Limão nas axilas para de suar

Transpirar é algo normal e saudável para todos nós. Mas para a manicure Aremilda Conceição dos Santos, 32 anos, de Mogi das Cruzes, se tornou um verdadeiro pesadelo por muitos anos. Por causa da hiperidrose — doença que provoca suor excessivo em que a pessoa transpira até dormindo — ela passou anos sem usar roupas brancas ou pretas e chegou a jogar no lixo sutiãs por causa do mau cheiro. Aremilda evitava abraçar as pessoas e fazia sexo com o marido de camiseta.  

— O problema começou quando eu tinha uns 8, 10 anos, mas não tinha odor, eu só suava em excesso, podia encharcar a roupa, mas não tinha cheiro nenhum. Mas foi piorando na adolescência por causa dos hormônios. Depois, eu não abraçava as pessoas por cima, colocava papel toalha nas axilas, não usava roupa branca e nem preta.

Aremilda conta que, apesar de sua mãe ter a mesma condição, afirmava que o excesso de suor era “porquisse”.

— Teve até um dia, na época aos 13 anos, que ela entrou no banheiro com brutalidade e falou: “ É assim que limpa o sovaco” e pegou a bucha e esfregou até deixar em carne viva.

Vergonha do próprio marido

Por causa do suor excessivo e do mau cheiro, Aremilda revela ela e o marido tinham relações sexuais no banheiro.

— Muitas vezes, eu preferia ter relação no banheiro, porque se me empolgasse muito, o suor pingaria na cara dele, uma situação desconfortável. Ele respeitava e me compreendia muito. Às vezes também preferia fazer de camiseta, porque o suor ficava na blusa. Era ruim para mim, para todos.

Tentativas falhas e alternativas

Na luta para se livrar do excesso de suor, a manicure conta que tentou de tudo (ou quase). Nem amido de milho e limão ficaram de fora da lista da manicure.

— Eu suava muito e os desodorantes não seguravam, eles literalmente escorriam, pareciam uma pasta, podia ser 24h, 36h, 48h, não adiantava. No verão, eu chegava a tomar cinco banhos todos os dias. Eu limpava muito as minhas axilas, passei de tudo. Desde leite de rosa até limão. Usei leite de magnésio, amido de milho, álcool, limão, que empipocou e deixou minha axila escura. E nada ajudou, só piorava.

Além da diversidade de soluções caseiras, ela também criou algumas técnicas na hora de sair de casa, como evitar abraçar as pessoas ou abraçá-las com os braços abaixados. E também perdeu roupas e sofria muito preconceito. “É igual mau hálito, você sente o cheiro, mas não fala, o pessoal passa a mão no nariz disfarçando, respira para o lado fazendo cara feia”.

Gota d’água e o tratamento

O basta na situação e a busca pelo tratamento veio quando seu filho, na época, aos dois anos, disparou: “mamãe está fedendo”.

— Foi muito triste, mas para mim passou a impressão de que ele achava que eu era porca, que a mamãe era suja.

Após procurar uma dermatologista, a manicure passou por vários procedimentos. Recebeu indicações para sabonete e cremes até chegar 

Pouco depois de um mês, Aremilda passou pela cirurgia e, conta qual foi o sentimento de acordar e estar com as axilas secas.

— Acordei uma hora depois da cirurgia, e a primeira coisa que eu fiz foi passar a mão nas axilas e estavam sequinhas, fiquei tão alegre, só faltei chorar! Depois o médico veio perguntar como estava e eu disse “ eu estou ótima, estou ótima”. Depois da cirurgia foi maravilhoso! Depois de uns dias a primeira coisa que fiz foi sair para comprar um monte de blusas novas, de todas as cores. Joguei todas que tinha fora. Comprei sutiã também, porque todos estavam manchados. Minha autoestima aumentou. Me senti realizada, fiquei muito emocionada.

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O que é a hiperidrose?

A hiperidrose é uma doença comum que provoca a liberação exagerada de suor em qualquer parte do corpo, além da quantidade necessária para manter a temperatura corporal, explica Thais Sakuma, médica dermatologista do departamento de cosmiatria, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

— A transpiração ocorre em qualquer lugar do corpo, mas os lugares mais comuns são nas axilas, na palma da mão, na sola do pé e no rosto. Existem pessoas que soam mais em situações especificas, situação de nervoso, ansiedade, mas a pessoa que tem hiperidrose transpira independente disso, mesmo em repouso, em uma sala com ar condicionado, até dormindo.

A hiperidrose atinge homens e mulheres de todas as idades e costuma se manifestar ainda na infância e na adolescência. "Existem crianças que já tem dificuldade para segurar lápis na escola por causa do suor, que tem essa alteração e não sabe a causa".

O que causa?

A doença pode ser desenvolvida por uma pré-disposição genética associada a alterações endócrinas, como o hipertireoidismo, alterações neurológicas no centro regulador da temperatura (hipotálamo). Mas, na maioria dos casos, a causa é desconhecida, segundo Thais.

Diagnóstico e o impacto na vida

A médica explica que não existe um exame para diagnosticar o paciente, mas sim para verificar quanto a pessoa soa. E, geralmente, o paciente chega ao consultório com o próprio diagnóstico, porque começa a afetar a qualidade de vida dela.

— Limita o trabalho, limita a interação social, a atividade física, o lazer. 

Tratamentos

Apesar de não ter cura, é possível controlar a doença com tratamentos. Há opção com medicamentos em cremes que bloqueiam as glândulas sudoríparas. Porém, essa opção não resolve completamente para quem transpira muito, pois pode causar irritação na pele, ardência e não resolve para quem transpira muito.

Outra opção é aplicação da toxina botulínica, já que a substância reduz atividade das glândulas sudoríparas. Outra alternativa é a curetagem — em que se raspa e aspira a glândula. É um método mais duradouro que diminui o suor. Porém, é necessária anestesia local e o paciente precisa ficar um período afastado das atividades.

Um dos tratamentos também utilizados é a STE (simpatectomia torácica endoscópica) em que o nervo do paciente é desconectado.

— O paciente precisa passar por uma anestesia geral, após a cirurgia tem que ficar um período de recuperação e o procedimento causa um efeito colateral, que é a sudorese compensatória, resolve o suor excessivo na axila, mas a pessoa começa a transpirar em outras áreas.

*Raquel Gamba, estagiária do R7