Em quais estados do Brasil a Ginástica Artística teve seu desenvolvimento inicialmente

Introdu��o

    A Gin�stica sempre foi proposta como pr�tica corporal nos mais diferentes locais e per�odos hist�ricos. O termo Gin�stica veio ganhando diferentes defini��es de acordo com �pocas, culturas e interesses diversos (FIORIN, 2002). Em alguns momentos, chegou a designar toda e qualquer atividade f�sica sistematizada, abrangendo desde exerc�cios militares at� pr�ticas esportivas.

    No s�culo XIX, passou por um processo de sistematiza��o, denominado de Movimento Gin�stico Europeu, que objetivava romper seus v�nculos com pr�ticas populares, al�m de disciplinar a popula��o moral e fisicamente (SOARES, 2002). Deste processo, resultaram os M�todos Gin�sticos.

    Tais m�todos foram os precursores da gin�stica atual, assim como de diversas pr�ticas da Educa��o F�sica. Eles �[...] tiveram desenvolvimentos simult�neos, favorecendo a troca de informa��es entre os mesmos� (FIGUEIREDO; HUNGER, 2010, p.193) e criando uma rela��o bastante din�mica entre eles, na qual encontramos semelhan�as e diverg�ncias.

    Caracterizar os M�todos Gin�sticos oriundos do Movimento Gin�stico Europeu, relacionando-os, nos permite compreender a g�nese e estrutura��o da Gin�stica atual. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliogr�fica que, segundo Marconi e Lakatos (2002), coloca o pesquisador em contato direto com o material j� publicado em rela��o ao tema de estudo. A bibliografia consultada foi composta de livros, disserta��es, teses e artigos cient�ficos, publicados na �rea da Educa��o F�sica, sem delimita��o do per�odo de publica��o, em raz�o da escassez de material que abordasse o hist�rico e as caracter�sticas da Gin�stica, assim como foram priorizados os materiais pertencentes aos idiomas portugu�s, ingl�s e espanhol.

    Inicialmente foi feita uma leitura explorat�ria, que determinou qual material tinha relev�ncia para a pesquisa (GIL, 2010), seguida por uma leitura anal�tica que foi fundamental para a ordena��o das informa��es obtidas, de forma que viessem a responder os problemas da pesquisa (GIL, 2010).

    Os dados obtidos na an�lise do material foram utilizados para a constru��o de uma narrativa que caracteriza e estabelece uma rela��o entre os M�todos Gin�sticos e a Gin�stica atual.

O Movimento Gin�stico Europeu

    Na Europa, no s�culo XIX, era comum apresenta��es de ruas de fun�mbulos, acrobatas e artistas.

    Nos meios urbanos, s�o diferentes manifesta��es l�dicas de car�ter popular realizadas com base nas atividades circenses que se imp�em [...]. Suas apresenta��es aproveitavam dias de festas, feiras, mantendo uma tradi��o de representar e de apresentar-se nos lugares onde houvesse concentra��o de pessoas do povo. Artistas, estrangeiros, errantes. Situados no limite da marginalidade fascinavam as pessoas fincadas em vidas metrificadas e fixas. Eram ao mesmo tempo elementos de barb�rie e de civiliza��o nos lugares por onde passavam (SOARES, 2002, p. 24, 25).

    O grande fasc�nio gerado por tais exibi��es passou a ser motivo de apreens�o do Estado, �pois seu modo de ser e viver desafiava as institui��es, t�o caras � sociedade que as inventara de modo t�o profundo� (SOARES, 2002, p. 25). Desse modo, como rea��o a tais acontecimentos, surge o Movimento Gin�stico Europeu, um processo de sistematiza��o da Gin�stica, com o intuito de moralizar os indiv�duos e a sociedade.

    Embasado nas ci�ncias biol�gicas e influenciado pela Revolu��o Industrial em ascens�o, difundia o higienismo e trazia como princ�pios a utilidade dos gestos e economia de energia. De car�ter disciplinador, ordenativo e met�dico, exigia o afastamento de seus v�nculos populares, do uso do corpo como simples entretenimento. Surgia a� a chamada Gin�stica Cient�fica que deu origem aos M�todos Gin�sticos (SOARES, 2002).

    �Estes m�todos foram sistematiza��es criadas por m�dicos, pedagogos ou militares que tentavam organizar a pr�tica das atividades f�sicas� (FIORIN, 2002, p. 25-26). Tinham em comum a valoriza��o da sa�de por meio da pr�tica regular de exerc�cios f�sicos associados � transmiss�o de preceitos sociais extremamente patri�ticos, e se diferenciavam por serem espec�ficos �s necessidades de suas popula��es.

    A ascens�o destes M�todos se difundiu por toda a Europa, dotada de um sentimento nacionalista como forma de causar melhorias f�sicas aos jovens que enfrentariam as guerras da �poca, bem como melhorias �tnico-raciais � na��o (FIGUEIREDO; HUNGER, 2010, p.193).

    Encontramos aqui quatro principais escolas: A Escola Alem�, A Escola Sueca, A Escola Francesa e a Escola Inglesa. As tr�s primeiras serviram de suporte para o surgimento dos principais m�todos gin�sticos, o que resultou nos tr�s grandes movimentos gin�sticos da Europa: o Movimento do Oeste na Fran�a, o Movimento do Centro na Alemanha, �ustria e Su��a e o Movimento do Norte englobando os pa�ses da Escandin�via; enquanto que a Escola Inglesa voltou-se para as atividades desportivas (SOUZA, 1997).

    Como o foco de estudo desse trabalho � a Gin�stica, nos aprofundaremos apenas nas tr�s primeiras escolas e seus respectivos m�todos.

A Escola Alem�

    De car�ter extremamente nacionalista, a gin�stica surge na Alemanha com o objetivo de preparar os corpos para a defesa da p�tria, uma vez que esse pa�s ainda n�o havia conquistado sua unidade territorial e vivia sob a constante amea�a de guerras. �Era preciso, portanto, criar um forte esp�rito nacionalista para atingir a unidade, a qual seria conseguida com homens e mulheres fortes, robustos e saud�veis� (SOARES, 2002, p.53). Para tanto, seus idealizadores apoiaram-se nas ci�ncias biol�gicas, para desenvolver seus m�todos.

    Em 1760, inspirado nas doutrinas pedag�gicas de Jean Jacques Rousseau (1712-1778) e John Locke (1632-1704), Johann Bernard Basedow (1723-1790) iniciou um processo de estrutura��o, denominado M�todo Alem�o, que posteriormente atingiu o �pice com os trabalhos de Johann Christoph Friedrich Guts-Muths (1759-1839), Adolph Spiess (1810-18540 e Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852). Guts-Muths foi considerado o Pai da Gin�stica Pedag�gica. Para ele, deveria ser organizada pelo Estado e ministrada todos os dias e para todos. Spiess preocupou-se com a inser��o da gin�stica nas escolas e procurou coloc�-la no mesmo plano das demais disciplinas escolares. Jahn, principal respons�vel pela dissemina��o do m�todo entre a popula��o, trouxe ao seu sistema o car�ter militarista e extremamente patri�tico, chegando a criar termos pr�prios, como por exemplo a palavra �Turnen� que significa gin�stica (RAMOS, 1982).

    Os exerc�cios tinham objetivos que transcendiam a forma f�sica. �O turnen tamb�m tinha um exerc�cio moral: alcan�ar autoconfian�a, autodisciplina, independ�ncia, lealdade, e obedi�ncia. Essas eram as metas a serem atingidas por meio de atividades completas e informais� (PUBLIO, 2005, p. 17).

    Os exerc�cios gin�sticos, coordenados paulatinamente, foram grupados em dezessete fam�lias: marchar, correr, saltar, tomar impulso (no cavalete e no cavalo), equilibrar, exerc�cios de barra, exerc�cios de paralela, trepar, arremessar, puxar, empurrar, levantar, transportar, esticar, lutar bra�o a bra�o, saltar arco e pular corda. [...] Al�m dos exerc�cios citados, quando as atividades podiam ser realizadas ao ar livre, a nata��o, a marcha, a equita��o, a esgrima, a luta e os exerc�cios b�licos eram previstos nos programas. A corrida, o arremesso e o salto realizados sob variadas formas constitu�am, com suas pr�ticas, verdadeira escola de atletismo (RAMOS, 1982, p. 188).

    Tamb�m derivado da Escola Alem� temos o M�todo Natural Austr�aco. Em 1926, ap�s o desmembramento do imp�rio provocado pela Primeira Grande Guerra (1914-1918), iniciou-se uma grande reforma com o intuito de regenerar f�sica e moralmente a juventude por meio dos exerc�cios f�sicos (MARINHO, S/D). Desenvolvido em um pa�s formado por v�rios povos, com diversas l�nguas, costumes e h�bitos, tal m�todo de gin�stica sofreu bastante influ�ncia dos m�todos j� existentes, gerando correntes de pensamentos que se diferenciavam em movimentos gin�sticos independentes.

    Buscando ser uma oposi��o ao M�todo Alem�o, dominado por exerc�cios violentos em aparelhos, o sistema austr�aco foi uma varia��o original de ideias interessantes, mais das ci�ncias m�dicas do que pedag�gicas. Sua maior qualidade consistia no fato de buscar ser interessante para as crian�as e incentivar a juventude a manter uma postura correta, despertando uma consci�ncia higi�nica e o desejo de cuidar do corpo para alcan�ar a sa�de. Entretanto, errou pela aus�ncia de condi��es de execu��o e pela falta de controle de intensidade, esquecendo a influ�ncia educativa e formativa dos exerc�cios f�sicos. Seus principais idealizadores foram Margarete Streicher e Karl Gaulhofer. Margarete esfor�ou-se para levar �s escolas uma gin�stica �natural�, com aplica��o de higiene (MARINHO, S/D).

    Considerando as formas de exerc�cios naturais, Gaulhofer aconselha o seguinte: 1) � respirar, andar, sentar, levantar, rodar, saltar; 2.�) � correr, trepar, carregar, jogar, suspender-se; equilibrar-se, e outros atos do trabalho humano; 3�) � movimentos executados em atitudes dos trabalhos ou nas da vida habitual, seja de p�, ajoelhado, acocorado, ou sentado; 4�) � provas para vencer obst�culos ou resist�ncias, 5�) � exterioriza��o dos conhecimentos adquiridos: art�sticos ou acrob�ticos; 6�) � exerc�cios fundamentais de aplica��o: balan�ar-se, levantar-se, carregar, atirar, empurrar, trepar, lutar; 7�) � jogos e esportes, passeios, auto-defesa, nata��o e outros exerc�cios em grupo (MARINHO, S/D, p. 407)

    Vemos que ambos os m�todos surgiram a partir de necessidades militares. Formar indiv�duos aptos a defender a p�tria era imperativo para essas sociedades, para isso, al�m de fortalecer seus corpos era necess�rio despertar o esp�rito nacionalista, atribuindo um aspecto moral aos exerc�cios f�sicos.

    Ou seja, a Escola Alem� se baseou nas ci�ncias biol�gicas para transformar a gin�stica em um meio de educa��o em massa capaz de atender �s necessidades do Estado. Caracter�stica tamb�m encontrada nas demais escolas, mas o que as diferencia s�o seus distintos anseios.

    A Escola Alem� resultou na modalidade competitiva atual Gin�stica Art�stica (PUBLIO, 2005) e �foi a base para a estrutura��o da �Gin�stica Moderna�, que � a atual Gin�stica R�tmica� (FIORIN, 2002, p.27).

A Escola Sueca

    Idealizada por Pehr Henrick Ling (1776�1839), a gin�stica sueca surgiu com a finalidade de extirpar os v�cios da sociedade, em especial o alcoolismo. Com a miss�o de regenerar a popula��o, possu�a um car�ter n�o acentuadamente militar, mas sim �pedag�gico� e �social�. Deveria gerar indiv�duos fortes que pudessem ser �teis � p�tria, como soldados ou trabalhadores civis (SOARES, 2004).

    Ling acreditava que seu m�todo assegurava a sa�de, por ser essencialmente respirat�rio, e a beleza, por seus efeitos corretivos e ortop�dicos. Por isso, o destinou a todos, independente de sexo, idade ou condi��es materiais e sociais, dividindo-o em quatros partes: Gin�stica Pedag�gica ou Educativa � para todas as pessoas, tinha como objetivo assegurar a sa�de, evitar a instala��o de doen�as, v�cios e defeitos posturais e desenvolver normalmente o indiv�duo; Gin�stica Militar- com as mesmas caracter�sticas da pedag�gica, acrescentando os exerc�cios de prepara��o para a guerra; Gin�stica M�dica e Ortop�dica � tamb�m baseada na pedag�gica, objetivava eliminar v�cios e defeitos posturais, sendo espec�fica para cada caso; Gin�stica Est�tica � mais uma vez apoiada na pedag�gica buscou o desenvolvimento harmonioso do organismo, utilizando-se da dan�a e de movimentos suaves para proporcionar beleza e gra�a ao corpo (MARINHO, S/D).

    Levando em considera��o os princ�pios estabelecidos dentro das ci�ncias biol�gicas, Ling criou exerc�cios livres sem aparelhos, de execu��o f�cil e est�tica, al�m de saltos no cavalo, cambalhotas, jogos gin�sticos, patina��o e esgrima. Tudo associado a cantos alegres e disciplina militar (RAMOS, 1982).

    Uma sess�o de exerc�cios livres era composta da seguinte forma:

1�- Exerc�cios de ordem

2� - Exerc�cios de pernas ou movimentos preparat�rios formando uma pequena s�rie; [...]

3� - Extens�o da coluna vertebral;

4� - Suspens�es simples e f�ceis;

5�- Equil�brio;

6� - Passo gin�stico ou marcha;

7�- Movimentos dos m�sculos dorsais;

8� - Movimentos m�sculos abdominais;

9� - Movimentos laterais de tronco;

10� - Movimentos de pernas;

11� - Suspens�es mais intensas que as do n� 4;

12� - Marchas ou movimentos de pernas, executados mais rapidamente que os outros para preparar saltos;

13� - Saltos;

14� - Movimentos de pernas;

15� - Movimentos respirat�rios (MARINHO, S/D, p. 188).

    �A extens�o do movimento n�o ficou na Su�cia, estendeu-se com entusiasmo por todo o mundo, principalmente aos demais pa�ses n�rdicos � Dinamarca, Noruega e Finl�ndia� (RAMOS, 1982, p. 211). Na Dinamarca, o M�todo Sueco, foi chamado de Gin�stica Racional por ser fundamentado e consciente de seu objetivo. Entretanto, foi considerado inapto para as necessidades e interesses da juventude dinamarquesa por ser composto por posi��es r�gidas (MARINHO, S/D). �N�o � necess�rio modificar o fundamento nem o objetivo da Gin�stica b�sica, mas � o emprego dos meios que deve ser levado a um terreno mais firme� (BUKH, 1939 apud MARINHO, S/D, p.198).

    Surge ent�o a Gin�stica B�sica Dinamarquesa, idealizada por Niels Bukh. �O Professor Niels Illeris, ao fazer uma diferen�a entre a Gin�stica Sueca e a Gin�stica Dinamarquesa, diz que a primeira � uma Gin�stica de posi��es e a segunda uma Gin�stica de Movimento� (MARINHO, S/D, p. 201).

    Assim como Ling, Bukh preocupou-se muito com a postura. Os exerc�cios deveriam ser diferentes para homens e mulheres e voltados para a corre��o de defeitos posturais oriundos do trabalho.

    Marinho (S/D, p. 206-08) traz alguns exerc�cios propostos por Bukh:

    extens�o lateral das pernas em posi��o acocorada nas pontas dos p�s, com as m�os apoiadas no solo; separa��o e extens�o das pernas em posi��o acocorada nas pontas dos p�s, apoiando as m�os no solo; flex�o unilateral lenta e profunda dos joelhos, em posi��o vertical com as pernas abertas e em colabora��o com um companheiro; tors�o do tronco com movimento unilateral de bra�o para fora em posi��o vertical com o tronco inclinado para a frente, as pernas abertas e os bra�os flexionados horizontalmente � altura dos ombros.

    Tamb�m inspirada na Gin�stica Sueca de Ling, temos a Calistenia. Para Silva (S/D), a Calistenia n�o � um sistema pr�prio de gin�stica, mas sim uma s�rie de exerc�cios gin�sticos localizados, com fins corretivos, fisiol�gicos e pedag�gicos, que pode integrar perfeitamente qualquer sistema gin�stico. Por estar em constante evolu��o teria grande vantagem sobre os sistemas cl�ssicos.

    A Calistenia trouxe caracter�sticas nunca antes abordadas. Examinando os dois sistemas mais difundidos, o sueco e o alem�o, educadores suecos chegaram � conclus�o de que ambos eram pobres no que se tratava de elementos psicol�gicos. Por isso, inseriram a m�sica na pr�tica da gin�stica, por considerarem que ela incentivava o movimento, evitando a monotonia e contribuindo para a educa��o dos sistemas psicomotor e neuromuscular (SILVA, S/D).

    Ainda preocupados com os aspectos psicol�gicos, buscavam a varia��o dos exerc�cios. �O professor deve estar municiado de uma quantidade bastante grande de exerc�cios a fim de n�o repeti-los com muita frequ�ncia. A varia��o � um elemento importante, pois al�m do lado psicol�gico, influi, tamb�m fisiologicamente� (SILVA, S/D, p. 27).

    Objetivando melhorar a forma f�sica da popula��o, foi introduzida nas escolas americanas em 1860 por Dio Lewis (MARINHO, S/D). �[...] era dedicado ao homem gordo, ao homem fraco ou enfermi�o, aos jovens e �s mulheres de todas as idades � as classes que mais necessitavam de treinamento f�sico. [...] N�o havia ningu�m, nem nenhum sistema que tivesse contemplado estes [...]� (MARINHO, S/D, p. 265). Por fim, deveria ser uma gin�stica simples, fundamentada na ci�ncia e cativante (MARINHO, S/D).

    Os exerc�cios calist�nicos foram divididos em oito grupos: �de bra�os e pernas;

    para a regi�o p�stero-superior do tronco (parte superior da esp�dua); para a regi�o p�stero-inferios do tronco (parte inferior da esp�dua); para a regi�o lateral do tronco (laterais); de equil�brio;gerais de ombros e esp�duas (Wood) ou gerais de esp�duas e ombros (Skartrom); Saltos e corridas (Skarstrom) ou sufocantes (Wood)� (MARINHO, S/D, p. 268).

    Ao analisarmos o M�todo Sueco e a Calistenia, percebemos que tal escola voltou-se para a sa�de, f�sica e mental, da popula��o, possuindo muito mais o car�ter m�dico e pedag�gico do que militar.

    Esse vi�s m�dico trouxe conceitos para as Gin�sticas Fisioter�picas de SOUZA (1997), al�m do fato de seu grande evento em homenagem ao seu idealizador Per H. Ling servir de inspira��o para a Gymnaestrada, principal manifesta��o da Gin�stica Geral (FIORIN, 2002).

A Escola Francesa

    A Gin�stica na Fran�a baseou-se nas id�ias dos alem�es Jahn e Guts Muths e, apresentava al�m do car�ter moral e patri�tico, uma preocupa��o com o desenvolvimento social. Objetivava formar o homem �completo e universal�, sem desvincular-se do utilitarismo, t�o abordado pela gin�stica cient�fica, buscando o desenvolvimento da for�a f�sica, da destreza, agilidade e resist�ncia (SOARES, 2004).

    Para Ramos (1982), esse movimento teve como principais representantes o M�todo Franc�s desenvolvido por D. Francisco de Amoros e Ondea�o (1770-1848), George Demeny (1850-1917) e o M�todo Natural pensado por H�bert (1875- 1957).

    Inspirado em Pestalozzi, Amoros negou veementemente toda e qualquer forma de empiria, seus exerc�cios eram completamente explicados por enunciados cient�ficos, comprovando a rela��o existente entre a sua gin�stica, a sa�de da popula��o e a t�o desejada utilidade dos gestos (SOARES, 2002). �Admitia no sistema tr�s tipos de gin�stica: civil, militar e m�dica. Condenava o funambulismo, que no dizer de Amor�s, come�a onde a utilidade do exerc�cio cessa� (RAMOS, 1982, p.219).

    Demeny, discordando do m�todo sueco de Ling, prop�s exerc�cios gin�sticos completos, arredondados e cont�nuos (RAMOS, 1982). Voltou-se para a sa�de da mulher, combatendo �h�bitos elegantes�, tais como cintas, salto alto, porta-seios; condenava os meios de sustenta��o artificiais (SOARES, 2004).

    �O m�todo (Franc�s) para alcan�ar os seus objetivos preconiza sete formas de trabalho: jogos, flexionamentos, exerc�cios educativos, exerc�cios m�micos, aplica��es, desportos individuais e coletivos� (RAMOS, 1982, p. 222). Marinho (S/D) descreve a abordagem de exerc�cios de marcha, corrida, salto, lan�amentos, lutas, esgrima, utiliza��o de pesos e halteres, gin�stica de aparelhos, remo, ciclismo, nata��o e salvamento e desportos coletivos.

    O M�todo Franc�s, oriundo da Escola Francesa, foi adotado em todos os estabelecimentos de ensino brasileiros em 1929 (SOARES, 2002), e trouxe as propostas pedag�gicas que embasaram a Educa��o F�sica escolar brasileira no per�odo republicano (RESENDE, SOARES e MOURA, 2009).

    A Escola Francesa inclui ainda a obra de Georges H�bert. O chamado M�todo Natural de H�bert repudia todas as formas de exerc�cios anal�ticos, artificiais ou formais, conhecidos sob a denomina��o de gin�stica. Pretendia �utilizar os gestos de nossa esp�cie para adquirir o desenvolvimento f�sico completo [...], al�m de atender �s dificuldades inerentes � vida moderna, particularmente � falta de tempo e � falta de espa�o� (MARINHO, S/D, p. 122).

    Encontram- se nesse programa caracter�sticas naturistas: resist�ncia corporal ao frio, endurecimento, utiliza��o do meio natural como terreno de exerc�cio, exerc�cios utilit�rios, nudez controlada. Todo o trabalho toma por base a utilidade das a��es e representa um retorno � natureza adaptado � vida urbana moderna e concernente �s atividades pr�ticas da vida em sociedade (H�bert, 1941a apud SOARES, 2003, p. 26).

    Privilegiava a natureza e a qualidade do trabalho em detrimento da qualidade de execu��o. Classificou os exerc�cios em 10 grupos fundamentais de acordo com as fun��es �teis da vida cotidiana. Sendo eles: a marcha, a corrida, o salto, o movimento quadr�pede, a escalada, o equil�brio, o arremesso, o levantar, a defesa e a nata��o. Os treinos deveriam ser ao ar livre para submeter o corpo �s diferentes temperaturas, tinha a corrida como elemento base e cada um deveria trabalhar no seu ritmo e capacidade (MARINHO, S/D).

    O que H�bert deseja � aumentar as resist�ncias org�nicas, real�ar as aptid�es para a execu��o de exerc�cios naturais e utilit�rios (os seus 10 grupos) e, sobretudo, desenvolver a energia, a qualidade de a��o, a virilidade, para ent�o subordinar esse conjunto de qualidades f�sicas bem treinadas a uma moral altru�sta, f�sica, inclusive (SOARES, 2003, p. 28).

    Notamos que os m�todos, apesar de espec�ficos ao seu p�blico, se relacionam e se influenciam.

    Desse ponto de vista, os �m�todos de gin�stica� at� agora por n�s discutidos assemelham-se. Diferenciam-se apenas na forma, umas mais anal�ticas, outras mais sint�ticas. Todavia, o conte�do anatomofisiol�gico ditado pela �ci�ncia�, constitui o n�cleo central das distintas propostas, al�m do que, � claro, a moral da classe, o culto ao esfor�o (individual), a disciplina, obedi�ncia... ordem, adapta��o, forma��o de h�bitos [...] (SOARES, 2004, p 67).

    E al�m de atender aos objetivos do Estado no s�culo XIX, serviram de suporte para a estrutura��o da Gin�stica atual.

Conclus�o

    Surgindo de uma necessidade do Estado, o Movimento Gin�stico Europeu reformulou a sociedade europeia, difundindo preceitos higienistas, nacionalistas, pedag�gicos e morais por meio da pr�tica da Gin�stica. Os m�todos resultantes desse processo compartilhavam caracter�sticas b�sicas, mas buscavam ser espec�ficos aos interesses de cada na��o, chegando a discordarem em alguns aspectos.

    Essa rela��o ocorreu de forma bastante din�mica e trouxe uma rica diversidade de pr�ticas e conceitos, o que resultou n�o apenas na estrutura��o e sistematiza��o da Gin�stica no s�culo XIX, mas tamb�m nas origens da Gin�stica Atual. Dessa forma, buscou-se caracterizar e relacionar tais m�todos, a fim de compreender a g�nese da Gin�stica como a conhecemos hoje.

    Das quatro Escolas criadas no Movimento Gin�stico Europeu: Alem�, Sueca, Francesa e Inglesa; apenas as tr�s primeiras influenciaram as pr�ticas g�mnicas. A Escola Alem�, de car�ter essencialmente militarista, abrangeu os m�todos Alem�o e Natural Austr�aco; a Sueca possu�a um vi�s m�dico, de onde surgiram os m�todos Sueco, Dinamarqu�s e a Calistenia; e a Escola Francesa trazia aspectos mais acentuadamente pedag�gicos e foi composta pelos m�todos Franc�s e Natural de H�bert.

    A escola Alem� influenciou diretamente a modalidade competitiva Gin�stica Art�stica e indiretamente a Gin�stica R�tmica. A Escola Sueca j� abordava os conceitos das Gin�sticas Fisioter�picas de Souza (1997) e serviu de inspira��o para a Gin�stica Geral. E a Escola Francesa auxiliou o desenvolvimento da Educa��o F�sica escolar.

    Apesar da escassez de material que abordasse o hist�rico da Gin�stica e do Movimento Gin�stico Europeu, conseguimos identificar suas caracter�sticas principais e relacionar suas diversas metodologias, encontrando, nas mesmas, as ra�zes de manifesta��es g�mnicas atuais. O que comprova a relev�ncia do conhecimento desse per�odo que trouxe tantas contribui��es n�o apenas para a Gin�stica, mas tamb�m para a Educa��o F�sica.

Refer�ncias

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  • FIORIN, C. M. A gin�stica em Campinas: suas formas de express�o da d�cada de 20 a d�cada de 70. 2002. 173f. Disserta��o (Mestrado em Educa��o F�sica) - Faculdade de Educa��o F�sica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.

  • GIL, A. C. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 5ed. S�o Paulo: Atlas, 2010.

  • MARCONI, M. de A; LAKATOS, E. M. T�cnicas de Pesquisa. 5 ed. S�o Paulo: Atlas, 2002.

  • MARINHO, I. P. Sistemas e M�todos da Educa��o F�sica: recrea��o e jogos. 4� ed. S�o Paulo: Cia Brasil, 1958.

  • PUBLIO, N. S. Origem da Gin�stica Ol�mpica. In:_____. Compreendendo a Gin�stica Art�stica. 1 ed. S�o Paulo: Phorte, 2005.

  • RAMOS, J. J. Os exerc�cios f�sicos na hist�ria e na arte. 1 ed. S�o Paulo: Ibrasa, 1982.

  • SILVA, N. P. Gin�stica Moderna com M�sica (Calistenia). 2 ed. S�o Paulo: Cia Brasil Editora, [19--].

  • SOARES, C. L. Educa��o F�sica: Ra�zes europeias e Brasil. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2004.

  • SOARES, C. L. Imagens da Educa��o no Corpo: Estudo a partir da gin�stica francesa no s�culo XIX. 2ed. Campinas: Autores Associados, 2002.

  • SOUZA, E. P. M. de. Gin�stica Geral: uma �rea do conhecimento da Educa��o F�sica. 1997. 163f. Tese (Doutorado em Educa��o F�sica) - Faculdade de Educa��o F�sica da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997.

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Em qual Estado do Brasil a ginástica artística teve seu desenvolvimento inicialmente?

A ginástica artística chega ao Brasil em finais do século XIX. Trazidos por imigrantes europeus, foi nos Estados da região do sul que ela teve início. Em 1858 foi fundada em Santa Catarina a Sociedade de Ginástica de Joinville.

Quais estados brasileiros iniciam a ginástica artística?

A partir daí, a ginástica, filiou-se à Confederação Brasileira de Desportos – CBD e, em 1950, houve a primeira competição nacional de ginástica olímpica, com os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, que eram os mais adeptos ao esporte.

Qual o país onde a ginástica teve início?

A ginástica é um esporte que envolve a prática de uma série de movimentos que requer força, flexibilidade e coordenação motora. Desenvolveu-se na Grécia Antiga, a partir dos exercícios físicos feitos pelos soldados, incluindo habilidades para montar e desmontar um cavalo.

Como e onde surgiu a ginástica?

A ginástica surgiu na Grécia Antiga. Os gregos tinham o hábito de praticar vários exercícios, como forma de cultuar o corpo e como preparação militar. A palavra ginástica tem origem grega, e o seu significado decorre da sua prática entre os gregos.