante a obra que é necessário enxergar o processo de expansão portuguesa fora da América para se pensar como a rede urbana se desenvolveu aqui, o autor não leva em consideração a ação portuguesa na África e o modelo de urbanização portuguesa no continente. Nesse sentido, a abordagem desses autores se difere de trabalhos como o do historiador Laurent Vidal35, que vê a ocupação portuguesa na África e no litoral brasileiro no início do século XVI como parte da mesma lógica em que cada vila e cidade seria um nó na teia do Império Português que se formava, estabelecendo um sistema comercial talassocrático centrado na produção de açúcar, tese que também foi desenvolvida pelo autor Gunter Weimer36.

  • 37 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva) (...)
  • 38 Enquanto Aires de Casal apresenta um total de 258 vilas no ano de 1817, Aroldo de Azevedo identifi (...)

36Ao contabilizar 213 vilas no início dos oitocentos, Azevedo opõe-se explicitamente aos números apresentados anteriormente por Aires de Casal em “Corografia Brasílica”. Este aponta a existência de um total de 258 vilas no território brasileiro no ano de 1817.37 A maior divergência entre os dois autores são os números relativos à região Norte. Nesse caso, onde de Casal identifica 57 vilas, Azevedo defende a presença de somente 20.38 Azevedo acredita que de Casal usou o termo “vila” para ocupações que eram apenas povoados, principalmente ao se referir à região amazônica. A partir dos dados apresentados, é possível observar que Azevedo deu ênfase à dimensão demográfica das localidades para traçar o seu modelo. Este critério, porém, como apontado na obra de Cláudia Damasceno Fonseca, é anacrônico, visto que a categorização de “vila” e “cidade” no período colonial não era pensada em termos de número de habitantes.

  • 39 Azevedo, Aroldo de, “Embriões de cidades brasileiras”, Boletim Paulista de Geografia - BPG, 1957, (...)

37O critério demográfico não foi certamente o único que guiou Azevedo. O autor considerava que, no processo de urbanização do Brasil, seis “embriões” estiveram disponíveis para a formação de futuras cidades: 1) fortificações; 2) aldeias e aldeamentos de indígenas; 3) arraiais e corrutelas; 4) engenhos, fazendas e bairros rurais; 5) patrimônios e núcleos coloniais; 6) pousos de viajantes e estações ferroviárias. A tipologia é bem interessante, mas quando Azevedo explica o ponto “2”, afirma que somente os aldeamentos – estes coordenados por missionários – poderiam ser embriões, excluindo as aldeias indígenas como potenciais formadoras de vilas e cidades: “Tal distinção [entre aldeia e aldeamento] é importante porque, em princípio, as aldeias de índios não podem ser consideradas embriões de cidades, bem ao contrário do que acontece com os aldeamentos.”39 O protagonismo destas vilas e cidades potenciais seria não dos aldeados, mas dos missionários:

  • 40 Ibidem, p. 41.

“Os aldeamentos de índios – aglomerados ‘'criados”, ao contrário dos aglomerados "espontâneos” que são as aldeias – resultam de verdadeira obra de urbanização, cujo início se deve aos Missionários, no próprio século da descoberta do Brasil ou, mais precisamente, a partir de 1550.”40

  • 41 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva) (...)
  • 42 Araújo, Renata Malcher de, “A urbanização da Amazónia e do Mato Grosso no século XVIII povoações c (...)

38O caso da região Norte, onde foram fundadas diversas vilas durante o século XVIII a partir de aldeias e aldeamentos, é certamente chave para entender a obra de Azevedo. O autor acredita que a região Norte era composta por uma população rarefeita e por vilas que eram em sua maioria lugarejos. O fato desta região não ter adquirido nenhuma vila nos anos iniciais do século XIX representa, para Azevedo, o artificialismo da política urbanizadora dos setecentos.41 Esse certamente foi um dos principais pontos de diferença entre o total de vilas encontrado no Projeto “Atlas” e a lista de Azevedo. O ponto central é a renúncia deste último em aceitar as vilas pombalinas na Amazônia, por razões demográficas e, talvez, jurídicas. Sobre este último aspecto, certa confusão é justificada. Araújo destaca que a nova política pombalina criara vilas sem câmara, o que pareceria uma quase contradição: “Poder-se-á dizer que, nesse sentido, as novas vilas eram, de certo modo, falsas vilas, se as olharmos do ponto de vista da representação social ... Mas não eram falsas vilas do ponto de vista da leitura do território. Ao contrário, o que a legislação de Mendonça Furtado fez foi trazer para o centro de administração da coroa a efetiva gestão territorial daqueles núcleos de povoamento, inserindo-os na sua toponímia e hierarquização específica.”42

  • 43 Arraes, Esdras Araujo, “As vilas de índios dos sertões do Norte: desenho, território e reforma urb (...)

39Pesquisas recentes têm confirmado essas localidades como vilas. Os resultados apresentados por Renata Malcher de Araújo coincidem com a lista de vilas da Amazônia adotada por nós. Recentemente, Esdras Arraes apresentou uma nova leitura muito mais próxima da experiência nativa.43 Ao analisar o processo de formação de vilas e freguesias no nordeste colonial, o autor destacou a força da legislação pombalina na formação de novos núcleos no sertão, mas apresentou elementos para se pensar que estas políticas já vinham sendo implementadas desde pelo menos o século XVII. Além disso, ele indicou como diversas formas de preexistência indígena foram base para a fundação de vilas e cidades e como em diversas oportunidades as lideranças indígenas participaram das decisões de onde e quando fundar os novos municípios.

Repensando a questão: historiografias cruzadas como ponto de partida

40O levantamento por nós realizado e sua comparação com o material de Azevedo nos leva a algumas conclusões importantes. A primeira dessas conclusões é orientada pela diferença significativa entre os dois estudos. Em termos geográficos, esta diferença se fez sentir com maior força nas regiões Norte e Nordeste. Na região Norte, Azevedo ignorou diversas vilas no interior, mas especialmente nas proximidades de Belém e da Ilha de Marajó. No Nordeste, diversas vilas do sertão foram ignoradas, mas a maior concentração de vilas ignoradas foi no litoral entre Paraíba e Pernambuco. Não é fácil explicar esta última ausência, ainda que seja muito saliente o fato de uma pesquisa sobre vilas coloniais ignorar localidades do litoral do Nordeste. As outras ausências são mais interessantes e guardam relação entre si. As vilas do Norte e as do sertão nordestino têm algo em comum: a maioria delas foi estabelecida a partir do “Diretório dos Índios”, no Pará, e da “Direção”, no Nordeste. Ou seja, aquela grande quantidade de vilas ignoradas por Azevedo era fruto das novas políticas de aldeamentos, possibilitada pelo trabalho missionário anterior.

41Aroldo de Azevedo nunca apresentou um modelo explicativo para a morfologia do sistema urbano da América Portuguesa, mas ele trabalhava com um critério claro (ainda que relativo) de mensuração de urbes: o peso demográfico. Para ele, as vilas e cidades deveriam ser expressivas em termos demográficos, como se o tamanho fosse o critério coetâneo de definição. Recentemente, Damasceno Fonseca demonstrou a impropriedade desta classificação e as pesquisas desenvolvidas no projeto “Atlas” confirmam essa posição.

42A morfologia criada por Azevedo certamente foi importante para que Goulart Reis Filho e Moraes criassem seus modelos. E apesar de serem autores com interpretações diferentes, ambos concordam em um ponto essencial: a economia do açúcar era o elemento dinamizador da urbanização colonial. Quando cotejamos o mapa das vilas criado por Aroldo de Azevedo com o mapa dos principais locais produtores de cana, a posição de Reis Filho e Moraes parece bastante justificável, ainda mais para os primeiros dois séculos de ocupação lusa, período privilegiado por aqueles autores. Vejamos:

Mapa 2 – Mapa das Vilas identificadas por Aroldo de Azevedo (pontos em preto) no período de 1500 a 1822, com destaque para as áreas de produção de cana e açúcar durante o período colonial (em verde).

Quais foram os principais focos de ocupação do interior da América Portuguesa?

43As dezenas de vilas identificadas dentro do projeto do “Atlas Digital da América Lusa” apresentam um desafio empírico que exige a inclusão de outras variáveis que teriam peso igual ou maior que a cana e seus derivados. Ignorar o Norte e o sertão nordestino significa desconsiderar a importância dos grupos nativos na constituição da América Lusa. Neste sentido, seria fundamental que a história do urbanismo e a historiografia indígena pudessem ser pensadas de modo articulado.

  • 44 Clóvis Ramiro Jucá Neto e Maria Berthilde Moura Filha (orgs.), Vilas, cidades e territórios: o Bra (...)
  • 45 Carvalho, Juliano Loureiro de, “A relação questões/fontes/métodos e a urbanização no Brasil do séc (...)
  • 46 Idem.
  • 47 Flexor, Maria Helena Ochi, “Planejamento, história e memória: o caso da Vila de Abrantes/BA”, in C (...)

44Uma importante obra coletiva organizada por Jucá Neto e Moura Filha44 trouxe diversos exemplos de participação indígena na formação de vilas coloniais. Apesar da enorme importância da publicação e dos resultados ali apresentados, ela acaba ainda reforçando a ação metropolitana como principal eixo explicativo, mesmo quando trata de aldeias e aldeamentos. Na coletânea, o texto de Juliano de Carvalho reforça essa posição: ao estudar as continuidades nativas no projeto de instalação de Monte-mor, ele afirma que “...não se poderia esperar a adesão voluntária da população ainda indígena a um ‘fazer cidade’ que lhe era completamente estranho”45, ou seja, afirma a ação nativa para negá-la. A continuidade do desenho nativo seria fruto não da ação nativa e da validade de seu traçado, mas da incapacidade lusa de atuar em um território estrategicamente “secundário”.46 Esta posição, contudo, não era exclusiva do autor e acaba sendo visível, de modo muito discreto, em diversos estudos, mesmo recentes. Na contramão desta posição - publicado aliás na mesma coletânea organizada por Jucá Neto e Moura Filho - o estudo de Maria Helena Flexor destaca como a memória nativa no desenho urbano de muitas vilas fora esquecida pelo fato de ser “coisa de índio” e, portanto, desvalorizada.47

  • 48 João Pedro Galvão Ramalho, Manoel Rendeiro Neto, Vinicius Sodré Maluly e Tiago Luís Gil, “Os grupo (...)

45A experiência dos grupos nativos - para além da catequese e trabalho - parece ser uma variável explicativa importante que não foi suficientemente tratada pela historiografia da urbanização. Mais recentemente, Ramalho et al48 apresentaram um modelo que ressalta o papel indígena como o principal fator explicativo da morfologia do processo de conquista, não como projeto, mas como “negativo” da conquista européia, como limite ao projeto potencialmente desejado pelos portugueses. Em suas diversas formas de colaboração ou resistência, os indígenas acabaram tornando possível ou impossível o estabelecimento europeu em certas áreas, moldando, assim, os espaços possíveis de existência não-nativa. Os resultados obtidos por Ramalho et al reforçam os elementos apresentados por Arraes e podem ser uma importante chave explicativa do processo de urbanização.

  • 49 Cunha, Manuela Carneiro da, “Introdução a uma história indígena”, in Manuela Carneiro da Cunha (or (...)
  • 50 Pacheco de Oliveira, João (org.), A presença indígena no Nordeste: processos de territorialização, (...)
  • 51 Monteiro, John, Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, São Paulo, Compan (...)
  • 52 Gianesella, Rubens, “Paisagens no tempo: vilas litorâneas paulistas”, dissertação de mestrado, FAU (...)

46Em boa medida, a perspectiva da história colonial fora, por muito tempo, também ela colonizadora e muitas vezes ocultou esses atores sociais nos modelos de explicação da formação da sociedade da América Lusa. Mais recentemente, os estudos de história indígena foram incrementados e nomes como Manuela Carneiro da Cunha49, João Pacheco50 e John Monteiro51 foram centrais neste cenário. Essa posição já estava no horizonte, também, de Sérgio Buarque, não em seu clássico “Raízes do Brasil”, mas em trabalhos posteriores como “Caminhos e Fronteiras” e, especialmente, em “Movimentos da População em São Paulo no século XVIII”, de 1966. A dissertação de Rubens Gianesella, de 2008, também é um importante marco neste sentido.52

  • 53 Barbosa, Waldemar de Almeida, Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais, [s.l.], Editôra Sat (...)
  • 54 Barleta, Leonardo, "Sertão Repartido: Sesmarias e a Formação do Espaço Colonial (Curitiba, séculos (...)
  • 55 Pereira, Elenize Trindade, “Geoprocessamento das Sesmarias das Capitanias do Norte do Estado do Br (...)

47Por fim, também é relevante discutir o quanto o processo de concessão de sesmarias contribuiu para o estabelecimento de vilas e cidades. A história agrária foi, durante muito tempo, tratada de modo completamente distante da história do urbanismo (especialmente por questões disciplinares) e eventuais complementaridades podem ter sido deixadas de lado. Não são raros os casos de sesmarias e outras unidades produtivas que se desenvolveram como células bases de agrupações urbanas posteriores.53 O próprio Aroldo de Azevedo apontava essa como uma das possibilidades de formação urbana. Trabalhos mais recentes, como os de Leonardo Barleta54 e Elenize Trindade Pereira,55 com apoio de sistemas de informação geográfica, têm contribuído para dirigir essa distância disciplinar, ainda que muito ainda falte por ser feito.

Conclusão

48Neste artigo, procurou-se apresentar parte dos resultados das pesquisas desenvolvidas no projeto Atlas Digital da América Lusa e estabelecer um diálogo entre essas pesquisas e as contribuições historiográficas sobre urbanização no período colonial. Esse diálogo permitiu uma problematização dos modelos interpretativos sobre a ocupação territorial da América Portuguesa, que tradicionalmente enfatizam a centralidade da economia do açúcar para a fundação de vilas e cidades e para a constituição da morfologia urbana. Ao longo do artigo, procurou-se argumentar que uma maior articulação entre a história do urbanismo e a historiografia indígena seria fundamental para se repensar os modelos sobre urbanização, considerando a ação das comunidades indígenas como centrais nesse processo.

49A partir dos autores analisados, é possível destacar não só uma ausência das histórias de participação de nativos no processo de urbanização em obras historiográficas que pensam a formação de vilas e cidades no Brasil colonial, como percebe-se um descaso com a experiência africana. Por mais que alguns dos trabalhos analisados apontem para a relevância desta experiência no estudo dessa temática, ela não é aprofundada. Nossa pesquisa tampouco pode acrescentar elementos para essa reflexão, mas há uma questão fundamental que não pode ser esquecida: se o açúcar fosse um elemento tão importante, como apontam alguns autores, não seriam os trabalhadores escravos de origem africana os mais numerosos habitantes das aglomerações urbanas? E, se isso é correto, por que estudos da historiografia urbana que enfatizam o açúcar os ignoraram de tal forma?

50As mesmas interrogações podem ser colocadas para o peso da Igreja e das ordens religiosas no florescimento dos núcleos populacionais. Um grande número de vilas e cidades surgiram de capelas e freguesias e, ainda que estas só tenham se mantido ali por força de outros fatores (como a atividade econômica, por exemplo), foi a presença eclesiástica a dar forma ao desenho da rede de vilas e cidades. O mesmo deve ser dito para a força dos poderes locais: se o açúcar como força motriz da urbanização pode ser uma chave explicativa, não fica claro em que medida isso era conduzido pelas elites locais ou pelo centro. Percebe-se um tom exógeno nas explicações historiográficas. Fonseca, em seus estudos, tem demonstrado a relevância do peso dos poderes locais. Essas considerações nos auxiliam a pensar as múltiplas nuances que devem ser reconhecidas ao se formular interpretações sobre o processo de formação de vilas e cidades no Brasil colonial.

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Notes

1 Endereço de acesso ao site do projeto “Atlas Digital da América Lusa”: http://lhs.unb.br/atlas

2 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva)”, Terra Livre - AGB, 1992, no 10, p. 23-78.

3 Studart, Guilherme de, Dicionário biobibliográfico cearense, Fortaleza, Typo-Lithographia a Vapor, 1910.

4 Barbosa, Waldemar de Almeida, Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais, [s.l.], Editôra Saterb, 1971.

5 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI, São Paulo, Hucitec, 2000.

6 Holanda, Sérgio Buarque de, Raízes do Brasil, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1979 [original de 1936].

7 Reis Filho, Nestor Goulart, Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil: 1500-1720, São Paulo, PINI, 2001.

8 João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa (orgs.), O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII), Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001.

9 Bicalho, Maria Fernanda, A cidade e o império: o Rio de Janeiro no século XVIII, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.

10 Idem.

11 Casal, Manuel Aires de, Corografia Brasílica, Rio de Janeiro, Imprensa Régia, 1817.

12 Endereço de acesso ao site do “Projeto Resgate”: http://www.resgate.unb.br/

13 Barbosa, Waldemar de Almeida, Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais, [s.l.], Editôra Saterb, 1971.

14 Galvão, Sebastião de Vasconcellos, Diccionario chorographico, histórico e geographico de Pernambuco, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1927.

15 Studart, Guilherme de, Dicionário biobibliográfico cearense, Fortaleza, Typo-Lithographia a Vapor, 1910.

16 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva)”, Terra Livre - AGB, 1992, no 10, p. 23-78.

17 Reis Filho, Nestor Goulart, Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil: 1500-1720, São Paulo, PINI, 2001.

18 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI, São Paulo, Hucitec, 2000.

19 Fonseca, Cláudia Damasceno, Arraiais e vilas d'el rei: espaço e poder nas Minas setecentistas, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2011.

20 Araújo, Renata Malcher de, “A urbanização da Amazónia e do Mato Grosso no século XVIII povoações civis, decorosas e úteis para o bem comum da coroa e dos povos”, An. mus. paul., 20, 2012, no 1, p. 41-76.

21 Arraes, Esdras Araujo, “As vilas de índios dos sertões do Norte: desenho, território e reforma urbana no século XVIII”, Antíteses, 11, 2018, no 21, p. 193-216.

22 Reis Filho, Nestor Goulart, Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil: 1500-1720, São Paulo, PINI, 2001, p. 39, 41, 93.

23 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI, São Paulo, Hucitec, 2000, p. 49.

24 Idem, p. 232.

25 Fonseca, Cláudia Damasceno, Arraiais e vilas d'el rei: espaço e poder nas Minas setecentistas, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2011, p. 81.

26 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI, São Paulo, Hucitec, 2000, p. 91.

27 Derntl, Maria Fernanda, “Método e arte: criação urbana e organização territorial na capitania de São Paulo”, tese de doutorado, FAU/USP, 2010.

28 Dentro deste período, a autora privilegiou o governo de Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, Morgado de Mateus, na capitania de São Paulo (1765 a 1775). O contexto era também o dos governos do ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras e marquês de Pombal.

29 Derntl, Maria Fernanda, “Método e arte: criação urbana e organização territorial na capitania de São Paulo”, tese de doutorado, FAU/USP, 2010, p. 2.

30 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva)”, Terra Livre - AGB, 1992, no 10, p. 31.

31 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI, São Paulo, Hucitec, 2000, p. 293.

32 Idem, p. 293.

33 Idem, p. 293.

34 Moraes, Antonio Carlos Robert de, Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI, São Paulo, Hucitec, 2000, p. 320-321.

35 Vidal, Laurent, “Considerações sobre uma experiência negligenciada: a fundação de vilas no tempo das capitanias hereditárias (1534-1549)”, in Fania Fridman (org.), Espaço urbano latino-americano: ensaios sobre história e política territorial, Rio de Janeiro, Garamond, 2017, p. 11-36.

36 Weimer, Günter, Origem e evolução das cidades rio-grandenses, Porto Alegre, Livraria do Arquiteto, 2014.

37 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva)”, Terra Livre - AGB, 1992, no 10, p. 55.

38 Enquanto Aires de Casal apresenta um total de 258 vilas no ano de 1817, Aroldo de Azevedo identifica como “vila”, no começo dos oitocentos, apenas 213 localidades.

39 Azevedo, Aroldo de, “Embriões de cidades brasileiras”, Boletim Paulista de Geografia - BPG, 1957, no 25, p. 39.

40 Ibidem, p. 41.

41 Azevedo, Aroldo de, “Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva)”, Terra Livre - AGB, 1992, no 10, p. 54-55.

42 Araújo, Renata Malcher de, “A urbanização da Amazónia e do Mato Grosso no século XVIII povoações civis, decorosas e úteis para o bem comum da coroa e dos povos”, An. mus. paul., 20, 2012, no 1, p. 58.

43 Arraes, Esdras Araujo, “As vilas de índios dos sertões do Norte: desenho, território e reforma urbana no século XVIII”, Antíteses, 11, 2018, no 21, p. 193-216.

44 Clóvis Ramiro Jucá Neto e Maria Berthilde Moura Filha (orgs.), Vilas, cidades e territórios: o Brasil no século XVIII, João Pessoa, UFPB/PPGAU, 2012.

45 Carvalho, Juliano Loureiro de, “A relação questões/fontes/métodos e a urbanização no Brasil do século XVIII”, in Clóvis Ramiro Jucá Neto e Maria Berthilde Moura Filha (orgs.), Vilas, cidades e territórios: o Brasil no século XVIII, João Pessoa, UFPB/PPGAU, 2012, p. 98.

46 Idem.

47 Flexor, Maria Helena Ochi, “Planejamento, história e memória: o caso da Vila de Abrantes/BA”, in Clóvis Ramiro Jucá Neto e Maria Berthilde Moura Filha (orgs.), Vilas, cidades e territórios: o Brasil no século XVIII, João Pessoa, UFPB/PPGAU, 2012, p. 131-146.

48 João Pedro Galvão Ramalho, Manoel Rendeiro Neto, Vinicius Sodré Maluly e Tiago Luís Gil, “Os grupos nativos e a morfologia da conquista na América Portuguesa”, Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, publicado em 25 junho 2020, consultado em 03 julho 2020. URL: http://journals.openedition.org/nuevomundo/80168; DOI: https://doi.org/10.4000/nuevomundo.80168

49 Cunha, Manuela Carneiro da, “Introdução a uma história indígena”, in Manuela Carneiro da Cunha (org.), História dos índios no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1992, 9-24.

50 Pacheco de Oliveira, João (org.), A presença indígena no Nordeste: processos de territorialização, modos de reconhecimento e regimes de memória, Rio de Janeiro, Contra Capa, 2011.

51 Monteiro, John, Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, São Paulo, Companhia das Letras, 1994.

52 Gianesella, Rubens, “Paisagens no tempo: vilas litorâneas paulistas”, dissertação de mestrado, FAU/USP, 2008.

53 Barbosa, Waldemar de Almeida, Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais, [s.l.], Editôra Saterb, 1971.

54 Barleta, Leonardo, "Sertão Repartido: Sesmarias e a Formação do Espaço Colonial (Curitiba, séculos XVII e XVIII)”, in: Carlos Valencia Villa e Tiago Gil (orgs.), O retorno dos mapas: sistemas de informação geográfica em história, Porto Alegre, Ladeira Livros, 2016, p. 69-112.

55 Pereira, Elenize Trindade, “Geoprocessamento das Sesmarias das Capitanias do Norte do Estado do Brasil, Plataforma Sesmarias do Império Luso Brasileiro (1650 - 1750)”, in: Carlos Valencia Villa e Tiago Gil (orgs.), O retorno dos mapas: sistemas de informação geográfica em história, Porto Alegre, Ladeira Livros, 2016, p. 11-47.

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Pour citer cet article

Référence électronique

Joana Rios Ribeiro Maia Carbonesi, Nayara de Sousa Rocha et Tiago Luís Gil, « Historiografia sobre a América Portuguesa em diálogo: vilas e cidades no período colonial », Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 21 février 2022, consulté le 19 octobre 2022. URL : http://journals.openedition.org/nuevomundo/87121 ; DOI : https://doi.org/10.4000/nuevomundo.87121

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Quais foram os focos mais importantes de ocupação do interior do território brasileiro?

A procura por metais preciosos, pelo extrativismo vegetal na Amazônia e por mão-de-obra escrava indígena foram alguns dos focos principais das expedições exploratórias intensificadas no século XVII.

Como foi a ocupação da América Portuguesa?

No ano de 1500, os primeiros portugueses chegaram ao chamado “Novo Mundo” (América), e com eles o navegador Pedro Álvares Cabral desembarcou no litoral do novo território. Logo, os primeiros europeus tomaram posse das terras e tiveram os primeiros contatos com os indígenas denominados pelos portugueses de “selvagens”.

Quais são as principais características da colonização portuguesa na América?

A colonização portuguesa no Brasil teve como principais características: civilizar, exterminar, explorar, povoar, conquistar e dominar.

Quais fatores contribuíram para a ocupação e o povoamento do interior?

O aumento das exportações, o esgotamento dos solos e a facilidade de empréstimos bancários foram as causas deste grande movimento que se iniciou no Vale do Paraíba, passou por Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e terminou no Paraná.