Diferencie o esporte de aventura na natureza do esporte radical urbano

Diferencie o esporte de aventura na natureza do esporte radical urbano
Diferencie o esporte de aventura na natureza do esporte radical urbano

Esportes radicais: uma abordagem hist�rica e antropol�gica

Deportes extremos: un abordaje hist�rico y antropol�gico

Diferencie o esporte de aventura na natureza do esporte radical urbano

 

*Graduando em Ci�ncias da Atividade F�sica

**Prof. Dr. Universidade de S�o Paulo

***Graduando em Ci�ncias da Atividade F�sica

****Graduando em Ci�ncias da Atividade F�sica

NAP � N�cleo de Pesquisa Pr�-Reitoria de Pesquisa USP � LUDENS

(Brasil)

Eduardo Mosna Xavier*

Marco Antonio Bettine de Almeida**

William Galhardo***

Felipe Paris Barbosa****

 

Resumo

          Uma an�lise dos Esportes de Aventura como uma importante alternativa de restabelecer o j� afastado contato do Ser Humano com a Natureza. Atrav�s da pesquisa bibliogr�fica de autores e obras do g�nero, situar um estudo sobre os efeitos dos Esportes de Aventura na Forma��o das Tribos e como um mecanismo de escape ao Processo Civilizador.

          Unitermos:

Esportes. Aventura. Natureza. Tribos. Processo civilizador.

Abstract

          An analysis about the Adventure Sports like a important alternative to reestablish the already apart contact between The Nature and the Human Being. Above bibliographic research of authors and works, to place a study about the effects of the Sports Adventures in the �Tribes� Formation and how a mechanism of escape in Civilization Process.

          Keywords:

Sports. Adventure. Nature. Tribes. Civilization process.  
Diferencie o esporte de aventura na natureza do esporte radical urbano
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - A�o 16 - N� 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

Diferencie o esporte de aventura na natureza do esporte radical urbano

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Introdu��o

    O Ser Humano � um animal social. Desde os prim�rdios se diferenciou dos demais seres vivos n�o apenas por suas habilidades manuais, mas tamb�m por sua capacidade de estabelecer contatos e v�nculos com os demais seres de sua ra�a.

    Os primeiros v�nculos rela��es sociais se estabeleceram num cen�rio extremamente favor�vel, qual seja, em contato com a Natureza. Os prim�rdios da evolu��o humana ocorreram num cen�rio introjetados no seio do mundo natural, em contato direto com outros animais (inclusive disputando espa�o para a sobreviv�ncia).

    Com o passar dos anos e o transcorrer da evolu��o, os relacionamentos sociais produziram uma evolu��o que tendeu � afastar o Homem do conv�vio com a Natureza. A complexa teia de relacionamentos elaborados pelo ser humano conduziu a Humanidade a se tornar extremamente dependente, segundo Emile Durkheim (1973, p. 124), do chamado �Fato Social� (maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indiv�duo e dotadas de um poder coercitivo em virtude do qual se imp�e como uma esp�cie de obriga��o).

    Este tipo de evolu��o, denominado por Norbert Elias como �Processo Civilizador�, gerou uma acelerada etapa de urbaniza��o, principalmente nos 03 �ltimos s�culos, afastando vertiginosamente o Homem do conv�vio mais pr�ximo da Natureza. Realmente, o impulso em diversas camadas evolutivas alcan�adas em nossa sociedade atual � consider�vel: crescimento constante no padr�o de vida, revolu��o no campo da medicina, conhecimentos inumer�veis em diversas �reas s�o provas dos benef�cios da sociedade urbanizada.

    Entretanto, os problemas atuais decorrentes deste processo evolutivo tamb�m atingem uma magnitude consider�vel. Doen�as de todo g�nero surgem em velocidade alarmante, a desigualdade econ�mica entre as inter e intra Na��es tamb�m merecem destaque. Por�m, do ponto de vista sociol�gico, um dos principais problemas encontrados em nossa Sociedade tecnol�gica seja o Isolacionismo (aus�ncia de contatos sociais): a rotina e a exig�ncia de nosso mundo globalizada for�am o homem a se afastar do conv�vio com outros seres humanos, perdendo a principal caracter�stica que propiciou todas suas conquistas. Nas palavras do soci�logo Karl Mannheim, �a timidez, o preconceito e a desconfian�a s�o capazes de produzir um isolamento social semelhante ao ocasionado pelos defeitos f�sicos�.

    O Isolacionismo deve ser combatido atrav�s do estabelecimento dos chamados �Contatos Sociais�, base de toda e qualquer associa��o humana. Segundo OLIVEIRA (1997, p.117), estas esp�cies de rela��es se hierarquirizam conforme o estreitamento ocasionando pela conviv�ncia no momento da pr�tica: �Os contatos sociais podem ser prim�rios (estabelecimento de v�nculos, com � o caso das fam�lias) ou secund�rio (mera tor�a de informa��es ou de fatos (como um conversa entre passageiros de um �nibus)�.

    Este trabalho tem como escopo analisar os benef�cios proporcionados pelos Esportes de Aventura no estabelecimento de contatos sociais, proporcionando uma importante Atividade de Lazer nesta sociedade altamente urbanizada. Entretanto, ficar� evidente a interfer�ncia cada vez mais crescente do �Processo Civilizador�, deturpando os objetivos mais prof�cuos do desenvolvimento destas atividades, qual seja, o redescobrimento do pr�prio homem atrav�s do contato direto com a Natureza, surgindo os chamados �Esportes de Aventura�, onde a presen�a da natureza funcionaria como pano de fundo para que o ser humano, num ambiente prop�cio, descarrega-se todas as tens�es provenientes do exaustivo �Processo Civilizador�.

    Entretanto, como veremos neste trabalho, os Esportes de Aventura sofrem uma barreira significativa para sua expans�o: n�o possuem modalidades ol�mpicas que englobem todas suas pr�ticas. Com exce��o do bicicross (modalidade ol�mpica desde as Olimp�adas de Atenas, em 2000), os outros Esportes de Aventura dependem de Comit�s e Associa��es espec�ficas para organizar competi��es, restringindo conseq�entemente a visibilidade midi�tica, apesar de UVINHA (2001, p.67) estabelecer que os tipos de grupos sociais formados pela pr�tica dos Esportes Radicais contribu�rem sobremaneira para propiciar um mercado lucrativo, de alta visibilidade mercadol�gica.

O surgimento dos esportes de aventura

    No Brasil, os Esportes de Aventura, conhecidos comumente como Esportes Radicais, come�aram a ganhar for�a de participa��o e visibilidade midi�tica a partir da d�cada de 1980 e, segundo UVINHA (2001, p. 13) este estilo de pr�tica esportiva se encontra em franca expans�o, pois �desde a segunda metade do s�culo XX, os Esportes Radicais, vem recebendo um consider�vel incremento no n�mero de adeptos�.

    Em busca de restabelecer os contatos sociais, o Ser Humano resolveu retornar de volta em suas origens, buscando entender novamente a import�ncia do conv�vio social para uma evolu��o mais ben�fica � humanidade. Nesta tentativa de retorno ao in�cio, destacou-se novamente uma pe�a chave doravante esquecida: a Natureza. Diversos segmentos de nossa sociedade buscam o restabelecimento do contato com a Natureza como uma forma de se garantir uma melhor qualidade de vida e melhores v�nculos sociais. Cito como exemplo a �rea de Lazer e Turismo, onde os Hot�is, Pousadas e Resorts localizados imersos em Matas s�o cada vez mais procurados.

    Este importante processo de busca da natureza tamb�m causou um importante reflexo na �rea Esportiva. O crescimento vertiginoso dos Esportes e Atividades F�sicas de contato com a Natureza, conhecidos comumente como �Esportes de Aventura�, apresentou um importante crescimento a partir da d�cada de 1970. Esta impuls�o gerou, inclusive, regulamenta��es de procedimentos atrav�s da Cria��o de Associa��es Internacionais, organiza��o de jogos e eventos, al�m de explora��o de mercado; demonstrando uma preocupante interfer�ncia direta do j� citado �Processo Civilizador� nesta �rea.

    Cabe salientar que os Esportes de Aventura possuem um grande n�mero de adeptos na fase et�ria da juventude (dos 18 aos 30 anos). A busca pela emo��o e o fen�meno da populariza��o da tem�tica �Radical� na pr�tica dos Esportes possui um significativo crescimento nas �ltimas d�cadas, gerando repercuss�es para esta faixa et�ria que merecem reflex�o do ponto de vista antropol�gico. Entretanto, este esp�rito jovial dos esportes de aventura n�o corresponde necessariamente com a idade biol�gica do indiv�duo. Segundo BOURDIEU (1983, p. 56), as diferen�as entre os tipos de idade s�o as mais diversas e significativas poss�veis: �As rela��es entre a idade social e a idade biol�gica s�o muito complexas, onde a idade � um dado biol�gico socialmente manipulado e manipul�vel�.

    A velocidade de cria��o de novos Esportes Radicais no mundo gera um mercado extremamente lucrativo para este tipo de atividade. Neste cap�tulo, ser�o analisados os Esportes de Aventura mais praticados no Brasil, sob sua perspectiva hist�rica, forma de pr�tica e, conseq�entemente, suas inser��es sociol�gicas e antropol�gicas no contexto de nossa sociedade atual

    Podemos citar os seguintes esportes radicais: Escalada (� um esporte que engloba caminhada e escalada em montanhas), Surfe (um dos esportes radicais mais antigos, surgiu no Hava�/EUA no in�cio do s�culo XX), Rapel (do franc�s: rappel, � uma atividade vertical praticada com uso de cordas e equipamentos adequados para a descida de pared�es e v�os livres bem como outras edifica��es), Skate (pronuncia-se �sk�it�, � um desporto inventado na Calif�rnia que consiste em deslizar sobre o solo e obst�culos equilibrando-se numa prancha, dotada de quatro pequenas rodas e dois eixos), Corrida de Aventura (tamb�m denominada de competi��es multi esportivas, s�o pr�ticas que envolvem v�rias modalidades de esportes de aventura. em geral s�o realizadas em ambiente natural e t�m como caracter�stica uma log�stica complexa, tanto na organiza��o dos eventos como na forma��o e prepara��o das equipes de atletas), entre outras modalidades.

A interfer�ncia do processo civilizador nos esportes de aventura: o esp�rito competitivo e o afastamento da ludicidade.

    Os Esportes de Aventura evolu�ram sobremaneira nos �ltimos 30 anos de nossa Hist�ria, sendo considerados como �modernos�. Segundo GUTTMANN (1978), os Esportes modernos possuem como v�rias caracter�sticas que o afastam de seus objetivos l�dicos: �O secularismo, a igualdade de oportunidades na competi��o e em suas condi��es, a especializa��o de regras, a racionaliza��o possibilitando sua internacionaliza��o, a organiza��o burocr�tica, o impulso para a quantifica��o e a busca de recordes�.

    Esta vis�o recente sobre a abordagem interpretativa do Esporte segue a chamada Escola de Frankfurt. Sobre esta sistem�tica de entendimento do Esporte, INGHAM (1979, p. 23) preconiza uma cis�o sobre as modalidades esportivas, com �nfase na mudan�a de seus objetivos e prop�sitos, pois �um modelo de tipo ideal do esporte organizado, pensado em dois momentos hist�ricos distintos, um denominado pr�-moderno e o outro moderno�.

    As caracter�sticas apresentadas anteriormente demonstram uma interfer�ncia direta e evidente do chamado �Processo Civilizador� na realiza��o dos Esportes Modernos. A racionaliza��o de sua pr�tica buscando a dissemina��o de seus princ�pios simboliza a introspec��o das modalidades esportivas (entre elas as de Aventura) na forma��o de uma �padroniza��o� dos princ�pios de pr�ticas t�picas do preconizado por NORBERT ELIAS em sua teoria, que acredita que o esporte moderno se desenvolveu como partes deste Processo.

    As atividades praticadas em contato direto com a Natureza n�o s�o encaradas meramente como atividades l�dicas, realizadas apenas nos momentos de tempo livre destinados ao afastamento do �Processo Civilizador�, tempo este a que denominamos de Lazer. Segundo MARCELLINO (1998, p. 47), o lazer, mas do que uma rea��o �s exig�ncias da vida em sociedade, exterioriza uma evidente motiva��o de extravasar uma gama de emo��es reprimidas pela exigente rotina di�ria: �O lazer apareceu na sociedade urbano industrial como uma esfera isolada, contraposta ao trabalho, no interior da vida social, como uma necessidade humana de divers�o e confraterniza��o�.

    No mundo contempor�neo, as atividades radicais ou de aventura foram inseridas na contextualiza��o do que denominamos de Esporte. As modalidades esportivas congregam diversos fatores positivos, favorecendo o estreitamento de v�nculos sociais necess�rios � pr�pria exist�ncia humana. Segundo MARCHI J�NIOR (2006, pag. 12), o esporte pode ser entendido como um micro espa�o que simboliza as tens�es e sentimentos envolvidos na vida social. Para ele, o Esporte constitui �um fen�meno social em processo de constitui��o, ou seja,as pr�ticas esportivas refletem no seu contexto hist�rico, continuidades e rupturas que caracterizam a expans�o de suas fronteiras�.

    Entretanto, os benef�cios de toda e qualquer modalidade esportiva s�o questionados atrav�s da forma como se materializa a disputa e o enfrentamento, ou seja, atrav�s da competi��o. Segundo MARTENS (1976, p. 19), a competi��o existir� na medida em que o ser humano deseje compara sua performance com um outro resultado pr�prio ou, em sua maioria, de outro desportista. Para o autor, competi��o � um �processo em que a compara��o de performance de um indiv�duo � feita com algum padr�o na presen�a de no m�nimo uma outra pessoa que seja conhecedora do crit�rio para compara��o e possa avaliar o processo�.

    A necessidade prim�ria da competi��o exige que os atletas executem sempre uma performance �tima ou m�xima em busca dos resultados. Segundo BROHM (1982, p. 77), a competi��o, com a evolu��o dos anos, tornou-se fator primordial na pr�tica esportiva, apresentando-se como principal objetivo formador, n�o s� dos mecanismos de treinamento, como da pr�pria personalidade do atleta: �o princ�pio do rendimento nos Esportes Modernos surge como o motor do sistema esportivo, uma esp�cie de centro de gravidade em torno do qual se situam os demais elementos, um princ�pio pelo qual se guiam as mudan�as estruturais.�

    O estado competitivo determina, no final da contenda, a situa��o de vit�ria ou derrota, afastando o aspecto de ludicidade, intera��o com a natureza e autoconhecimento, pilares mestres da cria��o dos Esportes de Aventura. Para GO TANI et al (1996, p. 25), o resultado esportivo contrasta sentimentos de vit�ria e de derrota, refletindo diretamente na forma como o atleta ir� se portar com estas sensa��es t�o contrastantes, pois �O resultado final de uma competi��o implica, muitas vezes, poucas pessoas terem experimentado sucesso e muitas pessoas terem experimentado insucessos(....) sendo esta uma conseq��ncia natural da competi��o.

    Ainda, segundo DIAS et al (1996, p. 45), o objetivo do Esporte sempre ser� o da competitividade e do rendimento, afastando a necessidade do conv�vio com o l�dico, t�o necess�rio � uma melhor qualidade de vida neste mundo urbanizado.

    Algumas modalidades de Esporte de Aventura possuem campeonatos estruturados, pertencendo � Associa��es e Federa��es que regulamentam a pr�tica daquela atividade. No Brasil, o Skate � o Esporte de Aventura que possui a maior organiza��o, realizando competi��es de �mbito nacional e internacional, atraindo uma grande aten��o p�blica, principalmente pelo apelo midi�tico. O Modo de vida adolescente e o esp�rito jovial da pr�tica de skate encontram afinidades e simpatizantes em todas as faixas et�rias da popula��o, motivando o bombardeamento dos ve�culos de m�dia e de seus patrocinadores nesta modalidade. UVINHA (2001, p. 89) relata que a visibilidade dos Esportes radicais para o p�blico mais jovem constitui num interessante atrativo para os ve�culos de m�dia e de comunica��o. Conforme relato de sua obra, �os Esportes Radicais (a� inserido o skate), associados geralmente com os h�bitos e modo de vida do adolescente, parecem cada vez mais na programa��o das m�dias (...) gerando, inclusive, programas especializados em Esportes Radicais�.

    A sociedade passa por um processo evolutivo e de mudan�a, classificada por Auguste Comte como �din�mica social�, ou seja, a forma como as sociedades caminham na busca de seu desenvolvimento. A forma��o de um mercado consumista especializado pode refletir como um resultado da din�mica social de surgimento de agrupamentos sociais que consomem os produtos destinados aos �Esportes de Aventura�. Entretanto, para DURHAM (1977, p. 32), o consumismo n�o � explicado meramente por influ�ncia da M�dia, mas por uma identifica��o profunda com os conceitos neles representados: �h� que se eliminar a concep��o simplista que op�e os consumidores aos produtores de cultura em termos de uma aceita��o puramente passiva por parte do p�blico, de um material que lhe � impingido de fora�.

A din�mica social da forma��o das �tribos�: sua rela��o com a juventude e o surgimento de um promissor mercado consumidor

    Os Esportes de Aventura se caracterizam pela forma��o de grupos, que compartilha a mesma identidade tanto moral quanto f�sica. Estes agrupamentos s�o costumeiramente denominados de �Tribos�.

    MAFESSOLI (1988, p. 28) entende que as tribos se materializam na sociedade moderna em diversos tipos de segmentos, atrav�s do sincretismos e da somat�ria de diversos estilos de vida e de pensamento, formando um novo grupo totalmente singular no contexto das cidades.

    As cidades contempor�neas s�o povoadas por tribos, o que implica que, na sua pluralidade de origens e comportamentos, as sociedades n�o nascem na redu��o da diversidade � um elemento centralizador �nico, mas da conjun��o de elementos d�spares(....) Esta sociedade tribalista sente necessidade de consolidar o sentimento de uni�o coletiva e de restaura��o daquilo que constitui o fundamento de �ser / estar-junto-com.

    Segundo BRUNHS (2009, p. 39), a forma��o das Tribos tem uma vincula��o maior com os Esportes da Natureza, onde a busca pelo afastamento da rotina imposta pela sociedade potencializa a forma��o de grupos de pessoas com caracter�sticas similares, materializadas na rotina de vidas destas pessoas. Diferentemente do preconizado por MAFESSOLI, a autora acredita que a forma��o das tribos, principalmente de suas caracter�sticas ideol�gicas, gera um afastamento natural do consumismo, j� que a maioria destes grupos ojeriza tal comportamento, por afastar o homem de seu aspecto natural.

    As tribos, formadas principalmente pela proximidades com fatores �extra� urbanos, se materializa pela busca do lazer pelas pessoas impregnadas pelas rotinas, for�ando-as � buscar a natureza como um mecanismo de fuga. Peregrina��o ao movimento hippie, ocorridas na d�cada de 1960 nos Estados Unidos, materializam esta id�ia de como a busca pela natureza representava uma contesta��o destes grupos em rela��o aos valores � determinada forma de produ��o e de consumo

    MAGNANI (1992, p. 58) observa que as tribos s�o constitu�das de uma esp�cie de pessoas que se unem por um objetivo comum, normalmente, formada de um evento que ocorre na sociedade, produzindo um estilo de pensamento compartilhado por uma s�rie de pessoas, criando uma esp�cie de identidade.

    Quando se fala em �tribos� � preciso n�o esquecer que na realidade est� se usando uma met�fora, n�o uma categoria: a diferen�a � que enquanto aquela � formada de outro dom�nio, e empregada em sua totalidade, �categoria� � constru�da para recortar, descrever e explicar algum fen�meno a partir de um esquema conceitual previamente escolhido; pode at� vir emprestada de outra �rea, mas neste caso dever� passar por um processo de reconstru��o.

    Estas �Tribos� de praticantes de Esportes de Aventura se comportam e se vestem de forma caracter�sticas e peculiares. Este exemplo fica bem evidenciado na chamada �Tribo do Skate�, onde jovens do sexo masculino e feminino apresentam o mesmo estilo de vestimentas (bermudas folgadas, t�nis t�picos, camis�es e bon�s), al�m de utilizar ao mesmo linguajar espec�ficos para se comunicar, com a utiliza��o excessiva de g�rias.

    No Brasil, o Skate e o Surfe s�o mercados lucrativos em decorr�ncia do grande n�mero de adeptos �s �Tribos� destas modalidades. Lojas com artigos especializados, revistas espec�ficas e a prolifera��o de sites para adeptos s�o exemplos do poderio econ�mico que pode ser gerado com a comercializa��o de produtos espec�ficos.

    O constante processo de globaliza��o, o que preconiza a forma��o, segundo S� & BRAND�O (2009, p. 02) de uma �Sociedade Internacional�, faz com que a disponibilidade de ve�culos de comunica��o em massa potencialize a dissemina��o de aspectos culturais e, conseq�entemente, mercadol�gicos.

    A Juventude (e as pessoas que como tal se consideram) normalmente denominam os Esportes de Aventura como Esportes Radicais. Tradicionalmente, a juventude representa o aspecto de mudan�a dentro da retrocitada teoria da din�mica social, j� que ela � respons�vel pelo aspecto de mobilidade de pensamento e de atitude que equilibram a balan�a da evolu��o social com as camadas mais tradicionais e estanques. Este esp�rito de jovialidade est� intrinsecamente presente na radicalidade dos esportes praticados em contato com a natureza, j� que, conforme ensina UVINHA (2001, p. 09), a interpreta��o do conceito de radical suplanta o aspecto f�sico, atingindo as esferas ideol�gicas: �A palavra radical geralmente sugere dois entendimentos: extremismo, quando aplicada ao campo da pol�tica; raiz, quando se busca a origem de algo, freq�entemente utilizado, por exemplo, no campo da filosofia�.

    Entretanto, no tocante � pr�tica de esportes, o termo �radical� est� voltado � uma atividade que gere uma excita��o diferenciada, devido aos riscos controlados em que a pessoa �f�sica e mentalmente jovem� est� sujeita � aceitar na pr�tica de tal atividade. Ainda segundo UVINHA (2001, p. 13), os esportes radicais t�m em comum o gosto pelo risco e pela aventura, muitos com a proposta de se engajar tamb�m em causas de preserva��o ecol�gica.

    Esta procura por sentimentos cat�rticos de �xtase e excita��o, caracter�sticas da juventude e contagiadas para todas as faixas et�rias, s�o um fen�meno recente em nossa Hist�ria. Segundo TAHARA & SCHWARTZ (2006, p. 39), a constante procura do ser humano com a natureza propicia experi�ncias que refletem tamb�m no estilo de vida das pessoas que vivenciam tais pr�ticas.

    A busca pela aventura, pelo desconhecido, longe dos padr�es urbanos, tem se mostrado mais freq�ente ultimamente, quando se percebe o aumento de viv�ncias naturais, presente nas atividades f�sicas de aventura em contato direto com o meio ambiente natural, no sentido de buscar condi��es favor�veis � possibilidade de imprimir mais qualidade � vida

    Esta procura constante de expandir eventuais emo��es reprimidas por um sentimento de excita��o foi previsto dentro da pr�pria �Teoria do Processo Civilizador�. Segundo ELIAS, os momentos de lazer s�o essenciais para proporcionar ao ser humano uma fuga das regras e regulamentos que regem a sociedade urbanizada. Os Esportes Radicais poderiam ser considerados como a atividade de lazer m�xima, onde o indiv�duo busca ao m�ximo o sentimento de excita��o em prol de aliviar as tens�es proporcionadas por nossa sociedade.

Considera��es finais

    A pr�tica dos Esportes, apesar de apresentar uma car�ter de alta performance e rendimento em decorr�ncia da competi��o envolvida em sua pr�tica, afastam uma s�rie de ben�ficos e de experi�ncias sociais que poderiam ser proporcionadas em decorr�ncia da conviv�ncia e do estabelecimento de v�nculos sociais

    Os Esportes de Aventura possibilitam a intera��o da ludicidade proveniente de um menor esp�rito competitivo aliado ao necess�rio contato com a natureza, propiciando ao ser humano um momento o necess�rio afastamento da rotina das cidades em busca de um contato maior com seu �habitat� de origem. Estas experi�ncias cat�rticas, propiciadas por estas modalidades esportivas, tem atingido diretamente grupos sociais com tend�ncias a buscar novas experi�ncias, caracterizadas por um esp�rito de jovialidade e de empreendedorismo importantes para garantir um equil�brio na evolu��o das din�micas socais necess�rias em nossa sociedade.

    Os benef�cios dos Esportes de Aventura (tamb�m conhecidos como Esportes Radicais) s�o variados: al�m de permitir uma maior aproxima��o com a Natureza, incita o extravasamento de emo��es reprimidas que poderiam ser materializadas de forma imoral (como a pr�tica de viol�ncia, por exemplo), direcionado positivamente a Busca da Excita��o (preconizada por ELIAS e DUNNING em suas Teorias). O evidente aumento no n�mero de praticantes destas esp�cies de modalidades, que afastam o car�ter competitivo, representam uma readapta��o da pr�tica esportiva, que n�o se limita apenas � competi��o, mas tamb�m apresenta um car�ter introspectivo (onde o indiv�duo conhece e avalia sua condi��o) com �extra� perspectivo (como forma de se estabelecer os v�nculos sociais, necess�rios em qualquer sociedade)

    A diversa variedade de modalidades de Esportes de Aventura, encontradas em Terra, Ar e �gua, permitem ao desportista, al�m da Busca da Excita��o, a intera��o positiva com outras pessoas que compartilham dos mesmos gostos, proporcionado a forma��o das chamadas �Tribos�, que exteriorizam o gosto por aquele Esporte de Aventura em seu modo de ida (linguajar, vestimentas, comportamentos, entre outros).

    Apesar da maioria dos Esportes de Aventura n�o possu�rem visibilidade midi�tica, , o grande n�mero de �Tribos� de praticantes, aliada ao alto mercado lucrativo da venda de artigos relacionados, propicia a forma��o de algumas Associa��es e Confedera��es (principalmente as ligadas ao Skate e ao Surfe), que organizam Torneios de alta visibilidade, envolvendo um poderio financeiro consider�vel, funcionando como um c�rculo virtuoso na divulga��o destes esportes, aumentando ainda mais o n�mero de seus praticantes.

    Ademais, os Esportes de Aventura eliminam as barreiras sociais entre os sexos, pois propiciam (em algumas modalidades, como a Corrida de Aventura), eu homens e mulheres participem em igualdade de condi��es executando as mesmas atividades. O esp�rito jovem da pr�tica destas modalidades tamb�m contagia pessoas de todas as idades � executarem suas modalidades, favorecendo uma maior qualidade de vida � todas as faixas et�rias da popula��o.

    A participa��o cada vez maior de adeptos �s modalidades de Esportes Radicais, entretanto, aumenta a interfer�ncia cada vez maior do �Processo Civilizador� em suas pr�ticas, a exig�ncia de regulamentos, equipamentos e treinamentos espec�ficos geram uma barreira social percept�vel, afastando as camadas menos abastadas da pr�tica destas Atividades (com exce��o do Skate, do Surfe e do �Bicicross�, cujos equipamentos possuem um menor valor monet�rio).

    Os Esportes de Aventura propiciam atividades de lazer significativas, em sua maioria em intera��o com a natureza, funcionando como uma v�lvula necess�ria ao estresse gerado por nossa Civiliza��o Moderna. Portanto, � necess�ria a exist�ncia de Pol�ticas P�blicas que regulamentem e disseminem a pr�tica destas modalidades, excluindo a barreira social existente, permitindo que todas as esferas sociais se favore�am com os in�meros benef�cios provenientes de sua consecu��o. Para garantir a continuidade da propaga��o dos fatores positivos destas esp�cies de esporte, � de fundamental import�ncia que a profissionaliza��o crescente de alguns tipos de esportes radicais n�o restrinjam a ludicidade e o esp�rito de jovialidade e de aventura que norteiam estas pr�ticas.

    A crescente institucionaliza��o dos Esportes Radicais, influenciada diretamente pelo apelo midi�tico e mercadol�gico em decorr�ncia dos potenciais e promissores esferas de consumidores (Tribos) devem constituir um importante fator de preocupa��o de Associa��es de desportistas destas modalidades, de forma a evitar que o esp�rito das pr�ticas destes esportes se transforme numa acirrada competi��o por resultados.

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  • UVINHA, Ricardo Ricci. Juventude, Lazer e Esportes Radicais. Barueri/SP, Editora Manole, 1� Edi��o, 2001.

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Diferencie o esporte de aventura na natureza do esporte radical urbano

Diferencie o esporte de aventura na natureza do esporte radical urbano

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EFDeportes.com, Revista Digital � A�o 16 � N� 158 | Buenos Aires,Julio de 2011  
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Qual a diferença entre esporte de aventura na natureza do esporte radical urbano?

AVENTURA: Realizadas em ambientes naturais (ar, água, neve, gelo e terra), como exploração das possibilidades da condição humana. RADICAIS: Realizadas em manobras arrojadas e controladas, como superação de habilidades de desafio extremo.

O que são esportes radicais e esportes de aventura urbana?

Já os esportes radicais urbanos são uma subcategoria, que contempla as atividades desse tipo, mas que podem ser praticadas na cidade. Ou que surgiram justamente a partir da interação dos praticantes com o mobiliário urbano, como o parkour e skate.

O que é um esporte de aventura na natureza?

Os esportes de aventura são os que exigem esforço físico e mental um pouco maior que os demais, isso por conta dos riscos que corremos durante a execução da atividade e que podem estar relacionados à velocidade, altura, água ou outros fatores.

Quais as principais diferenças entre os esportes de aventura na natureza e os esportes tradicionais?

A prática de esporte de aventura na natureza é uma ótima opção para quem deseja se exercitar, mas prefere fugir do ambiente da academia. Diferente das modalidades tradicionais, os esportes praticados ao ar livre e em contato com a natureza são mais estimulantes e também proporcionam vários benefícios para a saúde.