Omeprazol ou gázia

Quem tem ou já teve algum problema no estômago que precisou de tratamento medicamentoso, provavelmente já ouviu falar em Omeprazol, Pantoprazol, Exomeprazol, Lansoprazol, Dexlansoprazol ou Rabeprazol. Esses remédios fazem parte de um grupo classificado como inibidores da bomba de próton (IPBs) e estão entre os mais vendidos no mundo.

Os inibidores da bomba de próton, também conhecidos como antiulcerosos, são indicados para tratar distúrbios do estômago e do esôfago, como gastrites, úlcera péptica e refluxo gastroesofágico. A bomba de próton participa do mecanismo de secreção do suco gástrico (responsável pela acidez do estômago). Com o uso desses medicamento, que, como o próprio nome diz, inibem a ação da bomba de próton, reduzindo a produção de suco gástrico em até 95%, diminuindo, assim, as dores e o desconforto causado pelos ácidos. Ao diminuir a produção de ácido gástrico, o organismo tem um tempo para cicatrizar as lesões causadas na mucosa. Esse tempo é importante principalmente para quem sofre com a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE).

Mas, enfim, há diferença entre os inibidores da bomba de próton ou posso comprar qualquer um?

Diversas pesquisas apontam que tanto o Omeprazol – o mais famoso dos IPBs – quanto os demais medicamentos da “família zol” (Pantoprazol, Exomeprazol, Lansoprazol, Dexlansoprazol e Rabeprazol) possuem o mesmo mecanismo de ação e são equivalentes com relação ao efeito e tempo de duração do tratamento – normalmente, entre quatro e 12 semanas.

Então eu posso comprar o remédio mais barato, mesmo que o médico receite outro?

Não! A escolha de qual medicamento deve ser usado em cada caso cabe ao médico e deve ser respeitada mesmo que o farmacêutico ou atendente da farmácia sugira a compra do mais barato.

Embora eles hajam da mesma maneira, por serem princípios ativos diferentes, a dosagem é variável. Isso significa que se o médico indicar Omeprazol 20 mg não é a mesma coisa que usar o Pantoprazol 20 mg. Para esses dois medicamentos usados no exemplo, as dosagens recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o tratamento do refluxo gastroesofágico são de 20 mg e 40 mg, respectivamente.

Por que os médicos receitam um ou outro, se eles têm o mesmo efeito?

Mesmo que, na prática, o efeito final de todos os medicamentos citados seja equivalente, alguns estudos, como a recente revisão feita pela Federação Brasileira de Enterologia, sugere que há casos em que um princípio ativo produz respostas mais satisfatórias que outros. O documento cita como exemplo uma pesquisa realizada com pacientes que usaram Esomeprazol 20 mg para tratar esofagite e, em quatro semanas, 76% dos pacientes estavam curados; já entre os que se  submeteram ao tratamento com Omeprazol 20 mg, 65% curaram a esofagite no mesmo período de tempo.

Para os pesquisadores, a diferença é muito pequena, mas não deve ser desconsiderada. Por isso, cabe aos médicos avaliarem, especificamente, quais são as necessidades de cada paciente antes de prescrever um medicamento.

Vale ressaltar que o uso excessivo e/ou inadequado dos IBPs pode interferir na absorção de cálcio e de vitamina B12, além de outros nutrientes, aumentar a proliferação de bactérias nocivas, causando danos ainda maiores à saúde.

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Omeprazol ou gázia

Endoscopista e Gastroenterologista
Proprietário da Gástrica Usuy Clínica Médica. Graduação pela Universidade Federal de Santa Catarina e Especialização pela Universidade Estadual Paulista UNESP.

Omeprazol ou gázia

Quero perguntar sobre o velho e bom omeprazol, que tomo de vez em quando desde que fui diagnosticada com gastrite há três anos. De vez em quando, há farmacêuticos que tentam empurrar uns mais caros, como pantoprazol ou nexium. Há algum estudo que indique que eles são melhores?
Liege Albuquerque –  Manaus (AM)

Omeprazol ou gázia

Omeprazol ou gázia

O omeprazol e o pantoprazol fazem parte de um grupo de medicamentos chamados inibidores de bomba de prótons. Sua função é diminuir a produção do ácido liberado no estômago, e usado na digestão dos alimentos.

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Além desses dois, há diversos outros inibidores, que funcionam seguindo esse mesmo princípio. Todos são recomendados para aquelas situações em que a pessoa sofre com alguma lesão ou inflamação no estômago ou esôfago, como uma úlcera ou gastrite: “Ao reduzir a acidez, você dá ao organismo tempo para a lesão cicatrizar”, diz a professora Daniela Melo, do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os inibidores de bomba de prótons são também frequentemente receitados para o tratamento de um problema chamado Doença do Refluxo Gastroesofágico. Ela surge quando a pessoa sofre com uma lesão no mecanismo de passagem do esôfago para o estômago. Por causa do dano, os ácidos produzidos no estômago fazem o caminho até o esôfago, e podem chegar até a boca – provocando aquela sensação de queimação, conhecida popularmente como azia, mas que os médicos chamam de pirose.

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Nem sempre o tratamento desses problemas exige o uso de inibidores. Nas ocasiões em que eles são necessários, o uso do medicamento costuma durar entre quatro e 12 semanas, ao final das quais o médico avalia  se o problema foi resolvido e o que fazer a seguir – se aumentar a dosagem do medicamento ou recomendar mudanças de hábitos e dieta. A decisão quanto a qual medicamento usar – se omeprazol, pantoprazol ou um terceiro – cabe ao médico. Mas os estudos hoje disponíveis indicam que, qualquer que seja a escolha, os resultados serão parecidos. Em 2009, a Federação Brasileira de Gastroenterologia – em parceria com outras instituições – publicou uma revisão de estudos que comparavam a eficácia desses inibidores. No total, os autores analisaram os resultados de 87 trabalhos. Concluíram que seus efeitos são equivalentes: “No final, a decisão hoje é sobre o preço”, diz Daniela, da Unifesp. “Se o médico receitar pantoprazol, os resultados serão tão bons quanto se tivesse receitado o omeprazol”.

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A conclusão é compartilhada por outro estudo semelhante, publicado em 2008 por pesquisadores da Universidade de Ulm, na Alemanha. Os cientistas selecionaram 57 trabalhos que comparavam a eficiência do omeprazol, pantoprazol, lansoprazol, esomeprazol e rabeprazol na redução da acidez do estômago. Descobriam, por exemplo, que um comprimido de 20 miligramas de omeprazol (uma dosagem comum disponível no mercado) tem efeitos equivalentes a um comprimido de 40 miligramas de pantoprazol – novamente, uma dosagem comumente receitada. São essas, inclusive, as dosagens recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para o tratamento de doença do refluxo.

Se são iguais, por que receitar um ou outro ?

Isso não quer dizer que todos os inibidores sejam iguais. Medicamentos diferentes podem ter atuação diferente. “Eles são muito específicos – suas moléculas atuam sobre determinados receptores no corpo”, diz Daniela. Em teoria, o pantoprazol tem ação mais eficiente sobre os receptores do estômago. É uma vantagem teórica: os estudos na área não perceberam essa diferença. “Essa é a propaganda da indústria.  Na prática, não há evidências de que ele seja superior aos demais.”

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A revisão feita pela Federação Brasileira de Enterologia percebeu, no entanto, que há casos em que pode ser melhor usar um medicamento ou outro. No caso do tratamento de esofagite, o esomeprasol teve resultados melhores que os demais medicamentos: depois de quatro semanas de tratamento com esomeprazol de 20 miligramas, cerca de 76% dos casos de esofagite são resolvidos. O mesmo tratamento com omeprazol de 20 miligramas resulta na cura de 65% dos casos. “Não é uma diferença muito grande, e só foi percebida no tratamento para esse problema específico”, diz Amouni Mourad, assessora do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo e professora da Universidade Mackenzie.

Há, ainda, outros fatores que podem influenciar as escolhas dos médicos: “E essas escolhas nem sempre estão baseadas na ciência”, diz Daniela. Por vezes, o médico está mais habituado a receitar um certo inibidor e observar bons resultados – e, por isso, o receita a todos os pacientes. Há casos, também, em que um paciente responde melhor ao tratamento com um medicamento do que com o outro: “Nessas situações, quem tem de fazer a troca é o médico, baseado nos resultados observados”, diz Amouni.

Usar o medicamento errado pode me trazer problemas?

O omeprazol, o pantoprazol e os demais inibidores são considerados medicamentos seguros – quando usados da maneira correta, e pelo tempo determinado. O problema é que, muitas vezes, são usados desnecessariamente: “É comum a pessoa tomar omeprazol para casos de azia esporádica”, diz Amouni Mourad. “É um uso errado. Há antiácidos que são mais recomendados para casos assim, e que têm ação mais rápida.”

O uso inadequado pode ser perigoso. Ao reduzir a quantidade de ácido liberada no estômago, os inibidores de bomba de prótons interferem na absorção de nutrientes como o cálcio e a vitamina B12 – e aumentam os riscos de fraturas ósseas. Seu uso prolongado pode também facilitar a proliferação de bactérias danosas ao organismo: “Há microrganismos ruins que são eliminados pelo ph ácido do estômago”, diz Amouni. “Se você diminui a acidez por muito tempo, acaba ficando sem essa proteção.”

A questão preocupa porque o uso de omeprazol e de medicamentos semelhantes, de forma incorreta, é comum. E, por vezes, é feito sob recomendação médica. “Em parte, isso é resultado da propaganda incorreta que se faz desses produtos”, diz Daniela. “Há a impressão de que eles protegem o estômago – e podem ser tomados quando o paciente precisa usar muitos medicamentos.” É uma impressão falsa. Os inibidores diminuem a acidez do estômago, mas não o protegem. Por isso, devem ser usados com cautela. E somente sob recomendação médica.