Por que a presença estadunidense em Cuba pode ser considerada uma medida imperialista?

Por que a presença estadunidense em Cuba pode ser considerada uma medida imperialista?

Por ocasião de mais uma aniversário do assalto ao Quartel de Moncada, publicamos agora a versão integral da entrevista realizada com o Consul Geral de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón Barata, para a edição #15 do jornal Rumos da Luta, na qual conversamos sobre o significado do 26 de Julho para a luta revolucionária do povo cubano e os desafios enfrentados na sua libertação nacional e na construção do socialismo desde então, enfrentando o imperialismo norte-americano e suas políticas criminosas.

Qual o significado político do 26 de julho para a Revolução Cubana?

O significado político do 26 de julho para a Revolução Cubana é imenso. É considerado o dia da rebeldia nacional, pois foi o momento em que se deu o primeiro passo que iniciou todo o processo revolucionário, ao atacar o quartel de Moncada Carlos Manuel Céspedes. Eram homens e mulheres pobres que arriscaram suas vidas pela liberdade do país e, em particular, de maneira muito definida, para divulgar, defender e promover o chamado programa de Moncada, que foi o programa a partir do qual começaram as mudanças radicais em Cuba, desde o início da revolução.

Num momento posterior da revolução, num momento mais maduro, Fidel fala e faz cumprir o acordo do programa e as ideias básicas do programa de Moncada.

Moncada representou também um momento importante na unidade da força revolucionária em Cuba. Claro que na etapa posterior o trabalho pela unidade também foi fundamental, mas neste momento e a partir do desenvolvimento da guerra contra a tirania de Batista, a unidade foi imprescindível para a guerra. Além disso, Moncada demonstrou o otimismo que sempre caracterizou o processo revolucionário cubano. Fidel Castro em particular, demonstrou muitas vezes até onde é capaz um revolucionário de ser otimista, ainda que nas piores condições. Conhece-se a história da Serra (Sierra Maestra), quando tudo parecia perdido, Fidel disse: Agora sim ganhamos a guerra.

Em Moncada, que parecia pior, parecia loucura, porque era enfrentar com armas de baixo calibre uma fortaleza importante em Santiago de Cuba. Isto foi uma demonstração que havia sido colocado um limite contra a tragédia que Cuba estava vivendo desde há muitos anos, sobretudo, a partir do domínio dos Estados Unidos sobre o país e especialmente depois do Golpe de Estado de batista que ocorreu um ano antes, Golpe de Estado que, assim como seu governo, foi respaldado pelos Estados Unidos todo tempo. De maneira que o 26 de julho foi um grito rebelde pela independência nacional e pelo estabelecimento de um país justo, onde a justiça social predominaria em Cuba.

Essa é a importância decisiva, todos os anos em cuba se comemora o 26 de julho. Normalmente Fidel fazia uma fala recordando sobre o desenvolvimento nacional, da história em primeiro lugar, para que todos tivéssemos consciência da história como foi vivenciada e, para estudar, em particular, o nível de desenvolvimento que se havia alcançado no país, especialmente na província onde acontecia a celebração do 26 de julho. Em Cuba é considerado um prêmio nacional ser a província que recebe as celebrações do 26 de julho. Depois se falava sobre as projeções gerais do desenvolvimento e normalmente, claro, falava-se sobre política exterior, pois os Estados Unidos nos impõem a necessidade de estarmos sempre muito atentos aos temas de política exterior.

Qual era a situação do país durante a ditadura de Fulgencio Batista?

A situação do país após o domínio dos Estados Unidos quando interferiram em nossa guerra contra a Espanha foi sempre trágica. De um governo a outro, todos eram servis aos Estados Unidos, na realidade, ninguém buscou promover a justiça social no país, no geral eram governos dependentes.

O governo de Batista foi, como podemos dizer, o limite de todo o mal que poderia acontecer, sobretudo, após o Golpe de Estado de 1952. Cuba era um apêndice dos Estados Unidos, a vida do cubano era trágica, o nível de polarização das riquezas era imenso, havia quem vivia muito bem na cidade, uma elite reduzida, mas, a grande maioria do povo sofria com a fome, com a carestia, com grandes dificuldades materiais. Nas páginas sociais aparecia uma Cuba reluzente, uma Cuba brilhante, fotos de pessoas de terno e gravata nos grandes cassinos e restaurantes. Mas, isso tudo era uma grande ficção, não representava em absoluto, a situação do país. A situação do país era trágica. Em muitos desses eventos sociais estava quase sempre presente alguma personalidade dos Estados Unidos e quase sempre, também, personagens da máfia dos Estados Unidos, que tinham o controle de uma boa parte do turismo em Cuba, das instalações turísticas. Existem muitos filmes que mostram até onde a máfia dos Estados Unidos tinha controle, influência sobre a economia cubana e da política em geral. Em Cuba predominavam os cassinos, os jogos de azar e por trás disso estava justamente a máfia dos Estados Unidos. Quase sempre os cassinos estavam vinculados, como a situação em geral, com as drogas. Cuba era um país onde comumente se consumia a cocaína, a morfina, a maconha e outras drogas letais.

Ademais, a presença dos Estados Unidos promovia a prostituição em Cuba, muitas vezes vinculada aos lugares onde atracavam os navios com marinheiros estadunidenses. O nível de analfabetismo em Cuba era tremendo, mais ou menos 25% da população era analfabeta, contudo, para além disso, havia uma porcentagem muito alta de analfabetos funcionais, que aprendiam a duras palmas entender alguma coisa de uma leitura.

Em Cuba a saúde era privada, muitos lugares no país não tinham acesso a um hospital, à saúde pública, então morriam nas montanhas, morriam no campo pois não havia desenvolvimento da saúde pública. As poucas entidades de saúde que eram estatais, tinham condições nefastas para atender. Deste modo, toda medicina era privada, logo, o acesso à medicina privada era um privilégio dos endinheirados.

O nível de educação como disse, o nível de analfabetismo era muito alto e num geral a educação para o povo era muito pobre, o desenvolvimento da cultura para o povo era muito pobre, a cultura política do povo era muito pobre. Em Cuba, durante a etapa de Batista, sobretudo nos últimos períodos a repressão foi brutal, milhares e milhares de jovens foram assassinados pela ditadura de Batista. A repressão era insuportável. Os Estados Unidos não só sabiam, como enviavam armas ao governo, por isso naturalmente se produziu o 26 de julho, assim como, foi por isso também que depois teve início a guerra.

Era péssima a situação de Cuba, como eu disse, era um apêndice dos Estados Unidos, era uma espécie de prostíbulo dos Estados Unidos. Ainda que o povo em geral e, sobretudo, a vanguarda, já estavam a anos lutando, muitos morrendo, caminhando para libertar o país do domínio dos Estados Unidos e impor uma política de justiça social para beneficiar a todo o povo de Cuba.

Como a Revolução Cubana de 1959 mudou o destino do país?

A Revolução de 1959 mudou completamente a situação do país, em tempo recorde. Poucos processos conseguiram realizar mudanças radicais tão rapidamente num país. A justiça social começou a ser imposta em todos os setores. De maneira muito rápida a prostituição foi estruturalmente exterminada. O racismo que predominava em Cuba antes da revolução foi eliminado estrutural e juridicamente. Cuba têm nesse tema da discriminação uma situação de verdadeiro privilégio internacional que, não se refere apenas a racialidade, mas também aos temas de gênero. O abuso e a discriminação contra a mulher acabaram em Cuba.

Em Cuba foram levadas a cabo duas reformas agrárias que radicalizaram a situação do campo. O governo revolucionário confiscou e nacionalizou as propriedades que eram dos capangas que estavam vinculados e haviam enriquecido graças à ditadura de Batista, além de propriedades dos Estados Unidos. Vocês já devem ter visto os vídeos onde ficava bem claro como Cuba havia expropriado tal e como merecia as propriedades da Esso, da Shell e de muitas outras companhias dos Estados Unidos, que eram donos da economia cubana e isso incluía também a máfia que, como disse antes, tinham um enorme poder sobre a infraestrutura turística. É por isso que o governo dos Estados Unidos, desde o início começou deliberadamente a utilizar os mafiosos dos Estados Unidos para tentar assassinar Fidel. Isso fracassou principalmente porque a máfia foi seriamente prejudicada.

Em um ano se alfabetizou toda população em Cuba. Nós estudantes fomos para os campos voluntariamente, mais de 100 mil, rapazes de 13, 11 anos, para as montanhas ensinar aos camponeses. Em um ano, salvo aos que tinham limitações físicas ou psíquicas de algum tipo que dificultavam resolver o problema da alfabetização, todos foram alfabetizados e a partir daí se iniciou um processo de continuidade educativa que incluiu o ensino primário e secundário. Hoje em dia é preciso ter o nível secundário, é o nível mínimo de educação. A lei de desenvolvimento da universidade, o acesso absoluto a universidade, as pós-graduações, sem ter que gastar um só centavo.

Com o triunfo da Revolução aconteceu algo similar na saúde pública. Tínhamos cerca de 6 mil médicos para uma população de 7 milhões de habitantes e parte desses médicos foram para os Estados Unidos. Praticamente a metade foi para os Estados Unidos por muitas razões. Em primeiro lugar, porque se tratava de um país que avançava em direção a uma sociedade justa. Em segundo lugar, claro, pela agitação que os Estados Unidos faziam para assustar a população, que estava se impondo um regime comunista em Cuba etc., os médicos temiam muito perder os benefícios e privilégios que tinham, assim reduziu-se pela metade a população médica de Cuba, de maneira que um médico tinha que atender muitos milhares de habitantes.

A Revolução desenvolveu um sistema de educação na medicina que teve um grande êxito. Em poucos anos Cuba já tinha uma quantidade tremenda de médicos, de tal maneira que conseguimos inclusive, como vocês sabem, prestar serviços a outros países do mundo. em 1963 demos ajuda médica para a Argélia quando, todavia, nem tínhamos realmente muitos recursos médicos e Cuba se tornou numa potência médica. É o país que tem o indicador mais alto no mundo em relação a médicos por habitante. O indicador de leitos por habitante também é muito alto. A estrutura de saúde pública é expandida, em todos os cantos do país têm hospitais, hospitais especializados, clínicas, policlínicas e médico de família, de maneira que os moradores têm médicos que podem atendê-los em sua própria vizinhança, em seu próprio bairro.

Em Cuba acabou a repressão. Naturalmente o cubano começou a viver pacificamente, a desfrutar da vida sem riscos, sem medo de ser assassinado, de que seus filhos fossem assassinados por um capanga de Batista. A cultura passou a ser tremendamente estimulada. Criou-se um Ministério da Cultura. Junto do Ministério da Cultura construiu-se muitas instituições culturais, Instituto de Desenvolvimento da Música, do Patrimônio Nacional, do Desenvolvimento do Teatro, do Desenvolvimento das Atividades Comunitárias. Muitas instituições culturais foram criadas. Cuba, que sempre foi um país com talento em todos os terrenos e, especialmente na música, começou a desenvolver um boom cultural que também alcançou o mundo todo. Há em Cuba milhares de músicos de alta qualidade, muitos deles que tocam a chamada música salsa, pois bem, tocar em um grupo dessa natureza é o mesmo que tocar em uma orquestra sinfônica ou ser professor universitário na área de música, pois todos têm um alto nível cultural na área de música.

O mesmo acontece com a literatura, com a arte, com o balé, que em Cuba tem um dos balés mais importantes do mundo, um evento de tremenda importância, pois apesar de sermos uma pequena ilha, o Balé Nacional de Cuba é um dos mais importantes do mundo. Há uma Bienal de Arte que é uma das mais importantes do mundo e, em particular, na América Latina. Há festivais de violão muito importantes de música sinfônica. Então culturalmente Cuba é um país muito rico e além disso, a população, graças à educação proporcionada pela Revolução, desenvolveu uma cultura geral e muito rica. O cubano é capaz de entender a política nacional, o cubano é capaz de entender e de se informar sobre a política, sobre o que acontece no mundo. Qualquer cubano, que desenvolve qualquer atividade, qualquer profissão, pode falar sobre a política dos Estados Unidos, dos problemas internos, do que acontece no Brasil, do que acontece no Uruguai, na Argentina, na Europa, na Ásia. Qualquer cubano pode ter uma conversa dessa índole, porque existe cultura geral, educação e cultura política. Quer dizer, a Revolução penetrou em todos os rincões do país. A criminalidade que era comum antes da Revolução se reduziu ao mínimo. Cuba é um dos países mais estáveis do mundo, porque a população é culta e apoia o sistema, quer dizer, não há, não existe um canto da realidade cubano que não foi beneficiado pelo triunfo da Revolução, disso todos estamos seguros em Cuba. Apesar do bloqueio dos Estados Unidos, que é abusivo, brutal, que se estende há seis décadas, a população que sofre as consequências econômicas do bloqueio apoia o sistema em sua imensa maioria. O bloqueio foi inventado para fazer a população sofrer, para fazê-la sofrer para que finalmente ela derrubasse o governo. Isso não aconteceu e, não aconteceu pelos vínculos que tem de independência, de admiração que o povo tem com a Revolução. Se alguma vez o povo cubano quisesse derrubar, destruir a Revolução, já teria feito há muitos anos, porque nós cubanos somos rebeldes e uma indicação disso foi o 26 de julho, mas antes do 26 de julho, durante as guerras contra a Espanha, durante a luta clandestina nas cidades, na guerra de Angola em que participamos como vocês sabem, na derrota da invasão pela Baía dos Porcos. O povo cubano já demonstrou que é um povo valente e um povo capaz de entender a política, não é um povo analfabeto e inculto, de maneira que se o povo cubano, tivesse entendido que a Revolução, o governo revolucionário não satisfazia seus interesses, haviam acabado com o governo. Não fizeram isso apesar das enormes penúrias geradas pelo bloqueio dos Estados Unidos e das agressões dos Estados Unidos, porque apoiam ao sistema, ainda que queremos que haja mudanças para melhorar, mas para melhorar dentro de nosso sistema, eliminar fatores que causam danos, mas mudanças dentro do sistema, não queremos de nenhuma maneira que o sistema corra riscos.

Como você disse, os EUA desde o século XX, tem Cuba como um dos seus principais alvos. Qual a atual situação desse cerco imperialista contra Cuba? Quais foram as consequências do bloqueio e de outras medidas dos EUA para cotidiano do povo cubano diretamente?

Bom, já estamos há mais de seis décadas com o bloqueio, possivelmente é o bloqueio mais longo imposto na história da humanidade. Não é um embargo bilateral, não é um conflito bilateral. O bloqueio impõe ao mundo inteiro limitação nas relações com Cuba. Se Cuba necessita de um financiamento, pode fazê-lo apenas se a entidade, o consórcio, a companhia fizerem as escondidas, porque se os Estados Unidos ficam sabendo, sancionam. Isso aconteceu com companhias como a Paribas e muitas outras que foram sancionadas, A Paribas por exemplo foi sancionada há uns 8 anos a pagar 8 bilhões de dólares para os Estados Unidos. Paribas pagou esse dinheiro aos Estados Unidos. Isso com certeza tem um simbolismo e um significado, o significado é que não se pode ignorar as pressões dos Estados Unidos na área do comércio. Cuba não pode comprar nada que tenha mais de 10% de conteúdo ou de partes de produtos dos Estados Unidos. Por vezes um desenho, uma peça específica já é o suficiente para evitar que se venda um produto quando alguma companhia decide vendê-lo e, apesar disso, corre o risco de ser sancionada, claro que muitas nos cobram por esse risco que correm de serem sancionadas. Além disso, por exemplo, às vezes o produto está no pier para ser carregado no barco e a embaixada dos Estados Unidos, literalmente, sem exageros, chama ao armador, ao dono do barco e diz que está correndo um risco de ser sancionado porque o comércio com Cuba está proibido. Quando nós estamos esperando um produto chegar em Cuba, não chega, porque decidem não carregar o produto. Isso acontece constantemente com tudo, acontece com medicamentos, com produtos alimentícios, absolutamente com tudo. É uma perseguição implacável, os Estados Unidos tem limitado, freado, bloqueado a entrada de petróleo a Cuba.

Os Estados Unidos com o Governo Trump pioraram ainda mais a situação que já era muito ruim anteriormente. Trump aplicou mais de 240 novas medidas contra Cuba, adicionais às tradicionais. Não podia chegar mais a Cuba nem aviões nem embarcações privadas. Foram suspensos os cruzeiros, que era uma via pela qual muitos brasileiros viajam a Cuba. Sancionaram muitas companhias cubanas relacionadas ao desenvolvimento do turismo, proibiram muitos voos dos Estados Unidos a Cuba, proibiram os voos que iam de Havana às províncias, muitas vezes com cubanos que iam visitar seus familiares, proibiram as remessas dos familiares nos Estados Unidos para Cuba e assim nos impuseram listas absurdas, ilegais, arbitrárias, por capricho, acusando-nos de patrocinar o terrorismo internacional. O que é uma absoluta mentira. Todos sabem e todos nos Estados Unidos sabem. Acusando-nos de estimular o tráfico de pessoas, que é outra mentira absoluta. Sempre nos acusaram de não respeitar os direitos humanos, de não ter um sistema democrático. Se tem um país no mundo que não tem moral para fazer acusações desta índole, são os Estados Unidos, um país agressor, terrorista, um terrorismo respaldado pelo próprio Estado. Contudo, estão continuamente atacando Cuba com a finalidade de destruir a imagem de Cuba e destruir também, ainda mais, a economia cubana.

Quando um país é considerado por essas listagens arbitrárias dos ianques como um país que patrocinou o terrorismo, esse país muito dificilmente obtém financiamento de qualquer tipo, porque, internacionalmente se considera que esse financiamento pode ser canalizado para atividades terroristas. Tudo isso é feito com o propósito de asfixiar e destruir a Revolução e esse endurecimento adicional da política foi feito durante a pandemia. Muitos países e personalidades pediram que durante a pandemia fosse afrouxado, suspenso o bloqueio. O que os Estados Unidos fizeram foi reforçar o bloqueio, torná-lo mais duro, mais penetrante, mais perigoso para Cuba.

O que Cuba tem tido que suportar é muito forte e o povo não se rebela porque o povo apoia o sistema e o governo, apesar dessas tragédias que tem a ver com a política dos Estados Unidos, que se aproveitou da pandemia e tem se aproveitado também da crise internacional que a pandemia gerou no mundo para tentar abater um país supostamente debilitado pelos problemas econômicos que o próprio Estados Unidos tem criado. Estou falando sobre apenas uma parte do bloqueio, podemos falar de muitas outras coisas, o bloqueio é uma rede muito complexa e muito grande de medidas contra Cuba. Se existe uma lei que tem a ver com a agricultura, impõe uma cláusula sobre Cuba, se tem uma lei relacionada à medicina colocam uma outra cláusula e continuamente estão agregando cláusulas, elementos, capítulos, legislação para bloquear ainda mais Cuba. Vocês conhecem a lei Helms-Burton, a Lei Torricelli, uma lei atrás de outra para rebentar Cuba, para acabar com Cuba e eles tem a ousadia de chamá-las de leis pela democracia em Cuba, que na verdade são leis pela extinção dos cubanos e do país.

Durante anos, Clinton e outros governos foram propondo a aplicação de alguns capítulos da lei Helms-Burton, Trump aprovou a utilização desses capítulos que permitem que qualquer um nos Estados Unidos que denuncie uma companhia em qualquer lugar do mundo, possa submeter a julgamento essa companhia. Por que a companhia está atuando segundo a pessoa, em propriedade que foram antes da Revolução, de alguma família, etc. O que é uma barbaridade do ponto de vista legal, eles podem submeter a julgamentos companhias internacionais por essa razão. Não existe bloqueio, não existe lei no mundo que seja tão ingerente, que viole tanto a soberania das nações como o bloqueio imposto a Cuba. Se uma companhia na França quer ter relações com Cuba, ferindo a Lei de Comércio dos Estados Unidos, as leis em geral do bloqueio são sancionadas e, portanto, decidem não estabelecer relação, ainda que seja francesa, ainda que os trabalhadores sejam franceses, ainda que os dirigentes sejam franceses. Acontece com a Malásia, acontece com os países da Europa, com todos os países do mundo, incluindo às vezes, países amigos que tem empresas que têm interesses de alguma forma nos Estados Unidos que então proíbem o comércio com Cuba, uma lei de ingerência e que alcança todas as nações e viola a soberania de todas as nações do mundo.

O bloqueio é isto que estou dizendo e muito mais. É a tentativa de fazer desaparecer um país, fazer desaparecer um povo, porque não o submetemos, não nos submetemos. Não aceitam que Cuba seja independente, não aceitam, não aceitam que Cuba tenha rompido o esquema de dominação hegemônica dos Estados Unidos na América Latina e no mundo. Não aceitam que sejamos uma alternativa de sistema. Não queremos ser a imagem única de um possível sistema a nível mundial, existem muitas variantes. Eles não aceitam a existência de um país solidário como Cuba, que em lugar de enviar armas e de atacar países, envia médicos, envia educadores, eles não aceitam e não podem aceitar, esse exemplo pra eles é muito negativo. Toda vez que comparam Cuba com os Estados Unidos. uma das primeiras coisas que se compara é que Cuba envia centenas de milhares de médicos e os Estados Unidos centenas de milhares de soldados, apoiado por um orçamento de defesa imenso, com o qual podem ser resolvidos muitos problemas de fome e de injustiças sociais no mundo inteiro.

Nos últimos oito, dez anos, houve uma ampliação da ingerência do imperialismo dos Estados Unidos na América Latina como um todo, desde a ampliação do cerco na Venezuela, o golpe na Bolívia, eleição de governos fantoches em outros países. Quais são as consequências políticas para Cuba e na relação com esses país com essa ampliação da ingerência imperialista?

Bom, vou te dizer que essa ofensiva tem sido uma ofensiva também contra Cuba e outros países, ou seja, essa política dura no terreno econômico contra Cuba, estava acompanhada por uma política, eu vou dizer branda, mas não é branda a palavra, é uma política que se dedica a utilizar as redes sociais, os meios de informação, os meios de comunicação para desinformar, subverter em Cuba. Eles fazem o impossível para gerar a subversão, criam alguns incidentes sem significado para magnificar o produto dessa ingerência, acompanhada do bloqueio. Buscam, além disso, dar uma imagem muito negativa de Cuba internacionalmente, muito negativa, de um país instável, em crise, o Biden chegou a dizer pouco tempo atrás que Cuba era um estado falido.

Os Estados Unidos são um estado falido! Todos esperamos que um dia se dissolva como país, porque acredito que é a única solução para fazer com que essa influência imperialista deixe de causar danos. O legado deles é destruir, por isso criam essa imagem negativa de Cuba, promovem a ideia de uma intervenção humanitária em Cuba que vocês sabem o que isso quer dizer, isso é uma intervenção militar armada. Em Cuba, naturalmente sabem que não podem fazer isso, o povo inteiro sairia para lutar contra os Estados Unidos, iria acontecer algo similar ao Vietnã, seria terrível, haveriam muitos mortos, mas não iriam conseguir controlar Cuba. A única maneira de controlar Cuba é acabando com os cubanos, não há outro remédio. Existem os gusanos no youtube, nos Estados Unidos, que já promovem a ideia de que o que deve ser feito é uma guerra para acabar com os cubanos, porque somos nós os que de nenhuma maneira vamos aceitar o domínio ou o regresso do domínio imperialista ianque em Cuba.

Na América Latina houveram muitas mudanças num sentido e em outro. Houve um período que podemos dizer muito positivo, que foi durante o governo de Chávez, de Kirchner, quer dizer, inclusive do Lula no Brasil, que se reuniram uma série de líderes que representavam posições progressistas de esquerda, independentista, que de alguma maneira estavam lutando por impor políticas de justiça social. Houve uma regressão como vocês sabem e neste momento está tendo uma nova regressão, mas para o bem. O que está acontecendo no México é importante, López Obrador tem uma política internacional muito positiva, apoia Cuba incondicionalmente, as coisas que tem dito sobre Cuba nos enchem de admiração e de orgulho. Na Bolívia têm ocorrido mudanças positivas. Na Argentina tem ocorrido mudanças positivas. Na Colômbia estão havendo mudanças positivas e assim em muitos países, em Honduras, em muitos países da América Latina estão havendo mudanças positivas.

Uma das mudanças mais importantes e que tem um simbolismo especial é esta última na Colômbia, que tem sido uma peça fundamental e que tem representado a política dos Estados Unidos na América latina, especialmente não só no terreno literalmente político, mas no terreno militar. A Colômbia se converteu numa base militar dos Estados Unidos, sendo assim nós vemos tudo isso com satisfação. Esperamos que amadureçam nesta política, para Cuba é importante, mas é importante não só geopoliticamente, que não podemos ignorar esse fator, mas é importante porque vemos como outro povo começa a conquistar sua independência, a criar consciência, a tratar de acabar com o neoliberalismo que é tão danoso para a nossa sociedade e a romper com a dependência dos Estados Unidos. Nos alegramos que outros povos desfrutem de situações similares à nossa, pois ainda que não estejam submetidos ao bloqueio dos Estados Unidos, o que não quer dizer que não estejam submetidos a agressão dos Estados Unidos, os Estados Unidos estarão sempre atentos, tentando destruir qualquer tipo de fenômeno social que se dirija a buscar soluções progressistas, humanas para seu povo e que, além disso, que mantenha uma posição de independência nacional. Os Estados Unidos sempre estarão amoitados tentando causar danos, buscando reverter os processos, que é o que explica o que aconteceu antes com os movimentos que tinham chego a se consolidar nacionalmente, é o que explica o que aconteceu com Allende, em Granada etc, são intervenções diretas dos Estados Unidos, é um país imperialista sem discussão.

Eu não acredito que alguém seja capaz de questionar essa afirmação. Os Estados Unidos são um país imperialista, o que acontece é que cada vez mais perde poder, quer dizer, existe um processo do que se denomina neste momento de multipolarização que supõe a emergência de outros países poderosos. Isso não os deixa segura, estão sentindo profundamente, irrita-os muito o desenvolvimento da china, que é imparável, a China em muito pouco tempo vai se converter na potência econômica número um do mundo, é um país imenso em todas as áreas e não vão conseguir detê-los, não vão conseguir deter a energia e o dinamismo da China. Querem deter, isso está na política dos Estados Unidos, inclusive na política de defesa onde estão como foco fundamental, como objetivo fundamental de deter a China, frear a China, evitar o desenvolvimento da China. Eles têm feito o mesmo com a Rússia, a política dos Estados Unidos em relação a Rússia é a de isolar a Rússia, romper o poderio político da Rússia e assim acontece com outros países de menor tamanho, mas que também integram essa nova imagem, esse novo panorama no mundo, onde os Estados Unidos não têm mais o poder absoluto. Existe realmente um processo de reestruturação da chamada ordem internacional que se estabeleceu após a Segunda Guerra Mundial. Querem desesperadamente parar isso, isso é perigoso, como uma fera encurralada, desesperada, amedrontada é capaz de fazer qualquer coisa. É preciso se proteger, tem que estar alerta, não podemos confiar que vão desaparecer pacificamente por si só com o tempo.

Muito obrigado por essa oportunidade, vocês desempenham um papel muito importante, pois um dos principais problemas neste momento dos que tentam causar danos a Cuba e que nós enfrentamos são as notícias falsas, as fake News, esse nome em inglês, e faz sentido ser em inglês porque eles são os principais geradores de notícias falsas no mundo. De maneira que qualquer canal que permita Cuba, ou a qualquer movimento revolucionário e progressista dizer a verdade, está ajudando ao progresso, está ajudando a luta contra o imperialismo e contra a imposição de mentiras contra diferentes países e contra, naturalmente, Cuba.

Por que a presença estadunidense em Cuba pode ser considerada uma medida imperialista?

Por que a presença estadunidense em Cuba pode ser considerada uma me dida imperialista?

Por fins do século, a penetração econômica estadunidense em Cuba era tamanha que a anexação do país ao seu escopo de influência e dominação se tornou uma ambição política e econômica para os Estados Unidos, viabilizando a desejada modernização capitalista da produção açucareira cubana.

Como sobrevivia Cuba durante a metade do século XX?

Durante todos esses anos, a imensa maioria da população cubana viveu afundada na pobreza, onde dezenas de milhares de crianças morriam todos os anos de doenças curáveis, os camponeses sem terras, professores sem escolas, e milhares de desempregados e analfabetos.