A câmera é antiga to bonito nela do mesmo jeito

“Socorro, socorro.
Socorro.
Sinto que a vida está chegando mais perto
quando tudo o que quero
É morrer”

Um rosto bonito abre muitas portas. Combine-o com um corpo escultural, um sorriso delirante e uma fluida sintonia com a câmera e você terá uma das estrelas de Hollywood mais amadas até a atualidade: Marilyn Monroe. Contudo, ao mesmo tempo que os holofotes iluminavam toda a sua beleza, também ofuscavam uma depressão profunda, descarregada constantemente em poemas, anotações e gravações de áudio. Com o passar dos anos, abusca pela perfeição e pelo reconhecimento tornaram o sorriso da gloriosa Marilyn um tanto… amarelado.

A jovem Norma

Norma Jeane Mortenson já enfrentava problemas muito antes de se tornar Marilyn Monroe. Nasceu em 1 de junho de 1926, em uma família desestruturada e pobre. Sua mãe era frequentemente internada em clínicas psiquiátricas, por isso a pequena Norma cresceu em meio a famílias substitutas. Ela nunca conheceu o pai. Em gravações para seu psicanalista alguns anos antes de sua morte, Marilyn mostra sentir grandes frustrações quando o assunto é sua mãe e o relacionamento com ela.

Com 19 anos e os cabelos ainda morenos, Norma começou a trabalhar na fábrica Radioplane OQ-2, deixando os estudos de lado ainda no Ensino Médio. Foi durante esse período que o fotógrafo Davis Conover conheceu a jovem e sua carreira como modelo começou. Na mesma época, Norma era casada com Jimmy, que estava na guerra sob a bandeira dos Estados Unidos. Quando ele voltou, mostrou-se contra a carreira de modelo e a ambição da esposa em se tornar atriz. Foi então que a jovem entrou em seu primeiro divórcio e deu mais um passo rumo ao estrelato.

O nascimento de Marilyn Monroe

Em 1946, ela assinou seu contrato 20th Century Fox e adotou o nome artístico. Ben Lyon ficou completamente encantado com a beleza da moça que entrou em seu escritório, e quando perguntou o que ela queria ser, Norma respondeu: “uma estrela do cinema”. Foi então que Ben escolheu o nome “Marilyn” para a garota, muito popular na época, e o juntou com “Monroe”, sobrenome de sua avó.

Marilyn Monroe tinha plena consciência de que apenas seu rosto bonito não a faria chegar aonde queria. Por isso, mergulhava profundamente na literatura mais variada, fazia exercícios físicos, aulas de dança, esgrima, canto e teatro. Quando Lyon perguntou por que a garota se esforçava tanto, ela respondeu:

“Senhor Lyon, eu trabalho duro porque um dia talvez apareça uma oportunidade, e eu quero estar pronta”

Por ter largado os estudos, sua escrita era muito falha, mas, com o tempo e dedicação, foi se aperfeiçoando. Ela leu O corpo que pensa, um livro de anatomia que usou para criar e aperfeiçoar seu jeito sensual de andar e falar. Porém, mesmo com todo esse esforço, Marilyn sempre recebia o mesmo tipo de papel nos filmes: a “loira-burra” interessada em dinheiro e em homens, situação que a deixava extremamente frustrada.

Marilyn e a sexualidade

Dormir com diretores e produtores era uma prática comum entre as atrizes Hollywoodianas, principalmente as que estavam no início da carreira e buscavam destaque. Marilyn não foi exceção. Contudo, a jovem tratava sua sexualidade de uma forma muito diferente do que as outras mulheres da época .

Em 1952, algumas fotos nuas suas vazaram, o que gerou uma gigantesca polêmica na mídia. Enquanto os jornais espalhavam a notícia, a 20th Century Fox procurava um jeito de abafar a situação, ordenando que Marilyn negasse que era ela nas imagens. A atriz sugeriu justamente o contrário: confirmar que era ela sim, nua deitada sobre o veludo vermelho. Eram fotos antigas, de quando ela precisava de dinheiro para o aluguel, e Marilyn não se envergonhava delas.

“Meu corpo é meu corpo. Cada parte dele”

Segundo casamento

Seu segundo casamento foi com Joe Dimaggio, um aclamado jogador de beisebol norte-americano. Descendente de italianos, Joe era extremamente conservador e queria uma esposa que fosse dona de casa. Apesar de gostar muito de Marilyn, não suportou toda a atenção que a atriz recebia, principalmente por parte de outros homens.

A gota d’água para o jogador foi durante as filmagens de O pecado mora ao lado, em 1954, quando foi gravada repetidamente a famosa cena do vestido branco de Marilyn levantando com o vento do metrô. A quantidade de homens observando a calcinha da Marilyn foi tão grande que Joe saiu do local de tanto ciúmes. Foi então que Marilyn entrou em seu segundo divórcio.

A atriz Marilyn

Os filmes de Marilyn eram aclamados pelo público, o que dava muito dinheiro para a 20th Century Fox. Contudo, o salário de Marilyn não estava nem perto do merecido. Foi então que ela decidiu criar a Marilyn Monroe Productions, onde poderia se dedicar a fazer bons filmes e personagens mais variados. Contudo, quanto mais sucesso Marilyn fazia, mas crescia sua ambição por ser cada vez melhor, o que a frustrava e aumentava suas crises existenciais.

Em 1955, resolveu entrar na Actors Studio em Nova Iorque, para ter aulas de teatro. No início, Marilyn sofreu preconceito por ser uma das “garotinhas de Hollywood”, mas conforme foi se aperfeiçoando começou a ganhar seu destaque.

“As mulheres eram severas e críticas. Pouco amigáveis e geralmente frias. Lembro-me de quando não conseguia fazer um maldito exercício. E depois tentava me consolar com o fato de que tinha feito algumas coisas boas, que eram até meritórias. Também tive momentos perfeitos. Mas o ruim sempre pesa mais do que o bom”

Lee Strasberg, seu professor, conseguia ver a Norma frustrada por trás da mascara sorridente de Marilyn Monroe. Ele insistiu que ela fosse a um psicólogo para trabalhar as frustrações que tinha. “Ela foi uma das duas ou três pessoas mais talentosas e sensitivas que eu conheci em toda a minha vida”, disse Lee em uma entrevista. Marilyn entrava em contato com os demônios que a assombravam desde sua infância, e ao mesmo tempo se aproximava cada vez mais de Lee. Ele se tornou um pai e um confidente para a atriz.

“O melhor cirurgião, Strasberg, vai me abrir.
Não me incomoda, pois o doutor H me preparou, me anestesiou.
E diagnosticou o caso e concorda que é necessário.
Uma operação…
Para me devolver a vida e me curar dessa terrível doença.
Seja lá o que for.
(…)
Me abriram, e não havia absolutamente nada lá.
Strasberg está muito desapontado,
porém muito mais contrariado academicamente falando,
por ter cometido esse erro.
(…)
Pensou que haveria muito mais do que tinha imaginado.
Mas não encontrou nada.”

A volta para a Fox

Finalmente, a Fox percebeu a grande perda que foi Marilyn sair de suas produções, então fizeram um contrato muito mais atraente e com mais vantagens para a atriz, que o aceitou e voltou a trabalhar onde havia começado.

Bus Stop, de 1956, foi o primeiro filme que fez quando voltou, já com o salário novo e um maior controle sobre o material. Ela ganhou um papel muito mais complexo também, saindo do até então frequente “loira-burra”.

Terceiro casamento

Seu terceiro casamento foi com dramaturgo Arthur Miller, que durou cinco anos. Quando perguntado em uma entrevista qual foi sua reação ao vê-la pela primeira vez, ele respondeu:

“Na verdade ela estava chorando na primeira vez que a vi. E eu pensei que ela era uma das pessoas mais tristes que já tinha visto. Ela tinha um coração aflito”

O que começou como um relacionamento cheio de alegrias, acabou com uma Marilyn ainda pior. Foi durante seu relacionamento com Arthur que a atriz começou a se viciar em drogas para dormir, causa de sua morte alguns anos depois. Durante seu casamento, Marilyn tentou engravidar diversas vezes, contudo sofreu abortos em todas. Ao todo, ela sofreu 12 abortos em sua vida.

Foi durante seu casamento com Arthur que Marilyn desistiu de seu projeto Marilyn Monroe Productions, em conjunto com seu amigo Milton Greene. Quando voltou a Hollywood e recomeçou a interpretar em filmes, Marilyn estava extremamente insegura. Muitas vezes não conseguia mais memorizar suas falas, o que lhe dava problema com os diretores.

“Acho que estou muito sozinha.
Minha mente está inquieta.
Eu me vejo no espelho com a sobrancelha franzida.
Se me aproximo, eu vejo o que não quero saber.
Tensão, tristeza, desilusão.
Meus olhos, sem brilho.
As bochechas cheias de vazinhos que parecem os rios de um mapa.
Os cabelos parecem serpentes.
A boca é o que me da mais tristeza, depois dos meus olhos apagados.
‘Há uma linha negra entre os lábios e o contorno de umas ondas
em uma tempestade turbulenta’, diz.
‘Não me beije. Não me engane. Sou uma dançarina que não consegue dançar”

Em 1959, Arthur Miller escreveu Os desajustados (The Misfits), onde Marilyn ganhou um papel baseado em sua própria vida. Contudo, a atriz sentiu-se ofendida com a personagem criada em sua homenagem: uma musa, adorada pelos homens, mas limitada intelectualmente. Para se vingar, Marilyn passou a tratar Miller muito mal durante as gravações, além de desaparecer durante vários dias e esquecer de propósito suas falas. Doente física e psicologicamente, Marilyn pede o divórcio.

A depressão

Foi então que Marilyn começou a visitar psicanalistas. Em Hollywood, ela via o Doutor Ralph Greenson, que fazia diversas consultar com a atriz, gravando o que ela dizia. O relacionamento entre os dois tornou-se tão estreito que Marilyn passava mais de quatro horas por dia em seu consultório, e também o via durante a noite. Ralph igualmente deixou-se envolver pela paciente, deixando os demais de lado e dedicando-se inteiramente a ela.

Greenson começou a ficar assustado com algumas coisas que Marilyn dizia e escrevia, e temia pelo pior: um suicídio. Foi então que a atriz foi internada em hospital psiquiátrico, o Payne Whitney. Ela ficou em um quarto no andar dos loucos, pichado, com grades e sangue nas paredes. Desesperada, Marilyn ligou para seu segundo ex-marido, Joe, que depois de uma semana a tirou de lá.

Em 1960, Marilyn voltou para Los Angeles e comprou uma casa perto de seu psiquiatra. A atriz tornou-se cada vez mais dependente de Greenson, o que o sufocou ao ponto de ele mudar-se para a Europa durante um período. Nesse tempo, Marilyn gravava sozinha seus monólogos, como forma de substituir o terapeuta.

Seu último filme para a 20th Century Fox foi Something’s Got to Give. Foi um dos filmes mais turbulentos que a atriz gravou, dado seu estado de espírito. O diretor do filme, George Cukor, disse:

“Marilyn finalmente ficou louca. Não se lembra das falas e atua como se estivesse debaixo d’água. E durante a tarde está sobre efeito do álcool”

Magra, pálida, bêbada. Era assim que Marilyn estava durante as gravações, quatro meses antes de sua morte. Seu sorriso e seus olhos já não tinham brilho nenhum.

Foi durante as problemáticas gravações que Marilyn foi cantar parabéns ao presidente Kennedy, no Madison Square Garden. Além de chegar atrasada, Marilyn apareceu com um vestido transparente de 6 mil dólares tão justo que foi costurado em seu próprio corpo. E mais: ela não tinha nada por baixo dele. Quando chegou, o apresentador referiu-se a ela como “the late Marilyn Monroe”. Contudo, a palavra “late” em inglês não tem apenas o significado de “atrasada”, como também de “falecida”. Obviamente o apresentador não tinha dimensão do que aconteceria algum tempo depois, mas já era uma boa definição para a mulher que estava em pé ali.

A atriz teve affairs com os irmãos Kennedy, e as fotos daquela noite foram confiscadas pelo FBI. Seu psiquiatra, Greenson, ficou enfurecido quando Marilyn apareceu para cantar daquele jeito. Ele não entendia porque ela insistia em se expor para a multidão, já que aquele ato não melhoraria em nada seu tratamento. Ela explicou:

“Eu senti orgulho. Havia um silêncio total no ginásio. Um silêncio, assim, diante daquele público, me aquece. É como um beijo”

Depois do aniversário, a 20th Century Fox acusou Marilyn de abandonar a produção do filme sem permissão, e a despediram. Contudo, alguns dias antes de sua morte, a Fox voltou atrás e assinou com ela um contrato de um milhão de dólares.

O fim

Em 5 de agosto de 1962, a trágica notícia ganhou os jornais: Marilyn Monroe foi encontrada morta em sua cama. Era o fim de um sonho. Naquela noite, a atriz havia se trancado no quarto e tomado mais de 25 pílulas para dormir.

Ela já havia tentado suicídio outras duas vezes, porém sempre conseguiu pedir ajuda antes do pior. Dessa vez, foi tarde: nua na cama, deitada de bruços e segurando o telefone em uma das mãos, Marilyn se foi. Morreu em um quarto sem quadros ou enfeites, com apenas uma cama de casal e um criado mudo abarrotado de remédios, completamente sozinha. No chão, revistas e bolsas espalhadas. Um quarto confuso e triste, assim como ela.

“Quanto mais eu penso mais entendo que não há respostas.
A vida é para ser vivida.
E como é relativamente curta, talvez curta demais, talvez longa demais,
a única coisa que sei com certeza é que não é fácil.
Agora que quero viver e, de repente, não me sinto velha,
não me preocupa o passado salvo proteger a mim mesma,
minha vida, e rezar desesperadamente para dizer ao universo
que confio nele”

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