O que aconteceu com Dom Pedro segundo e sua família depois do fim da monarquia?

O embarque para o ex�lio

Todos permaneceram o dia 16 detidos no Pa�o, com soldados com baionetas e cavalarianos cercando o pr�dio. Ficou acertado que no dia seguinte, domingo, 17/11, por volta das 15 h, D. Pedro II e os demais embarcariam, tendo sido permitido a ele assistir de manh� � missa na Capela do Carmo, vizinha ao pal�cio. Mas, de madrugada, o Conde d�Eu foi inesperadamente despertado com a chegada do seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Jo�o Nepomuceno de Medeiros Mallet, acompanhado do brigadeiro Jos� Sime�o de Oliveira, que lhe comunicou que o governo provis�rio temia o derramamento de sangue na partida da fam�lia imperial, pois soubera que havia um grupo disposto a provocar atritos quando da sa�da do monarca.

Acordado, o Imperador foi informado que deveria se vestir para embarcar. Surpreso e revoltado, disse "que n�o sairia como um negro fugido...". Mas, por volta das tr�s da manh�, foi escoltado juntamente com a Imperatriz e toda a fam�lia, al�m de alguns amigos, para o Cais Pharoux, bem atr�s do Pa�o Imperial, hoje Pra�a XV. Somente um coche negro puxado por dois cavalos estava � disposi��o, onde foram os imperadores e a princesa Isabel; os demais seguiram a p�. Uma lancha do Arsenal de Guerra, tripulada por quatro alunos da Escola Militar, aguardava-os, sendo transportados para o pequeno cruzador Parna�ba, apelidado de "gazela do mar", fundeado na Ba�a da Guanabara, pr�ximo � Ilha Fiscal.

�s 10 horas da manh� chegaram os tr�s jovens pr�ncipes, Pedro de 14 anos, Luiz de 11 anos, e Ant�nio de 8 anos, que se encontravam em Petr�polis, acompanhados pelo seu preceptor, o Bar�o de Ramiz Galv�o, e do engenheiro Andr� Rebou�as, amigo da fam�lia imperial, que havia subido a serra especialmente para trazer os filhos da Redentora e do Conde D�eu. A bordo, profundamente abalada, estava a Imperatriz D. Thereza Christina, que muito chorava; n�o menos comovida estava a Princesa Isabel, mas aliviada com a chegada dos seus filhos.

O segundo decreto assinado por Deodoro concedia ao Imperador deposto uma soma de dinheiro para sua viagem � Europa. O tenente Jer�nimo Teixeira Fran�a foi incumbido de levar esse documento do governo provis�rio a D. Pedro; primeiramente deveria ser entregue no Pa�o, mas o major Mallet, receando que o imperador pudesse criar algum mal estar no momento, n�o deixou entreg�-lo, o que foi feito somente a bordo do Parna�ba. Mas ele recusaria por mais de uma vez a oferta monet�ria. Entre os poucos amigos que foram se despedir de D. Pedro II, estava o velho almirante Joaquim Marques Lisboa, o marqu�s de Tamandar�.

Ao meio-dia de 17 de novembro de 1889, a embarca��o sob o comando do capit�o-de-fragata Jos� Carlos Palmeira, levantou ferros e partiu em dire��o a Ilha Grande para encontrar o paquete Alagoas, da Companhia Brasileira de Navega��o a Vapor, o mais novo e moderno navio de passageiros da marinha mercante do Brasil, que fora requisitado pelo governo republicano, para levar a realeza destronada para o ex�lio na Europa, e o seu pequeno s�quito. Al�m dos membros da fam�lia imperial, de Andr� Rebou�as, viajaram o bar�o e baronesa de Loreto, Franklin Am�rico de Meneses D�ria, e a sua esposa Maria Amanda Lustosa Paranagu�; o marqu�s e a marquesa de Muritiba, Manuel Jos� Vieira Tosta e sua esposa Maria Jos� Velho de Avelar, amiga e dama da princesa Isabel; a octogen�ria viscondessa de Fonseca Costa, Josefina de Fonseca Costa, dama da Imperatriz por mais de 40 anos; o professor de l�nguas orientais dr. Cristian F. Seybold; o m�dico do imperador Claudio Velho de Motta Maia, conde Motta Maia, e seu filho Manoel Augusto, de 14 anos; as criadas da imperatriz Joana de Alc�ntara, Leon�dia L. Esposel, Ludomilla de Santa Mora, Maria da Gloria e Julieta Alves; o criado do pr�ncipe D. Pedro Augusto Fran�ois N. Boucher; os criados dos filhos da princesa Isabel, Eduardo Damer, e Guilherme Wagner Camerloker; o professor dos pr�ncipes mais novos Fritz Stoll, al�m de Francisco de Lemos Faria Pereira Coutinho, o conde de Aljezur, substituindo o mordomo imperial. O transbordo dos passageiros para o navio Alagoas foi realizado com dificuldades e perigos de um mar agitado, sendo a Imperatriz ajudada por dois marinheiros.

O novo governo determinou que o encoura�ado Riachuelo da Marinha de Guerra, sob o comando do ent�o Capit�o-tenente Alexandrino Faria de Alencar (seria ministro da Marinha em tr�s governos da Rep�blica), fizesse a escolta at� a linha do Equador do Alagoas, j� fora de �guas territoriais brasileiras. Durante a viagem Dom Pedro notou a que a velocidade da embarca��o estava muito lenta e indagou ao comandante do navio - portugu�s, mas brasileiro por ado��o -, Jo�o Maria Pessoa, a velocidade do Riachuelo. Foi informado que era de apenas sete ou oito milhas n�utica. Apesar de n�o ser antigo - tinha apenas pouco mais de cinco anos de uso - e D. Pedro II de muita boa mem�ria, sabia que quando foi constru�do sua velocidade m�xima era de 16 milhas. Concluiu-se que a embarca��o de guerra estava com problemas mec�nicos. Um dia o imperador reclamou ao capit�o Pessoa, e apontando ao 1� Tenente Jo�o Augusto do Amorim Rangel, oficial da Marinha que estava a bordo para cumprir as determina��es das autoridades republicanas, juntamente com seu colega, o 2� Tenente Ant�nio Barbosa de Magalh�es Castro:

- Diga a esse mo�o que vem a bordo, que se o Riachuelo � honraria, eu dispenso; se quer dizer receio, eu n�o quero voltar. O Brasil n�o me quer, vou-me embora!

Na altura da Bahia, no dia 22 de novembro, para al�vio de todos, e em especial de D. Pedro, o Riachuelo encerrou sua miss�o, e deu meia volta para dirigir-se a Salvador, e o Alagoas pode ent�o seguir sua longa viagem, em uma velocidade compat�vel com suas caldeiras.

Durante a viagem, o jovem pr�ncipe D. Pedro Augusto, neto de D. Pedro II, e por ele criado e pela imperatriz, desde a morte de sua m�e a princesa Leopoldina de Bragan�a, quando contava com quase cinco anos de idade, come�ou a dar sinais de debilidade mental. Com mania de persegui��o, no seu primeiro surto psic�tico, tentou esganar o comandante do navio, a quem acusava de ter recebido dinheiro para eliminar a todos. Contido e confinado em seu camarote, foi acometido de del�rios persecut�rios, chegando a envolver seu corpo numa boia salva-vidas, temendo que o navio fosse bombardeado. Alternando momentos de excita��o e de letargia, Pedro Augusto jogava garrafas ao mar com pedidos de socorro. Pelo menos uma dessas mensagens, foi encontrada na praia de Maragogi, pr�ximo a Macei�, em Alagoas. Posteriormente seu pai, o pr�ncipe austr�aco Lu�s Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, o internou primeiro em Graz, e depois em um sanat�rio em T�lln an der Donau, onde permaneceu por quarenta anos, at� sua morte em 1934.

No dia 1� dezembro, houve uma parada para reabastecimento em S�o Vicente, no arquip�lago de Cabo Verde, uma possess�o portuguesa, no oceano Atl�ntico, pr�xima da costa africana. Os passageiros foram autorizados a descer, e foram visitar alguns pontos da cidade, incluindo uma igreja, onde rezaram. Dessa escala, foi i�ada na popa do Alagoas uma bandeira imitando o "M" do C�digo Internacional de Sinais, com o fundo completamente vermelho e sobre filetes brancos as 21 estrelas em filete azul, sendo a estrela do centro maior. Essa bandeira foi entregue em alto mar pelo comandante do Riachuelo ao capit�o Pessoa, como s�mbolo do novo regime brasileiro. A nova bandeira iria causar uma quase crise com Portugal, que determinou a sua retirada por n�o ser reconhecida de acordo com as normas internacionais. Para evitar maiores problemas, o governo provis�rio brasileiro determinou que durante a perman�ncia do navio em �guas portuguesas n�o fosse arvorado nenhum pavilh�o.

Quando da partida do Alagoas, o navio da marinha portuguesa Bartolomeu Dias, que estava no porto, deu uma salva de 21 tiros de canh�o. Nesse momento, foi i�ada a bandeira do Imp�rio, e todos que estavam a bordo, se levantaram e bateram palmas, alguns emocionados at� as l�grimas. Da embarca��o lusitana e de alguns navios alem�es que ali se encontravam, tripulantes e passageiros sacudiram len�os brancos. No dia seguinte, foi comemorado a bordo o 64� anivers�rio do Imperador, que ficou muito comovido ao ouvir as palavras de sauda��o do comandante Pessoa em sua homenagem, quando este ergueu um brinde, ao lado dos presentes. D. Pedro respondeu com palavras tr�mulas:

- Bebo a prosperidade do Brasil!

Em Portugal

Em 7 de dezembro, com a bandeira do Imp�rio tremulando no mastro, o Alagoas finalmente chegou a Lisboa. D. Pedro foi recebido com honras por seu sobrinho D. Carlos, e toda a corte portuguesa. Permaneceu na capital lusitana por 15 dias. Nesse curto per�odo, visitou o t�mulo de seu pai D. Pedro I (D. Pedro IV para os portugueses), na Igreja de S�o Vicente de Fora, onde rezou, e depositou, no mesmo local, uma coroa de flores no t�mulo do Rei Lu�s, recentemente falecido, tendo participado de uma missa em inten��o da alma desse seu sobrinho. Foi a escolas superiores, associa��es cient�ficas, como o Museu do Carmo, a Escola Polit�cnica, o Curso Superior de Letras, onde assistiu aulas, o bairro lisboeta da Alfama, o Jardim Zool�gico, a Escola M�dica, o Hospital S�o Jos�, a Academia de Ci�ncias, o Mosteiro dos Jer�nimos, onde colocou uma coroa no t�mulo do poeta e escritor portugu�s Alexandre Herculano, e no hotel onde ficou, recebeu algumas visitas. Esteve tamb�m nos pal�cios das Necessidades, resid�ncia dos reis de Portugal, e de Queluz, em Sintra. Nesse permaneceu em sil�ncio por muito tempo, meditando, diante da cama aonde havia falecido seu pai. Esteve ainda na Ajuda, pal�cio real de ver�o, e em Bel�m, resid�ncia oficial dos pr�ncipes reais, para retribuir as visitas do Rei e da fam�lia real portuguesa fizeram no hotel Bragan�a, onde estava hospedado com sua fam�lia e comitiva.

Seu sobrinho D. Carlos seria coroado rei de Portugal em 28 de Dezembro, e D. Pedro resolveu ent�o realizar uma visita � regi�o do Minho, no norte do pa�s. No dia 22, chegou a Coimbra, sendo recepcionado pelos estudantes e professores da velha universidade, e depois seguiu para a cidade do Porto. Seu �nico intuito era n�o perturbar os festejos reais. No Porto, enquanto visitava a Academia de Belas-Artes, no mesmo dia 28, a imperatriz D. Thereza Christina, com a sa�de debilitada, sofrendo de bronquite, amargurada e abalada com a situa��o causada com a proclama��o da Rep�blica, e o consequente ex�lio, faleceu repentinamente, aos 67 anos de idade. Avisado do grave estado, retornou rapidamente ao hotel, mas quando chegou sua companheira por longos 46 anos, estava morta. Sua tristeza foi profunda; em sil�ncio, chorou a partida de sua amada Thereza Christina. Sua filha Isabel, com seu marido Conde D�Eu, e seus filhos tinham ido � Espanha visitar os tios, os condes de Montpensier que l� residiam, e retornaram a Portugal assim que receberam a not�cia do passamento da imperatriz.

O corpo de D. Thereza Christina, depois de embalsamado, e velado na igreja da Lapa - local onde permanece guardado o cora��o do imperador do Brasil, D. Pedro I - foi transportado de trem do Porto para Lisboa e depositado no Pante�o dos Bragan�as na Igreja de S�o Vicente de Fora, ao lado da segunda imperatriz do Brasil, D. Am�lia, com a presen�a da fam�lia real portuguesa, e autoridades. Ap�s os funerais de sua esposa, permaneceu poucos dias em Lisboa, seguindo para a Fran�a, hospedando-se em Cannes, para fugir do forte inverno europeu.

Ex�lio e morte do imperador

Menos de dois anos depois, o Imperador se encontrava em Paris, para participar das sess�es do Instituto de Fran�a, na Academia de Ci�ncias, da qual era s�cio. Em 24 de novembro, foi fazer um passeio em carruagem aberta at� Saint-Cloud, nas margens do rio Sena, onde apesar do frio do inverno resolveu fazer uma caminhada. No dia seguinte, amanheceu febril, contraindo um forte resfriado e seu estado de sa�de foi se agravando.

O �ltimo imperador do Brasil veio a falecer aos vinte minutos do dia 5 de dezembro de 1891, vitimado por uma pneumonia aguda no pulm�o esquerdo, em um modesto quarto do Hotel Bedford, tr�s dias ap�s completar 66 anos de idade.

D. Pedro II, em seu leito de morte, estava vestido com o uniforme de marechal do Ex�rcito imperial brasileiro, com as condecora��es do Brasil, Fran�a, Portugal, e um crucifixo em suas m�os, que havia recebido do Papa Le�o XIII. Um livro, significando que descansava sobre o conhecimento, foi colocado embaixo do seu travesseiro com terra de todas as prov�ncias (hoje estados) brasileiras. Um pedido que havia deixado por escrito.

O governo franc�s resolveu prestar as �ltimas homenagens de Estado ao Imperador brasileiro, e comunicou � princesa Isabel que aceitou as honras oficiais, mas o governo brasileiro protestou por essa atitude. No Brasil, ao saberem da morte do antigo monarca, o com�rcio fechou as portas, e v�rias missas foram realizadas por sua alma por todo o pa�s.

O corpo embalsamado do imperador foi levado para a Igreja da Madalena, situada perto da Pra�a da Conc�rdia, a poucos passos do hotel onde morreu. Ao meio dia de 9 de dezembro, com o caix�o coberto com a bandeira do Imp�rio brasileiro, colocado em um catafalco elevado na nave da igreja, foi celebrada as ex�quias solenes, pelo arcebispo de Paris, com a igreja totalmente lotada, e a presen�a da Casa Militar do presidente da Fran�a, Sadi Carnot, que o representou. Al�m dos presidentes da C�mara e do Senado da Rep�blica francesa, esteve presente o c�nsul-geral de Portugal em Paris, o escritor E�a de Queiroz, todo o corpo diplom�tico, dentre in�meras autoridades.

Pelas ruas de Paris, 80 mil homens das tropas francesas participaram das honras. O coche f�nebre, puxado por oito cavalos cobertos de negro, foi escoltado pela guarda republicana, acompanhado por uma banda de m�sica militar tocando a marcha f�nebre de Chopin, e nada menos que 300 mil pessoas, apesar do frio, foram prestar as homenagens a D. Pedro II. Quando o cortejo passou pela Pra�a da Conc�rdia, foram prestadas as honras militares, e uma bateria de artilharia deu as salvas de estilo. O corpo foi transportado em um trem especial para Lisboa, com uma parada em Madrid, onde a Casa Real espanhola prestou tamb�m suas homenagens. Em Lisboa, o rei D. Carlos, toda sua fam�lia, o minist�rio, altas autoridades, e milhares de pessoas participaram tamb�m das honras e despedidas ao velho imperador brasileiro. Na igreja de S�o Vicente de Fora, o cardeal Dom Jos� Sebasti�o de Almeida Neto, Patriarca de Lisboa, recebeu o esquife. Depois de rezada uma missa, o corpo do Imperador foi colocado ao lado da imperatriz Thereza Christina, no pante�o da fam�lia Bragan�a.

No governo Epit�cio Pessoa, em 1920, foi revogado o decreto de banimento da fam�lia imperial, e no ano seguinte a bordo do encoura�ado S�o Paulo, da Marinha de Guerra, os restos mortais de D. Pedro II e de D. Thereza Christina foram trazidos para o Brasil. No ano de 1939, foram finalmente depositados em um t�mulo especialmente constru�do na catedral de Petr�polis, no estado do Rio de Janeiro, em solenidade presidida pelo ent�o presidente Get�lio Vargas.

*Ant�nio S�rgio Ribeiro, advogado e pesquisador. � diretor do Departamento de Documenta��o e Informa��o da ALESP.

O que aconteceu com a família real após o fim da monarquia?

Dos nove membros da família imperial originalmente exilados, somente dois retornaram vivos ao Brasil: Pedro de Alcântara e seu pai, Gastão, falecido no ano seguinte, a bordo do navio Massilia, a caminho do Brasil para a celebração do centenário da independência.

O que aconteceu a Dom Pedro segundo e sua família após a Proclamação da República?

Às 3h do dia 17 de novembro de 1889, um domingo, d. Pedro 2º e a família imperial deixaram o Rio de Janeiro de forma discreta, sem muitas testemunhas. A República, proclamada em um golpe no dia 15, havia determinado o exílio imediato dos Braganças, comunicado a eles por oficiais subalternos.

O que aconteceu com a família real brasileira?

Os Orleans e Bragança, que um dia foram a família real brasileira, deixaram o poder há mais de 125 anos e ainda militam pelo retorno ao regime, mesmo que na forma constitucional parlamentar, em que eles seriam somente chefes de Estado, sem tomar decisões de governo, como acontece na Inglaterra.

Onde está a família imperial brasileira?

Herdeiros do império que não existe mais ainda recolhem 2,5% do valor de venda de imóveis na cidade. A cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, é lembrada como residência da família imperial brasileira desde o século 19.