Como pode ser entendida a ausência quase total de verbos na primeira estrofe

Como pode ser entendida a ausência quase total de verbos na primeira estrofe

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Como pode ser entendida a ausência quase total de verbos na primeira estrofe

Texto para as questões 01 e 02.

Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.

1.Que relação pode ser estabelecida entre o primeiro e o último verso do poema?

RESPOSTA:

Pode-se estabelecer uma relação de afinidade, pois o primeiro verso “Chega um tempo em que não se diz mais: Meu Deus” revela que nada mais surpreende o poeta, nada mais pode motivá-lo ou desmotivá-lo, e o último verso “A vida apenas, sem mistificação” apresenta a ideia da vida como algo mecânico, artificial e sem encantos, sem surpresas e sem motivação.

2. Dê uma explicação para o título do poema.

RESPOSTA:

Assim como na mitologia grega Atlas foi condenado por Zeus a carregar o mundo nas costas, o poeta sente-se condenado a carregar o mundo nos seus ombros. A vida, sendo mecânica e despojada de prazeres, torna-se apenas uma obrigação, um fardo que o ser humano está condenado a carregar sobre seus ombros.

3. (UNICAMP) Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.  (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.51.)

a) Na primeira estrofe, o eu lírico afirma categoricamente que “o coração está seco”. Que imagem, nessa primeira estrofe, explica o fato de o coração estar seco? Justifique sua resposta.

b) O último verso (“A vida apenas, sem mistificação”) fornece para o leitor o sentido fundamental do poema. Levando-se em conta o conjunto do poema, que sentido é sugerido pela palavra “mistificação”?

RESPOSTAS:

a) A imagem que se conecta à secura do coração é expressa no seguinte verso: “E os olhos não choram”. O coração, como símbolo portador dos sentimentos humanos, vive um “tempo de absoluta depuração”, processo este de que resulta o “coração seco”. Ora, o “coração está seco” porque, para o eu lírico, não é possível estabelecer com a vida uma relação simbólica a partir de afetos (amor, amizade) ou de crenças.

b) Desde a primeira estrofe até a última, o eu lírico procura colocar-se numa situação de extrema lucidez em relação a sua experiência pessoal. Não dizer “mais meu Deus” ou “meu amor”, ou não abrir a porta para as mulheres e nada esperar dos amigos, significa contar somente com suas forças e se recusar a ser enganado por algo ou por alguém. Aliás, o sentido da palavra “mistificação” abarca o campo semântico das ideias de ilusão, engodo, fantasia e embuste. Espera-se que o candidato perceba que “a vida apenas, sem mistificação” representa a decisão firme do eu lírico em contar apenas com suas próprias forças, o que está sugerido no título do poema: “Os ombros suportam o mundo”.

À Noite Dissolve os Homens

A noite desceu. Que noite! Já não enxergo meus irmãos.

E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.

A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate, nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão. A noite caiu. Tremenda, sem esperança…

Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.

E o amor não abre caminho na noite. A noite é mortal, completa, sem reticências, a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer, a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!

nas suas fardas.

A noite anoiteceu tudo… O mundo não tem remédio…
Os suicidas tinham razão.

Aurora, entretanto eu te diviso, ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender

e dos bens que repartirás com todos os homens.

Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações, adivinho-te que sobes,

vapor róseo, expulsando a treva noturna.

O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos, teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam na escuridão

como um sinal verde e peremptório.

Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.

O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam, os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão

simples e macio…

Havemos de amanhecer. O mundo se tinge com as tintas da antemanhã e o sangue que escorre é doce, de tão necessário

para colorir tuas pálidas faces, aurora.

4. O poema “A noite dissolve os homens” pode ser dividido em dois segmentos.

a) Quais são os dois segmentos? Indique o verso que os inicia.

b) Qual a visão do poeta em cada segmento?

RESPOSTAS:

a) O dois segmentos são compostos pela contraposição entre a noite e a aurora. O primeiro segmento começa com o primeiro verso da primeira estrofe: “A Noite desceu! Que noite!”, enquanto o segundo segmento começa com o primeiro verso da segunda estrofe: “Aurora”

b) No primeiro segmento, o poeta manifesta uma visão pessimista, já que a “noite”, ou seja, a guerra, a política totalitária do fascismo e sua repressão impossibilitam a liberdade do homem. A “noite” pode ser vista como a privação da luz, como metáfora da ausência de lucidez e de liberdade. No segundo segmento, o poeta manifesta uma visão esperançosa em um mundo melhor, mundo que virá com a “aurora”, com a queda dos regimes totalitários e com o resgate da liberdade.

5. (PUC) FAMÍLIA Três meninos e duas meninas, sendo uma ainda de colo. A cozinheira preta, a copeira mulata, o papagaio, o gato, o cachorro, as galinhas gordas no palmo de horta

e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra, o cigarro, o trabalho, a reza, a goiabada na sobremesa de domingo, o palito nos dentes contentes, o gramofone rouco toda noite

e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco, o médico uma vez por mês, o bilhete todas as semanas branco! mas a esperança sempre verde. A mulher que trata de tudo e a felicidade. ANDRADE, Carlos Drummond de. “Sentimento do mundo”. Rio de Janeiro: Record, 1999, p.58.

a) O poema de Carlos Drummond de Andrade, publicado em seu livro de estreia, em 1930, apresenta aspectos que ainda mantêm uma relação direta com a primeira fase do Modernismo. Cite duas características do texto que reafirmam valores e procedimentos do projeto modernista brasileiro.

RESPOSTA:

O uso da linguagem coloquial; a opção pelo tom prosaico na poesia; a liberdade formal, utilizando versos livres e brancos; a ironia e a crítica aos valores tradicionais burgueses.

 6.(UFF) Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco Também não cantarei o mundo futuro Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças Entre eles, considero a enorme realidade O presente é tão grande, não nos afastemos

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes

A vida presente. (Carlos Drummond de Andrade)

Toda noite – tem auroras,

Raios – toda a escuridão.

Moços, creiamos, não tarda

A aurora da redenção. Castro Alves. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976. p. 212

a) O fragmento de Castro Alves e o poema de Carlos Drummond de Andrade apresentam verbos no modo imperativo: “ Moços, creiamos, não tarda” (v.3) “ Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.” (v.7) Justifique o emprego do imperativo, correlacionando as semelhanças temáticas entre os versos destacados.

b) Explique, com frases completas, que características da poesia socialmente engajada do Romantismo estão presentes no texto de Castro Alves e no de Carlos Drummond de Andrade.

RESPOSTAS:

a) Nos verbos empregados no imperativo em ambos os poemas, depreende-se uma exortação, incitação, estímulo a não nos afastarmos e a irmos de mãos dadas (texto I) e a crermos (fragmento de Castro Alves) em mudanças possíveis.

b) Em ambos os poemas, depreende-se um convite aos leitores para efetivarem uma ação social, em concordância com as ideias de união em torno de um projeto.

Poema da Necessidade

É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades

é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país, é preciso crer em Deus, é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio,

é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque, é preciso estar sempre bêbado, é preciso ler Baudelaire, é preciso colher as flores

de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens é preciso não assassiná-los, é preciso ter mãos pálidas

e anunciar O FIM DO MUNDO.

7. Tomando como referência a leitura da obra Sentimento do mundo, qual a explicação cabível ao último verso do “Poema da necessidade”?

RESPOSTA:

Em “e anunciar o FIM DO MUNDO”, último verso do “Poema da necessidade”, o mundo que o poeta deseja anunciar o fim é o mundo das guerras e das injustiças sociais, o mundo do isolamento e da privação. Não se trata, portanto, de uma visão pessimista, mas de um desejo de mudar as regras que tornam o mundo “caduco”, como dirá o poeta em “Mãos dadas”, outro poema do livro.

 8. (FUVEST)  Leia o seguinte poema.

TRISTEZA DO IMPÉRIO

Os conselheiros angustiados

ante o colo ebúrneo

das donzelas opulentas

que ao piano abemolavam

“bus-co a cam-pi-na se-re-na

pa-ra-li-vre sus-pi-rar”,

esqueciam a guerra do Paraguai,

o enfado bolorento de São Cristóvão,

a dor cada vez mais forte dos negros

e sorvendo mecânicos

uma pitada de rapé,

sonhavam a futura libertação dos instintos

e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático.Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.

a) Compare sucintamente “os conselheiros” do Império, tal como os caracteriza o poema de Drummond, ao protagonista das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

b) Ao conjugar de maneira intempestiva o passado imperial ao presente de seu próprio tempo, qual é a percepção da história do Brasil que o poeta revela ser a sua? Explique resumidamente.

RESPOSTAS:

a) Os “conselheiros” do Império, citados no poema de Drummond, são representantes de uma elite burguesa que se caracteriza pela insensibilidade social e alienação política, grupo em que está inserido também Brás Cubas, protagonista do romance de Machado de Assis. Entregues a futilidades e a prazeres imediatos, esquecem os verdadeiros dramas que os cercam, moldam as suas vidas de acordo com os interesses individuais de um mundo de aparências e experimentam o tédio e a angústia de quem não luta pela realização pessoal.

b) Ao conjugar o passado imperial ao presente de seu próprio tempo, Drummond apresenta uma visão crítica e pessimista da História do Brasil, pois as atitudes da elite do sistema totalitarista de Getúlio imitam as da elite do século XIX no que diz respeito a frivolidade, alienação e provincianismo.  

OS MORTOS DE SOBRECASACA

Havia a um canto da sala um álbum de fotografias [intoleráveis, alto de muitos metros e velho de infinitos minutos, em que todos se debruçavam

na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.

Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos [retratos. Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava

que rebentava daquelas páginas. Carlos Drummond de Andrade   (Sentimento do mundo, 1940)

9. No poema “Os mortos de sobrecasaca”, há comunicação entre a vida e a morte. a)Explique como se dá essa comunicação usando elementos do texto.

b)O álbum pode ser comparado a um túmulo. Por quê? Justifique sua resposta com elemento do texto.

RESPOSTAS:

a) A vida e a morte estão ligadas por meio de um álbum “ em que todos se debruçavam”

b)Porque ali “jazem” todos os mortos, inclusive aos poucos roídos por um verme, agente literariamente consagrado da morte

(UNICAMP) Para as questões 10 e 11, considere os versos abaixo dos poemas “Sentimento do mundo” e “Noturno à janela do apartamento”, de Carlos Drummond de

Andrade, ambos publicados no livro Sentimento do mundo.

esse amanhecer

mais noite que a noite.

(Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.12.)

Silencioso cubo de treva:

um salto, e seria a morte.

Mas é apenas, sob o vento,

a integração na noite.

Nenhum pensamento de infância,

nem saudade nem vão propósito.

Somente a contemplação

de um mundo enorme e parado.

A soma da vida é nula.

Mas a vida tem tal poder:

na escuridão absoluta,

como líquido, circula.

Suicídio, riqueza, ciência…

A alma severa se interroga

e logo se cala. E não sabe

se é noite, mar ou distância.

Triste farol da Ilha Rasa. (Idem, p. 71.)

10. Considerando a obra Sentimento do mundo em seu conjunto e tendo em vista que os primeiros versos transcritos pertencem ao poema que abre e dá título ao livro de Drummond, e que o segundo poema, citado integralmente, corresponde ao fechamento do volume, é correto afirmar que

a) a oposição de base dos poemas reside nas imagens contrapostas de luz e trevas, manifestando o tema do pessimismo acerca da condição humana.

b) o percurso figurativo dos poemas é marcado apenas pelas imagens da noite, associadas às ideias de negatividade e de esperança para a humanidade.

c) a unidade de sentido do conjunto dos textos poéticos reside na clássica oposição entre luz e trevas, sendo que o percurso figurativo manifesta o tema da maldade.

d) as imagens de luz e trevas significam a luta eterna entre o bem e o mal, o que se confirma no verso “Suicídio, riqueza, ciência”, que sugere o impasse do eu lírico.

11. A visão de mundo do eu lírico em Drummond é marcada pela ironia e pela dúvida constante, cujo saldo final é negativo e melancólico (“Triste farol da Ilha Rasa”). Tal perspectiva assemelha-se à do

a) personagem Leonardo, do romance Memórias de um sargento de milícias.

b) personagem Carlos, da obra Viagens na minha terra.

c) narrador do romance O cortiço.

d) narrador do romance Memórias póstumas de Brás Cubas.

Texto para as questões 12 e 13.

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

12. No primeiro verso do poema, o adjetivo “caduco” significa, no contexto, que o mundo:

a) é feito de justiças e estas estão se perdendo.

b) está deixando de ser um lugar tranquilo.

c) é um lugar velho e sem finalidade.

d) é um lugar onde as normas não têm mais razão de ser.

e) é um lugar que deve manter as normas para adquirir sentido.

13. No contexto da obra Sentimento do mundo, o poema “Mãos dadas” representa:

a) a impossibilidade de contato do poeta com os seus semelhantes.

b) a normalidade do mundo e a solidariedade entre os homens.

c) uma reação do poeta à ideia de um mundo “caduco” e o desejo de sair do seu universo interior para se completar com o próximo.

d) a ausência de consciência do poeta dos problemas sociais, uma vez que ele deseja apenas falar sobre a sua solidão.

e) a ausência de desejo de transformar o mundo, já que isso implicaria numa transformação do “eu” do poeta.

Texto para as questões 14 e 15.

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige

na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto

o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço

que me perdoeis.

Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microcopista que habitavam a barraca e não foram encontrados

ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

14. Na primeira estrofe do poema, as duas mãos simbolizam:

a) a incapacidade do poeta de sentir o mundo.

b) a consciência do poeta que se estende em direção ao outro, no intuito de sentir o mundo.

c) a própria poesia e o mecanismo da criação poética.

d) o sentimento de culpa do poeta, devido à sua incapacidade de compreender seu semelhante.

e) o desejo do poeta de afastar-se do seu semelhante.

15. Sobre o poema, pode-se afirmar que o eu lírico:

a) sente-se preparado para auxiliar os homens.

b) pede perdão ao seus semelhantes porque não trouxe armas para o combate.

c) pede perdão aos seus semelhantes porque não se sente capacitado para auxiliá-los.

d) acredita na construção de um mundo melhor, o que pode ser confirmado pelos dois versos finais do poema.

e) sente que os homens não estão preparados para auxiliá-lo

16. Sobre Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade, é correto afirmar:

a) Trata-se de uma obra exclusivamente subjetiva, apresentando uma visão idealizada do Brasil.

b) “O sentimento de insuficiência do eu, entregue a si mesmo, leva-o a querer completar-se pela adesão ao próximo, substituindo os problemas pessoais pelos problemas de todos.”

c) A obra não apresenta o problema da incomunicabilidade, tanto no plano da existência quanto no plano da criação artística.

d) Trata-se do primeiro livro do poeta escrito em conformidade com as novas técnicas modernistas.

e) No livro, o universo interior do poeta não se relaciona com o mundo exterior, pois o livro focaliza apenas os problemas sociais.

17. (UFV-MG) Leia as passagens abaixo, extraídas de Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade:

“I. Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário

trazer fogo e alimento. (“Sentimento do mundo”)

II.

Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói.  (“Confidência do itabirano”)

III. Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto de me contar. Por isso me dispo, por isso grito, por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias

preciso de todos.  (“Mundo grande”)

IV.

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo. Praticas laboriosamente os gestos universais,

sentes de calor e frio, falta dinheiro, fome e desejo sexual.  (“Elegia 1938”)

V.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.”

(“Mãos dadas”)

Apesar do tom intimista e quase confessional da poesia de Carlos Drummond de Andrade, podemos encontrar alguns traços em que se desenvolve certa experiência histórica. Assinale a alternativa em que as três passagens ilustram a vivência das transformações sociais e econômicas por parte do sujeito lírico.

a) I, III e IV.

b) I, III e V.

c) II, III e V.

d) II, III e IV.

e) I, II e IV.

18. (FATEC) Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco Também não cantarei o mundo futuro Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças Entre eles, considero a enorme realidade O presente é tão grande, não nos afastemos

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes

A vida presente.

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo (1940) Considerando o poema “Mãos dadas”, no conjunto da obra a que pertence (Sentimento do mundo), é correto afirmar que Carlos Drummond de Andrade

a) recusa os princípios formais e temáticos do primeiro Modernismo.

b) tematiza o lugar da poesia num momento histórico caracterizado por graves problemas mundiais.

c) vale-se de temas que valorizam aspectos recalcados da cultura brasileira.

d) alinha-se à poética que critica as técnicas do verso livre.

e) relativiza sua adesão à poesia comprometida com os dilemas históricos, pois a arte deve priorizar o tema da união entre os homens.

 19. (UFT) Com base na leitura de Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de  Andrade, é INCORRETO afirmar que, nessa obra, o poeta  

a) Aborda problemas de seu tempo e de seus contemporâneos.

b) Convida o leitor a participar da criação poética.

c) Prega a esperança de emancipação político-social do País.

d) Se dedica ao elogio da mulher amada e perdida.

20. (UFU/MG) Leia os trechos a seguir e assinale a alternativa correta.

“Participação na vida, identificação com os ideais do tempo (e esses ideais existem, sempre, mesmo sob as mais sórdidas aparências de decomposição), curiosidade e interesse pelos outros homens, apetite sempre renovado em face das coisas, desconfiança da própria e excessiva riqueza interior, eis aí algumas indicações que permitirão talvez ao poeta deixar de ser um bicho esquisito para voltar a ser, simplesmente homem.”

Carlos Drummond de Andrade. Confissões de Minas.

“Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, por isso me grito, por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:

preciso de todos.

[…]

Meu coração não sabe Estúpido, ridículo e frágil é meu coração. Só agora descubro como é triste ignorar certas coisas. (Na solidão de indivíduo desaprendi a linguagem

com que os homens se comunicam.)” Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do mundo.

a) Sentimento do mundo realiza a proposta poética articulada neste trecho de Confissões de Minas de uma poesia comprometida socialmente, uma vez que a voz do eu lírico reflete um desacerto com a sua época.

b) Sentimento do mundo, obra que traz um comprometimento do poeta com a denúncia de um sistema político repressor, foi escrito durante a década de 70, no auge da ditadura militar, refletindo os erros e as injustiças sociais desse momento histórico.

c) O trecho do poema acima pode ser considerado romântico, uma vez que o eu lírico volta-se exclusivamente para os problemas de seu coração e faz da poesia o meio confessional de seus sentimentos íntimos, isolando-se de todos.

d) Confissões de Minas apresenta a proposta de uma poesia reclusa em si mesma, longe dos homens e da sociedade, o que pode ser comprovado em trechos como “apetite sempre renovado em face das coisas” e “desconfiança da própria e excessiva riqueza anterior”.

21. (FATEC) Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco Também não cantarei o mundo futuro Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças Entre eles, considero a enorme realidade O presente é tão grande, não nos afastemos

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes

A vida presente

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo (1940) Assinale a alternativa que apresenta o provérbio cujo significado se aproxima do tema dos versos O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

a) Depois da tempestade vem a bonança.

b) Uma andorinha só não faz verão.

c) Deus ajuda quem cedo madruga.

d) De grão em grão a galinha enche o papo.

e) A esperança é a última que morre.

 22. (UFU) Leia o texto abaixo.

“Poetas de camiseiro, chegou vossa hora,

poetas de elixir de inhame e de tonofosfã

chegou vossa hora, poetas do bonde e do rádio,

poetas jamais acadêmicos, último ouro do Brasil.

Em vão assassinaram a poesia nos livros,

em vão houve putschs, tropas de assalto, depurações

Os sobreviventes aqui estão,

poetas honrados poetas diretos da Rua Larga.

(As outras ruas são muito estreitas, só nesta cabem a poeira, o amor, e a Light.)” DRUMMOND. Sentimento do mundo.

Tendo em vista a poesia acima, assinale a alternativa INCORRETA.

a) Paralelamente a temas líricos tradicionais, aparece no texto uma proposta de poetizar elementos até então não poéticos, tais como produtos da modernização do início do século, como o bonde, a luz elétrica e o rádio.

b) O eu-lírico pressupõe que a poesia assassinada pelos revolucionários poderá ser resgatada por um herói provinciano que virá do povo, apresentado como honrado e trabalhador, considerado “o último ouro do Brasil”.

c) A estrutura do poema demonstra o tema discutido: a libertação da poesia das regras tradicionais, por meio do uso de versos brancos e livres, e da enumeração caótica, como “poeira”, “amor” e “Light”.

d) O texto pressupõe um exercício metalinguístico que questiona as regras da poesia tradicional, instaurando uma nova poética do cotidiano, mais livre e ampla, o que fica demonstrado claramente na metáfora “Rua Larga”.

23. (FATEC) Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco Também não cantarei o mundo futuro Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças Entre eles, considero a enorme realidade O presente é tão grande, não nos afastemos

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes

A vida presente

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo (1940)

Considere as seguintes afirmações sobre o texto.

I.Trata-se de um poema em que o eu lírico afirma seu desejo de que a poesia possa reconstruir aquilo que, tendo sido destruído no passado, permanece atual em sua memória.

II. O poeta manifesta a confiança de que sua nova poesia poderá superar os problemas pessoais que quase o levaram ao suicídio e o fizeram desejar isolar-se.

III. O poeta convoca outros poetas para que, juntos, possam se libertar das velhas convenções que prejudicam a poesia moderna.

IV. Os versos da 1ª estrofe indicam o anseio do eu lírico de que sua poesia se aproxime dos homens e ajude a transformar a vida presente.

V. Na 2ª estrofe, o eu lírico nega que a poesia desse momento histórico deva tratar de temas sentimentais ou amorosos. São corretas apenas as afirmações

a) I, II e III.

b) I e IV.

c) II e III.

d) III e IV.

e) IV e V

TEXTO PARA AS QUESTÕES 24 A 26

Confidência do Itabirano

Carlos Drummond de Andrade

Alguns anos vivi em Itabira.

Principalmente nasci em Itabira.

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.

Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:

esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!

24. (FUVEST) Tendo em vista que o poema de Drummond contém referências a aspectos geográficos e históricos determinados, considere as seguintes afirmações:

I. O poeta é “de ferro” na medida em que é nativo de região caracterizada pela existência de importantes jazidas de minério de ferro, intensamente exploradas.

II. O poeta revela conceber sua identidade como tributária não só de uma geografia, mas também de uma história, que é, igualmente, a da linhagem familiar a que pertence.

III. A ausência de mulheres de que fala o poeta refere-se à ampla predominância de população masculina, na zona de mineração intensiva de que ele é originário.

Está correto o que se afirma em

a) I, somente.

b) III, somente.

c) I e II, somente.

d) II e III, somente.

e) I, II e III.

25. (FUVEST ) No texto de Drummond, o eu lírico

a) considera sua origem itabirana como causadora de deficiências que ele almeja superar.

b) revela-se incapaz de efetivamente comunicar-se, dado o caráter férreo de sua gente.

c) ironiza a si mesmo e satiriza a rusticidade de seu passado semirrural mineiro.

d) dirige-se diretamente ao leitor, tornando assim patente o caráter confidencial do poema.

e) critica, em chave modernista, o bucolismo da poesia árcade mineira.

26. (FUVEST) Na última estrofe, a expressão que justiça o uso da conjunção sublinhada no verso “Mas como dói!” é:

a) “Hoje”.

b) “funcionário público”.

c) “apenas”.

d) “fotografia”.

e) “parede”.

TEXTO PARA AS QUESTÕES 27 A 31.

REVELAÇÃO DO SUBÚRBIO

Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a vidraça do carro, vendo o subúrbio passar. O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa, com medo de não repararmos suficientemente em suas luzes que mal têm tempo de brilhar. A noite come o subúrbio e logo o devolve, ele reage, luta, se esforça, até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais

e à noite só existe a tristeza do Brasil.”

27. (FUVEST) Para a caracterização do subúrbio, o poeta lança mão, principalmente, da(o)

a) personificação.

b) paradoxo.

c) eufemismo.

d) sinestesia.

e) silepse.

28. (FUVEST ) Considerados no contexto, dentre os mais de dez verbos no presente, empregados no poema, exprimem ideia, respectivamente, de habitualidade e continuidade

a) “gosto” e “repontam”.

b) “condensa” e “esforça”.

c) “vou” e “existe”.

d) “têm” e “devolve”.

e) “reage” e “luta”.

29. (FUVEST) Em consonância com uma das linhas temáticas principais de Sentimento do mundo, o vivo interesse que, no poema, o eu lírico manifesta pela paisagem contemplada prende-se, sobretudo, ao fato de o subúrbio ser

a) bucólico.

b) popular.

c) interiorano.

d) saudosista.

e) familiar.

30. (FUVEST) No poema de Drummond, a presença dos motivos da velocidade, da mecanização, da eletricidade e da metrópole conigura-se como

a) uma adesão do poeta ao mito do progresso, que atravessa as letras e as artes desde o surgimento da modernidade.

b) manifestação do entusiasmo do poeta moderno pela industrialização por que, na época, passava o Brasil.

c) marca da influência da estética futurista da Antropofagia na literatura brasileira do período posterior a 1940.

d) uma incorporação, sob nova inflexão política e ideológica, de temas característicos das vanguardas que influenciaram o Modernismo antecedente.

e) uma crítica do poeta pós-modernista às alterações causadas, na percepção humana, pelo avanço indiscriminado da técnica na vida cotidiana.

31. (FUVEST) Segundo o crítico e historiador da literatura Antonio Candido de Mello e Souza, justamente na década que presumivelmente corresponde ao período de elaboração do livro a que pertence o poema, o modo de se conceber o Brasil havia sofrido “alteração marcada de perspectivas”. A leitura do poema de Drummond permite concluir corretamente que, nele, o Brasil não mais era visto como país

a) agrícola (fornecedor de matéria-prima), mas como industrial (produtor de manufaturados).

b) arcaico (retardatário social e economicamente) mas, sim, percebido como moderno (equiparado aos países mais avançados).

c) provinciano (caipira, localista) mas, sim, cosmopolita (aberto aos intercâmbios globais).

d) novo (em potência, por realizar-se), mas como subdesenvolvido (marcado por pobreza e atroia).

e) rural (sobretudo camponês), mas como suburbano (ainda desprovido de processos de urbanização).

32. (UFU) PRIVILÉGIO DO MAR

Neste terraço mediocremente confortável, bebemos cerveja e olhamos o mar.

Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos labutando em mil compartimentos iguais. Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador e vêm cá em cima respirar a brisa do oceano,

o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco, fundeado na baía em frente da cidade, a vida seria incerta… improvável… Mas nas águas tranquilas só há marinheiros fiéis.

Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja.Carlos Drummond de Andrade. “Sentimento do mundo”. Considerando o poema acima e a obra “Sentimento do mundo”, marque a alternativa INCORRETA.

a) O terraço, neste poema, é lugar de encontros amorosos, pois “abriga mil corpos”, o que caracteriza o texto como lírico amoroso, de influência romântica.

b) No último verso, a palavra “honradamente” confere um sentido irônico ao poema, pois caracteriza uma classe social privilegiada, indiferente aos problemas que não lhe afligem de maneira direta. c) O edifício de “cimento armado”, neste poema, confronta-se com o espaço de outro poema do livro “Morro da Babilônia”, metaforizando duas classes sociais: a primeira, protegida em seus privilégios, e a última, excluída e ameaçadora.

d) O poema acima confirma a vocação de poeta social em Drummond, que coloca, em vários momentos, a poesia a favor da denúncia, e que nestes versos se reflete na ideia de privilégios econômicos para um segmento social específico.

33. (UFV-MG) A partir da leitura do poema abaixo, assinale a afirmativa INCORRETA.

“Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis, alto de muitos metros e velho de infinitos minutos, em que todos se debruçavam na alegria de zombar dos mortos de sobrecasacas. Um verme principiou roer as sobrecasacas indiferentes e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos. Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava

que rebentava daquelas páginas .”  (“Os mortos de sobrecasaca”)

a) O poema desenvolve um sentimento sutil mas profundo sobre objetos que rodeiam o sujeito lírico.

b) O “álbum de fotografias” pode ser entendido como um sinal de lirismo, pois remete às sensações íntimas do sujeito lírico.

c) Não há qualquer traço de lirismo, pois não se trata de um poema de amor.

d) O poema trata da experiência afetiva da memória, uma das marcas da poesia de Carlos Drummond de Andrade.

e) O “verme” que rói as fotografias simboliza a passagem do tempo, que envelhece as coisas e as pessoas.

34. (PUC-SP) A obra Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade,

a) aborda temática fundamentalmente lírica e exalta as relações positivas entre o indivíduo e o mundo.

b) preocupa-se com procedimentos metalinguísticos na medida em que, em seus poemas, volta-se para a explicação do processo de produção poética.

c) despreza a abordagem de sentimentos negativos e, ignorando a questão do medo, enaltece as ações vitoriosas.

d) desenvolve temas de caráter político e social e faz da poesia um instrumento de denúncia das dilacerações do mundo.

e) valoriza a temática social, de um tempo marcado pela resistência aos totalitarismos, em detrimento dos aspectos estéticos do texto.

35. (UFMG) Na poesia de Carlos Drummond de Andrade, na fase a que pertence “Sentimento do mundo”, a percepção da “insuficiência do eu” leva o poeta a querer aproximar-se dos outros e participar dos problemas humanos em geral.
Assinale a alternativa em que os versos, transcritos dessa obra, explicitam tal desejo de participação.

a) Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer. Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

“Elegia 1938”

b) Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, por isso me grito, por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: preciso de todos.

“Mundo grande”

c) Os inocentes do Leblon não viram o navio entrar. Trouxe bailarinas? trouxe imigrantes? trouxe um grama de rádio? Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram, mas a areia é quente, e há um óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem.

“Inocentes do Leblon”

d) Silencioso cubo de treva: um salto, e seria a morte. Mas é apenas, sob o vento, a integração na noite.

“Noturno à janela do apartamento”

36. (PUC-SP)

A noite dissolve os homens [Carlos Drummond de Andrade]

A noite desceu. Que noite! Já não enxergo meus irmãos. E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam. A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate, nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão. A noite caiu. Tremenda, sem esperança… Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros. E o amor não abre caminho na noite. A noite é mortal, completa, sem reticências, a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer, a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes! nas suas fardas. A noite anoiteceu tudo… O mundo não tem remédio…

Os suicidas tinham razão.

Aurora, entretanto eu te diviso, ainda tímida, inexperiente das luzes que vais acender e dos bens que repartirás com todos os homens. Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações, adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna. O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos, teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório. Minha fadiga encontrará em ti o seu termo, minha carne estremece na certeza de tua vinda. O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam, os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão simples e macio… Havemos de amanhecer. O mundo se tinge com as tintas da antemanhã e o sangue que escorre é doce, de tão necessário

para colorir tuas pálidas faces, aurora.

Do poema acima, que integra a obra Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade, pode-se afirmar que:

a) apresenta um tema eminentemente negativo sem perspectiva de solução.

b) usa todas as referências do tempo para caracterizar apenas as possibilidades de libertação.

c) estrutura-se inteiramente em versos populares apoiados em métrica bem definida.

d) compõe-se de dois blocos de versos que se opõem temática e estruturalmente.

e) constrói-se de forma contrastiva e emprega as palavras em seu significado estritamente referencial.

37. (UFMG) Considerando-se a leitura de “Sentimento do mundo”, de Carlos Drummond de Andrade, é INCORRETO afirmar que, nessa obra, o poeta
a) exclui, ao voltar-se para os problemas coletivos, sua herança provinciana. b) integra à experiência do presente as dimensões temporais do passado e do futuro. c) opõe-se, por um sentimento de justiça, à divisão da sociedade em classes.

d) problematiza o individualismo característico de sua própria poesia.

(FUVEST) TEXTO PARA AS QUESTÕES 38 E 39

Morro da Babilônia À noite, do morro descem vozes que criam o terror (terror urbano, cinquenta por cento de cinema, e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua [geral). Quando houve revolução, os soldados se espalharam [no morro, o quartel pegou fogo, eles não voltaram. Alguns, chumbados, morreram. O morro ficou mais encantado. Mas as vozes do morro não são propriamente lúgubres. Há mesmo um cavaquinho bem afinado que domina os ruídos da pedra e da folhagem e desce até nós, modesto e recreativo, como uma gentileza do morro. Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. 38. Guardadas as diferenças que separam as obras a seguir comparadas, as tensões a que remete o poema de Drummond derivam de um conflito de a) caráter racial, assim como sucede em A cidade e as serras. b) grupos linguísticos rivais, de modo semelhante ao que ocorre em Viagens na minha terra. c) fundo religioso e doutrinário, como o que agita o enredo de Til.

d) classes sociais, tal como ocorre em Capitães da areia.


e) interesses entre agregados e proprietários, como o que tensiona as Memórias póstumas de Brás Cubas.

39. Leia as seguintes afirmações sobre o poema de Drummond, considerado no contexto do livro a que pertence: I. No conjunto formado pelos poemas do livro, a referência ao Morro da Babilônia – feita no título do texto – mais as menções ao Leblon e ao Méier, a Copacabana, a São Cristóvão e ao Mangue, – presentes em outros poemas -, sendo todas, ao mesmo tempo, espaciais e de classe, constituem uma espécie de discreta topografia social do Rio de Janeiro. II. Nesse poema, assim como ocorre em outros textos do livro, a atenção à vida presente abre-se também para a dimensão do passado, seja ele dado no registro da história ou da memória. III. A menção ao “cavaquinho bem afinado”, ao cabo do poema, revela ter sido nesse livro que o poeta finalmente assumiu as canções da música popular brasileira como o modelo definitivo de sua lírica, superando, assim, seu antigo vínculo com a poesia de matriz culta ou erudita. Está correto o que se afirma em a) I, apenas.

b) I e II, apenas.

c) III, apenas. d) II e III, apenas.

e) I, II e III.

40. (UFU) CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. (Carlos Drummond de Andrade, “Sentimento do mundo”). Assinale a afirmativa que NÃO se refere ao poema anterior. a) “Seu lirismo, sem prejuízo da mais alta qualidade, nunca foi puro, mas mesclado de drama e pensamento”. (Davi Arrigucci). b) “Na sua poesia, o “prosaico” não é negação, é antes condição do poético – (…) é um modo, em outras palavras, de intensificar-se o poético pela própria força do contraste.” (Sérgio Buarque de Holanda). c) “(…) com esse volume inicia-se a descoberta e conquista do tempo. O gauche que vivia a espiar de um canto sombrio e torto começa a se mover e explorar o espaço e o tempo ao seu redor”. (Affonso Romano de Sant’Anna).

d) “A poesia de Carlos Drummond de Andrade, poesia de precisão máxima, está sem música”. (Otto Maria Carpeaux).