Em Qual das características do Modernismo da primeira geração o trecho do poema Pronominais

Em Qual das características do Modernismo da primeira geração o trecho do poema Pronominais

Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada

Me dá um cigarro.

OSWALD DE ANDRADE, O. Obras completas, Volumes 6-7. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

O poema “Pronominais”, de Oswald de Andrade ressalta a proposta de reduzir a distância entre a linguagem falada e a escrita, uma das principais característica do Primeiro Tempo Modernista (1922-1930), renegando, desse modo, o passadismo acadêmico.

Neste poema, observa-se a defesa da colocação pronominal que segue o padrão fonético brasileiro – a próclise é mais comum -, diferente do padrão português que orienta a norma culta pela valorização da ênclise. No primeiro verso de Pronominais “Dê-me um cigarro”,exemplifica uma das muitas diferenças existentes entre a língua que a gramática normativa considera correta – norma culta – e a língua, geralmente, falada pela maioria das pessoas, como se percebe no último verso “Me dá um cigarro.”

       Ao analisar Pronominais outra característica modernista foi destacada pelo autor, o uso do verso livre, a fim de traduzir a liberdade plena da forma, a qual não significa ausência de ritmo, mas criar a cada verso um ritmo.

Ao escrever este poema o autor optou por ressaltar essas duas características, com o intento de acentuar outras particularidades como a procura pelo moderno, pelo polêmico e, ao mesmo tempo, o nacionalismo se manifesta em relação à linguagem, pois uma das mais importantes propostas do projeto artístico desse poeta é a ruptura com os padrões da língua literária culta e busca de uma língua brasileira, que incorporasse todos os “erros” gramaticais, vistos por ele como verdadeiras contribuições para a definição da nacionalidade.

Com essa produção Oswald de Andrade reitera o pensamento de Anibal Machado – “Não sabemos definir o que queremos mas sabemos discernir o que não queremos.”

ABAURRE, Maria Luiza M. Português: Contexto, Interlocução e Sentido. 3ª edição São Paulo: Moderna 2010

Em Qual das características do Modernismo da primeira geração o trecho do poema Pronominais

“O Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da mata virgem — Sois cristão? — Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu — Sim pela graça de Deus Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!

E fizeram o Carnaval”

O tom coloquial do poema recria de modo irônico a chegada dos portugueses ao Brasil. O momento, normalmente, tratado de maneira solene, é apresentado a partir de uma perspectiva irreverente, característica usada, amplamente, pelo autor. O diálogo entre o índio guarani e o Zé Pereira, ou seja, um indivíduo qualquer, ilustra as muitas influências e vozes que contribuíram para a definição do caráter nacional.

Neste poema em análise, destaca-se o elemento mais marcante da obra poética de Oswald de Andrade é a visão renovadora de elemento nacional com uma linguagem irônica, além de sintética.

Bibliografia – Português: contexto, interlocução e sentido, de Maria Luiza M. Abaurre

Em Qual das características do Modernismo da primeira geração o trecho do poema Pronominais

No anfiteatro de montanhas Os profetas do Aleijadinho Monumentalizam a paisagem As cúpulas brancas dos Passos E os cocares revirados das palmeiras São degraus da arte de meu país

Onde ninguém mais subiu

Bíblia de pedra-sabão
Banhada no ouro das minas   (Oswald de Andrade)

 Por meio de imagens multifacetadas, o poema “Ocaso”, de Oswald de Andrade constrói o retrato da arte sacra de Minas e do país, como se observa nos versos: No anfiteatro de montanhas / Os profetas do Aleijadinho / E os cocares revirados das palmeiras / São degraus da arte de meu país.

O poeta nos versos – “No anfiteatro de montanhas/Os profetas do Aleijadinho“ enfatiza a grandiosidade e a beleza da paisagem e da obra de Aleijadinho. Algumas das expressões utilizadas no poema traduzem essa ênfase: “Monumentalizam”; “São degraus da arte de meu país”

O eu lírico, neste poema em análise, estabelece uma comparação entre as copas das palmeiras da paisagem e cocares indígenas. As palmeiras, com suas folhas, seriam semelhantes a cocares de cabeça para baixo. Por isso, o autor usa a expressão “cocares revirados”. Essa comparação nos leva a perceber a valorização da cultura indígena, o elemento nacional aqui lembrado colocado em condição de igualdade com outros aspectos culturais e artísticos valorizados pelos primeiros modernistas.

Já no 6º verso da primeira estrofe, o poeta alude às cúpulas das capelas consagradas aos passos da paixão de Cristo. No entanto, a referência máxima dessa arte e cenário descrito se reporta para o 1° verso da segunda estrofe: “Bíblia de pedra-sabão” é a clara descrição das estátuas de pedra-sabão dos doze profetas, esculpidas por Aleijadinho.

Como se não bastasse descrição de tanta beleza e grandiosidade de nossa Pátria, o último verso do poema é dedicado à riqueza, advinda da exploração do ouro no século XVII, que caracterizou o período em que viveu Aleijadinho.

FONTE:

Bibliografia – Português: contexto, interlocução e sentido, de Maria Luiza M. Abaurre

Exercício sobre Modernismo no Enem – 2012 (Questão 108)

O trovador

Sentimentos em mim do asperamente

dos homens das primeiras eras...

As primaveras do sarcasmo

intermitentemente no meu coração arlequinal...

Intermitentemente...

Outras vezes é um doente, um frio

na minha alma doente como um longo som redondo...

Cantabona! Cantabona!

Dlorom...

Sou um tupi tangendo um alaúde!

ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade.
Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.

Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é

a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade.

b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas.

c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).

d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade.

e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas.

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um marco para a literatura brasileira. À época, o movimento transgressor que tinha como objetivo derrubar qualquer tipo de influência europeia nas artes brasileiras não foi bem recebido pela crítica e pelo público, mas aos poucos foi ganhando uma enorme importância histórica. Tudo o que hoje é produzido no campo da literatura apresenta relação com a fase heroica do modernismo: não fosse o arrojamento da tríade modernista – Manuel Bandeira, Oswald e Mário de Andrade –, talvez nossas letras ainda estivessem sob o domínio dos moldes clássicos e dos padrões europeus.

O principal compromisso dos primeiros modernistas era com a construção de uma literatura genuinamente brasileira, uma literatura que falasse de seu povo e de seus costumes por meio de uma linguagem livre de arcaísmos, na qual os temas do cotidiano, o nacionalismo, o humor e a ironia fossem privilegiados. Na primeira leitura, os textos da primeira geração modernista causam grande impacto, visto o rompimento com o poema clássico, cuja preocupação era, essencialmente, com a forma – daí o grande embate com toda a poesia produzida, principalmente, pelos escritores parnasianos.

Para mostrar para você um pouco mais sobre a produção literária da fase heroica do modernismo brasileiro, selecionamos cinco poemas da primeira geração modernista, poemas que abriram caminhos para grandes escritores da prosa e da poesia, nomes que foram influenciados pelo estilo e despojamento literário impressos nesses textos, entre eles o grande poeta Carlos Drummond de Andrade. Nesses poemas, você encontrará a fina ironia, o humor e uma interessante relação dialógica com poemas clássicos de nossa literatura. Boa leitura!

Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15

E o progresso de São Paulo.

Oswald de Andrade

Pronominais

Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada

Me dá um cigarro.

Oswald de Andrade

Debussy

Para cá, para lá . . . Para cá, para lá . . . Um novelozinho de linha . . . Para cá, para lá . . . Para cá, para lá . . . Oscila no ar pela mão de uma criança (Vem e vai . . .) Que delicadamente e quase a adormecer o balança — Psio . . . — Para cá, para lá . . . Para cá e . . .

— O novelozinho caiu.

Manuel Bandeira

Moça Linda Bem Tratada

Moça linda bem tratada, Três séculos de família, Burra como uma porta: Um amor. Grã-fino do despudor, Esporte, ignorância e sexo, Burro como uma porta: Um coió. Mulher gordaça, filó, De ouro por todos os poros Burra como uma porta: Paciência... Plutocrata sem consciência, Nada porta, terremoto Que a porta do pobre arromba:

Uma bomba.

Mário de Andrade

Eu sou trezentos...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,  As sensações renascem de si mesmas sem repouso,  Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! 

Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as milhores palavras,  E os suspiros que dou são violinos alheios;  Eu piso a terra como quem descobre a furto 

Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,  Mas um dia afinal eu toparei comigo...  Tenhamos paciência, andorinhas curtas,  Só o esquecimento é que condensa, 

E então minha alma servirá de abrigo.

Mário de Andrade

Por Luana Castro

Graduada em Letras