Por que alterações climáticas podem causar a extinção de espécies de animais?

Quase metade dos mamíferos ameaçados de extinção e um quarto das aves já estão sendo afetados pelas mudanças climáticas - um número muito maior do que se pensava anteriormente, descobriram pesquisadores.

Os primatas e elefantes em risco de extinção estão entre os grupos mais afetados pelo aquecimento global, em parte porque se reproduzem lentamente e, portanto, levam mais tempo para se adaptar às rápidas mudanças ambientais, segundo um estudo publicado nesta semana na revista científica "Nature Climate Change".

Enquanto a maioria dos estudos procuram prever o impacto futuro do aquecimento global na sobrevivência dos animais, a nova análise descobriu que, para "grandes quantidades" de espécies ameaçadas, o dano já estava sendo feito.

Os dados sugerem que "o impacto das mudanças climáticas em mamíferos e aves no passado recente é atualmente muito subestimado", disse o estudo.

Ameaça presente

De acordo com o coautor James Watson, da Wildlife Conservation Society, "algo significativo precisa acontecer agora para parar o processo de extinção das espécies". "As mudanças climáticas não são mais uma ameaça futura", acrescentou.

Os pesquisadores reuniram dados de 136 estudos anteriores que analisaram 120 espécies de mamíferos e 569 de aves.

Eles compararam as mudanças no clima documentadas com o crescimento ou declínio no tamanho das populações, as extensões geográficas, a massa corporal e as taxas de reprodução e de sobrevivência.

A equipe então extrapolou os dados para todos os mamíferos terrestres e aves listados como ameaçados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Das 873 espécies de mamíferos listadas, 414 (47%) provavelmente "responderam negativamente" às mudanças climáticas, assim como 298 (pouco mais de 23%) das 1.272 espécies de aves, descobriram os pesquisadores.

As mudanças climáticas podem afetar os animais ao limitar os alimentos e a água, espalhar doenças e diminuir os habitats.

Elefantes, macacos e marsupiais afetados

Apenas 7% dos mamíferos e 4% das aves identificados pelo estudo eram reconhecidos pela IUCN como ameaçados por "mudanças climáticas e condições climáticas severas", disseram os autores.

"Recomendamos que os esforços de pesquisa e conservação deem mais atenção ao 'aqui e agora' dos impactos das mudanças climáticas na vida na Terra", escreveram.

"Gestores de conservação, planejadores e criadores de políticas devem levar isso em conta nos esforços para salvaguardar o futuro da biodiversidade", acrescenta o estudo.

A equipe descobriu que os marsupiais estavam entre os mamíferos mais afetados, junto com os elefantes e os macacos. Muitos haviam evoluído em áreas tropicais estáveis que agora estão se tornando mais voláteis devido às mudanças climáticas.

Muitas das espécies de aves mais atingidas viviam em ambientes aquáticos, que são considerados entre os mais vulneráveis ao aumento da temperatura, acrescentaram os pesquisadores.

Ao mesmo tempo, os roedores que podem cavar e evitar condições climáticas extremas serão menos vulneráveis que outros mamíferos às mudanças climáticas, disse a equipe.

Em dezembro de 2015, 195 nações adotaram o Acordo de Paris para limitar o aquecimento global médio "bem abaixo" de dois graus Celsius, em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial.

Este objetivo seria alcançado através da contenção dos gases de efeito estufa liberados pela queima de carvão, petróleo e gás.

Mas os cientistas alertam que o aumento de 2ºC já é muito alto, e que o planeta está a caminho de aquecer além disso, com consequências desastrosas para a vida como a conhecemos.

Um novo estudo mostra que o aquecimento global está afetando a capacidade de sobrevivência de sardinhas, arenques e outras espécies comuns de peixe, ao ponto de, possivelmente, esse problema levá-las à extinção.

A pesquisa, conduzida pela Universidade Britânica de Reading e publicada na Nature Climate Change, afirma que, devido ao aumento de temperatura das águas não apenas constante, mas cada vez mais rápido, peixes menores não estão conseguindo se adaptar o suficiente para contemplar as alterações climáticas.

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Por que alterações climáticas podem causar a extinção de espécies de animais?
Os arenques são peixes bastante comuns na culinária mundial, uma vez que estão disponíveis em várias regiões, mas o aquecimento global pode reduzir drasticamente seus números, levando-os até mesmo à extinção. Imagem: Ingrid Maasik/Shutterstock

O resultado disso é um cenário duplamente ruim: peixes em águas aquecidas terão seus tamanhos reduzidos, e sua mobilidade comprometida os impedirá de sair em busca de ambientes mais amenos e propícios ao desenvolvimento.

“A nossa pesquisa dá suporte à teoria de que os peixes vão encolher sob o aquecimento global, mas revelam notícias preocupantes já que eles não poderão evoluir de forma eficiente para suportar esse impacto como se pensava antes”, disse Chris Venditti, um biólogo evolucionário da Universidade de Reading. “Com as temperaturas marítimas aumentando mais rápido do que nunca por causa do aquecimento global, espécies comuns de peixes ficarão para trás em termos de evolução, lutando para sobreviver”.

A consequência mais óbvia disso é o impacto que a redução dessas espécies terá para nós, humanos. Sardinhas e arenques — os exemplos que usamos mais acima — são peças importantes da economia de vários países: os arenques estão entre os mais procurados da região escandinava e os EUA os recomendam como a opção mais ecológica para a alimentação. As sardinhas correspondem a algo entre 80% e 90% da economia litorânea de Santa Catarina, segundo um levantamento publicado no UOL.

“Isso tudo traz implicações seríssimas para a nossa segurança alimentar, já que muitas das espécies de peixe que comemos podem ficar cada vez mais raras ou mesmo deixarem de existir em questão de décadas”, disse Venditti.

O estudo usou dados estatísticos de uma grande quantidade de peixes presentes por todo o planeta, estudando a evolução das espécies em um período de 150 milhões de anos. A conclusão é a de que, nos tempos mais recentes, a flutuação de temperatura trouxe mais impacto à evolução dessas espécies.

A pesquisa se concentrou nos peixes culpeiformes — nome atribuído às sardinhas, arenques, anchovas, tilápias e outros peixes comuns, mas os dados são conclusivos para qualquer espécie, segundo Venditti. A conclusão é: peixes tendem a se mover menos e reduzir seus tamanhos conforme a água fica mais quente, pois seu metabolismo acelera, exigindo mais oxigênio para manter suas funções corporais. Mas o movimento reduzido faz com que eles não consigam buscar ambientes mais amenos, entrando em um ciclo de redução cada vez mais incisivo.

Peixes grandes também são afetados por isso, porém em menor grau, já que eles conseguem viajar maiores distâncias com mais reservas de energia.

As conclusões do estudo somam a outro problema — a pesca predatória, que também contribui para a redução de espécies tanto em tamanho como em volume.

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Como as mudanças climáticas afetam os animais?

Um estudo da Universidade de Connecticut. (Estados Unidos), publicado na revista Science, indica que as mudanças climáticas estão acelerando o processo de extinção dos animais, já que ela, por si só, causará o desaparecimento de quase 8% das espécies atuais.

Como as alterações climáticas podem afetar a nossa vida e a vida de outros animais?

Diversos animais e plantas, tanto espécies terrestres como aquáticas, serão diretamente afetados pelas mudanças climáticas, que causarão mudanças em seu habitat. Isso gerará a extinção de uma grande quantidade de espécies, diminuindo-se, assim, a biodiversidade.

Por que o aquecimento global pode causar a extinção de espécies?

O aquecimento global está intimamente relacionado com a extinção de espécies, e isso se deve ao fato de o aumento da temperatura desencadear doenças e falta de alimento.

Por que a crise climática afeta a migração animal?

Aquecimento global e perda de habitat têm levado aves e mamíferos a áreas mais frias. O declínio de animais dispersores de sementes está prejudicando a capacidade das plantas de se adaptarem ao colapso climático, aponta um estudo publicado na revista Science.