RELATO DE EXPERIÊNCIA Os impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração de adolescentes conectados às tecnologias digitais The social, cognitive and affective impacts at the generation of teenagers connected to the digital technologies Thayse de Oliveira SilvaI; Lebiam Tamar Gomes SilvaII IGraduada em Psicopedagogia pela Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil Endereço para correspondência RESUMO INTRODUÇÃO: De acordo com dados do Comitê Gestor da Internet, no Brasil (2014), cerca de 81% dos adolescentes usam internet todos os dias, o que evidencia a abrangência do uso das tecnologias digitais e mostra a importância da investigação científica sobre temas correlatos Unitermos: Adolescente. Cognição. Família. Psicopedagogia. Tecnologia da informação. ABSTRACT INTRODUCTION: According with the data of the Manager Committee of internet in Brazil (2014), around 81% of the teenagers uses internet every day, showing the comprehensiveness of the use of digital technologies and showing the importance of the scientific investigation about related themes. Key words: Teenagers. Cognition. Family. Psychopedagogy. Information Technology. INTRODUÇÃO Atualmente, discute-se sobre os impactos do uso excessivo das tecnologias digitais pelos adolescentes, levantando-se questionamentos sobre os seus benefícios ou malefícios para o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo. Os adolescentes lideram o ranking de uso de celulares e internet. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em seu último censo realizado em 2010, e do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br), de 2014, notou-se que, em um conjunto de 34,1 milhões de pessoas, entre 10 e 19 anos de idade, existentes no país, cerca de 81% acessam a internet todos os dias. Isso evidencia o quanto a internet está inserida nos lares brasileiros e o seu poder de persuasão. É imprescindível observar que a tecnologia é apontada como um meio facilitador na questão do ensino, porque os professores podem utilizá-la para pesquisas, fontes ilustrativas, vídeos educativos etc. Além disso, o mercado de trabalho e as relações sociais estão a cada dia mais articulados por processos mediados por tecnologias digitais. Entretanto, vários pesquisadores estão abordando o modo como o uso excessivo dessas tecnologias afeta os adolescentes de forma social, afetiva e cognitiva. Assim, considerando esses aspectos, este estudo tem o objetivo de discutir, mediante o olhar psicopedagógico, as consequências do uso indiscriminado de tecnologias digitais pelos adolescentes. Trata-se de uma pesquisa do tipo bibliográfico, desenvolvida a partir de outros estudos já produzidos sobre o tema. O texto foi dividido em três seções, que contemplam as informações relevantes para responder ao questionamento levantado e criar uma linha de pensamento que aborda o problema proposto: a influência da tecnologia sobre os adolescentes no ambiente familiar, em que se retratam questões sobre afetividade e a relação dos adolescentes com a família e com as tecnologias digitais; sua vida no espaço real e no virtual, em que se mostra como a tecnologia interfere nas relações dentro e fora do ambiente virtual; e o que se perde e o que se ganha na cognição, em que se apresentam algumas considerações sobre os problemas causados pelo uso excessivo das tecnologias digitais. MÉTODOS O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, que faz um levantamento do conhecimento atual veiculado na literatura especializada acerca dos impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração de adolescentes conectados às tecnologias digitais.
Considerando o que propõe Salvador2, esta pesquisa foi desenvolvida a partir da execução de duas etapas: busca e seleção de fontes nas bases de dados digitais do Google Acadêmico, de periódicos científicos da Capes, de bibliotecas digitais da CAPES e do IBICT; leitura exploratória de todo o material selecionado; leitura seletiva e registros das informações extraídas das fontes em instrumento específico, elaborado para atender aos propósitos da pesquisa. O estudo conseguiu reunir 33 trabalhos publicados e compôs um conjunto de 19 livros/capítulos de livros, 11 artigos e três materiais de revista ou da web. Este texto foi elaborado com base na sistematização das informações em um esquema de tópicos, que organiza a discussão e encaminha uma linha de pensamento para guiar o leitor a entender bem mais o assunto. O resultado final visa responder ao problema proposto sobre os impactos sociais, cognitivos e afetivos a respeito da geração de adolescentes conectados às tecnologias digitais. FAMÍLIA, ADOLESCÊNCIA E TECNOLOGIAS DIGITAIS O ser humano, ao longo de toda a vida, é influenciado e influencia o seu meio, cria laços familiares, profissionais e amistáveis, encontra sua identidade e busca distinguir o que é certo ou errado. Porém, suas escolhas são feitas, principalmente, sobre o embasamento familiar. É na adolescência que passa a fazer suas escolhas e busca seu espaço no mundo. O atual conceito de família está ligado à afetividade como elemento principal. Por meio das relações de afeto, desenvolvemos as melhores capacidades, reativamos habilidades natas, transformamos nossa personalidade e retificamos nossos traços de caráter que precisam ser realinhados. Os pais têm o dever de educar e criar os filhos sem lhes negar a atenção necessária para formar sua personalidade3. Os filhos, muitas vezes, utilizam os exemplos familiares como espelho. O ambiente familiar influencia sobremaneira formação da identidade de cada ser. Portanto, os valores e os ensinamentos são adquiridos no meio em que a criança está inserida. Segundo Lev Vygotsky apud Oliveira4, na ausência do outro, o homem não se constrói homem, pois, para ele, apenas as funções biológicas e psicológicas elementares não são suficientes para promover um ambiente de aprendizado completo, logo, ele precisa do meio. Assim, a cognição superior do homem só se concretiza ou é potencializada com a interposição de um elemento intermediário, mediador, entre estímulos e respostas que são captadas e produzidas por uma pessoa4. Nesse contexto, a família é um fator que determina o desenvolvimento do indivíduo e exerce sobre ele uma forte influência, desde a infância até a vida adulta, e é responsável pelos primeiros contatos afetuosos. É na família que se encontra todo o referencial de costumes, crenças e valores e em que a criança inicia sua jornada de vida e evolui de um estado de intensa dependência para uma condição de autonomia pessoal. A adolescência - pode-se dizer - é um evento previsível, que apresenta grande impacto na vida familiar, e é considerada como uma crise importante no contexto da família5,6. É uma fase marcada por mudanças evolutivas rápidas e intensas nos sistemas biológico, psicológico e social7.
A adolescência é, portanto, uma fase em que os sujeitos tentam encontrar sua identidade e sentem muitas dúvidas, que os levam a agir e a pensar com intuito de traçar planos e tomar decisões, a fim de encontrar seu lugar na sociedade. Entretanto, muitas vezes, devido a essas necessidades, eles apresentam reações impactantes em relação às autoridades em geral, principalmente dos pais ou responsáveis, já que essa é uma etapa em que as regras costumam ser questionadas ou negadas. De acordo com Drummond & Drummond Filho,9
Essa é uma fase em que o adolescente passa por grandes transformações, principalmente no que se refere à comunicação no contexto familiar. Por isso, é sobremaneira importante a comunicação entre os pais e os filhos. A criação de um ambiente onde as emoções e as opiniões possam ser partilhadas de forma livre, segura e respeitosa é fundamental. Para um adolescente, é importante que seu ponto de vista seja valorizado, já que ele está passando por um conflito interno e por uma transição da fase infantil para a adulta. A busca do adolescente por refúgio pode ser um indicativo de problemas vindos tanto do meio extrafamiliar quanto do intrafamiliar. A família se enquadra em um papel que auxilia a geração dos adolescentes nas diversas questões em que estão inseridos, como, por exemplo, a experiência vivida no mundo virtual, a partir do uso de tecnologias digitais. A família deve ficar atenta aos novos meios de comunicação, que alteram a forma como a comunicação intrafamiliar vem sendo tratada. Alves10 entende que
A literatura ressalta, ainda, que o aumento dos conflitos familiares geralmente vem acompanhado de menos proximidade do convívio, principalmente em relação ao tempo que adolescentes e pais passam juntos11. Quando as tecnologias digitais usadas de forma inadequada e excessiva, entram como catalisação para alterar a forma como o convívio familiar é tratado. Elas abrem uma lacuna nas relações familiares e deixam pais e filhos em mundos totalmente diferentes. A forma de como essas tecnologias digitais foram inseridas no contexto familiar vem alterando a forma como a família se reúne, e isso deixa claro evidenciando que o diálogo e a participação na vida dos adolescentes são muito importantes. Segundo Dumazedier12 a conversação não morreu, mas mudou e incluindo um terceiro grupo, o dos atores, apresentadores e estrelas da televisão, novos convidados da noite. O rádio e, posteriormente, a televisão foram os primeiros meios de comunicação a invadir o cotidiano e os hábitos familiares e modificá-los. No Século XXI, inovações tecnológicas como smartphones, tablets, aparelhos de MP3, ipods, netbooks, TV digital aberta e TV por assinatura surgiram e se popularizaram. Nos lares, cada integrante tem, em seu aposento, várias dessas tecnologias digitais com acesso fácil à internet. Eles passam mais tempo dentro do quarto, "conectados" com o mundo virtual, principalmente os adolescentes, que são os mais propícios ao uso das tecnologias digitais. De acordo com uma entrevista concedida pelo jornal norte-americano New York Times, Steven Paul Jobs, criador da Apple, entre outrosI, declarou que não permitia que os filhos usem aparelhos tecnológicos, mesmo que essas máquinas tenham sido inventadas por ele. Isso surpreendeu o entrevistador Nick Bilton (jornalista britânico, especialista na área de tecnologia). Bilton13 relata que, em várias entrevistas feitas com renomados líderes de potências mundiais, na área da tecnologia digital, eles apresentaram opiniões semelhantes à de Jobs. Chris AndersonII, Alex ConstantinopleIII e Evan WilliamsIV mencionaram nas entrevistas os limites de tempo, o controle de todos os aparelhos digitais, além das restrições impostas e compartilham da mesma ideia, sob a alegação dos riscos das tecnologias digitais, dentre os quais, incluem exposição a conteúdo prejudicial, como pornografia, bullying, vício nos aparelhos, problemas sociais, cognitivos e afetivos. Assim, podemos enfatizar a importância de negociar regras e limites com os adolescentes. Porém, é fácil nos depararmos com o fato de que a maioria dos responsáveis faz exatamente o contrário e permite que eles ultrapassem o tempo limite de uso das tecnologias digitais. Hanaver14 afirma que as pessoas estão deixando de sair de casa para se divertir com amigos e ficar em frente ao computador teclando com outras pessoas. Portanto, atualmente, mais uma vez, a tecnologia está modificando o convívio familiar e social e sendo incluída como um fator indispensável, participando de qualquer situação ou contexto em que as pessoas estejam. O mundo virtual vai progredindo e confundindo seus limites com o mundo real. As tecnologias digitais vão transformando os comportamentos e hábitos sociais de todos os que as usam, sobretudo, os adolescentes. O ADOLESCENTE E A VIDA NOS ESPAÇOS REAL E VIRTUAL Com a crescente entrada da tecnologia digital no cotidiano do ser humano, novos problemas sociais e comportamentais surgem. Diante desse cenário, o acesso fácil e irracional às tecnologias pode acarretar uma dependência digital. Segundo Schwartz apud Nardon15, a internet está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, principalmente na vivência dos jovens. Os adolescentes, como um segmento social que é mais susceptível às transformações das tecnologias digitais, herdam a facilidade de adquirir um vício. Dessa forma, a tecnologia torna-se um fator de isolamento social, que compromete a capacidade de socialização dos adolescentes, que não conseguem mais distinguir a realidade do mundo virtual. Sob o ponto de vista de Nardon15, é na adolescência que o convívio social se amplia, com a participação nos diferentes grupos, aos quais os adolescentes pertencem, como: escola, esportes, cursinhos, lazer, entre outros. Porém, nem sempre é assim, o que deveria ser uma relação de afetividade e encontro com grupos do mesmo interesse, em alguns casos, fica à mercê da comunicação digital. Lévy16 "reconhece que há dependentes na internet que passam horas em frente ao computador, participando de salas de bate-papo, de jogos on-line ou, até mesmo, surfando interminavelmente de página em página". Esse autor também afirma que, no presente, os adolescentes estão trocando as conversas pessoais socializadoras por um mundo virtual, em que se comunicam através de chats, mensagens instantâneas, blogs, jogos on-line e redes sociais, partilhando de uma nova cultura, em que a interação só acontece por meios eletrônicos. Fonte17 explica que, por meio da internet, o adolescente consegue fazer contatos pessoais que, fora desse meio, não consegue. Entretanto, esses contatos são "superficiais" e de "falsa intimidade" e facilitam o afastamento social. Na visão de Piaget18,
Esse autor entende que o "ser social" é aquele que consegue se relacionar com seus semelhantes de forma equilibrada. Isso quer dizer que o ser humano necessita de convívio social. Nardon15 expõe que os adolescentes que têm um bom relacionamento social têm mais possibilidades de construir um bom desenvolvimento psicossocial. O uso contínuo da internet faz com que não se desenvolvam com plenitude, o que fará com que tenha dificuldades na vida adulta. Tomando como base os pensamentos do autor citado acima, o uso desmoderado da internet pode acarretar uma confusão do real com o virtual. As tecnologias digitais vêm alterando a forma como as pessoas interagem, inibindo a interação física e gerando um comodismo. Isso pode causar problemas sociais, como separação do convívio social, solidão e depressão. Quanto aos adolescentes, para preencher o vazio deixado pelo isolamento social, apegam-se às redes sociais, porque lhes dão a impressão de que nunca estão sós e infelizes, via amigos virtuais e compartilhamentos de informações. No entanto, quando se desconectam, a realidade se torna distorcida, como se as pessoas ao seu redor não fizessem parte do seu cotidiano, devido à falsa impressão de felicidade proporcionada pelas interações no mundo virtual. Assim, como estão permanentemente interligados às redes digitais, acabam se distanciando realmente das outras pessoas, seja afetiva ou socialmente. Esse afastamento social se agrava na evolução da dinâmica entre os seres humanos, razão por que tem sido o foco de estudo de muitos pesquisadores. Segundo Burgos19,
Um estudo sobre o uso excessivo da tecnologia por adolescentes apontou que eles podem desenvolver características narcisistas, ter comportamento antissocial, tendências agressivas, manias, distúrbios do sono, ansiedade, depressão, problemas na linguagem escrita e transtornos de atenção e aprendizagem, sendo essas, umas das disfunções mais comuns entre esses usuários. Os problemas, segundo a pesquisa do Dr. Larry RosenV, foram observados nos mais de mil adolescentes entrevistados para o trabalho. De acordo com Rosen20, mais pessoas estão se tornando narcisistas, por estarem lidando com ferramentas que oferecem mecanismos permanentes de exposição, e se apresentando para o mundo como se só se importassem consigo mesmas. Também estão ficando obcecadas e compelidas a checar constantemente o telefone. O estudo evidenciou que a população está ficando deprimida quando não tem coisas maravilhosas para mostrar aos outros no Facebook. São adolescentes que sofrem crises de ansiedade por estarem sem sinal de internet, estudantes que perdem a capacidade de se concentrar e até programador que começou a desenvolver esquizofrenia por viver isolado, interagindo só via web. Assim, os adolescentes em constante relação com as tecnologias digitais correm o risco de ficar dependentes da conexão permanente. Essa dependência pode provocar vários distúrbios, perturbações e vícios relacionados à overdose virtual. O QUE SE PERDE E O QUE SE GANHA COGNITIVAMENTE? A tecnologia sempre afetou o homem, desde a introdução dos rádios e dos televisores nos lares, o que contribuiu para diversas mudanças de hábito. Nos últimos anos, essas alterações vêm se tornando mais visíveis, principalmente quando se observam os adolescentes. Eles têm mais contato com o mundo digital, e isso gera diversos problemas, devido a estarem sempre dividindo sua atenção entre o mundo real e o virtual. Dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGI.Br21 - apontam que o nível de frequência de uso da internet por adolescentes para determinadas atividades, como a troca de mensagens instantâneas, por exemplo, é bem superior ao uso para pesquisas escolares e que o uso diário da tecnologia, sobretudo da internet, é muito mais frequente para a troca de mensagens instantâneas (75%) e a interação em redes sociais (56%), via aplicativos de celulares e computadores, e o uso para pesquisas escolares fica na quinta posição (21%). Esses números evidenciam que o uso excessivo dessas tecnologias é um fator preocupante para o desenvolvimento cognitivo dos adolescentes, porque poderá trazer consequências, como isolamento social, falta de interesse pelos estudos e ansiedade22, e exercer influência em seu desenvolvimento educacional, alterando a sua cognição. A cognição envolve os mecanismos cognitivos individuais e distribuídos, inerentes às atividades em colaboração, que envolvem percepção, atenção, memória, linguagem e raciocínio, atividades cujas origens são culturais23. Em outras palavras, cognição é o ato ou processo de adquirir conhecimentos e um procedimento por meio do qual o ser humano interage com seus semelhantes e com o meio em que vive, sem perder sua identidade. Hoogeveen24 refere que essa potencialidade da tecnologia digital está diretamente ligada à sua capacidade de excitar o indivíduo e de estimular os sistemas auditivo, visual e emocional, o que altera sua capacidade cognitiva, tanto benéfica quanto maleficamente, a depender da forma e da intensidade com que é usada.
O poder que as tecnologias digitais exercem sobre os adolescentes afeta sua cognição, devido ao fato de as estimulações audiovisuais e emocionais estarem em sua atividade máxima. O grande volume de dados recebidos pelo cérebro, em forma de texto, imagens e vídeos, pode fazer com que a memória de trabalho fique saturada e haja uma sobrecarga cognitiva. Segundo Cánovas25, em nenhum momento, é permitido ao cérebro ativar sua memória de longo prazo. O resultado disso é que a informação não gera conhecimentos.
A simples aquisição de dados não é aprendizagem. Os adolescentes não estão adquirindo a compreensão necessária, e a informação não está sendo processada nem associada a outras para gerar um entendimento mais profundo. A utilização da tecnologia de forma indiscriminada pelos adolescentes provoca o desequilíbrio cognitivo do ser. Com isso, ela potencializa os transtornos de atenção, transtornos obsessivos, de ansiedade e problemas com a linguagem e a comunicação, o que afeta diretamente a aprendizagem27.
Carr29 ressalta que a divisão da atenção exigida pela tecnologia digital estressa ainda mais nossas capacidades cognitivas, diminui nossa capacidade de aprender e enfraquece nossa compreensão. Isso significa que, quando se trata de suprir a mente com a matéria-prima do pensamento, mais pode ser menos. Com a crescente utilização das tecnologias digitais pelos adolescentes, é apresentada uma variedade de informações simultaneamente, inúmeras abas são abertas no navegador assim como alertas de e-mails, e celulares vibram constantemente. São muitas atrações simultâneas, que dificultam manter a concentração em determinada atividade e é complicado selecionar suas necessidades principais ou inibir suas distrações. Como resultado, tem-se uma geração mais distraída e imediatista. De acordo com Rossi30, ao mesmo tempo em que a tecnologia facilita nossa vida, gera uma pressão extrema, em termos de imediatismo, com a rapidez da informação, e pressiona as pessoas. Dessa forma, ela provoca problemas de estresse e ansiedade. Para Vieira Júnior apud PerucciVI, "a própria ansiedade, na verdade, numa certa vertente, tem a ver com a impossibilidade de acessar o que se quer"31. A pessoa não se mostra ansiosa quando está mexendo no celular, mas quando está no trânsito ou no cinema. Como qualquer dependência, a ansiedade não se configura quando o caminho do uso está desimpedido, ou seja, a pessoa não fica ansiosa quando está usando as tecnologias digitais, mas, quando está impedida de usá-las. Não estamos sabendo lidar com a variedade de tecnologias que nos envolve. Seja no cinema, no teatro, no consultório ou no trânsito, em qualquer momento, estamos utilizando notebook, tablet, smartphone etc. Esse uso excessivo pode ocasionar transtorno de ansiedade e gerar dependência. Segundo Young & Abreu22, o problema do uso excessivo de internet é relativamente novo, mas vem chamando a atenção devido às implicações que provoca nos adolescentes. A Associação Psicológica Americana incluiu a dependência de jogos e de internet no apêndice do DSM-VVII, o que aumenta a legitimidade clínica do transtorno e favorecer o entendimento científico da natureza dessa dependência. De acordo com Moraes et al.32, o primeiro a usar o termo dependência de internet foi Goldberg, em 1995, que a definiu como uma categoria diagnóstica compulsiva e patológica. Com base no DSM-V33, foram desenvolvidos oito critérios para diagnosticar a dependência de internet, a saber: preocupação excessiva com a internet, necessidade de aumentar o tempo conectado (online), presença de irritabilidade e/ou depressão, exibir esforços repetidos para diminuir o tempo de uso de internet, quando o uso de internet é reduzido apresenta labilidade emocional, permanecer mais conectado do que o programado, trabalho e relações sociais em risco pelo uso excessivo e mentir aos outros a respeito de quantidade de horas on-line22. A crescente detecção desses transtornos mostra como é preocupante a forma com que as tecnologias digitais estão afetando os adolescentes. Por essa razão, é necessário cuidar para que a utilização excessiva não interfira nos processos relacionados à aprendizagem. Para isso, devem-se estabelecer, com clareza, seus limites, porque, se forem utilizadas excessivamente, podem causar muitos problemas para os usuários, que acabarão perdendo habilidades funcionais importantes para a construção do conhecimento. CONCLUSÃO Durante as etapas desta pesquisa, pôde-se observar que, no cenário atual, as pessoas mantêm contato, constante e intensamente, com as tecnologias digitais em seu cotidiano, em especial, o grupo com idades entre 11 e 17 anos. A rede de informações é um recurso extremamente potente e transformou as comunicações interpessoais, a começar pelas famílias, desde a inserção do rádio e da TV e, posteriormente, a invenção do computador e da internet, principalmente a partir do surgimento das redes sociais virtuais. A relação de aproximação entre os entes familiares foi modificada. No entanto, é a base para um bom desenvolvimento cognitivo, social e afetivo dos adolescentes e para gerar um ambiente em que os problemas e os conflitos da adolescência sejam tratados de forma aberta e saudável. Mesmo com todos os anunciados benefícios gerados pelas tecnologias digitais, é evidente a preocupação com os problemas sociais e comportamentais, principalmente, os que afetam os adolescentes. Esse grupo é bastante suscetível, devido a estar em mais contato com essas tecnologias e encontrar-se em uma idade de intensas transformações biológicas e psicológicas. Assim, o estudo mostrou que o uso excessivo das tecnologias digitais acarreta diversos problemas, entre eles, isolamento social, narcisismo, depressão, ansiedade, dependência etc. No campo cognitivo, esse uso desregulado pode provocar diversas patologias relacionadas ao excesso de informações não processadas, que terminam por gerar uma sobrecarga cognitiva ao invés de conhecimento. Os resultados da pesquisa apresentam um conjunto de problemas que pode ser investigado no campo da Psicopedagogia. Nessa lacuna, cabe a inserção do psicopedagogo, como pesquisador ou profissional, em busca de compreender os processos psicognitivos relacionados a essas problemáticas. A produção científica pode contribuir para a ação desse profissional, numa perspectiva de atuação preventiva e prognóstica, de modo a orientar condutas adequadas para os problemas decorrentes do uso excessivo de tecnologias digitais que afetam o processo de aprendizagem de adolescentes. Assim, considerando o que foi estudado, conclui-se que cabe ao psicopedagogo tentar elaborar estratégias para orientar adolescentes, pais ou responsáveis e profissionais da Educação para tomarem decisões que irão contribuir para o desenvolvimento social, cognitivo e emocional dos adolescentes, dando importância à construção de um ambiente mais propício ao diálogo, tanto no espaço familiar quanto no escolar. Também deve mostrar que o caminho a seguir não é proibi-los de usar essas tecnologias, mas de fazê-lo com consciência. Isso se justifica porque, para se ter um desenvolvimento cognitivo, social e afetivo saudável, é preciso equilibrar a relação entre a interação virtual e a social, realizada por meio de atividades lúdicas e esportivas e dos laços afetivos. REFERÊNCIAS 1. Fonseca J. Metodologia da pesquisa científica. 2002. [acesso 2017 Abr 17]. Disponível em: http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/conteudo-2012-1/1SF/Sandra/apostila Metodologia.pdf [ Links ] 2. Salvador AD. 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