Antes de mais nada, convém dizer que a definição de pré-diabetes é laboratorial. Ou seja, um indivíduo tem pré-diabetes quando o exame de glicemia de jejum fica entre 100 e 126 mg/dl; ou quando o teste de curva glicêmica aponta um valor entre 140 e 200 mg/dl duas horas após o paciente ingerir 75 gramas de glicose; ou, ainda, quando o resultado da hemoglobina glicada, exame de sangue que dá uma média dos níveis de glicose no trimestre, gira entre 5,7 e 6,4%. Traduzindo os números, no pré-diabetes a glicemia não é tão baixa a ponto de se dizer que é normal nem tão alta para falarmos em diabetes. De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, todo indivíduo adulto acima de 45 anos deve se submeter a um exame de glicemia anual, pois é a partir daí que aumenta o risco de desenvolver tanto pré-diabetes como diabetes tipo 2. Mas quem tem alguns fatores de risco para a doença precisa iniciar esse rastreio mais cedo, a partir dos 35 anos. A lista abaixo resume quais são esses fatores: • Sobrepeso ou obesidade • Pessoas com HDL (o colesterol bom) abaixo de 35 mg/dl e/ou triglicérides acima de 250 mg/dl + LEIA TAMBÉM: Seu coração pede um check-up Cumprindo a rotina de exames, fica fácil detectar quando os níveis de glicose aumentam e passam a preocupar. E é fundamental fazer o diagnóstico do pré-diabetes ou do diabetes quanto antes para evitar, com o tratamento adequado, as complicações relacionadas à evolução da doença. E são várias, a exemplo de: • Insuficiência renal • Danos à visão e cegueira • Acometimento de nervos, levando à redução de sensibilidade cutânea, má perfusão, feridas e amputações • Infarto e AVC (acidente vascular cerebral) O que precisa ficar claro é que, apesar de não parecer uma doença, o pré-diabetes também não é apenas um “pequeno aumento da glicose no sangue”. De fato, ele é uma categoria de risco para o desenvolvimento do diabetes em si e leva a menos complicações que o diabetes propriamente dito. Contudo, um estudo de 2003 já alertava para o fato de que indivíduos recém-diagnosticados com diabetes tipo 2 já apresentavam 26,7% de prevalência de microalbuminúria, que é a perda de albumina pela urina e corresponde ao início do processo de disfunção renal. Assim, rastrear ativamente a doença é crucial para minimizar complicações, reverter o pré-diabetes e evitar a progressão para diabetes. Continua após a publicidade Pesquisas indicam que nem todas as pessoas com pré-diabetes vão evoluir para diabetes em si. Mas alguns fatores pesam para essa conversão, como histórico familiar de diabetes na família ou de diabetes gestacional, sobrepeso e obesidade e uso crônico de medicamentos como antipsicóticos. + LEIA TAMBÉM: Obesidade: como a pandemia pesa na balança Um estudo mostrou que, num período de três a cinco anos, entre pacientes com pré-diabetes que passaram por tratamento médico, 25% voltaram a ficar com a glicemia normal, metade permaneceu com o quadro e só 25% passaram a ter diabetes tipo 2. Mas qual seria a melhor intervenção para evitar essa conversão? O maior estudo já realizado sobre o tema, o Diabetes Prevention Program (DPP), e sua extensão, o DPP-OS, evidenciam que indivíduos que aderem a um programa de atividade física (150 minutos semanais), adotam uma alimentação equilibrada e perdem peso conseguem reduzir em 58% o risco relativo de desenvolver diabetes tipo 2. Ou seja, o tratamento engloba mudanças de hábitos. Outro estudo, o FINISH, aponta uma redução de 36% no mesmo risco com perda de peso, redução no consumo de gorduras saturadas (carne vermelha, produtos industrializados…), aumento na ingestão de fibras (vegetais, cereais integrais…) e prática de exercícios. São hábitos que também pavimentam a estrada para a prevenção das doenças cardiovasculares. Hoje também existem medicamentos prescritos para evitar a progressão para o diabetes. Alguns atuam na glicemia, outros no controle do peso. O endocrinologista estará apto a receitá-los. Mais recentemente, um trabalho constatou que a perda de peso ajuda a prevenir o diabetes tipo 2, seja por meio de remédios, seja pela cirurgia bariátrica. Outro dado novo tem a ver com a faixa etária. Numa pesquisa que acompanhou uma população de pessoas com pré-diabetes por seis anos, viu-se que, entre aqueles que haviam passado dos 70 anos, menos de 10% migraram para o diabetes, taxa bem abaixo do que se pensava antes. É um ponto a refletir, sobretudo no que diz respeito aos pacientes idosos: não devemos incorrer no excesso de medicamentos, alguns deles desnecessários. No entanto, a prevenção precisa começar mais cedo. Ela passa por um estilo de vida saudável e exames e consultas periódicos. Não dá para ficar esperando as consequências do pré-diabetes e do diabetes. * Rosane Kupfer é endocrinologista, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes/ Regional Rio de Janeiro (SBD-RJ) e chefe do Serviço de Diabetes do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luis Capriglione (IEDE)
A diabetes é uma doença crónica que se caracteriza pelo aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue e pela incapacidade do organismo em transformar toda a glicose proveniente dos alimentos. À quantidade de glicose no sangue chama-se glicemia e quando esta aumenta diz-se que o doente está com hiperglicemia. A Diabetes deve-se em alguns casos à insuficiente produção, noutros à insuficiente ação da insulina e, frequentemente, à combinação destes dois fatores. A insulina é uma hormona, produzida pelo pâncreas, que tem o papel de reduzir a glicemia ao permitir que o açúcar presente no sangue entre nas células, para ser utilizado como fonte de energia. Na falta da insulina ou quando a insulina não funciona corretamente, há um aumento de glicose no sangue e, consequentemente, o diagnóstico de diabetes. Existem várias manifestações desta doença, que podem surgir em períodos distintos da vida dos indivíduos, como por exemplo Diabetes tipo 1 (DM1), tipo 2 (DM2) e Diabetes Gestacional. A pré-diabetes corresponde a uma alteração do metabolismo dos hidratos de carbono, na qual os níveis de glicose no sangue são superiores ao normal, contudo, não são suficientemente elevados para serem classificados como diabetes.A pré-diabetes pode ser considerado um estado intermediário entre um estádio saudável e DM2.A pré-diabetes deve ser interpretado como um sinal de alerta porque além de estar em risco elevado de desenvolver diabetes, também aumenta o risco de doenças cardíacas e outras complicações médicas.Se não diagnosticado ou não tratado, a pré-diabetes pode desenvolver-se em DM 2; que, enquanto tratável, não é totalmente reversível, ao contrário da pré-diabetes. Em todo o mundo, cada vez mais pessoas sofrem de diabetes e em idades mais jovens. Por esta razão o diagnóstico atempado é importante. Atualmente está recomendado o rastreio na população em risco de desenvolver DM2, nomeadamente em adultos com ≥ 45 anos, excesso de peso (IMC≥25) e obesidade (IMC≥30), com perímetro abdominal no homem ≥ 94cm e na mulher ≥80cm com um estilo de vida sedentário, história familiar de diabetes em primeiro grau; Diabetes gestacional prévia; História de doença cardiovascular prévia (doença cardíaca isquémica, doença cerebrovascular e doença arterial periférica); Hipertensão arterial, alterações do colesterol e consumo de fármacos que predisponham à Diabetes. Para saber se é pré-diabético ou não, é preciso fazer uma análise ao sangue que é muito simples e que permite que sejam observados os níveis de glicose em jejum. Como já referido, a pré-diabetes é uma condição que pode ser reversível desde que identificada precocemente e tratada corretamente. Autor: THORDIS BERGER. CMO - Chief Medical Officer Holmes Place Portugal Referências bibliográficas:
Apesar de ficar anos sem provocar sintomas, o diabetes abre espaço para mudar o estilo de vida e impedir que a doença se instale definitivamente. Entenda o pré-diabetes em 3 perguntas. Antes de o diabetes se instalar definitivamente, existe uma janela de oportunidade chamada pré-diabetes. Para esclarecer as principais dúvidas sobre esse quadro, convidamos o dr. Fernando Valente, médico endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Este conteúdo faz parte de uma parceria entre o Portal Drauzio Varella e o Grupo DPSP. O que é pré-diabetes?O pré-diabetes é uma situação em que a glicose no sangue já tem uma alteração, porém não é significativa para níveis de diabetes, então é um intermediário entre a glicose normal e o diabetes. Ele pode ser diagnosticado através de um exame de sangue simples, com a medida de açúcar no sangue em um jejum de 8 horas — que é a glicemia de jejum — ou a dosagem da hemoglobina glicada, que é uma média do açúcar no sangue nos últimos 3 meses. Existe ainda um exame, que eventualmente é feito, chamado teste de tolerância à glicose (popularmente conhecido como curva glicêmica), que também pode ajudar a fazer o diagnóstico. O pré-diabetes é reversível caso se atue nos fatores desencadeantes do quadro, que são principalmente excesso de peso, sedentarismo, tabagismo, má alimentação e má qualidade do sono. Quais são os sintomas quando o corpo passa a ser resistente à ação da insulina?O pré-diabetes, na maior parte das vezes, não apresenta nenhum sintoma claro. Em algumas situações, pode aparecer o escurecimento em regiões de dobra da pele, como no pescoço, axilas ou virilha, mas muitas pessoas não apresentam essa condição. Outro dado que pode chamar a atenção é a pressão alta ou alteração dos níveis de triglicérides e colesterol, que são alterações associadas ao ganho de peso. Algumas pessoas precisam ficar mais atentas à possibilidade de desenvolverem o quadro. São elas:
Veja também: Dr. Drauzio explica a relaçnao entre insulina e diabetes É possível reverter somente com alimentação?Sim, é possível reverter com alimentação, mas quanto melhor o estilo de vida, maior a chance de reversão. Alimentação saudável é fundamental. Uma dieta rica em vegetais, grãos integrais, laticínios e frutas (mas não em suco de frutas), evitando-se o excesso de açúcar, carboidratos, gorduras saturadas e trans. Vale a pena citar também a importância da prática de exercícios físicos. O ideal seriam 150 minutos de atividade física por semana, aeróbia e musculação. Existe ainda a possibilidade de não haver reversão ou até progressão desse quadro de pré-diabetes para diabetes, mesmo com essas mudanças de estilo de vida. Neste caso, eventualmente, está indicado o medicamento. Assista ao vídeo completo |