O que é racismo científico

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O racismo cientifico é uma corrente de ideias que busca justificar o racismo a partir dos conceitos científicos. O racismo é uma forma de discriminação de pessoas por suas características fenotípicas associadas às suas características socioculturais, como se ambas derivassem dos elementos biológicos do ser humano, e não se uma construção histórico-cultural.

Com o termo Racismo se entende, não a descrição da diversidade das raças ou os grupos étnicos humanos, realizada pela antropologia física ou pela biologia, mas a referência do comportamento do indivíduo à raça a que pertence e, principalmente, o uso político de alguns resultados aparentemente científicos, para levar à crença da superioridade de uma raça sobre as demais. Este uso visa a justificar e consentir atitudes de discriminação e perseguição contra as raças que se consideram inferiores. (BOBBIO, 2016, p. 1059).

Para Bobbio, as teorias racistas buscavam a justificação cientifica a partir do século XVIII, devido às próprias características da época iluminista. A ideia de um racismo científico se relaciona, assim, com a justificativa biológica de que existem raças humanas superiores e inferiores, e isso pode ser analisado de forma objetiva pela ciência. Diferentes ramos científicos estavam relacionados a estes estudos, como a frenologia, fisionomia, antropometria, além da utilização de conceitos da biologia, psicologia, antropologia e mais. O racismo cientifico, porém, não se sustenta enquanto argumento cientifico contemporaneamente. Tanto por não existirem raças dentro da espécie humana, como por que suas bases não são comprovadas por meio de pesquisas recente. O adjetivo cientifico se refere meramente à tentativa de justificar com as ciências do século XIX e começo do século XX, as discriminações que diferentes grupos étnicos sofriam.

Os postulados gerais do racismo científicos tentam incluir dentro das características das raças, elementos psicológicos, morais, sexuais, culturais etc. Esses elementos são, atualmente, estudados pelas demais ciências e entende-se que a sua construção não se refere a raças, mas as condições biopsicossociais que os diferentes grupos humanos apresentam e que não podem ser hierarquizados em primitivos ou superiores como propunha o racismo cientifico.

O racismo científico no Brasil transmite a situação histórica em que o país vivia. Um país com heranças da escravidão e a maior população negra fora de África. No entanto, isto era visto de forma pejorativa e acreditava-se que por este motivo a nação estaria comprometida. Desta forma, o racismo científico no caso brasileiro vai se pautar mais nas teorias de embranquecimento do que nas teorias de segregação racial. Assim, era fomentada a imigração de pessoas brancas, e dificultada a imigração de pessoas negras e asiáticas.

As divergências expressivas do racismo científico brasileiro se situavam no âmbito de outro ponto de pauta, qual seja: a discussão sobre a mistura de raças e os riscos de degeneração delas decorridos. Segundo Schwarcz (1993, p. 12), o Brasil era descrito como “[...] uma nação composta de raças miscigenadas, porém em transição. Essas, passando por um processo acelerado de cruzamento, e depuradas mediante uma seleção natural [...], levaria a supor que o Brasil seria, um dia, branco”. (SANTOS & SILVA, 2018, p. 256).

Com o tempo, o discurso que explicará o Brasil será vinculado à obra de Gylberto Freire e a construção de uma matriz nacional baseada na cultura e na união das três raças, e não mais uma ideia de que a miscigenação seria nociva ao país. A mesma coisa, porém, não acontece em outros países, como Estados Unidos ou África do Sul, em que a ideia de segregação levam a criar o regime de apartheid, tornando ambos os países casos emblemáticos dessa configuração social.

Porém, isto não significa que não existissem autores que defendiam a discriminação racial com base na ciência da época. Diversas teorias sociais para a interpretação do Brasil e para resolução de problemas sociais brasileiros postulavam ações discriminatórias baseadas nas conclusões da antropometria. Esta última ciência tinha por intenção definir raças humanas e os índices de criminalidade a partir das medidas humanas.

Partindo da constatação de que "a igualdade política não pode compensar a desigualdade moral e physica" (idem:87), Nina Rodrigues defendia um tratamento diferenciado para criminosos, de acordo com a sua “organização physio-psychologica”. Para ele, punir alguém que, por razões de “inferioridade racial”, não está preparado para cumprir com os direitos e deveres próprios da civilização moderna seria um equívoco, do ponto de vista científico. Adverte Nina Rodrigues: “tornar os bárbaros e selvagens responsáveis por não possuir[em] ainda essa consciência [de direitos e deveres]" seria a mesma coisa que tornar as crianças responsáveis por não terem atingido a maturidade mental dos adultos [...] (HOFBAUER, 2003, p. 84-85)

Para Nina Rodrigues, autor brasileiro do século XIX e reconhecido por suas teorias racistas, a Nação precisaria de uma homogeneidade para prosperar, criticando, assim, a mestiçagem. A igualdade entre os indivíduos da nação também era um problema por este autor considerar, a partir da antropometria, que as raças tem aptidões diferentes e não podem ser tratadas com igualdade.

Tentando seguir coerentemente um corpo teórico e aplicando os conceitos científicos correspondentes a este campo, Nina Rodrigues procurava “avaliar”, “medir” a “inferioridade detectada” com “métodos exatos” (quantitativos). (HOFBAUER, 2003, p. 86)

O que se percebe, então, é que o racismo cientifico é uma teoria vinculada ao momento de consolidação das ciências enquanto discurso explicativo da realidade, com foco principalmente nas teorias da biologia do século XIX. Em diferentes países do mundo, buscou-se estudar as diferenças humanas a partir de um ideal de raça e justificar as diferentes características humanas com elementos hereditários e biológicos. Essas teorias eram utilizadas para explicar as diferenças culturais e sociais entre os povos humanos a fim de criar hierarquias e justificar a dominação e as condições subalternas a que eram submetidos os povos.

REFERENCIAS

BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Universidade de Brasília, 2016.

HOFBAUER, Andreas. CONCEITO DE" RAÇA" E O IDEÁRIO DE" BRANQUEAMENTO" NO SÉCULO XIX. Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, v. 1, n. 42, 2003. Disponível em: http://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/view/57/47

SANTOS, Raquel Amorim dos; SILVA, Rosângela Maria de Nazaré Barbosa e. Racismo científico no Brasil: um retrato racial do Brasil pós-escravatura. Educ. rev.,  Curitiba ,  v. 34, n. 68, p. 253-268,  Apr.  2018 .   Disponivel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602018000200253&lng=en&nrm=iso

Racismo científico ou racismo biológico[1][2] é a crença pseudocientífica de que existem evidências empíricas que apoiam ou justificam o racismo (discriminação racial) ou a inferioridade ou superioridade racial.[3][4] O racismo científico recorre a conceitos de antropologia, antropometria, craniometria e outras disciplinas ou pseudo-disciplinas para propor tipologias que apoiem a classificação das populações humanas em raças fisicamente distintas, que possam ser classificadas como superiores ou inferiores.[5] Atualmente as noções de racismo científico não são consideradas ciência e o termo é usado de forma pejorativa para se referir a ideias pseudocientíficas.[4]

O racismo científico foi relativamente comum no período entre o século XVII e o fim da II Guerra Mundial. Embora a partir da segunda metade do século XX tenha sido considerado obsoleto e desacreditado, em alguns meios continuou a ser usado para apoiar ou legitimar a ideias racistas, baseadas na crença de que existem categorias raciais e raças hierarquicamente inferiores e superiores.[5] Após o fim da II Guerra Mundial passou a ser denunciado em termos formais.[6] Os avanços na genética populacional humana mostraram que as diferenças genéticas são praticamente todas graduais.[7]

Durante o Iluminismo (entre 1650 e 1780), os conceitos de monogenismo e poligenismo tornaram-se populares, embora só fossem sistematizados epistemologicamente durante o século XIX. O monogenismo afirma que todas as raças têm uma única origem, enquanto o poligenismo é a ideia de que cada raça tem uma origem separada. Até o século XVIII, as palavras "raça" e "espécie" eram intercambiáveis.[8]

Robert Boyle

Um dos primeiros cientistas que estudaram sobre raça foi Robert Boyle (1627–1691), um filósofo, químico, físico e inventor anglo-irlandês. Boyle acreditava no que hoje é chamado de "monogenismo", isto é, que todas as raças, não importa quão diversas, vieram da mesma fonte, Adão e Eva. Ele estudou histórias relatadas de pais dando à luz diferentes albinos, então ele concluiu que Adão e Eva eram originalmente brancos e que brancos podiam dar à luz diferentes raças coloridas. As teorias de Robert Hooke e Isaac Newton sobre cor e luz via dispersão óptica em física também foram estendidas por Boyle em discursos sobre a poligênese, especulando que talvez essas diferenças se devam a "impressões seminais". No entanto, os escritos de Boyle mencionam que em sua época, aos "olhos europeus", a beleza não era tão medida em cor, mas em "estatura, simetria graciosa das partes do corpo e boas características do rosto".[9] Vários membros da comunidade científica rejeitaram seus pontos de vista e os descreveram como "perturbadores" ou "divertidos".[10]

Lord Kames

O advogado escocês Henry Home, Lord Kames (1696–1782), era um poligenista: ele acreditava que Deus criara diferentes raças na Terra em regiões separadas. Em seu livro de 1734 Esboços Sobre a História do Homem, Home afirmava que o ambiente, o clima ou o estado da sociedade não podiam explicar as diferenças raciais, de modo que as raças devem ter se originado de de ações distintas e separadas.[11]

Carl Linnaeus

 

Homo monstrosus, ou gigantes da Patagônia, de Voyage au pole sud et dans l'Océanie (Viagem ao Polo Sul e Oceania), de Jules Dumont d'Urville

Carl Linnaeus (1707–1778), o médico, botânico e zoólogo sueco, modificou o padrão estabelecido das base taxonômica da nomenclatura binomial para fauna e flora, e foi um pesquisador pioneiro na definição biológica de "raça humana". Em Systema Naturae (1767), ele rotulou[12] "variedades"[13][14] de espécies humanas. Cada uma delas foi descritas como possuindo as seguintes características fisionômicas "variando por cultura e lugar":[15]

  • Os Americanus: vermelho, colérico, justo; cabelo preto, liso e grosso; teimoso, zeloso, livre; pinta-se com linhas vermelhas, é regulado pelos costumes.[16]
  • Os Europeanus: branco, sanguíneo, acastanhado; com cabelo abundante e comprido; olhos azuis; gentil, agudo, inventivo; coberto com roupas fechadas; e governado por leis.[17]
  • Os Asiaticus: amarelo, melancólico, rígido; cabelo preto, olhos escuros; severo, altivo, ganancioso; coberto com roupas soltas; e governado por opiniões.[18]
  • Os Afer ou Africanus: negro, fleumático, relaxado; cabelo preto e frisado; pele sedosa, nariz achatado, lábios túmidos; fêmeas sem vergonha; glândulas mamárias dão leite abundantemente; astuto, preguiçoso, lascivo, descuidado; unge-se com gordura; é governado por caprichos.[19]
  • Os Monstrosus eram seres humanos mitológicos que não apareciam nas primeiras edições do Systema Naturae. As subespécies incluíam o Homo feralis (homem feral) de quatro patas, mudo e peludo; o juvenil Juvenis lupinus hessensis (o lobo hessiano), o Juvenis hannoveranus (menino hanoveriano), a Puella campanica e o ágil mas frágil Homo monstrosus (o homem monstruoso): o gigante patagônico, o anão dos Alpes e o monóculo Khoikhoi (hotentote). Em Amoenitates academicae (1763), Linnaeus apresentou o mitológico Homo anthropomorpha (homem antropomórfico), criaturas humanoides, como o troglodita, o sátiro, a hidra e a fênix, incorretamente identificadas como criaturas simiescas.[20]
  • Racialismo

  1. Weitz, Eric D. (27 de abril de 2015). A Century of Genocide: Utopias of Race and Nation (em inglês). [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 9781400866229 
  2. Signer, Michael Alan (2000). Humanity at the Limit: The Impact of the Holocaust Experience on Jews and Christians. Indiana University Press. p. 202. ISBN 0253337399.
  3. "Ostensibly scientific": cf. Theodore M. Porter, Dorothy Ross (eds.) 2003.The Cambridge History of Science: Volume 7, The Modern Social Sciences Cambridge University Press, p. 293 "A raça tem desempenhado há bastante tempo um poderoso papel popular na explicação de traços sociais e culturais, muitas vezes em termos ostensivamente científicos."; Adam Kuper, Jessica Kuper (eds.), The Social Science Encyclopedia (1996), "Racism", p. 716: "Este [sc. racismo científico] implicava o uso de "técnicas científicas" para sancionar a crença na superioridade racial européia e americana"; Routledge Encyclopedia of Philosophy: Questions to Sociobiology (1998), "Race, theories of", p. 18: "Seus expoentes tendiam a equiparar raça com espécie e afirmavam que ela constituía uma explicação científica da história humana"; Terry Jay Ellingson, The myth of the noble savage (2001), 147ff. "No racismo científico, o racismo nunca foi muito científico; nem, poderia ao menos, ser argumentado, era qualquer coisa que preenchesse as qualificações da ciência real sempre muito racista" (p. 151); Paul A. Erickson, Liam D. Murphy, A History of Anthropological Theory (2008), p. 152: "Racismo científico: ciência imprópria ou incorreta que apoia ativamente ou passivamente o racismo".
  4. a b Kurtz, Paul (setembro de 2004). «Can the Sciences Help Us to Make Wise Ethical Judgments?». Committee for Skeptical Inquiry. Skeptical Inquirer. Consultado em 1 de dezembro de 2007. Cópia arquivada em 23 de novembro de 2007. Tem havido abundantes ilustrações de teorias pseudocientíficas - teorias monocausais do comportamento humano que foram saudadas como "científicas" - que foram aplicadas com resultados desastrosos. Exemplos: ... Muitos racistas hoje apontam para o QI para justificar um papel de apoio aos negros na sociedade e sua oposição à ação afirmativa. 
  5. a b Cf. Patricia Hill Collins, Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment (2nd ed., 2000), Glossary, p. 300: "Scientific racism was designed to prove the inferiority of people of color"; Simon During, Cultural studies: a critical introduction (2005), p. 163: "It [sc. scientific racism] became such a powerful idea because ... it helped legitimate the domination of the globe by whites"; David Brown and Clive Webb, Race in the American South: From Slavery to Civil Rights (2007), p. 75: "...the idea of a hierarchy of races was driven by an influential, secular, scientific discourse in the second half of the eighteenth century and was rapidly disseminated during the nineteenth century".
  6. UNESCO, The Race Question, p. 8
  7. Cavalli-Sforza, L. L. (2001). Genes, Peoples and Languages, p. 30. Penguin Books, London. ISBN 9780865475298.
  8. Jen E. Boyle (2 de março de 2017). Anamorphosis in Early Modern Literature: Mediation and Affect (em inglês). [S.l.]: Taylor & Francis. p. 74. ISBN 978-1-351-95851-6 
  9. Robert Boyle (1664), "Experiments and Considerations Touching Colours", Henry Herringman, Londres, pp. 160–61
  10. Palmeri, Frank (2006). Humans And Other Animals in Eighteenth-Century British Culture: Representation, Hybridity, Ethics. [S.l.: s.n.] pp. 49–67 
  11. Jackson, John P.; Weidman, Nadine M. (2005). Race, Racism, and Science: Social Impact and Interaction. [S.l.]: Rutgers University Press. pp. 39–41 
  12. Inicialmente, Linnaeus havia descrito apenas quatro categorias: Europseus albus, Americanus rubescens, Asiaticus fuscus, & Africanus niger. Only later editions included the "Monstrosus".
  13. Linnaeus não usou o termo "raça". Ele usou o termo "Homo variat", como pode ser visto em Systema naturae, p. 34.
  14. Gloria Ramon (2002), "Race: Social Concept, Biological Idea"
  15. Linnaeus usou os termo latinos: diurnus, varians cultura, loco: Systema Naturae, 13th edition, p. 29
  16. Em latim: rufus, cholericus, rectus. Pilis: nigris, rectis, crassis. Naribus: Patulis. Facie: ephelitica. Mento: subimberbi. Pertinax, contentus, liber. Pingit: Se lineis daedaleis rubris. Regitur Consuetudine.
  17. Em latim: albus, sanguineus, torosus. Pilis flavescentibus, prolixis. Oculis caeruleis. Levis, argutus, inventor. Tegitur Vestimentis arctis. Regitur Ritibus.
  18. Em latim: luridus, melancholicus, rigidus. Pilis nigricantibus. Oculis fuscis. Severus, fastuosus, avarus. Tegitur Indumentis laxis. Regitur Opinionibus.
  19. Em latim: niger, phlegmaticus, laxus. Pilis atris, contortuplicatis. Cute holosericea. Naso simo. Labiis tumidis. Feminis sinus pudoris. Mammae lactantes prolixae. Vafer, segnis, negligens. Ungit se pingui. Regitur Arbitrio.
  20. Reid, Gordon McGregor (2009). «Carolus Linnaeus (1707–1778): His Life, Philosophy and Science and Its Relationship to Modern Biology and Medicine». Taxon. 58 (1): 18–31. JSTOR 27756820. doi:10.1002/tax.581005 

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